Comunicações científicas
26Dissecação e Reconstrução de Vasos Superficiais dos Membros e suas Características
Introdução
O ensino da anatomia humana ocorre fundamentalmente pelo estudo de peças cadavéricas dissecadas e expostas em ambiente de laboratório. A dissecação trata do ato de separar as partes de um corpo ou de um órgão (NETTER, 2015). O uso frequente e a manipulação constante desse material podem levar a sua deterioração e a prejuízos na manutenção de sua integridade e na continuidade da sua utilização. Dessa forma, técnicas de manutenção e reparo de estruturas danificadas mostram-se fundamentais na conservação do acervo institucional. As veias cefálicas e safenas parvas são vasos superficiais sensíveis que requerem um cuidado ao manuseá-las. Em relação às suas distribuições, os padrões estabelecidos sofrem frequentes variações anatômicas, até mesmo ao comparar o membro esquerdo e direito de um mesmo indivíduo (DANGELO & FATTINI, 2007). Portanto, o objetivo do presente trabalho foi apresentar um relato de caso sobre a dissecação e o reparo de vasos superficiais dos membros superior e inferior, e descrever as características anatômicas observadas.
Material e Métodos
Para isso, foram utilizados um membro inferior e superior esquerdo de cadáveres distintos, fixados em formol e conservados em glicerina, pertencentes ao acervo do Laboratório de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia (DMORF), do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), da Universidade Federal de Goiás (UFG). Utilizou-se instrumentos cirúrgicos diversos para a dissecação e reparo dos vasos. Na perna realizou-se duas incisões transversais, sendo uma na região da fossa poplítea e outra na região maleolar. Utilizando bisturi e pinça anatômica foram rebatidas a epiderme e a derme. Na tela subcutânea foi feita a retirada do tecido adiposo, usando bisturi e tesoura, para evidenciar a veia safena parva. Da mesma forma, foi feita a dissecação do membro superior, sendo que as incisões foram circulares nas regiões deltoidea, do cotovelo e do carpo, no sentido medial-lateral, de modo que a pele ficasse fixada na região lateral do braço, evidenciando a veia cefálica. Em seguida, realizou-se o reparo na tela subcutânea do mesmo, com o auxílio de porta agulha, agulha e linha de sutura, na tentativa de realizar a reconstrução do trajeto da veia cefálica, que se apresentava danificada.
95Resultados e Discussão
A dissecação anatômica da perna permitiu observar o trajeto da veia safena parva, posterior ao maléolo lateral, ascendendo lateralmente junto com o tendão do calcâneo, cruzando-o e seguindo medialmente (GRAY, 1988). Esta veia atravessa a fáscia profunda na parte distal da fossa poplítea e termina na veia poplítea, que pertence ao sistema venoso profundo (DANGELO & FATTINI, 2007). No seu trajeto ascendente, a veia safena parva recebe diversas veias tributárias. Algumas dessas veias tributárias estabeleceram comunicações entre a veia safena parva e a magna. A distribuição dessas veias tributárias e o local onde ocorreu sua desembocadura na veia safena parva apresentaram grandes variações anatômicas, como observado em literatura (GRAY, 1988; DANGELO & FATTINI, 2007; SOBOTTA, 2013; NETTER, 2015). Já na dissecação do membro superior, foi possível evidenciar o trajeto ao longo da veia cefálica, que inicia na parte radial da rede venosa dorsal da mão e segue proximalmente, contornando a borda radial do antebraço, onde recebe tributárias das faces dorsal e ventral. Apresentou ampla anastomose com a veia mediana do cotovelo. Na altura do ombro, segue entre o peitoral maior e o deltoide, no sulco deltopeitoral. Acima do peitoral menor, atravessa a fáscia clavipeitoral, e desemboca na veia axilar. Algumas vezes comunica-se com a veia jugular externa por um ramo que sobe ventralmente à clavícula (GRAY, 1988; DANGELO e FATTINI, 2007). No entanto, tal peça cadavérica apresentava-se com lacerações na tela subcutânea do antebraço, sendo necessária a reconstrução de parte do trajeto da veia cefálica. Assim, foi realizada a sutura da tela subcutânea, permitindo realizar o reparo do vaso e reconstituição do seu trajeto, além de proporcionar um reforço para a região, uma vez que constantes manipulações da peça em laboratório podem fragilizar, romper e danificar os tecidos. Tal procedimento viabiliza seu uso contínuo e garante maior durabilidade e longevidade para o acervo do laboratório. Adicionalmente, as veias superficiais constituem vasos de difícil manutenção, pelo fato de a tela subcutânea ser frágil, gerando fragmentação de tais vasos, devido à manipulação constante e por serem frequentemente rebatidas para visualização de estruturas mais profundas. Portanto, possibilitar sua visualização e estudo é ferramenta essencial para os estudantes e profissionais da área da saúde. Tais vasos por se comunicarem com numerosas veias tributárias sofrem diversas variações anatômicas que devem ser estudadas, uma vez que é frequente que as peças dissecadas não sejam coincidentes com as ilustrações dos atlas ou tratados de anatomia (DANGELO & FATTINI, 2007; SOBOTTA, 2013; NETTER, 2015).
Conclusão
Pode-se concluir que a dissecação é uma técnica fundamental na visualização das veias superficiais dos membros superiores e inferiores, capaz de permitir a exposição do trajeto e descrição de suas características. Devido ao manuseio contínuo, existe um gradativo dano a peças anatômicas, então o restabelecimento de sua morfologia mostra-se essencial para continuidade das atividades laboratoriais.
Referências
DANGELO, J. G; FATTINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 3ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2007.
GRAY, H. Anatomia. 29ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.
NETTER, F.H. Atlas de Anatomia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 23ª ed. 3V. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.