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Comunicações científicas

15A Complexidade em Dissecar Peças Anatômicas com Áreas Necróticas

Introdução

A dissecação é, para os anatomistas, o privilégio de aprender macroscopicamente as diversas estruturas anatômicas, compreendendo as funções de cada sistema e analisando visualmente as possíveis alterações celulares que culminaram na morte de um indivíduo (WEBER, 2001). Por meio da dissecação, o dissecador pode identificar no cadáver injúrias, geralmente oriundas de isquemia, identificadas como necrose de coagulação. Como protótipo teremos: infarto agudo do miocárdio, gangrenas, infarto renal, infarto do baço, sendo o “infarto” derivado de várias obstruções dos vasos sanguíneos que supre determinado tecido (ROBBINS & COTRAN, 2010). Este trabalho tem como objetivo relatar as dificuldades encontradas no ato da dissecação em regiões que sofreram alterações celulares irreversíveis, ou seja, áreas necróticas.

Material e Métodos

Foi dissecado a região do dorso, lado direito, de um cadáver do sexo feminino, fixado no formol e conservado em glicerina. Para a dissecação, foram utilizados os seguintes materiais: bisturi, lâminas descartáveis e pinça anatômica. Após demarcação inicial dos pontos de referência, realizou-se uma incisão longitudinal mediana no nível do sétimo processo espinhoso cervical à extremidade inferior do cóccix, e incisões transversais ao da espinha da escápula e ao nível da crista ilíaca até a linha axilar posterior. Em seguida dissecou-se derme e epiderme da tela subcutânea, posteriormente rebateu-se a tela subcutânea e a fáscia muscular separadamente, evidenciando os músculos superficiais do dorso (WEBER, 2001).

Resultados e Discussão

Os músculos dissecados foram: trapézio e latíssimo do dorso. O músculo trapézio tem origem na linha nucal superior, protuberância occipital externa, ligamento nucal e processos espinhosos de C7-T12; inserção no terço lateral da clavícula, acrômio e espinha da escápula; inervação pelo nervo acessório (XI par craniano) e C3-C4 (propriocepção); vascularização pela artéria cervical transversa e ramos dorsais das artérias intercostais posteriores; e por fim suas ações principais são: elevação, retração e rotação da escápula (fibras inferiores deprimem a escápula). O músculo latíssimo do dorso tem origem pelos processos espinhosos de T7-T12, fáscia toracolombar, crista ilíaca e últimas 3° a 4° costelas; inserção no úmero (sulco intertubercular); inervação pelo nervo toracodorsal (C6-C8); vascularização pela artéria toracodorsal, ramos dorsais das artérias intercostais 9, 10 e 11 posteriores e artéria costal das 3 primeiras artérias lombares; e realiza extensão, adução e rotação medial do úmero (MORTON, PETERSON & ALBERTINE, 2007). Por meio da dissecação da região do dorso, foi possível analisar e detectar necrose por coagulação no músculo trapézio. A porção necrótica localiza-se na sua parte intermediária e ascendente, tendo maior proximidade da espinha da escápula, no lugar em que terá a sua fixação. A necrose é a manifestação morfológica da lesão celular irreversível, sendo que seus aspectos estruturais dependem do tecido e do agente causador da agressão. Estes aspectos definem os mecanismos que causaram a morte celular, sendo por coagulação, liquefação, acúmulo de gordura, caseosa ou fibrinóide. Em músculos, a textura fibrosa e elasticidade reduzida sugerem mecanismos de necrose de coagulação. As imprescindíveis condições para esta ação necrótica são: hipóxia celular; toxinas bacterianas; agentes químicos e drogas (ROBBINS & COTRAN, 2010). Outrora, os dissecadores preocupavam-se com os fenômenos cadavéricos, como a putrefação, que sucessivamente e progressivamente aparecem pós-morte (WEBER, 2001).

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Conclusão

Pode-se concluir que é primordial que o dissecador tenha cuidado ao deparar-se com áreas necrosadas, já que o colágeno estará diminuído e dificultará a parte não-cortante do bisturi a deslizar facilmente entre essas regiões o que pode levar a danos e causando imperfeições nas estruturas que estão sendo preparadas pelo dissecador.

Referências

KUMAR, Vinay; ASTER, Jon C.; ABBAS, Abul K.; FAUSTO, Nelson. Robbins & Cotran. Patologia-Bases Patológicas das Doenças. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

LUKE, A.; VALENDORF, L. O exame necroscópico e sua contribuição para a área científica forense. 2015. Trabalho de conclusão de curso (Dissertação). Pós-Graduação em Ciências Forenses, Unic Sinop Aeroporto, Cuiabá, 2015.

MORTON, D. A.; PETERSON, K. D.; ALBERTINE, K. H. Gray's Dissection Guide for Human Anatomy.Philadelphia: Elsevier, Second edition. 2007.

WEBER, John. Oitava edição. Tradução de Prof. Dr. Nader Wafae. Manual de Dissecação Humana de Shearer. São Paulo: Manole Ltda., 2001.