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Comunicações científicas

22Articulação do Joelho: Correlações Clínicas e Relato de Caso de Lesão Ligamentar

Introdução

O joelho, do ponto de vista funcional e anatômico, é considerado uma das articulações mais complexas do corpo humano juntamente com a articulação do ombro, e também é frequentemente acometida por lesões. Dentre elas, as ligamentares e meniscais tornam-se algo comum a ser abordado no cotidiano dos indivíduos e também nas práticas esportivas, sendo que uma das maiores causas de lesões dessa articulação são acidentes automotivos, principalmente os que envolvem motociclistas. Acidentes de moto contabilizam 28.1% de todos os casos e, considerando os esportes, o futebol é responsável por 24.7% (SCHULZ et al., 2003). Portanto, conhecer a anatomia das principais articulações do corpo, seus constituintes e biomecânica torna-se essencial para a qualificação e atuação do profissional da saúde, além de constituir um conhecimento importante para o cidadão, seja ele praticante de esporte ou não. Com isso, o objetivo do presente trabalho foi apresentar um relato de caso sobre a dissecação das estruturas anatômicas do joelho, descrever suas características e citar um caso clínico de indivíduo acometido por lesão de rompimento total do ligamento cruzado anterior (LCA).

Material e Métodos

Para a realização do presente trabalho, o material cadavérico foi selecionado e procedeu-se a dissecação da articulação do joelho com instrumentos especializados, no Laboratório de Anatomia da Universidade Federal de Goiás. As estruturas anatômicas foram individualizadas, identificadas e descritas. Em seguida, um caso clínico foi apresentado em que constava um paciente do sexo masculino, 18 anos de idade, acometido por lesão de estruturas do joelho, submetido a anamnese, avaliação clínica e de imagem, com seu respectivo tratamento. Indivíduo foi diagnosticado com ruptura total do ligamento cruzado anterior (LCA) e se queixava de dores intensas localizadas, inchaço e dificuldade de locomoção. A lesão foi avaliada clinicamente e por meio de ressonância magnética, solicitada por médico especialista em joelhos, e o tratamento consistiu em intervenção cirúrgica e cuidados pós-operatórios.

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Resultados e Discussão

Com a exposição e dissecação da articulação do joelho foi possível caracterizar estruturas como a cápsula articular, retináculos, ligamentos extracapsulares, como o ligamento patelar e os ligamentos colaterais (medial e lateral). Ao acessar a cavidade articular distinguiram-se os meniscos, ligamentos cruzados anterior e posterior, e o ligamento transverso do joelho, conforme descrito na literatura (MOORE et al., 2014; NETTER, 2015). Vale ressaltar que os ligamentos cruzados asseguram a estabilidade anteroposterior do joelho, ao mesmo tempo que permitem os movimentos de charneira, mantendo as superfícies articulares em contato (KAPANJI, 2001). Tal estrutura pode sofrer danos e ocasionar prejuízos morfofuncionais a biomecânica da articulação, conforme observado no caso clínico relatado no presente trabalho. Assim, o paciente do sexo masculino, aos 18 anos de idade, executou um salto durante uma partida de futsal e no momento da aterrissagem, mal executada, houve torção do joelho seguido de um estalo alto. Os sintomas relatados após o ocorrido foram: inchaço intenso, dores agudas acentuadas e localizadas, além da dificuldade de locomoção. O paciente se dirigiu a um médico especialista em joelho, que por meio de avaliação clínica e de imagem, utilizando ressonância magnética, constatou a lesão de rompimento total do ligamento cruzado anterior (LCA). Foram indicadas dez sessões de fisioterapia pré-operatória, e em seguida, realizada a cirurgia para a reconstrução do LCA, por meio de artroscopia, utilizando um enxerto retirado do tendão patelar. No pós-operatório, foi indicado o uso de muletas e meias antitrombose por pelo menos um mês, com aplicação de gelo em sessões de vinte minutos, de duas em duas horas, sem esforço e mantendo estendida a perna em todo este período. Além disso, a fisioterapia foi recomendada por um período mínimo de três meses, bem como o fortalecimento muscular contínuo em academia, como rotina para maior proteção da articulação. Este tipo de lesão mostra-se comum em atletas competitivos de elite, sendo que as opões de tratamento incluem a reconstrução do ligamento com prognóstico favorável e retorno às atividades previamente realizadas (SHELBOURNE; ROWDON, 1994). Esta consiste em uma das lesões mais comuns no corpo humano para a qual é frequentemente necessária cirurgia (SPINDLER; WRIGHT, 2008) e observada predominantemente em indivíduos jovens e ativos, sobretudo durante a atividade física (PINHEIRO; SOUSA, 2015). Dessa forma, conhecer a anatomia da articulação do joelho e seu funcionamento é imprescindível no manejo do paciente e no restabelecimento das suas condições de normalidade.

Conclusão

Concluiu-se que o joelho é uma articulação complexa e muito suscetível a lesões, com sintomas desagradáveis ao paciente, o que pode acarretar limitações funcionais na execução de atividades diárias. Neste sentido, uma intervenção adequada e cuidados constantes são fatores fundamentais na recuperação do paciente, a fim de devolver e prevenir futuras complicações.

Referências:

KAPANDJI, A. Fisiologia articular. São Paulo: Panamericana. 2001. 132p.

MOORE, K.L.; DALLEY, A.F.; AGUR, A.M.R. Anatomia orientada para a clínica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

NETTER, F.H. Atlas de Anatomia Humana. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 640p.

PINHEIRO, A.; SOUSA, C.V. Lesão do Ligamento Cruzado Anterior: Apresentação Clínica, Diagnóstico e Tratamento. Revista Portuguesa Ortopedia e Traumatologia. 2015; v. 23, n. 4, p. 320-329.

SCHULZ, M.S.; RUSSE, K.; WEILER, A.; EICHHORN, H. J.; STROBEL, M. J. Epidemiology of posterior cruciate ligament injuries. Archives of Orthopaedic and Trauma Surgery; v. 123, p. 186- 191. 2003.

SHELBOURNE, K. D.; ROWDON, G. A. Anterior Cruciate Ligament Injury. Sports Medicine. 1994; v. 17, n. 2, p. 132–140.

SPINDLER, K.P.; WRIGHT, R.W. Anterior Cruciate Ligament Tear. New England Journal of Medicine.2008; v. 359, p. 2135-42.