PDCC - Módulo III
 
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03. Guideline para a Temática 2

Patrimônio Cultural Goiano/Tocantinense

Não encontramos, até o momento, um texto síntese que retrate de maneira global as principais referências culturais, ou seja, os bens culturais indexadores do que normalmente se referem ao patrimônio cultural goiano. É preciso esclarecer que por conta  da trajetória histórica do estados de Goiás e Tocantins iremos considerar os dois estados e, portanto, acrescentaremos o nome Tocantins no título do texto referente à nossa disciplina.

Por questão de recursos didáticos, adotaremos a linha temporal crescente, ou seja, iniciando com tempos pré-coloniais e depois tempos históricos e, por fim, referenciais culturais contemporâneos.

A ocupação pré-colonial em território goiano e tocantinense recua há muito no tempo. Os arqueólogos normalmente consideram essa primeira ocupação de Tradição Itaparica que  representariam caçadores coletores que tinham as rochas duras como sua principal fonte de confecção de artefatos como pontas de flechas, raspadores, moedores que são conhecidas como indústria lítica. Apesar de datas antigas referentes à ocupação humana no Brasil ganhar calorosas discussões, o certo é que  as datações seguras para as terras goianas que indicam a presença humana mais recuada no tempo se referem ao  nono milênio a.C (antes de Cristo), ou seja, entre 9.000 a.C até 6.500 a.C., relacionadas aos vestígios materiais pesquisados nos municípios de Caiapônia, Niquelândia, Planaltina de Goiás,  Serranópolis e Uruaçu. No estado do Tocantins, os vestígios mais antigos foram registrados no município de Lageado (ROCHA, MORAES e WUST, 2001: 17).

Após esse período de ocupação dos caçadores coletores, a região é ocupada no século IX pelos ceramistas agricultores que vivem em grandes aldeias que tem como marca material a tradição oleira para cozimento e práticas rituais. Essas aldeias ficavam nas margens dos rios goianos  Paranaíba, Corumbá, Meia Ponte e rio dos Bois e Alto rio Araguaia.

Além dos artefatos líticos e cerâmicos, o patrimônio arqueológico é composto ainda pelo conjunto de pinturas rupestres e petróglifos.

Do ponto de vista da ocupação humana, têm-se os grupos indígenas assim como os grupos africanos.

Quilombolas registrados em Goiás

Acaba Vida: na mesma região de Niquelândia, ocupavam terras férteis e era conhecido localmente, sendo citado em 1879. 
Ambrósio: existiu na região do Triângulo Mineiro, que, até 1816, pertencia a Goiás. Teve mais de mil moradores e foi destruído por massacre. 
Cedro: localizado no atual município de Mineiros, tinha cerca de 250 moradores que praticam a agricultura de subsistência. Sobreviveu até hoje. 
Forte: localizado no nordeste de Goiás, sobreviveu até hoje, tornando-se povoado do município de São João d'Aliança. 
Kalunga: localizado no Vão do Paranã, no nordeste de Goiás, existe há 250 anos, tendo sido descoberto pela sociedade nacional somente em fins do anos 1960. Tem 5 mil habitantes, distribuídos em vários núcleos na mesma região. 
Mesquita: próximo à atual cidade de Luziânia, estendia sua população para diversas localidades no seu entorno.
Muquém: próximo à atual cidade de Niquelândia e junto ao povoado de mesmo nome, foi notório, mas deixou poucas informações a seu respeito.
Papuã: na mesma região do Muquém, foi descoberto em 1741 e destruído anos depois pelos colonizadores. 
Pilar: próximo à cidade de mesmo nome, foi destruído em lutas. Seus 300 integrantes chegaram a planejar a morte de todos os brancos do local, mas o plano foi descoberto antes.
Tesouras: no arraial de mesmo nome, tinha até atividades de mineração e um córrego, inclusive, chamado Quilombo.
Três Barras: tinha 60 integrantes, conhecidos pelos insultos e provocações aos viajantes. 
São Gonçalo: próxima à cidade de Goiás, então capital, seus integrantes atacavam roças e rebanhos das fazendas vizinhas.
Fonte: Quilombos em Goiás de Martiniano José da Silva In
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Comunidades quilombolas do Tocantins

Comunidade Barra de Aroeira
Município: Santa Tereza do Tocantins
População estimada: 350 habitantes.
Comunidade Morro São João
Município: Santa Rosa do Tocantins
População estimada: 270 pessoas
Comunidade do Prata
Município: São Félix do Tocantins
População estimada: 210 habitantes
Comunidade Mimoso de Kalunga
Município: Arraias
População estimada: 225 famílias
Comunidade Lagoa da Pedra
Município: Arraias
População estimada: 150 habitantes
Comunidade Cocalinho
Município: Santa Fé do Araguaia
População estimada: 240 habitantes
Comunidade Malhadinha
Município: Brejinho de Nazaré
Comunidade Córrego Fundo
Município: Brejinho de Nazaré.
Comunidade Redenção
Município: Natividade
Comunidade da Baviera
Município: Aragominas
População estimada: 1.020 famílias
Comunidade Mumbuca
Município: Mateiros
População estimada: 150 famílias
Comunidade São Joaquim
Município: Porto Alegre
População estimada: 240 habitantes
Comunidade Lajinha
Município: Porto Alegre do Tocantins
Comunidade São José
Município: Chapada da Natividade
População estimada: 80 famílias
Comunidade Chapada da Natividade
Município: Chapada da Natividade
Fonte: http://jalapao.to.gov.br/quilombolas-do-tocantins/122

Visto essas informações de cunho arqueológico e histórico com algumas imagens dos representantes indígenas nos estados de Goiás e Tocantins, o que se percebe é que seguindo a tradição conceitual do patrimonial visto na primeira parte do curso, ainda temos uma visão mais tradicional dos temas do patrimônio, seja do patrimônio arqueológico, que tem leis específicas, seja dos formadores da nação fortemente baseado na ideia do mito das três raças.
Dessa maneira, temos os seguintes tópicos:

  • Historicamente o patrimônio cultural goiano, incluindo o antigo território, hoje estado do Tocantins, foi definido seguindo a lógica das políticas patrimoniais da pedra e cal e da excepcionalidade.
  • Bens Patrimoniais comuns nas mídias e publicações:
    • Casarios, igrejas e monumentos coloniais da cidade de Goiás.
    • Casarios, igrejas e monumentos da cidade Pirenópolis.
    • Casarios, igrejas e monumentos coloniais cidade de Pilar de Goiás.
    • Casarios, igrejas e monumentos coloniais colônias de Corumbá.
    • Casarios, igrejas e monumentos coloniais colônias de Natividade (TO).
    • Casarios, igrejas e monumentos coloniais de Porto Nacional (TO).
    • Conjunto de Art Déco de Goiânia.
  • Entre as festas se destacam:
    • Cavalhadas de Pirenópolis
    • Semana Santa da cidade de Goiás
    • A Caçada da Rainha
    • Festa de Trindade
    • Romaria de Nossa Senhora da Abadia do Moquém –Niquelândia
    • Festa de Nossa Senhora do Carmo em Natividade
    • Festa do Bom
  • Grupos étnicos e sociais:
    • Quilombos
    • Grupos Indígenas
    • Grupos Imigrantes
    • Ciganos

Mas é importante estar atento que essa forma tradicional de classificar os patrimônios tem sido questionada por demandas sociais e étnicas que não necessariamente se encaixam nas categorias de excepcionalidade ou de relevância. A noção de patrimônio tem se expandido nos últimos anos como senha de reivindicação de cidadania por grupos subalternos que buscam outras formas de marcação social da diferença, via a noção mesmo do patrimônio para reivindicar seus direitos culturais e sociais, via trilha do patrimônio como forma importante de empoderamento. É o que tenho chamado de cidadania patrimonial.

Nesse sentido, o patrimônio cultural goiano e tocantinense se abre para novas perspectivas, seja no âmbito material ou imaterial, já que tal separação é um falso problema suas próprias descobertas patrimoniais.

 

Bibliografia Obrigatória

Spinelli, Céline. (2010). Cavalhadas em Pirenópolis: tradições e sociabilidade no interior de Goiás. Religião & Sociedade,30(2), 59-73. Retrieved July 14, 2014, from http://www.scielo.br.

TAMASO, Maria Izabela. E Relíquias e patrimônios que o rio Vermelho levou...In Antropologia e patrimônio cultural – debates e desafios contemporâneos (Organizadores Manuel F. Lima Filho, Cornelia Eckert, Jane Beltrao). Blumenau: Nova Letra. 2007.

Lima Filho, Manuel Ferreira, & Silva, Telma Camargo da. (2012). A arte de saber fazer grafismo nas bonecas Karajá. Horizontes Antropológicos18(38), 45-74. Retrieved July 14, 2014, from http://www.scielo.br.

SILVA, Mônica Martins da, História, narrativas e representações na escrita do folclore em Goiás. ANPUH – XXIII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Londrina, 2005 http://anpuh.org

 

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Bibliografia Complementar

BRASIL. O Museu das Bandeiras da cidade de Goiás. IPHAN.: http://portal.iphan.gov.br

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Peões. Pretos, Congos. Brasília: Ed. UnB. 1977.

LIMA FILHO, Manuel Ferreira e MACHADO, Laís Aparecida. (Organizadores) Formas e Tempos da Cidade. Goiânia: Editora da UCG/Cânone Editorial.2007.

MESSIAS, Noeci Carvalho. Religiosidade e Devoção. As festas do Divino e do Rosário em Monte do Carmo em Natividade (TO). Tese de Doutorado em História. Faculdade de Historia. Universidade Federal de Goiás. 2010.  http://pos.historia.ufg.br/

PEDREIRA, Antonia Custódia. As diferentes faces e intefaces do patrimônio. – registros para a preservação da memória. Palmas: Editora da UNITINS. 2013.

PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Brasília: Editora da UnB. 1992.

SILVA, Catarina E. E. da e PARDI, Maria Lúcia. F. A pesquisa arqueológica na Casa da Fundição do Ouro de Goiás (GO). Dédalo, S. Paulo, pub. Avulsa, 1: 238-261, 1989.

ROCHA, Leandro Mendes e MORAES, A chegada do Europeu  (Goiás Colonial) (Organizador Leandro Mendes Rocha). Goiânia: CECAB, 2011.

TAMASO, Izabela Maria. Em nome de patrimônio: representações e apropriações da cultura na cidade de Goiás. 2007. 787 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social)-Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

TELES, Gilberto Mendonça. A literatura oral em Goiás. Goiânia. Imprensa Universitária da Universidade de Goiás. 1964