Comunicações científicas
8Aspectos Anatômicos e Funcionais dos Músculos Externos do Quadril do Tamanduá Bandeira (Myrmecophaga Tridactyla, Linnaeus, 1758)
Introdução
A superordem Xenarthra (xeno = estranho e arthron = articulação) é formada pelos tatus (ordem Cingulata), tamanduás e preguiças (ordem Pilosa) (VIZCAÍNO & LOUGHRY, 2008).
O M. tridactyla apresenta modo de locomoção plantígrado, podendo, no entanto, adquirir a posição bípede ao escavar para obtenção de alimento ou durante a defesa (GAMBARYAM, 2009). Não há até o momento descrição dos músculos proximais do membro pélvico desta espécie. Este conhecimento pode ser importante, especialmente em procedimentos cirúrgicos. Assim, o objetivo deste estudo foi descrever a musculatura externa do quadril desta espécie.
Material e métodos
Foram utilizados neste estudo seis exemplares de M. tridactyla, adultos, sendo três fêmeas, dois machos e outro indefinido devido à retirada dos órgãos genitais em procedimento de necropsia. As carcaças foram cedidas pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) – IBAMA-GO (licença 99/2011), e o projeto foi previamente aprovado pela comissão de ética no uso de animais (Processo CEUA-UFG nº 015/11).
Ao dar entrada no Laboratório, os animais foram descongelados a temperatura ambiente por um período de 48h, higienizados em água corrente e posteriormente submetidos à fixação por meio de injeções com solução de formol a 10%, num volume correspondente a 10% do peso corporal e posteriormente imersos em tanques com solução conservadora de formol na mesma concentração. A dissecação teve início com a retirada da pele da cintura pélvica e coxa de ambos os antímeros. Posteriormente seguiu-se na evidenciação dos músculos, que foram documentados por meio de esquemas e fotografias, obtidas com uma câmera digital (Sony DSC-H50®, Brazil).
Resultados e discussão
Os músculos identificados na superfície externa do quadril de M. tridactyla foram: glúteo superficial, glúteo médio, glúteo profundo, piriforme, articular do quadril, glúteo femoral e tensor da fáscia lata.
O músculo (M.) glúteo superficial origina-se nos processos espinhosos das vértebras sacrais e fáscia glútea e se insere na porção proximal da crista trocantérica. Atua estendendo a articulação do quadril e rotacionando lateralmente a coxa. É inervado pelo nervo glúteo caudal
O M. glúteo médio origina-se nas tuberosidades sacral e coxal, face glútea do ílio e fáscia toracolombar e insere no trocânter maior do fêmur. Atua na abdução da articulação do quadril e rotação medial da coxa. É inervado pelo nervo glúteo cranial.
O M. glúteo profundo origina-se na crista do ílio e insere no trocânter maior do fêmur, cranial ao M. piriforme e profundamente ao músculo glúteo médio. Atua juntamente com o glúteo médio na abdução da articulação do quadril e rotação medial da coxa. É inervado pelo nervo glúteo cranial.
O M. piriforme origina-se nos processos transversos das últimas vértebras sacrais e insere no trocânter maior do fêmur. Auxilia na extensão do quadril. É inervado pelo nervo glúteo caudal
60O M articular do quadril origina-se caudalmente ao músculo piriforme e insere-se na crista lateroproximal do fêmur juntamente com o músculo gêmeos. Auxilia na extensão do quadril.
O M. glúteo femoral origina-se no processo transverso da primeira vértebra caudal e duas últimas vértebras sacrais. Estende e abduz a articulação do quadril e ajuda no movimento lateral da cauda. É inervado pelo nervo glúteo caudal.
O M. glúteo femoral, também descrito como músculo caudofemoralis (CARLON & HUBBARD, 2012), dentre os animais domésticos está presente apenas em felinos (GETTY, 1986 e SCHALLER, 1999). Ele origina-se nas primeiras vértebras caudais e insere-se na fáscia caudolateral do fêmur, coincidindo com as descrições em gatos (SCHALLER, 1999).
O M. tensor da fáscia lata apresenta-se encoberto pela fáscia de inserção do músculo cutâneo do tronco. Origina-se na fáscia dorsolombar e tuberosidade coxal e se insere através da fáscia lata na superfície proximal da patela. Tensiona a fáscia lata e auxilia na flexão da articulação do quadril e na abdução e rotação medial da coxa. É inervado pelo nervo glúteo cranial.
Conclusão
A morfologia dos músculos externos do quadril do M. tridactyla assemelha-se, à dos animais domésticos, embora apresente o músculo glúteo femoral, citado por outros autores nos animais selvagens, porém presente apenas nos felinos entre os animais domésticos.
Referências
CARLON, B.; HUBBARD, C. Hip and Thigh Anatomy of the Clouded Leopard (Neofelisnebulosa) with Comparisons to the Domestic Cat (Feliscatus).The Anatomical Record, v. 295, p. 577-589, 2012.
GAMBARYAM, P. P.; ZHEREBTSOVA, O. V.; PEREPELOVA, A. A.; PLATONOV, V. V. Pes muscles and their action in giant anteater M. tridactyla (Myrmecophagidae, Pilosa) compared with other plantigrade mammals. Russian Journal of Theriology. Rússia, v. 8, n. 1, p. 1-15, 2009.
GETTY, R.; SISSON/ GROSSMAN: Anatomia dos animais domésticos.5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. 2000p. v. 1 e 2.
SCHALLER, O. Nomenclatura anatômica veterinária ilustrada. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999. 494 p.
VIZCAÍNO, S. F.; LOUGHRY, W. J. The Biology of the Xenarthra. 1.ed. Gainesville: University Press of Florida, 2008. 370p.