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Comunicações científicas

13Dissecação dos Músculos Torácicos Anteriores e sua Aplicação na Fisioterapia da Saúde da Mulher

Introdução

A dissecação de peças anatômicas humanas é importante no ensino e aprendizado para os estudantes e profissionais da área da saúde e ciências biológicas. As experiências práticas podem estimular o aprendizado e melhorar o desenvolvimento de habilidades clínicas (PATEL & MOXHAM, 2008, WISENDEN et al., 2017). Para os fisioterapeutas, o conhecimento da anatomia do tórax é importante para compreensão e tratamento clínico das patologias respiratórias, ortopédicas, e na saúde da mulher “puerpério e mastologia oncológica” (NASCIMENTO et al., 2012). A intervenção fisioterapêutica no puerpério objetiva a reeducação da função respiratória, dos músculos abdominais e assoalho pélvico, orientação quanto ao posicionamento no leito e aos cuidados com as mamas. No câncer de mama, o profissional atua na prevenção de complicações decorrentes da mastectomia, favorecendo o retorno às atividades de vida diária do paciente e uma melhor qualidade de vida.  O objetivo desta pesquisa foi relatar a experiência da dissecação dos músculos anteriores do tórax e correlaciona-los com a prática clínica do fisioterapeuta.

Material e Métodos

O presente estudo foi realizado no Laboratório de Anatomia Humana do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás. Após a seleção do material cadavérico, sexo masculino, previamente fixado no formol e conservado em glicerina, o mesmo foi dissecado. Com o cadáver em decúbito dorsal, braços abduzidos, foram realizadas as seguintes incisões: (1) na linha mediana da incisura jugular até a extremidade do processo xifoide; (2) na linha transversal ao nível da clavícula, da incisura jugular até a extremidade lateral do acrômio; (3) linha transversal inferiormente ao gradil costal do processo xifoide até a 12° vértebra lombar. A dissecação foi realizada em camadas. Primeiro dissecou-se a epiderme e a derme separando-a da tela subcutânea e em seguida dissecou-se a tela subcutânea e a fáscia muscular, evidenciando os músculos do tórax.

Resultados e Discussão

A dissecação possibilitou a visualização anatômica da porção superior do músculo reto do abdome, oblíquo externo, peitoral maior e serrátil anterior. O músculo reto do abdome tem origem na sínfise e crista púbica e insere na 5ª a 7ª cartilagens costais e processos xifoide. É responsável pela flexão do tronco, compressão do abdome e auxilia na expiração forçada e no trabalho de parto. O músculo oblíquo externo emerge abaixo do 8o arco costal próximo à inserção do músculo serrátil anterior - lateralmente. O fisioterapeuta tem um papel importante na recuperação durante o puerpério, na elaboração de protocolo de exercícios para fortalecimento dos músculos abdominais, reabilitação da diástase do reto abdominal e orientações sobre a respiração. O músculo peitoral maior é o músculo mais superficial da parte anterior do tórax e tem forma de leque. Origina-se na parte medial da clavícula, esterno, 2° a 6° primeiras cartilagens costais e aponeurose do músculo reto do abdome. Insere-se na crista do tubérculo maior do úmero. É inervado pelos nervos peitorais, lateral e medial, do plexo braquial. Realiza os movimentos de adução, flexão braço e é capaz de elevar as seis primeiras costelas. O músculo serrátil anterior origina-se na face externa das 8 costelas superiores e se insere na face costal do ângulo superior e margem medial até o ângulo inferior da escápula. É inervado pelo nervo torácico longo do plexo braquial e realiza a protusão e rotação superior da escápula, além de fixá-la contra o tórax (FATTINI & DANGELO, 2007). Se houver lesão do nervo torácico longo, o músculo serrátil anterior perde ou reduz sua capacidade de posicionar a escápula, causando uma proeminência da borda medial e rotação de seu ângulo inferior, sinal conhecido como “escápula alada”. A lesão pode decorrer de traumas ou complicações de mastectomias radicais modificadas como nas cirurgias conservadoras para o tratamento do câncer de mama. Na quadrantectomia é realizada uma ressecção de todo o setor mamário correspondente ao tumor, incluindo a retirada de pele e a fáscia do músculo peitoral maior, que pode resultar em queda da força e função do membro superior envolvido. Além disso, o nervo torácico longo poderá ser temporariamente traumatizado havendo então, fraqueza do serrátil anterior e consequentemente alteração na estabilização e rotação da escápula para cima, resultando em limitação da abdução ativa do braço (BREGAGNOL e DIAS, 2010).  A fisioterapia tem um papel importante no tratamento pós mastectomia, no controle da dor pós-operatória, na prevenção ou tratamento de linfedema e alterações posturais, no relaxamento muscular, manutenção da amplitude de movimento do membro superior envolvido, melhora do aspecto e maleabilidade da cicatriz, prevenção ou tratando as aderências (CERQUEIRA et al., 2009).

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Conclusão

A dissecação de peças anatômicas possibilita ao fisioterapeuta uma melhora na aprendizagem da anatomia, estimula o pensamento crítico e investigativo, além de integrar o ensino ao conhecimento clínico. A compreensão da anatomia do tórax para o fisioterapeuta permite uma boa avaliação e prescrição terapêutica para o paciente.

Referências

BREGAGNOD, R.K; DIAS, A.S. Alterações funcionais em mulheres submetidas à cirurgia de mama com linfedenectomia axilar total. Revista Brasileira de cancerologia, 2010; 56 (1): 25-23

CERQUEIRA, W. A. et al. Proposta de conduta fisioterapêutica para o atendimento ambulatorial nas pacientes com escápula alada após linfadenectomia axilar. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 55, n. 2, p. 115-120, 2009.

FATTINI, Carlos Américo; DANGELO, JOSE GERALDO. Anatomia humana sistêmica e segmentar. Atheneu. 2007.

NASCIMENTO, Simony Lira do et al. Complicações e condutas fisioterapêuticas após cirurgia por câncer de mama: estudo retrospectivo. Fisioter. Pesqui., São Paulo, v. 19, n. 3, p. 248-255,  Sept.  2012.

PATEL, K. M.; MOXHAM, B. J. Attitudes of professional anatomists to curricular change. Clinical Anatomy, v. 19, n. 2, p. 132-141, 2006.

WISENDEN PA, BUDKE KJ, KLEMETSON CJ, KURTTI TR, PATEL CM, SCHWANTZ TL, WISENDEN BD. Emotional response of undergraduates to cadaver dissection. Clinical Anatomy 2017 Sep 25.