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Comunicações científicas

29Pontos Positivos e Negativos das Novas Tecnologias no Aprendizado da Anatomia Humana: Uma Revisão da Literatura

Introdução

O ensino da Anatomia Humana (AH) inicialmente era fundamentada em explanações teóricas e comparações com animais, o que resultava em um conhecimento ainda deficitário. A inflexão nessa trajetória veio com Vessalius em seu livro “De Humani Corporis Fábrica”, momento no qual a dissecção de cadáveres tornou-se o sustentáculo no ensino da AH. Essa metodologia ainda é a mais consolidada ferramenta de aprendizagem e, por propiciar sensações táteis, variações morfológicas e topografia, é considerada padrão-ouro no treinamento de procedimentos médicos, especialmente cirúrgicos. Entretanto, atualmente há escassez e dificuldade na manutenção dos cadáveres, problemas que se agravam nas instituições públicas. Nesse cenário, a tecnologia surge como ferramenta complementar ao ensino, uma vez que é mais acessível, de fácil manutenção e por propiciar acesso remoto. Apesar dos avanços, ainda é preciso verificar até que ponto a associação com as metodologias clássicas ou a sua substituição são proveitosas. Nesse aspecto, o presente estudo visa fazer uma revisão da literatura a fim de avaliar os novos métodos de ensino de AH existentes, bem como as opiniões quanto ao seu uso.

Material e Métodos

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, na qual foram pesquisados artigos a partir de 2015, com as palavras-chave “learning anatomy” ou “gross anatomy”; “technologies” ou “digital resources” nos bancos de dados: LILACS, PUBMED e Google Scholar. Dos 25 artigos encontrados foram filtrados oito que preencheram pelo menos dois dos seguintes critérios: discorrer sobre novas tecnologias no aprendizado da anatomia humana; apontar seus pontos positivos; apontar seus pontos negativos; comparar sua eficiência em relação aos métodos tradicionais.

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Resultados e Discussão

Os estudos mostram que o desenvolvimento das tecnologias no ensino da AH é decorrente: da mudança curricular de várias escolas médicas, com redução do tempo destinado à essa disciplina; por problemas logísticos quanto a aquisição e gerenciamento de cadáveres humanos; pelo melhor custo-benefício dos recursos tecnológicos. A informática vem sendo utilizada como auxiliar no estudo da AH com recursos que variam desde os simples até os mais complexos.  Dissabandara e Nirathan (2016) relatam que animações criadas no Microsoft PowerPoint e associadas às aulas teóricas possibilitam uma compreensão mais rentável do conteúdo do que apenas o uso de imagens estáticas. De acordo com Estai e Bunt (2016), a Realidade Virtual aplicada à anatomia é encontrada em ferramentas como Visible Human Project, BioDigital Human e Chinese Visible Human dataset, por vezes até associada a métodos de simulação, como a mesa anatômica. Ma et al. (2016) exploram a Realidade Aumentada (RA) no projeto “magic mirror”, em que o aluno, por uma imagem espelhada de seu próprio corpo em um monitor, pode acrescentar recursos visuais, como estruturas anatômicas e imagens tomográficas. O uso de óculos de RA, que permite o manuseio de peças virtuais e ainda pode ser associada a projetos Haptic que visam acrescentar feedbacks táteis e de força. Vale destacar a impressão 3D de estruturas anatômicas, que tende a se tornar mais barata e, por isso, mais disseminada. Recursos Online, com o uso da Web 2.0, também vem ganhando espaço pela facilidade de acesso e de compartilhamento de materiais. Bakr, Massey, Massa (2016), Granmo e Bengtsson (2015) mostram bons resultados pelo uso de cadáveres 2D, hospedados para acesso online pelos alunos. Hennessy et al. (2016) em sua experiência com o uso da rede social Twitter no ensino de neuroanatomia, revelam maior facilidade na comunicação, redução da ansiedade dos estudantes e aumento do interesse pela disciplina. Apesar da rede social Youtube também ser utilizada para compartilhamento de materiais audiovisuais, Jones (2016) alerta que importantes conceitos éticos podem ser facilmente ignorados, especialmente pelo há compartilhamento informal de autópsias ou dissecção de cadáveres. Como demonstrado por Oh et al. (2015), a internet também pode auxiliar a dissecção clássica, por exemplo pelo compartilhamento de relatórios digitais em um fórum, o que permitiu uma interação rentável entre os participantes. Estai e Bunt (2016) também relatam que certas profissões ou especialidades obtêm melhores benefícios com algumas tecnologias do que com outras, o que justifica a adequação da universidade nesse quesito. Não há evidências de benefícios dos recursos supracitados quando usados isoladamente, sendo que todos os artigos afirmam que quanto mais recursos diferentes forem usados da forma certa, melhor será a aceitação por parte dos alunos e o desempenho destes.

Conclusões

Diante do exposto, as inovações tecnológicas despontaram como um mecanismo eficaz, acessível e de baixo custo, conferindo um lugar de destaque como instrumento complementar no ensino de AH. Entretanto, o material cadavérico para o ensino pleno de AH ainda é insubstituível para certas áreas de estudo e profissões, e essa ferramenta torna-se ainda mais eficiente se aliada a novas tecnologia.

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Referências

BAKR, M. M.; MASSEY, W. L.; MASSA, H. M. Digital Cadavers: Online 2D Learning Resources Enhance Student Learning in Practical Head and Neck Anatomy within Dental Programs. Education Research International, v. 2016, p. 1–10, 2016.

DISSABANDARA, L.; NIRATHANAN, S. N. Integrated Sequential Layering – An Effective Method for Teaching and Learning Anatomy in the Digital Age. FASEB Journal, 2016.

ESTAI, M.; BUNT, S. Best teaching practices in anatomy education: A critical review. Annals of Anatomy, v. 208, p. 151–157, 2016.

GRANMO, M.; BENGTSSON, F. Teaching Anatomy in the Multimedia World — Using Digital Tools for Progressive Learning over Time. Creative Education, v. 6, n. June, p. 1193–1200, 2015.

HENNESSY, C. M. et al. Social media and anatomy education: Using twitter to enhance the student learning experience in anatomy. Anatomical Sciences Education, v. 9, n. 6, p. 505–515, 2016.

JONES, D. G. YouTube anatomy education: Sources of ethical perplexity. Anatomical sciences education, v. 9, n. 5, p. 500–501, 2016.

MA, M. et al. Personalized augmented reality for anatomy education. Clinical Anatomy, v. 29, n. 4, p. 446–453, 2016.

OH, C. S. et al. Digital report in an anatomy laboratory: a new method for team-based dissection, reporting, and evaluation. Surgical and Radiologic Anatomy, v. 37, n. 3, p. 293–298, 2015.

SHAFFER, K. Teaching anatomy in the digital world. N Engl J Med, v. 351, n. 13, p. 1279–81., 2004.