
Ediane
Noeli me liga ainda no domingo para contar o ocorrido. O tom é de acusação. Quase como se dissesse que eu botei as latas de spray nas mãos dos alunos. Ela me manda as fotos e pergunta secamente se eu sei quem poderiam ter sido os autores.
Conta que o vizinho de frente da escola diz ter visto três pessoas pichando o muro por volta das nove da noite; que eram dois rapazes e uma garota com um moletom muitos números maior do que ela deveria vestir. Ela ter ressaltado essa característica me faz pensar que provavelmente acha que a Isa está envolvida. Depois de ver as fotos, tenho certeza de que o tom de acusação é por eu ter apoiado a iniciativa de criação do Grêmio.
Eu e a Noeli temos grandes divergências sobre como a escola deve ser gerida. A visão dela foca estritamente a manutenção das regras e a disciplina dos alunos. A sua marca é a hierarquia e a punição de atitudes e posicionamentos que firam o que ela entende que é a conduta de estudantes em uma instituição escolar. No entanto, desde que assumiu a gestão, há cinco anos, os conflitos e retaliações se multiplicaram.
A escola já foi pintada duas vezes desde o início da gestão. Mas é terminar de pintar que em poucos dias aparecem as pichações em toda a escola. Piscou, pixou de novo. Muitos desses registros são xingamentos destinados à gestora e aos professores, mas a maior parte é sobre as referências à identidade desses jovens, que é negada no diálogo e na participação da escola. Eles registram as torcidas que eles se identificam ou participam, seus nomes e apelidos, recados de paquera, referências a músicas, substâncias ilícitas, seus territórios, seus grupos de pertencimento, recados para seus afetos e desafetos e muito mais.
Embora a Noeli tenha feito uma breve reunião no dia do episódio do protesto na porta da escola, ela usou novamente da estratégia de ignorar as reivindicações dos estudantes. Mas eles não se calaram. Fizeram um apitaço na hora do recreio, com palavras de ordem ditas no coletivo. Seguraram cartazes pedindo para ser ouvidos. Entregaram documentos fazendo essa solicitação. Colaram cartazes nas paredes do colégio – que rapidamente foram retirados pelos coordenadores – e também entregaram panfletos para os estudantes e pais que foram à escola. No entanto, não obtiveram nenhuma resposta. Aliás, tiveram, sim, retorno.
Vários professores concordam com a postura autoritária da gestora Noeli. Ela não está sozinha neste posicionamento. E iniciou-se uma espécie de guerra velada entre esses professores e os estudantes. Especialmente, aos que participam mais ativamente dos atos de protesto.
A resposta foi uma perseguição aos alunos por meio do poder exercido pelos professores. Começaram a aplicar provas surpresa. O nível de dificuldade das avaliações cresceu absurdamente entre esses parceiros da gestão. As notas dos estudantes caíram vertiginosamente.
Os mesmos aliados da direção começaram a propor “tarefas de casa” em quantidade e dificuldade praticamente impossíveis de serem realizadas pelos estudantes.
O número das expulsões de sala e as advertências disciplinares por motivos banais também se tornaram recorrentes. Em retaliação, as pichações em paredes, portas e muros da escola também cresceram exponencialmente. Apareceu de tudo: siglas de torcidas organizadas, facções criminosas e ofensas aos professores do lado da gestão e, também, é claro, à Noeli.
O clima da escola se tornou insuportável. Até as aulas de Educação Física, que os estudantes amam, passaram a ser exclusivamente teóricas. A perseguição alcançou até a qualidade e a quantidade da merenda. Lanches que os meninos detestam, como mingau e arroz doce, passaram a ser rotina. Há dias em que são servidas apenas três bolachas de água e sal com chá.
A acusação foi explícita. Ela me culpou de ser a responsável por incentivar as pichações. Mas fico aqui me perguntando: será que, se ela tivesse ouvido os estudantes e tentado abrir um canal de diálogo e participação em vez de promover uma guerra, os estudantes iriam responder com este tipo de protesto?
Entendo que eles se comunicaram por meio das pichações. Estão gritando por visibilidade. Uma escola que não dialoga com seus estudantes está implorando por reação. Eles são adolescentes, a escola tem apenas estudantes de Ensino Médio. Eles não são crianças; não querem ser subjugados, manipulados nem controlados.
Em resposta às mensagens, mandei apenas o print de um fragmento da Constituição Federal:
Constituição Federal - Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
Como esperado, ela não responde. Mas dou o meu recado.
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Assim que chego ao Barão, não se fala em outra coisa. Os estudantes estão do lado de fora, em volta de uma das pichações. E, para minha surpresa, além da que está na caixa de cimento que serve de vaso para a árvore, a segunda delas está no muro interno do colégio.
Entramos nas salas, mas em poucos minutos o coordenador de corredor vem chamar para fora cada um dos professores a fim de avisar que teremos reunião depois do intervalo do recreio. Os estudantes serão dispensados. Nunca vi acontecer nada parecido nesses mais de cinco anos que a Noeli é gestora do Colégio Barão de Cotegipe. Sei bem o que me espera e estou preparada para isso.
Todos os professores do matutino que estão na escola participam da reunião. A secretária-geral e os coordenadores, também. Noeli inicia explicando a urgência da reunião em virtude dos acontecimentos de sábado à noite na escola. Destaca que, embora as pichações sejam um problema importante, a invasão no interior da escola é, na verdade, o ponto central.
Começa dizendo que, desde que os alunos foram influenciados e incentivados a criar o grêmio, as pichações das carteiras e paredes com pincel atômico, canetas e corretivo aumentaram absurdamente.
Ela explica que entende a escola como um espaço de hierarquia, autoridade e respeito. E que os protestos e agora o vandalismo desse grupo deve ser punidos severamente.
– Eu os reuni aqui porque preciso do apoio de vocês para chamar a polícia, visto que houve dois crimes: a pichação, que é crime ambiental previsto em lei, e também a invasão da escola. Já sabemos quem foram os autores, por dedução óbvia: o aluno novato do terceiro ano, Jorge Fantinni; a estudante do primeiro ano, Isaltina; e o aluno Maycon, do turno noturno. Eles chegaram de bicicleta, conforme relato do vizinho da frente, pularam o muro por volta das 21h de sábado, fizeram as pichações no interior da escola e, antes de irem embora, picharam o muro externo – relata Noeli, com tom de denúncia.
– Como você sabe que foram eles? – pergunta Tiago, o professor de filosofia.
– Pela descrição da garota, tivemos certeza de que é a Isaltina. O Jorge e o Maycon, com ela, são os que estão à frente dos protestos e das ações do bando, disfarçado de iniciativa de Grêmio Estudantil. Então é óbvio que foram eles.
– Noeli – insiste Tiago –, tem algo aí que não se encaixa. O Jorge tem carro e o Maycon tem moto. Por que eles viriam os três de bicicleta? Não é possível afirmar que eles são os autores apenas com base nas informações que você apresentou. Alguém os viu e reconheceu?
– Não, mas o vizinho disse que a garota usava um moletom azul-marinho bem maior que o tamanho da vândala. Quem se veste assim aqui na escola e têm vínculo com o grupo é a Isaltina. Os outros dois eram altos e magros e também usavam moletom com capuz. Chegamos à constatação óbvia de que seriam os dois. Eles podem ter vindo de bicicleta justamente para disfarçar. Foi assim que analisamos a situação.
– Você disse “analisamos”. Quem são as pessoas, além de você, que chegaram a essa conclusão? – digo em tom de pergunta, mas o que quero mesmo perguntar é como que ela pode fazer uma acusação dessas apenas com base na própria opinião.
– Para mim, está nítido que foram eles – diz Noeli, esquivando-se da pergunta. E continua: – Quero chamar os pais e pressionar pela transferência. Precisamos disso para voltar a ter o colégio em ordem. Dar uma punição exemplar a esse absurdo. É para isso que convoquei esta reunião. Elaborei um documento relatando tudo o que tem ocorrido no Barão de Cotegipe desde que começou esse disparate de criação de Grêmio até a data de invasão e pichação. E quero contar com todos vocês para assinar, juntamente à direção, exigindo que os responsáveis assinem a transferência.
– Eu não assino, Noeli – diz o Tiago, tirando as palavras da minha boca. – Não se pode provar que foram esses estudantes. E tem mais: pode ter sido qualquer um, pois o clima na escola está semelhante ao de um front de guerra. As pichações comunicam de forma mais agressiva o que eles têm pedido e protestado há semanas. Eles querem ter direito de participar dos debates e decisões da escola. E não há nada de errado nisso. Inclusive, quando a Elaine era diretora, a postura dela era completamente oposta.
– Então, professor Tiago, você está dizendo que o que está acontecendo no colégio e esses dois crimes ocorridos no sábado são minha culpa?
– Se ele não está dizendo, eu estou – digo, antes que ele tenha oportunidade de responder à questão, e prossigo: – A forma como você conduziu esse assunto foi extremamente autoritária. Até então, eles tentaram várias estratégias pacíficas e organizadas para que o Grêmio fosse oficializado e que constasse no regimento e projeto político pedagógico da escola como entidade representativa dos estudantes. Está previsto nos documentos a possibilidade de criação do Grêmio. Além disso, mesmo que não estivesse, a gestão democrática está prevista em lei.
– Essa cambada é um bando de baderneiros, isso, sim! – assevera D. Romilda, a professora de português. A mesma do problema com a Isa. – Têm mesmo que ser punidos. É assim que se lida com bandido.
– Não coloque essa fala na ata – diz apressadamente Noeli para a secretária-geral. – Agradeço o seu apoio, professora. É bom saber que posso contar com vocês.
– Aí também não, né, Noeli? Vamos ter que assinar uma ata de reunião falsa, omitindo e selecionando informações? Não me sinto confortável em assinar esse documento que você criou. Como o Tiago bem disse, tem coisa estranha aí. Você chamou os pais para perguntar se eles estavam em casa no sábado à noite? – perguntou Márcia, a professora de Arte.
– É claro que eles vão mentir. O colégio mais próximo fica em outro bairro, onde eles têm que ou levá-los ou pagar transporte. Além de terem que acordar mais cedo. Tudo isso pode ser resolvido aqui e agora. Eu chamo os pais e eles pegam a transferência.
– Antes disso, deveríamos discutir sobre o que o Tiago e a Ediane falaram: o clima da escola e as atitudes que foram tomadas para evitar que o grêmio se consolidasse – diz agora Laís, a professora de Biologia.
– Professora, agora estamos aqui para solucionar a situação dos criminosos que estão nesta escola. Além de terem invadido o colégio, também depredaram o patrimônio público. Podemos abrir essa discussão em outra oportunidade – diz Noeli com calma e esquivando-se novamente.
– Na verdade, você também está fugindo deste debate há pelo menos dois meses. As únicas atitudes que tomou foram para silenciar e retaliar o movimento legítimo dos estudantes. Concordo com a professora, o que está escrito nas pichações faz todo sentido. Esse tipo de manifestação já aparecia nas paredes da escola em várias pichações menores, e elas comunicam ideias semelhantes à dessas pichações maiores. A questão é que agora está lá fora, o que exigirá explicações. Expulsar esses três estudantes, que nem sabemos se são os autores, é só para silenciar o restante. Precisamos abrir espaço para o diálogo. Aqui não é um quartel, é um espaço de construção da cidadania, ou ao menos deveria ser – defende Tiago.
– Estou gerindo esta escola há mais de cinco anos e nunca tivemos esse tipo de ocorrência. Muitos professores aprovam o estilo da minha gestão. E a prova de que ela é democrática é que os que se opõem à proposta têm total liberdade para se manifestar, como o que está ocorrendo aqui. Não posso deixar essa situação sem uma providência. Respeito quem não quer ratificar o documento, mas é assim que eu agirei. Quem puder assinar, eu agradeço. Quem não quiser, não será obrigado. No mais, é esse o tema da reunião. Caso alguém queira se manifestar, fique à vontade. De minha parte, é isso – conclui Noeli.
– Eu só tenho uma pergunta: quando a gestão se reunirá com os estudantes a fim de realizar a consolidação do Grêmio e abrir um canal de diálogo e participação? – questiono.
– Dados os acontecimentos recentes, e no que estiver em meu poder, nunca. – Depois de uma grande pausa, conclui: – Muito obrigada pela participação de todos, o horário de trabalho está quase acabando. Solicito aos servidores com quem posso contar para a assinatura do documento que permaneçam na sala após a saída dos demais. – Em seguida, entrega o papel em mãos à secretária, que faz a ata e se retira da sala.
Nós estávamos em dezoito professores, dois coordenadores e a secretária-geral. E, para meu grande espanto, só ficam quatro professores e os dois coordenadores para assinar o papel. Os demais se dirigem ao exterior do colégio no mais absoluto silêncio.
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É bom saber que não estou sozinha na visão sobre toda essa situação e que não só eu me oponho às atitudes da gestora Noeli. No entanto, fico muito pensativa. Somente a Laís, o Tiago, a Márcia e eu falamos abertamente sobre essa oposição. Os demais não concordam, mas não querem tomar partido. Sei que a Noeli é bem capaz de retaliar os que não compactuam com suas decisões e que isso pode ser um dos motivos; mas também penso que é uma maneira de não se desgastar e não sair da sua zona de conforto para se empenhar em favor de uma escola menos opressora, mais libertária e mais cidadã.
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A Feira Cultural do colégio vai ocorrer nesta semana. Muitos estudantes fizeram trabalhos de ótima qualidade. Um deles diz respeito à história do Barão de Cotegipe, que foi homenageado no nome da nossa unidade de ensino. Os estudantes do 3º C ficaram responsáveis por essa pesquisa e vão fazer a apresentação utilizando cartazes e explicando aos visitantes do seu estande.
É um evento tradicional do colégio em que os estudantes se envolvem muito, pois eles são os produtores dos materiais e, especialmente, os construtores de seu próprio conhecimento, que será partilhado no dia da culminância do projeto.
Alguns estudantes estão organizando um estande que tratará da prevenção da gravidez na adolescência. Estão sendo orientados pela professora Laís, da disciplina de Biologia. Apesar da orientação da direção para não abordar esse tema, pois poderia causar polêmica entre os pais, os estudantes resolveram desafiar o aviso e levarão vários métodos contraceptivos para explicar cada um deles aos estudantes que visitarão esse estande. Também haverá distribuição de preservativos masculinos e femininos.
Um dos momentos mais aguardados da Feira Cultural é o concurso de redação. Os três primeiros lugares ganharão medalhas e livros que foram comprados com uma vaquinha feita pelos professores. As três professoras de língua portuguesa são sempre as avaliadoras. Amanhã será o dia do evento, e saberemos quem são as vencedoras ou vencedores.
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No dia seguinte à reunião, Noeli convocou os responsáveis dos três estudantes acusados pela gestora de terem pichado a escola. Todos foram recebidos com o “tal” documento e foi solicitado que o responsável – no caso, as responsáveis, pois só as mães foram – assinasse o pedido de transferência dos estudantes.
A mãe do Maycon assinou e disse que, quando ele chegasse do trabalho, ia se ver com ela. Como ele tem moto, não será tão prejudicado pela transferência, embora a mãe diga que não sabe onde o filho estava na noite de sábado e a Noeli estrategicamente “tenha se esquecido” de contar que os pichadores estavam de bicicleta.
A mãe do Jorge foi muito bem recebida. O documento acusatório não foi apresentado, e Noeli recomendou que a mãe conversasse com o filho, pois “tinham alegado” que ele estava entre os vândalos, o que Helena Fantinni negou de pronto. Disse que no final de semana estiveram no sítio da família no interior e que Jorge não saiu de lá em momento algum. Noeli, então, pediu desculpas à senhora e disse que a pessoa que tinha denunciado estava provavelmente equivocada.
Já a Maísa, mãe da Isa, não teve o mesmo tratamento. Assim que entrou, não foi nem convidada a se sentar. As duas de pé, Noeli disse que tinha certeza de que ela estava entre os invasores e que o vizinho a tinha reconhecido. Disse que ela já tinha causado problemas demais na escola e exigiu que a mãe assinasse a transferência da filha para outro colégio.
Assim como Helena Fantinni, Maísa contou que não era possível ter sido a filha, pois ela estava trabalhando em uma festa infantil no DeltaVille e que chegou em casa, na van da empresa, por volta das 23h30 de sábado. A menina tomou banho e em seguida foi dormir, acordando no domingo às 11h.
No entanto, Noeli insistiu que ela tinha sido reconhecida pelo vizinho e que a filha provavelmente havia mentido para a mãe sobre onde ela teria ido naquela noite. A mãe da Isa, no entanto, sabe muito bem da responsabilidade da filha e perguntou:
– A senhora tem filhos, dona Noeli? – disse olhando fixamente nos olhos da gestora.
– Não, não tenho – respondeu, confusa com a pergunta.
– Pois então, dona Noeli. Eu sou mãe de três meninas. A mais velha delas é a Isa. Ela cuidou das irmãs menores durante anos preu poder trabalhar. E mesmo assim continuou sendo boa aluna. Eu gerei esta menina em meu ventre, amamentei enquanto pude e fui eu mesma que criei. Eu conheço o caráter da minha filha. Ela estava trabalhando. E sou capaz de qualquer coisa para que ela não seja injustiçada. Eu não vou assinar transferência nenhuma. E digo mais: vou agora atrás de providências para acabar com essa perseguição a ela. Eu sei de tudo, minha filha é minha amiga. A senhora, que não tem filhos, não tem condições de entender isso.
Chocada com o relato e o posicionamento da mãe, Noeli ficou sem palavras. Maísa virou as costas e foi embora, deixando Noeli em pé no mesmo lugar onde a recebeu.
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Quando chego à escola, o primeiro estande com que me deparo é o do 3º C. Um cartaz gigante, com mais de 1,5 m de largura, estampa a parede.

Os estudantes descobriram que o Barão de Cotegipe, além de deputado, senador e ministro do império, também tinha sido um conservador escravocrata que, além de outras crueldades, tinha votado contra a Lei Áurea na quase unânime votação no Senado a favor da libertação dos escravizados.
Fizeram panfletos com a história do barão e lançaram uma lista com possíveis nomes para substituir o “homenageado”, que prontamente vira palco da variedade da zoeira e criatividade dos adolescentes. Propostas como: Colégio Santa Beyoncé Gaga, Free Fire School, Colégio Escorpião com Ascendente em Câncer, Colégio Professor Faltou, Colégio só Educação Física, Colégio Pode Dupla de Três?, Colégio Chapolin Colorado e muitas outras pérolas. Gosto de como abordaram os aspectos históricos de maneira inteligente e divertida.
Chega o momento de anunciarem os vencedores do concurso de redação. O terceiro lugar vai para o Bruno César, do 3º B, que ganha a medalha de bronze e um livro. O segundo lugar vai para a Larissa, do 2º D, que recebe a medalha de prata e também um livro. No momento em que vão entregar o primeiro lugar, há então uma surpresa. A professora de português, a dona Romilda, diz que a redação campeã está com o nome em branco.
– Então vou lê-la aqui para todos ouvirem, e quem for o dono ou dona contará o restante do texto.
A professora começa a ler, e rapidamente a Geovanna vai ao encontro da Isa, que está conversando com o Jorge, e pede para ela ouvir a leitura da redação. Extremamente confusa, Isa diz:
– Mas o que é isso? Esse texto é meu! Eu não participei do concurso! Essa professora nem leria a minha redação se eu estivesse concorrendo. Ela me odeia. – É então que ela olha para Geovanna, que está sorrindo.
– Eu peguei um texto seu que tinha em casa e te “inscrevi” no concurso – diz Geovanna em um misto de nervosismo e empolgação.
– Vai lá, pega o seu prêmio! Anda! – diz Jorge enquanto quase arrasta Isa até ao palco.
– É da Isa a redação – grita Geovanna, animada.
No entanto, o semblante da professora muda instantaneamente. Parece pasma com o que ouve. Mas tenta disfarçar.
– Então conta o restante do texto – diz ela.
Isa está com tanto nervosismo que fala tão rápido que quase não se consegue compreender. Mas a professora está com o texto na mão e compreende que, sim, a dona do texto é Isa. A professora, em choque por ser obrigada a entregar o prêmio de melhor redação da escola para Isa, fica parada por alguns segundos, olhando para o nada; provavelmente pensando na situação. As outras professoras de português que dão aulas para os segundos e terceiros anos chamam Isa para subir no palco e receber os prêmios.
Cada uma delas entrega um prêmio. A primeira, uma agenda:
– Parabéns, seu texto é excelente. Você escreve muito bem – diz, sorrindo, enquanto lhe dá o presente.
– Você tem futuro nessa área, sua redação nos emocionou – diz a professora do segundo ano enquanto entrega o livro.
Entregar a medalha de ouro fica a cargo da professora de Isa, a dona Romilda. Ela não diz uma única palavra. Passa o cordão da medalha pela cabeça de Isa e imediatamente começa a bater palmas, que são acompanhadas por aplausos, assobios e gritaria geral dos estudantes de toda a escola.
Isa fica sem graça, mas, ao olhar Jorge, vê um sorriso imenso de admiração. Desce do palco e ele lhe dá um abraço demorado. É um momento muito importante da nossa feira.
Graças a Geovanna e seu plano do bem, Isa teve finalmente seus talentos para a escrita reconhecidos por todos do Colégio Barão da Escola Democrática, que foi o nome que coloquei na lista de sugestões.