Comunicações científicas
9Técnicas Anatômicas: Análise do Processo de Maceração Óssea com Substratos Naturais
Introdução
A anatomia humana desempenha um papel fundamental na formação dos discentes dos cursos da saúde, cuja o conhecimento das estruturas corporais do ser humano vivo é aprendido em cadáveres durante as aulas práticas1.
Para a preparação das peças existem várias técnicas, uma delas é a maceração, onde a peça fica em um recipiente fechado com uso de substâncias especificas: substâncias químicos, biológicos e meios mecânicos2.
Os processos de maceração química são mais rápidos, porém tóxicos e mais agressivos as estruturas ósseas, além do alto custo. Devido os custos elevados, e muitos dos laboratórios terem poucos recursos, é necessário buscar novos métodos de maceração. Um dos métodos pode ser por meios de plantas, que contém e acumulam substâncias orgânicas3. Em vegetais as enzimas proteolíticas estão presentes em alguns frutos, como a bromelina (abacaxi), papaína (mamão) e ficina (figo), que podem ser extraídas em quantidades suficientes para a maceração, observando que isso representa uma grande importância econômica4. O objetivo desta pesquisa foi analisar o efeito dos determinados substratos naturais na preparação de esqueletos para laboratórios de anatomia.
Materiais e Métodos:
Trata-se de uma pesquisa experimental. Realizada no laboratório de Anatomia da PUC-GO. Onde foi utilizado um cadáver suíno, com idade de sete meses. A pesquisa seguiu em conformidade a Resolução nº 879, de 15 de fevereiro de 2008 do Conselho Federal de Medicina Veterinária.
Inicialmente foi realizado o procedimento de descarne do suíno com o objetivo de retirar o excesso de tecidos aderidos ao esqueleto do animal. Para o descarne foi utilizado pinças anatômicas, bisturis e tesouras. Em seguida, as peças foram lavadas em água corrente para que o excesso de sangue fosse removido, minimizando a chance de ocorrência de manchas que possam comprometer o processo de clareamento.
Para a preparação dos substratos naturais foram utilizados 03 abacaxis de aproximadamente 800g cada, 1 Kg de mamões formosa verdes e 1 kg de figo com folhas, todos foram picados com a casca e em seguida processados separadamente por 4 minutos em liquidificador. Após o processamento cada substrato foi colocado em um vasilhame plástico separado e feita a imersão das peças. As peças ficaram em repouso por 96 horas. Após este período as peças foram lavadas em água corrente e expostas ao sol para ressecamento.
Resultados e discussão:
Os amaciantes vegetais como a papaína do mamão, a ficina do figo, a bromelina do abacaxi, tem a propriedade de degradar as proteínas miofibrilares6. Assim segundo Araujo5, a técnica de maceração com uso da bromelina se mostra muito eficaz. Também condizendo com o trabalho apresentado por Silveira2, no qual expressam que o suco de abacaxi foi considerado a segunda melhor forma de maceração, somente inferior a maceração em água e com peroxido de hidrogênio. Por ser uma pesquisa de caráter experimental, não se encontra embasamento referencial para maceração com uso da papaína e ficina.
62Foi observado também por Silveira2 e Araujo5 em seus estudos que estes produtos naturais apresentam a vantagem de serem completamente atóxicos e não produzirem resíduos que ofereçam riscos ao meio ambiente.
Em relação ao odor apresentado durante a preparação de esqueletos através das técnicas de maceração, foi observado uma grande vantagem, pois os odores apresentados nestas técnicas foram menos perceptíveis quando comparados a preparação feita com água ou produtos químicos como demostradas por Rodrigues3. Neste estudo foi observado que a papaína e ficina apresentaram um odor maior em relação ao substrato da bromelina.
Porém o crânio exposto ao substrato do mamão, se mostrou perfeitamente limpo e com ausência de manchas escuras que poderia comprometer a visualização das estruturas da peça. As peças colocadas a ficina também tiveram e resultados bem relevante, porém menos eficiente quanto aos dois outros substratos.
Outro fator importante observado foi tonalidade mais clara das peças em ambos os substratos. E aspectos ósseos e cartilagíneos íntegros (sem corrosão ou descalcificação), resultado este que condiz com Araujo5 e se tornando uma técnica com resultados mais positivos em relação a integridades dos acidentes anatômicos quando observado peças preparadas com substâncias químicas (peroxido de Hidrogênio) descritos por Rodrigues3
Devido à escassez de recursos financeiros enfrentados por muitas instituições, ocorrem a falta de peças ósseas disponíveis para estudo, portanto surge o interesse de buscar novas formas de maceração, que mantenha uma boa qualidade final do esqueleto.
O presente estudo verificou a eficácia dos produtos naturais utilizados nesta pesquisa como o abacaxi, o mamão, e o figo apresentaram resultado satisfatório.
Conclusão
A maceração óssea realizada com substratos naturais extraídos do abacaxi, mamão e o figo apresentou resultados finais excelentes. Na qual em todas verificou-se ausência de manchas escuras, e manteve preservada as partes cartilaginosas. Além de ser uma técnica acessível, atóxica e de baixo custo em relação aos outros produtos químicos.
Referências
ARAUJO, et al. Técnicas anatômicas: uma análise de maceração óssea com suco de abacaxi para obtenção de peças anatômicas para uso didático. Revista de Divulgação Cientifica da Sociedade Brasileira de Anatomia – O Anatomista. Ano 7, supl. 1, julho de 2016.
AVERSI-FERREIRA, T.A.; LOPES, D.B.; REIS, S.M.M.; ABREU, T.; AVERSI-FERREIRA, R.A.G.M.F.; VERA, I.LUCCHESE, R. Practice of dissection as teaching methodology in anatomy for nursing education. Brazilian Journal of Morphological Science, v. 26, p. 151-157, 2009.
LIMA, S.L.T. et al. Estudo da atividade proteolítica de enzimas presentes em frutos. QNEsc. Vol. 39 N.3. 2008.
PEDREIRA, C.M.S. Enzimas proteolíticas de plantas usadas no amaciamento da carne: bromelina, ficina e papaína. BeefPoint. 2001.
RODRIGUES, H. Técnicas anatômicas. 3ed. Vitória- ES. 2005.
SILVEIRA, M.J; TEIXEIRA, G.M; OLIVEIRA, E.F. analise de processo alternativos na preparação de esqueletos para uso didáticos. Maringá: Acta Sci Biol Sci. v.30, n.4, p. 465-472, 2008.