23 ∙ Nutrição na Doença Renal Crônica

Sumário

23 ∙ Nutrição na Doença Renal Crônica

  • Ana Tereza Vaz de Souza Freitas
  • Darlane Ferreira de Sousa
  • Nara Aline Costa
  • Taiane Gonçalves Novaes

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Introdução

Durante a internação hospitalar e em consultas ambulatoriais, recomenda-se a realização da triagem nutricional em crianças com idade ≥ 30 dias de vida e em adolescentes com DRC (Figura 1).Em seguida, deve-se realizar a avalição nutricional completa, incluindo antropometria (Tabela 1), exame físico, anamnese dos hábitos alimentares e exames bioquímicos.

Figura 1. Algoritmo para determinação do risco nutricional em crianças e adolescentes.
Tabela 1. Parâmetros recomendados para a avaliação antropométrica.
OMS: Organização Mundial de Saúde; IMC: Índice de Massa Corporal.
Medidas 0-5 anos 5-10 anos 5-19 anos
Peso
Estatura
Curva OMS Estatura/Idade
Curva OMS IMC/Idade
Curva OMS Perímetro Cefálico/Idade
Curva OMS Peso/Comprimento
Curva OMS Peso/Estatura
Curva OMS Peso/Idade
Circunferência do Braço
Circunferência Abdominal
Dobra Cutânea Tríceps
Dobra Cutânea Subescapular

Diagnóstico nutricional

A partir do diagnóstico nutricional, o nutricionista faz a prescrição dietética com base no cálculo das necessidades energéticas, de macro e micronutrientes, ingestão hídrica e de fibras.

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Quadro 1. Estimativa das necessidades energéticas de crianças e adolescentes.
Fonte: KDOQI, 2008; UpToDate, 2018. EER: Estimated Energy Requirement; CAF: Coeficiente de Atividade Física.*CAF: sedentário (1,0 a 1,39), pouco ativo (1,4 a 1,59), ativo (1,6 a 1,89) e muito ativo (1,9 a 2,5).
Idade Necessidade Energética
0 a 3 meses EER= [89 x peso (kg) – 100] + 175
4 a 6 meses EER= [89 x peso (kg) – 100] + 56
7 a 12 meses EER= [89 x peso (kg) – 100]+ 22
13 a 35 meses EER= [89 x peso (kg) – 100] + 20
3 a 8 anos Meninos: EER= 88,5 – 61, 9 x idade (a) + CAF x [26,7 xpeso (kg) + 903 x altura (m) + 20
Meninas: EER= 135,3 – 30,8 x idade (a) + CAF x [10 x peso(kg) + 934 x altura (m) + 20
9 a 18 anos Meninos: EER= 88,5 – 61, 9 x idade (a) + CAF x [26,7 xpeso (kg) + 903 x altura (m) + 25
Meninas: EER= 135,3 – 30,8 x idade (a) + CAF x [10 x peso(kg) + 934 x altura (m) + 25
Quadro 2. Distribuição de macronutrientes recomendada para crianças e adolescentes.
Fonte: KDOQI, 2008; UpToDate, 2018.
Macronutriente Idade 1 a 3 anos Idade de 4 a 18 anos
Carboidrato 45 – 65% 45 – 65%
Lipídeos 30 - 40% 25 – 35%
Proteínas 5 – 20% 10 – 30%
Quadro 3. Recomendação diária para a ingestão de proteína em crianças com DRC nos estágios 3 a 5 não dialíticos, hemodiálise e diálise peritoneal.
Fonte: KDOQI, 2008; UpToDate, 2018. HD: hemodiálise; DP: Diálise peritoneal. * DRI + 0,1g/kg para compensar perdas dialíticas **DRI + 0,15 – 0,3 g/kg para compensar as perdas peritoneais.
Idade Estadio 3 (g/kg) Estadio 4- 5 (g/kg) HD (g/kg) DP (g/kg)
0 - 6 meses 1,5 a 2,1 1,5 a 1,8 1,6 1,8
7 -12 meses 1,2 a 1,7 1,2 a 1,5 1,3 1,5
1 - 3 anos 1,05 a 1,35 1,05 a 1,25 1,15 1,3
4 - 13 anos 0,95 a 1,35 0,95 a 1,15 1,05 1,1
14 – 18 anos 0,85 a 1,2 0,85 a 1,05 0,95 1,0
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Vitaminas e minerais

De maneira geral recomenda-se atingir 100% das quantidades determinadas pela DRI como ponto de partida para crianças com DRC em tratamento conservador ou em diálise crônica. A suplementação deve ser considerada, principalmente quando a ingestão alimentar não atingir os valores preconizados e na presença de sinais e sintomas.4 Atenção especial deve-se dar a adequação ao consumo de vitaminas hidrossolúveis para pacientes em diálise, devido à sua maior perda durante o procedimento.

Sódio

A restrição de sódio (<1500 a 2400mg/dia) é recomendada apenas para crianças com DRC em estágio avançado e com débito urinário insuficiente e para as demais situações, deve-se adotar a dieta normossódica.1 Para tanto, podem ser adotadas como por exemplo: reduzir ou evitar o uso de sal durante o cozimento dos alimentos; não ter saleiro a mesa; preferir alimentos in natura ao invés dos ultra processados; realizar a leitura dos rótulos e evitar consumir alimentos com maior teor de sal (140 a 200mg/porção); usar ervas e temperos naturais para dar sabor as preparações e preferir realizar as refeições em casa.4

Potássio

A hipercalemia representa um risco mais significativo do que a hipocalemia em crianças com DRC, devido ao elevado risco de arritmias e doenças cardíacas. Recomenda-se a ingestão de 40–120 mg/kg/dia de potássio para bebês e crianças e de 30-40 mg /kg/dia de potássio para crianças mais velhas.1

O leite materno tem baixo teor de potássio e deve ser incentivado o seu consumo por bebês. Os familiares responsáveis pelas crianças devem ser orientados sobre os alimentos com alto teor de potássio (> 200mg/porção) a serem evitados. Além disso, o uso de substitutos de sal que contenham potássio também não é recomendado.4

Sempre que possível, os legumes e leguminosas devem ser cozidos sem a casca em água em abundância, a qual deve ser desprezada após o cozimento do alimento. Deve-se ter moderação no consumo de alguns alimentos como: amendoim, nozes, castanhas, avelã, amêndoas, tomate seco, molho ou extrato, chocolate a achocolatados, água de coco, chimarrão, frutas secas e caldas das compotas de frutas, suco de fruta concentrado e refrigerantes. O consumo de carambola em qualquer estádio da DRC deve ser fortemente evitado.

Fósforo

A hiperfosfatemia ou o hiperparatireoidismo podem exigir uma restrição dietética de fósforo, que muitas vezes é desafiadora para crianças. Em pacientes com elevação do paratormônio (PTH), recomenda-se limitar a ingestão de fósforo em 100% do DRI de acordo com a faixa etária. Já para pacientes com fósforo e PTH séricos elevados, recomenda-se que a ingestão de fósforo seja limitada a 80% do DRI.1

Com a progressão da doença renal, há o aumento na retenção de fósforo, sendo necessário o uso de quelantes. O carbonato de cálcio é eficaz em crianças e deve ser utilizado como terapia de primeira escolha, sendo necessário contabilizar essa oferta a ingestão dietética. O uso dos quelantes contendo cálcio deve ser feito juntamente com refeições para obter máxima eficácia e absorção intestinal mínima de cálcio livre.1

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Referências Bibliográficas

  1. National Kidney Foundation - K/DOQI clinical practice guideline for nutrition in children with CKD: 2008 update: executive summary. Am J Kidney Dis. 2009; 53 (supl. 2): S11-104.
  2. Gomes DF, Gandolfo AS, Oliveira AC, Potenza ALS, Micelli CLO, Almeida CB, et al. Campanha “Diga não à desnutrição Kids”: 11 passos importantes para combater a desnutrição hospitalar. BRASPEN J. 2019; 34 (1): 3-23.
  3. World Health Organization. Who child growth standards: length/height-for-age,weight-for-age, weightfor-length, weight-for-height and body mass index-for-age. Methods and development. WHO (nonserial publication). Geneva, Switzerland: WHO, 2006.
  4. Associação Brasileira de Nutrição. Manual Orientativo: Sistematização do Cuidado de Nutrição / [organizado pela] Associação Brasileira de Nutrição; organizadora: Marcia Samia Pinheiro Fidelix. – São Paulo: Associação Brasileira de Nutrição, 2014. 66p.