Estágio Supervisionado I

Apresentação

Que bom que já chegamos até aqui... Caminhos trilhados, desbravados, construídos. Muitos fios tecidos, alinhavados e outros tantos que estamos alinhavando. Juntamos saberes que cada um já possuía e outros que foram sendo construídos no decorrer deste caminhar, pois acreditamos numa dimensão educacional onde cada um já traz na bagagem fazeres e conhecimentos. Muitos deles construídos desde muito longe, às vezes não sistematizados, mas os trazemos nas nossas marcas, matrizes, cicatrizes pedagógicas e da vida.

Cada um no seu tempo — fomos e estamos construindo um sentido de grupo um pouco diferente dos encontros presenciais costumeiros, mas nem por isso menos dinâmico, prazeroso, denso e curioso. Aceitando, assim, os nossos “desajeitos” que, às vezes, se manifestam na incompreensão e domínio dos novos códigos, no domínio da “máquina” e nos difíceis acessos e links que não conseguimos fazer. Mas acreditamos que reside aí, nessas lacunas, a aventura de aprender, a humildade de aceitar os nossos “desajeitamentos” momentâneos para avançarmos nos processos de aprendizagens na formação e na vida, de modo que, melhores e mais significativas construções possamos realizar. Agora, utilizando das tecnologias próprias do nosso tempo, vamos nos permitindo aprender, reaprender, interagir e criar outros laços e trocas, aprendendo a dialogar em rede, outras maneiras de aprendermos a ser mais e a estar no mundo de outras formas.

Acreditamos firmemente que esta modalidade de ensino Educação a Distância possibilita o exercício da auto-formação, onde cada um encontra o seu tempo e seus lugares para essa construção de conhecimento que vai se dando de uma forma não tão linear como defendiam outras concepções de educação. Essas concepções não mais conseguem obter êxito no contexto da contemporaneidade.

Nesta caminhada, chegamos aqui no momento em que o estágio curricular obrigatório tem início! Momento em que pensaremos na transposição didática dos conhecimentos construídos ao longo destes módulos e disciplinas para os conhecimentos que poderemos construir com os alunos de cada um de vocês que, onde estiverem, estarão inseridos nas suas realidades, nas suas culturas, nas suas cidades. Algumas questões podem estar passando neste momento pela cabeça de vocês, tipo:

• Como se dará o estágio curricular obrigatório nos cursos de formação de professores oferecidos na modalidade a distância na Faculdade de Artes Visuais na UFG?
• Como é possível cumprir as exigências da obrigatoriedade de supervisão dos estagiários no campo?
• Seria possível mudar a concepção de estágio para o “novo” contexto da educação a distância?
• Qual a concepção e a estrutura de estágio a ser trabalhado?
• Como poderia ser o estágio em artes visuais utilizando as novas tecnologias e mídia na contemporaneidade?

Essas indagações norteiam a construção desse material didático do Estágio I como princípio do processo formativo do curso.

Na Unidade 1, apresentamos a concepção de estágio na Universidade Federal de Goiás, as leis e regulamentos que regem essa etapa de formação nas licenciaturas e como a proposta do estágio curricular obrigatório foi estruturada na para nossas Licenciatura em Artes Visuais na Faculdade de Artes Visuais da UFG. Na Unidade II, realizaremos dois exercícios prático-reflexivos: o mapeamento de espaços possíveis como campo de estágio e a construção de narrativas relacionais com o mapa resultante. Na Unidade III. uniremos nosso trajeto ao da disciplina Pesquisa em Arte Educação, que propõe a ida a campo escolar para a primeira experiência de investigação etnográfica. Enfim, esse é o início de uma jornada que vai até o último período do curso. Uma jornada de imersão, descobertas, perplexidades e ressiginifcações tanto para quem já tem experiência docente quanto para quem vai estrear nesse campo profissional. O compromisso é o mesmo e precisa ser renovado permanentemente.

Unidade 1: A Formação de Professores na UFG e na FAV

No início desse curso, muitos duvidaram que fosse possível ensinar as práticas artísticas na modalidade a distância. Hoje, já passamos pelo ateliê bidimensional (desenho e pintura), pelo ateliê tridimensional (escultura, modelagem) e pelo ateliê de gravura, todos com grande produção por parte dos alunos. Mas por que começamos uma disciplina de estágio falando dos ateliês de práticas artísticas? A resposta é relativamente simples: o estágio é o ateliê da prática pedagógica que, assim como a prática artística, também desperta dúvidas e inquietações sobre a possibilidade da sua existência num curso na modalidade a distância. Acreditamos que cada um tem sua maneira própria de expressão, que se dá na forma peculiar de como cada um constrói suas poéticas e transforma matérias em imagens. Da mesma maneira, acreditamos firmemente que cada um constrói a sua trajetória pedagógica, sua poética pedagógica e que é diferente o jeito que cada um de nós vai se tornando professor ou professora!

• Ao fazer essa analogia entre prática artística e prática pedagógica, precisamos desfazer alguns equívocos:
• Prática não quer dizer apenas a parte do fazer destituído da teoria;
• Prática não se refere ao lado instrumental;
• O estágio curricular não se refere a prática instrumental da docência.

O estágio como campo de conhecimento e eixo curricular central nos cursos de formação de professores possibilita que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das posturas específicas ao exercício profissional docente”. (PIMENTA e LIMA, 2008, p.61)

Na Universidade Federal de Goiás, a formação de professores para o ensino de artes começa com os antigos cursos de Desenho e Plástica, que vão de 1974 a 1977. Mais tarde, temos a Licenciatura em Desenho e Plástica, de 1981 a 1983. Nas décadas de 1980 e 1990, tivemos a licenciatura em Educação Artística com o modelo da polivalência. Em 1996, o bacharelado já havia feito uma reforma para as Artes Visuais e a Licenciatura acompanha essa nova nomenclatura na reforma de 2000.

Essa reforma é crucial não apenas pela mudança de nomenclatura, mas porque insere no currículo a questão da pesquisa, do Trabalho de Conclusão de Curso e amplia as horas de estágio para 400, distribuindo-as ao longo do curso. Até 2004, o estágio era vivenciado numa só escola, geralmente, a antiga Escola de Aplicação da UFG, hoje Centro de Educação e Pesquisa – CEPAE. A partir de 2005, começamos a diversificar o campo de estágio, dividindo os alunos em grupos e permitindo que os mesmos explorassem diferentes contextos educacionais. Como temos alunos que moram em cidades próximas de Goiânia, em 2007 e 2008 tivemos projetos de estágios desenvolvidos em escolas nas cidades onde moram. A diversidade certamente nos trouxe o problema de realizar a supervisão. Tivemos que apostar noutras formas de acompanhamento que pediam uma supervisão “mais flexível” por parte do professor da disciplina nos locais de estágio e um maior investimento em socialização das experiências, compartilhamento reflexivo, discussão e elaboração de planos de intervenção e acompanhamento sistematizado por meio de relatos de experiência dos mesmos.

Estamos enfrentando, também, situações que desafiam as universidades públicas brasileiras a repensarem a maneira como se entendem e constroem sua “ambiência pedagógica”. Tomamos esse termo de Belintante que nos

Propõe (...) uma aproximação consistente entre projetos de formação contínua e uso de redes informacionais no campo da educação. Sugere o conceito de “ambiência de formação contínua” como forma de garantir um espaço de mobilização em torno da ideia de formação em serviço, para que os projetos tenham como ponto de partida as próprias demandas da comunidade. A partir dessa articulação, vislumbra novas possibilidades de conjugação de projetos de formação contínua, de pesquisa acadêmica e de autorias em rede, ressaltando a importância de uma gestão contextualizada de conhecimentos em rede, explícita e democrática o suficiente para permitir que a escola ou rede escolar seja um locus privilegiado de pesquisa, de ação pedagógica e de autorias descentralizadas. (BELINTANE, 2002)

1.1. Estágio curricular: deslocamentos geográficos e operacionais

Não podemos cair no erro de considerar a ambiência pedagógica apenas conectada a possibilidades da mediação pelo Sistema de Comunicação Digital. Sem dúvida, teremos que planejar, desenvolver e reorientar pela rede “www” formas de mediação: múltiplos contatos, acessos “wikipédicos” a informações, tête-à-tête virtuais (web conferências) e tantas outras coisas. Mas a ambiência pedagógica tem a ver com a imersão em campos culturais onde nós, membros de universidades, temos sido estranhos no ninho. No campo da educação (qualquer uma), temos o desafio de pensar a democratização que essa complexidade da cultura contemporânea pode fomentar nas formas de aprendizagem. Para Willians (1979), cultura é a prática cotidiana vivida envolvendo sujeitos e relações sociais que carregam tensões, conflitos, inovações e mudanças reais e constantes. Estamos sugerindo que as atuais formas de ambiência terão de ser ressignificadas para que o estágio curricular possa existir nesse “novo” contexto de complexidade que a educação em rede instaura.

Se, na Licenciatura presencial, já enfrentamos a distância de moradia de alguns alunos do campus da UFG em Goiânia, essa distância geográfica muda radicalmente nos polos EAD: muitos alunos matriculados num determinado município não moram naquela cidade e, sim, em municípios circunvizinhos ou até mesmo em outros fora do estado de Goiás. Como atender a já mencionada Lei Nº 11.788 no seu Art.1o, que define estágio como “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho”? Como realizar a supervisão se os alunos estão distantes simbolicamente e geograficamente, distribuídos em municípios polos, longe da universidade propositora do curso?

A resolução CEPEC nº 731 § 2º do Art. 1º, que define a política de Estágio para a formação de professores da Educação Básica na Universidade Federal de Goiás, entende o estágio curricular como uma atividade privilegiada pelo diálogo crítico com a realidade, favorecendo a articulação entre ensino-pesquisa-extensão. É nessa perspectiva que temos trabalhado o estágio curricular obrigatório na Licenciatura presencial e é essa maneira que estamos propondo às licenciaturas na modalidade a distância na Faculdade de Artes Visuais.

Nosso trabalho, de acordo com as normas gerais da UFG, visa criar um espaço para que o licenciando interaja com os ambientes de ensino, experimentando uma pluralidade de contextos educacionais nos quais o ensino/aprendizagem de artes visuais acontece ou possa vir a acontecer. A pretendida interação deverá ser buscada através da pesquisa (investigação), da imersão etnográfica participante, da reflexão e da intervenção pedagógica na escola-campo. A pesquisa é o caminho metodológico para a formação docente.

Com base nas experiências, a atitude investigativa reflexiva desestrutura os préconceitos e, segundo Pimenta e Lima, contrapõe-se “às orientações das políticas geradas a partir do Banco Mundial, que reduzem a formação a mero treinamento de habilidades e competências” (p.41). É necessário investir no “aprofundamento conceitual de estágio e das atividades que nele se realizam” (PIMENTA e LIMA, p. 45).

Uma literatura emergente aponta caminhos mais flexíveis, diversificados e plurais para o estágio curricular obrigatório. Entre a normatização reguladora e a pesquisa que aponta caminhos mais condizentes com a cena contemporânea de arte e de educação, seguimos buscando táticas que nos apontem resultados transformadores. Acreditamos que o desenvolvimento do estágio curricular obrigatório numa universidade expandida pela rede mundial de computadores acirra ainda mais os conflitos já existentes.

No campo da formação contínua, os formadores universitários — demasiadamente presos ao modelo presencial, que ancora boa parte do processo educacional na verborragia do formador e no eixo teórico por ele escolhido — nem sempre estão dispostos a conhecer e a conceber novas possibilidades e modelos para o campo, sobretudo quando estão em jogo as potencialidades das novas tecnologias (BELINTANTE, 2002).

Sugerimos, então, a revisão da concepção de estágio ainda presente no imaginário das escolas e das universidades. Essa revisão não pode ser desconectada da necessidade de repensar:

• a escola e a educação na cena cultural contemporânea;
• os conceitos de arte/educação/cultura: aproximação com abordagens multiculturais e com a educação para a cultura visual;
• a concepção de escola: aproximação do conceito de comunidade;a escola expandida;
• o conceito de estágio: aproximação com a pesquisa qualitativa e a construção da identidade docente como investigador;
• o sentido ou a ressignificação da relação entre o aprender e o ensinar e o papel do professor e do aluno nesse contexto;
• as ferramentas midiáticas: passagem de uma didática instrumental para uma e-Arte/Educação — Aproximação com a pedagogia crítica;

Esses seis itens listados não esgotam nossa necessidade de revisão, mas servem, no momento, para indicar que precisamos investir em outro tipo de competência: a competência para não ter competências prontas, fixas. Competência para entender a importância das atividades interpretativas, para os exercícios dialógicos, para a construção de autonomias e de parecerias etc. Tudo isso nos leva a um alargamento da concepção de escola e de educação e, consequentemente, de estágio.

É necessária a mediação processual de todas as etapas: do primeiro olhar à construção e realização da proposta de intervenção-interação. O professor de estágio deve instigar a reflexão crítica sobre as diversas culturas do campo de estágio: a cultura universitária, da qual professor/aluno estagiários são os representantes; cultura da escola ou de outro campo de estágio (ONGs, Projetos sociais); cultura da comunidade e culturas juvenis, além das subjetividades postas em confronto (professores, alunos, funcionário etc.) nos trânsitos educativos. O docente responsável pelo estágio não é um bedel ou simples regulador da obrigatoriedade do estágio curricular. Ele é parte desse processo. Sua visão de educação integra a construção das identidades docentes em formação, pois ele, por sua vez, também está no processo de constante aprendizagem.

É nessa direção que a proposta para o estágio das licenciaturas na modalidade a distância na FAV tem se encaminhado. O Estágio Curricular desenhado para o curso da modalidade a distância visa propiciar o exercício pedagógico de manifestações da arte e da cultura, enfatizando aspectos sociais, históricos e culturais, dialogando com os estudos culturais, com as visualidades, com as diferentes tecnologias (velhas e novas). Advertimos aqui que, se um recurso é de outros tempos, não quer dizer que o professor não o utilizará na sua prática pedagógica. Cada um no seu contexto, lançando mão daquilo que tem possibilidade é que fará da sua prática docente um ato criador. Sendo assim, não importa se são tecnologias são “novas” ou de “outrora”: o que não podemos é cristalizar as metodologias e nem nós mesmos, pois senão paralisados ficamos e nos repetiremos sempre. Os aspectos estéticos, artísticos e culturais de mediação e construção da realidade e do relacionamento humano guiam a elaboração de propostas com a devida consciência de pluralidade, diversidade, complexidade e instabilidade do que seja realidade e das teias de relacionamento humano. Vejamos como uma ex-aluna da Licenciatura em Artes Visuais relembra o processo:

Em 2005, ainda aluna do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Artes Visuais da UFG, vivenciei o processo de pesquisa reflexiva em que sair do espaço acadêmico foi fundamental para a busca por um processo de construção de aprendizagem pautado na pesquisa e reflexão em espaço de atuação pedagógica. Neste contexto, eu e meu grupo de Estágio Curricular obrigatório e TCC vivenciamos a experiência de investigar o espaço de um setor de Goiânia denominado Setor Pedro Ludovico. Neste processo, levantamos por via de diferentes registros, aspectos relativos à história do setor e das visualidades presentes neste espaço, a fim de promover uma ação pedagógica num dos espaços de ensino formal presentes no setor. Nesta ação, tivemos o apoio não apenas da equipe escolar do Colégio Estadual Visconde de Mauá, mas também de um dos artistas, Pedro Inácio da Silva, produtor de pinturas murais recorrentes nos muros do Setor. (BATISTA, Noeli, 2008)

Como já foi dito, a proposta de estágio é construída com base na pesquisa que prevê a imersão no contexto escolar, vivenciando o cotidiano nas suas diversas facetas: relações, jogos de força, hierarquia de funções etc. Essa ex-aluna é hoje uma professora da rede pública estadual com uma atuação diferenciada. Batista pondera que “Enquanto professora de arte, tenho refletido sobre a necessidade de fazer perguntas. De auto contestar em nome das reais motivações que povoam meu imaginário e, consequentemente, dos meus alunos”. Para essa professora, o estágio não serviu como modelo, mas como possibilidade de construção de identidade docente com a percepção de que:

Construir um currículo é fazer escolhas, entre tensões que disputam espaços de poder, quer ora se aproximam dos interesses da escola, ora se afastam dos interesses dos alunos. Aproximar-se nos interesses da escola neste sentido, é promover a ordenação e consequente mensuração dos resultados obtidos através dos conteúdos propostos a serem alcançados num determinado espaço de tempo. No entanto, este espaço de tempo muitas vezes não corresponde ao período necessário para percorrer um determinado trajeto, seja ele de ensino ou de aprendizagem.

É importante frisar que o reconhecimento do estágio como esse campo de possibilidade de construção de posturas menos rígidas, no reconhecimento das incertezas, não se faz de forma instantânea. Há todo um processo de desaprendizagens, de reconstrução do olhar para a escola, de revisão de como o estagiário se percebe em relação aos profissionais das escolas e muitos outros aspectos. Esse trabalho é realizado ao longo de cinco disciplinas de estágio que, junto com outras, perfazem o nem sempre tranquilo “itinerário de formação docente”.

Ao longo do nosso curso, temos estudado disciplinas que podem ser entendidas como fundamentais para a formação específica do licenciado, por exemplo: Fundamentos da Arte Educação; Cultura; Currículo e Avaliação e Organização e Gestão do Trabalho Pedagógico. Agora chegamos ao momento no qual sairemos da nossa sala de aula, mesmo que virtual, para adentrar no contexto do campo profissional, nesse caso, as escolas ou outro espaço pedagógico para o ensino de artes. E temos que lembrar sempre que estes espaços ficam numa cidade, numa determinada região, marcada por características muito próprias. Não podemos perder de vista esta dimensão, estas singularidades.

Para a UFG, “o estágio é um componente curricular de caráter teórico-prático que tem como objetivo principal proporcionar aos alunos a aproximação com a realidade profissional, com vistas ao aperfeiçoamento técnico, cultural, científico e pedagógico de sua formação acadêmica, no sentido de prepará-lo para o exercício da profissão e cidadania.” (CEPEC no. 731). No caso específico dos cursos de licenciatura em Artes Visuais, podemos acrescentar ainda a formação artística, estética, cultural e pedagógica para o exercício da profissão docente nesta área.

Por isso, nessa primeira disciplina de estágio, vamos começar entendendo a legislação que rege esse momento formativo das licenciaturas no âmbito federal, nas regulamentações internas da UFG e como a Faculdade de Artes Visuais estruturou sua proposta de estágio curricular obrigatório e não obrigatório para os seus cursos de licenciatura.

As orientações para o estágio fazem parte do Projeto Político Pedagógico do curso e procuram promover a aproximação do aluno com a realidade do campo de trabalho, reconhecendo a indissolução entre a teoria e a prática deste ensino. A forma de estruturação do estágio curricular obrigatório favorece o confronto com a diversidade das práticas culturais, com as dificuldades históricas do campo, com os desafios institucionais, fazendo do estágio um laboratório de descoberta de possibilidades e de superação e avanços metodológicos.

A Resolução CEPEC no. 631, que define a política de estágio para a formação de professores na Universidade Federal de Goiás, na forma no § 1º, apresenta como princípios desta política:

I. uma organização curricular que possibilite a apreensão do contexto educacional e a atuação profissional na gestão, planejamento e avaliação do processo educativo;

II. o desenvolvimento pleno do educando, a formação cultural e ética para o exercício da cidadania, a inserção crítica na profissão e a qualificação para o trabalho;

A Lei Federal sancionada em 07.12.1977 e publicada em 09.12.1977, conhecida como “Lei dos Estágios”; regulamentada pelo Decreto no. 87.497 de 18.08.1982, estabelece que nos estágio seja fomentado:

III. o desenvolvimento da autonomia intelectual e profissional que possibilite criticar, inovar, bem como lidar com a diversidade;

IV. a pesquisa como uma dimensão da formação e do trabalho docente;

V. formação inicial articulada com a formação contínua.

No § 2º. desse mesmo regulamento, encontramos a compreensão do estágio curricular como uma atividade privilegiada de diálogo crítico com a realidade que favorece a articulação ensino-pesquisa-extensão, configurando um:

I. espaço formativo e de sensibilização dos estudantes para o atendimento das necessidades sociais que preserve os valores éticos que devem orientar a prática profissional;

II. momento de maior aproximação e compreensão da realidade profissional a luz dos aportes teóricos estudados que favoreça a reflexão sobre a realidade e a aquisição da autonomia intelectual e o desenvolvimento de habilidades conexas à profissão docente;

III. componente curricular, de caráter teórico-prático, cuja especificidade proporcione o contato efetivo do aluno com o campo de estágio, acompanhado pela instituição formadora;

IV. componente do projeto político pedagógico do curso que considere seus objetivos, metodologia, acompanhamento e avaliação.

Temos também a Lei Federal nº 11.788, de 25 de setembro de 2008, que define no seu Art.1º estágio como “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educados que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos”. Além dessa compreensão ressalta que:

§ 1º. O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário formativo do educando.

§ 2º. O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho.

Atividade 2

Depois de respondidas estas questões propostas anteriormente, extraído os recortes de textos ou de imagens de disciplinas anteriores e discutido nos fóruns, cada um irá escrever uma carta endereçada a um colega de curso aqui da licenciatura. Pode ser um colega próximo, do mesmo polo, ou distante, de outros polos, aquele que você encontra nos fóruns de discussão ou, talvez, aquele que nunca aparece, mas sabemos que ele está lá no seu polo construindo conhecimentos. Talvez você escreva a carta àquele que você sempre concorda com as ideias ou aquele que vocês sempre discutem, debatem, que discordam um do outro (pois são importantes os diferentes pontos de vista).

O conteúdo desta carta devera ser o apontamento de algo que você trouxe de disciplinas anteriores e que, nesta carta, você enderece ao outro, falando da importância deste conteúdo neste momento do inicio do estagio.

Crie um título para sua carta, algo do tipo: Carta a um aspirante de professor, Carta a um professor em construção, Carta sobre as inquietações e conflitos de um jovem estagiário! Ou, mais ainda, Indagações e orientações de um estagiário a outro estagiário! Invente um título para sua carta, coloque imagens, poemas, musicas. Lembre-se de que é uma carta de recomendação, daquilo que vivemos no curso e não poderemos esquecer agora no estágio!

Acreditamos firmemente que cada um construiu pelos mesmos textos, pelas mesmas disciplinas, diferentes percursos, diferentes aprendizagens. Queremos que você conte e recomende ao outro aquilo que você construiu, para que ele possa aprender com os seus saberes, com as suas sistematizações, e que você aprenda também com saberes dele! É o outro me ajudando a construir meu olhar, mais apurado, mais sensível, mais perspicaz. É a riqueza da diversidade de olhares, saberes e fazeres arte e educação.

1.2. A proposta de estágio para a licenciatura em artes visuais – modalidade a distância da UAB

A proposta de estágio para a Licenciatura em Artes Visuais — Modalidade a Distância da UAB está em diálogo com política de Estágio para a formação de professores na Universidade Federal de Goiás e, particularmente, com as experiências desenvolvidas no estágio do curso presencial Artes Visuais — Licenciatura oferecido de forma regular, período matutino da FAV.

O Estágio Curricular Obrigatório no curso presencial Artes Visuais — Licenciatura é estruturado em cinco etapas de forma a configurar um “itinerário formativo”, iniciando no quarto período e indo até o oitavo e último período do curso. Metodologicamente, a experiência de estágio tem se construído com base na pesquisa e na investigação do contexto do campo, na busca da inter-relação escola e comunidade, na construção de parcerias com diversos atores do processo educativo e na compreensão do estágio como construção da identidade docente.

Acreditamos que essa base epistemológica vá ao encontro da resolução CEPEC No. 731 o § 2º do Art. 1º, que define a política de estágio para a formação de professores da educação básica na Universidade Federal de Goiás quando entende o estágio curricular como uma atividade privilegiada pelo diálogo crítico com a realidade, favorecendo a articulação entre ensino-pesquisa-extensão.

Nossas propostas, além de buscarem o atendimento à lei, visam criar um espaço para que o licenciando interaja com os ambientes de ensino, experimentando uma pluralidade de contextos educacionais nos quais o ensino/aprendizagem de artes visuais acontece ou pode vir a acontecer. Nessa pluralidade, é necessário mergulhar e interagir com a diversidade de situações educativas que existe na pluralidade. A pretendida interação deverá ser buscada através do estudo, da pesquisa (investigação), da observação participante, da reflexão e da intervenção pedagógica na escola-campo.

O estágio curricular proposto para o curso da modalidade a distância visa propiciar o exercício pedagógico de manifestações da arte e da cultura, enfatizando aspectos sociais, históricos e culturais, dialogando com os estudos culturais, com as visualidades e diferentes tecnologias, aspectos estéticos, artísticos e culturais de mediação e construção da realidade e do relacionamento humano. Ao enfatizar estas especificidades, chamamos atenção para o distanciamento da formação de professores de artes visuais dos processos de arte terapia e de assistencialismo social.

Ao considerar o estágio curricular obrigatório e o não obrigatório como processos formativos no itinerário do ensino aprendizagem de cada aluno do curso, esses deverão seguir as seguintes observações:

1. Estágio não é emprego, não gera vínculos empregatícios e o estagiário não pode ser utilizado para suprir demandas da instituição concedente do estágio;
2. Todo estágio curricular deve ser supervisionado;
3. Todo estágio curricular deve ser legitimado por:

• Documento de convênio;
• Termos de compromisso assinados pelo aluno, pelo coordenador de estágio de sua unidade e pela parte concedente;
• Plano de atividades;
• Por fichas de frequência;
• Pelo relatório final;
• Passemos, então, para as especificidades de cada uma dessas possibilidades de estágio.

1.3. O estágio curricular não obrigatório

O estágio curricular não obrigatório é opcional, ou seja, não é disciplina. Mas é importante para ampliar ou aprofundar a formação por meio de vivência de experiências próprias da situação profissional. O estágio curricular não obrigatório está previsto no projeto pedagógico do curso, mas não está previsto no fluxograma do curso. No entanto, quando o estudante realizar esse estágio, mediante solicitação, a carga horária do mesmo será registrada no histórico escolar.

É importante lembrar que todo estágio só pode ser realizado mediante convênio e tem que ser supervisionado por um professor da UFG. O estudante não pode realizar o estágio curricular não obrigatório como voluntário: terá que receber o pagamento de bolsa estágio, auxílio transporte e seguro pago pela instituição na qual realiza o estágio. Esse estágio pode ser realizado fora ou dentro da UFG, em funções compatíveis com o curso do estagiário.

O estágio curricular não obrigatório não poderá ser aproveitado como estágio curricular obrigatório e, também, não pode ser confundido com as atividades complementares.

Como prever o estágio curricular não obrigatório?

• Identificar as possibilidades de locais de estágio não obrigatório para a realização de convênios;
• Identificar os agentes de integração conveniados com a UFG, como o IEL ou CIEE, para cadastros dos alunos;
• O aluno poderá participar de estágio curricular não obrigatório a partir do segundo semestre do curso.

1.4. Estágio curricular obrigatório

Este estágio é aquele previsto e distribuído em disciplinas no fluxograma do curso. No caso do ensino a distância, o horário não será circunscrito a dias estabelecidos no quadro de horários semestrais, mas deverá ser feito um planejamento de dias, horários de visitas de campo para acompanhamento da pessoa responsável na escola/campo e para que o orientador acadêmico responsável pela disciplina estágio estabeleça formas de contato on-line para discussão do processo a cada semana. A atuação dos alunos será avaliada e sua reprovação terá como consequência a impossibilidade de prosseguir o curso, uma vez que não temos a oferta de disciplinas de semestres anteriores na modalidade a distância.

Dessa forma, como já foi dito, o estágio é compreendido como espaço formativo e como espaço de construção de identidade docente. Para aqueles que já atuam como professores, é importante fazer todas as etapas de estágio, pois a proposta dos cursos de Artes Visuais — Modalidade a Distância — prepara a atuação docente com base na investigação e mapeamento etnográfico das relações entre escola e cotidiano, escola e comunidade, escola e diversidade cultural, cultura escolar, cultura juvenil. Esses e outros aspectos servem de base para a construção de um plano de intervenção/interação do estagiário com o campo de estágio.

Preferencialmente, o estágio será desenvolvido em grupo, devendo ficar claro de que forma será a atuação de cada um dos participantes. Para cada etapa, o planejamento das atividades deve ser entendido como um processo, com tempo para que seja discutido, revisto, modificado e avaliado. Assim como no curso regular, o estágio obrigatório da Licenciatura em Artes Visuais — Modalidade a Distancia, parceria UAB — está organizado em cinco disciplinas:

Cada disciplina proporciona experiências que servem de base teórica e prática para desenvolver a próxima etapa. As cinco disciplinas de estágio curricular perfazem um total de 450 horas, atendendo à legislação federal em vigor. A lei que regulamenta a formação de professores estabelece uma carga horária de 400 horas aulas distribuídas ao longo do processo de formação no curso.

Conheça as etapas, ações e carga horária prevista para cada uma das disciplinas de estágio que serão trabalhadas no decorrer do Curso:

Para a Faculdade de Artes Visuais, o estágio curricular obrigatório tem como objetivo oferecer subsídios para a revisão curricular e para a adequação de programas de atualização de metodologias de ensino, de modo a permitir à FAV uma postura realista quanto à sua contribuição ao desenvolvimento regional e nacional, além de permitir melhores condições de avaliar o profissional em formação.

Para o aluno, o estágio oferece possibilidade de uma visão prática do funcionamento de uma instituição educacional e, ao mesmo tempo, leva à familiaridade com o ambiente de trabalho. Também possibilita condições de treinamento específico pela aplicação, aprimoramento e complementação dos conhecimentos adquiridos no decorrer do curso, indicando caminhos para identificação de preferências para campos de atividades profissionais.

Para as instituições que abrem suas portas e acolhem nosso estagiário, o estágio estimula a criação de canais de cooperação escola/universidade/comunidade. A proposta de estágio que apresentamos se preocupa com as demandas da escola, com a experiência prévia ali desenvolvida, com os saberes dos seus diversos atores: diretores, coordenadores, professores, funcionários e estudantes. Um dos itens na elaboração do projeto é prever o que será deixado para aquele campo de estágio como forma de contribuição da FAV – UFG na solução de problemas de interesse mútuo, participando, assim, de maneira direta e eficaz na formação de profissionais de nível superior, contribuindo para melhorar a adequação da teoria à prática.

A possibilidade de parceria também é fundamental. O estagiário não elabora os planos de intervenção trancado na universidade: procura parcerias dentro da escola, discute possibilidades, ouve a fala de quem tem mais experiência.

1.4.1. Avaliação

Conforme Art 8º. da Resolução CONSUNI nº. 06/2002, a avaliação do desempenho do aluno no estágio será regulamentada pelos respectivos cursos e será de responsabilidade do professor orientador, que considerará as observações e relatórios feitos pelo aluno e pelo supervisor, assim como outros mecanismos do ambiente moodle utilizados na avaliação do desempenho do aluno. Recomendamos que a avaliação seja vista numa perceptiva global do processo. Sendo assim, deve-se considerar:

• A atuação do estagiário (aprendizagem e capacidade de refletir sobre sua aprendizagem);
• A atuação dos professores formadores e orientadores (orientações, trocas, mediações, diálogos);
• O contexto das escolas (disponibilidade, parceria, diálogos);
• A condução da universidade (representada aqui pela FAV);
• O processo (as atividades desenvolvidas/ intervenção realizada).
• Conforme Art. 7º. da mesma resolução, para obter aprovação na disciplina estágio o aluno deverá:

1. ter frequência mínima de 75% nas atividades previstas;
2. obter, no mínimo, 5,0 pontos na média final;
3. a nota do aluno estagiário será resultado de um processo e considerará a construção de competências na área do ensino de artes visuais.

1.4.2. Relatório parcial e final

Ao final de cada etapa do estágio curricular obrigatório, será gerado um relatório sobre a experiência. Essa sistematização terá um caráter descritivo e reflexivo, pois, neste momento, ele muito interessa a todos nós que estamos lidando com a formação das reflexões oriundas deste campo de estágio. O relatório final (estágio V) será a somatória de todos aqueles que cada um sistematizou nos módulos anteriores. O relatório terá uma importância fundamental na organização do seu trabalho de conclusão de curso, pois ele conterá os dados das suas imersões, das suas vivências, descobertas, experiências do campo de estagio e, consequentemente, deste início do ser docente. Portanto, não despreze nenhum dado: junte-os, pois você no campo de estágio é um pesquisador da sua própria trajetória!

1.4.3. Certificado

Entendemos que os diversos atores do campo de estágio são parceiros da FAV–UFG no processo da construção do estágio curricular. Sendo assim, desde 2005, temos adotado a prática de certificar aquelas pessoas (coordenadores, estudantes, funcionários, familiares, artistas da comunidade) que participaram no projeto de intervenção/interação desenvolvido pelos estagiários. O certificado sela a parceria e reafirma o caráter compartilhado da experiência. Cada turma pode elaborar seu próprio projeto gráfico de certificado, contendo os logotipos da UFG e da FAV. Este abaixo é só um exemplo.

1.4.4. Socialização dos resultados

Os resultados das experiências de estágio curricular poderão ser apresentados em eventos da área, tais como eventos científicos como seminários, congressos, fóruns de debates e colóquios, gerando debates, discussões e contribuições para o avanço teórico-prático e metodológico desse espaço dentro dos cursos de formação de professores em artes visuais, enfatizando as especificidades da modalidade a distância. É por isso que está previsto em um dos estágios a organização de um artigo cientifico para que socializemos as nossas experiências no meio acadêmico.

1.4.5. Conexão estágio e trabalho de conclusão de curso – TCC

No módulo introdutório, vocês já tiveram a oportunidade de estudar o PPC — Projeto Pedagógico no Curso. Devem lembrar que é exigência para a integralização curricular a realização de um TCC — Trabalho de Conclusão de Curso. Em muitos cursos de graduação, o TCC e o estágio são duas instâncias completamente separadas. Na FAV, consideramos a possibilidade de articulação entre a experiência do estágio curricular obrigatório com o TCC, uma vez que ambos têm como base a pesquisa e a atitude crítico-reflexiva da experiência docente em construção.

A disciplina de Estágio Supervisionado IV é um grande laboratório de elaboração de projetos pedagógicos a partir do contexto (campo de estágio) investigado. Essa elaboração processual com base na pesquisa qualitativa pode servir de referência, também, para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso. Já temos experienciado esse “casamento” com resultados significativos, pois rompemos a dicotomia de que o estágio é a execução da prática enquanto o TCC é a instância da pesquisa teórica. Se quisermos formar docentes investigadores e reflexivos, por que desassociar momentos tão importantes do seu processo formativo?

Mas não é só da nossa graduação que vem essa possibilidade. A UnB oferece o curso de especialização Arteduca, que desenvolve como projeto final de curso a elaboração e desenvolvimento de uma experiência docente envolvendo a relação arte e tecnologia. Alunos dos lugares mais diversos de Brasil são divididos em grupos e montam projetos interdisciplinares que cada um vai executar na sua cidade, em escolas ou em outras instituições.

O processo e os resultados são compartilhados por meio da construção de blogs ou sites e são reunidos numa monografia. É uma construção coletiva que passa pela especificidade local para chegar numa gestalt do grupo. No final, a monografia é apresentada num encontro presencial para uma banca que avalia, aprova ou recomenda modificações.

A primeira questão está diretamente relacionada com a segunda. O estágio curricular foi, durante muito tempo, entendido como aquele momento no qual os estudantes universitários das licenciaturas vão para as escolas “treinar” o que aprenderam na teoria.

Entendemos que as atividades do Estágio Supervisionado têm sua importância no momento em que estas favorecem ao aluno a complementação de sua formação acadêmica através da vivência concreta dos conhecimentos teóricos adquiridos durante o desenvolvimento das disciplinas sob os aspectos teóricos. (MANUAL DE ESTÁGIO – Curso Normal Superior. ISEB-Tocantins)

A dinâmica dessa “prática” era dividida em três etapas: 1) Observação, 2) Semi-regência e 3) Regência. Vamos entender melhor essas etapas para que fique claro porque não adotamos mais esse caminho.

Essas três etapas podem ser encontradas de forma evolutiva por períodos/semestres: os três momentos dentro da carga horária total de uma mesma disciplina ou, ainda, as duas primeiras etapas numa disciplina e a terceira numa outra. É ainda dessa maneira que as escolas procuradas entendem o estágio, chegando mesmo a estabelecer “regras” internas (permitir apenas dois estagiários por sala de aula) para o recebimento de estagiários naquele estabelecimento para não “bagunçar” o cotidiano da escola. Daí a necessidade de apresentar primeiro a proposta geral de estágio para a escola, ficar disponível para perguntas e estabelecer parcerias para o acompanhamento dos estagiários mediante o agendamento de um cronograma a ser discutido em conjunto, indicando o tempo de duração, horários etc. A coordenação de estágios do curso envia uma carta com esclarecimentos e detalhamento da proposta e fica a disposição online para as dúvidas.Depois de a escola aceitar, temos o percurso da burocratização necessária.

1.5. Estágios e projetos

De acordo com nossa compreensão e experiência, o desenvolvimento do estágio na forma de projetos colabora para a construção do professor-investigativo, que faz da sua prática seu objeto e revê a forma unilateral de construção de conhecimentos no exercício docente. Chavões tais como “aprenderam na teoria”, “repassar conhecimentos”, “adquirir prática por meio da observação da atuação de outro profissional” ou “ver a realidade das escolas” indicam uma compreensão de estágio de ação unilateral, aonde a universidade “vai à escola” campo, observa, testa, emite um diagnóstico e vai embora.

Acreditamos na importância de diversificar a imersão do nosso estagiário em situações plurais de contextos educativos. Não existe uma única realidade escolar. Uma escola não é igual à outra, a diversidade se estabelece na condição de cada uma: escolas localizadas no centro da cidade, na periferia, escolas grandes, médias ou pequenas, escolas rurais, escolas específicas para jovens e adultos, exclusivas para educação infantil, escolas mistas e/ou conveniadas, escolas prisionais... Conhecer o contexto significa mergulhar nessas especificidades e, com base nessas e em parceria, propor o que fazer em termos de educação para as artes visuais.

Essas mudanças na concepção e estruturação de estágio trazem muitas indagações e dúvidas, pois se distanciam de procedimentos já conhecidos e assimilados tanto pelos universitários quanto pelos diretores, coordenadores e professores das escolas. No entanto, essa dificuldade não pode ser empecilho para que avancemos e experimentemos formas alternativas de realizar essa importante etapa de formação docente de forma mais conectada com as questões da atualidade, com os conflitos do campo, com as questões da sociedade contemporânea e realizar enfrentamentos de problemas trazidos pela violência, tecnologia, mídia, diferenças raciais, religiosas, de preferência sexuais etc.

Ampliando nossa concepção de estágio, ampliamos a noção de ação docente e nossa compreensão de processo educativo e de escola. Enfrentamos na licenciatura presencial a desconfiança das escolas que só entendem o estágio como o aluno dentro da sala de aula, e com o professor da universidade ali plantado para “supervisionar” o estudante. Não estamos refutando a necessidade de supervisão; ela continua sendo necessária, mas terá que ser repensada, especialmente para nossa modalidade em EAD.

Ao pensarmos nas especificidades do trabalho na modalidade a distância, podemos destacar as atividades online, um dos pontos fortes do Moodle enquanto ferramenta de aprendizagem. Vejamos agora um apanhado global das atividades do Moodle e as suas possibilidades no contexto de colaboração e aprendizagem que podem ser utilizadas para o acompanhamento, construção e avaliação do processo de estágio nos cursos de formação de professores em artes visuais. Ainda não utilizamos todas essas ferramentas, mas é importante que vocês conheçam e pensem nas muitas possibilidades de interação que as tecnologias digitais nos oferecem:

Diário de campo: esse espaço é semelhante a um caderno de anotações no qual o estagiário registra a experiência da sua prática semanal no campo de estágio, sua aprendizagem. Permite que o professor orientador acompanhe as anotações e possa sugerir novos direcionamentos para a investigação.

E-portifólio: é uma apresentação multimídia realizada pelo aluno, com materiais selecionados por este, que mostra uma visão enriquecida e estruturada do seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. Além dos materiais já referidos, um e-Portfolio inclui reflexões do aluno sobre o seu conteúdo e respectivo processo de aprendizagem e ligações entre os vários componentes. Os e-Portfolios podem ser diversos, como as diferentes pessoas de uma comunidade. Num e-Portfolio, o aluno escreve a sua própria história e é responsável pela sua publicação/distribuição. É a identidade de cada sujeito em transformação em cada contexto, enquanto construtores do seu desenvolvimento ao longo da vida. É, portanto, uma ferramenta de apoio à mudança! O processo de criação de um e-Portfolio pode ser resumido nas seguintes ações: colecionar, selecionar, refletir e relacionar.

Fóruns de discussão: Os fóruns são uma ferramenta de discussão por natureza, ou mesmo um espaço de reflexão sobre um determinado conteúdo. Nos fóruns, estagiários e professores orientadores discutirão e refletirão sobre o processo em andamento do estágio. Os fóruns do Moodle podem ser estruturados de diversas formas (discussão geral, uma única discussão, sem respostas etc.) e podem permitir classificação de cada mensagem. As mensagens podem também incluir anexos.

Chats: O Chat permite uma comunicação síncrona, em tempo real, entre professores e alunos. Pode ser útil como espaço de esclarecimento de dúvidas, mas pode ter outros usos. A sessão de chat pode ser agendada, com repetição.

Glossários: O glossário permite aos participantes da disciplina criar dicionários de termos relacionados com a disciplina, bases de dados documentais ou de arquivos, galerias de imagens ou mesmo links que podem ser facilmente pesquisados.

Diante dessas possibilidades de acompanhamento e supervisão das atividades de estágio utilizando os recursos tecnológicos, apostamos numa construção mais autônoma e colaborativa da aprendizagem teórica, na sistematização dos dados do trabalho de campo e na capacidade de construir sínteses e propor projetos transformadores.

Considerar o estágio uma via de muitas mãos é pensá-lo em uma estrutura rizomática que se propõe a superar a visão unilateral de que o campo de estágio fornece as estruturas para que o universitário possa aprender a realidade escolar. Pensar em trocas, parcerias...

Resumindo, os princípios norteadores que orientam a experiência do estágio curricular obrigatório na fav-ufg são:

Para o aluno-estagiário: entender-se como investigador-aprendiz na construção de saberes em processo e na interdependência das trocas sócio-culturais-educativas; considerar a trajetória individual e coletiva de sua formação em Artes Visuais dentro e fora da universidade; colocar-se disponível.

Quanto à elaboraçao da proposta e construção de planos de aula: buscar parcerias; considerar o diálogo da proposta ao contexto do espaço; checar a existência (ou a não existência), disponibilidade e funcionamento de espaços específicos e de equipamentos, providenciar antecipadamente ferramentas; desenvolver materiais e recursos, insistência na busca de colaboradores etc.

Quanto ao trabalho de campo: ampliar o olhar para a diversidade de espaços onde uma aprendizagem em arte possa ser desenvolvida, fazer o levantamento do espaço nos seus diferentes aspectos; tentar ver não só as “necessidades”, mas também as “potencialidades” do espaço e considerá-las na elaboração do projeto; pensar na escola (ou outros espaços) na sua inserção: comunidade/bairro/cidade/mundo. Ler o Projeto Político Pedagógico da Escola ou documento similar e ver qual o espaço para o ensino de arte e ações de cultura no mesmo..

Quanto à elaboração de intervenção proposta pedagógica: entender esta elaboração como processo a ser criado e recriado em várias etapas, de acordo com as condições do contexto pesquisado e aberto à participação de atores do espaço, da comunidade. Flexibilidade na elaboração e no desenvolvimento da proposta.

Quanto à avaliação: de caráter processual, utilizando diferentes estratégias tais como filmagem de depoimentos; reflexão escrita sobre as diferentes etapas na elaboração da proposta geral e planos de aula; questionários para coordenadores, alunos, e outros participantes; elaboração processual do relatório final; buscar uma percepção mais ampla do processo, considerando: o processo do (a) estagiário (a) (aprendizagem, capacidade de flexibilidade, capacidade de refletir sobre sua aprendizagem); o processo dos orientadores (orientações, trocas, mediações, diálogos); o processo das escolas e ou dos espaços (disponibilidade, parceria, diálogos); o processo da universidade (representada aqui pela Faculdade de Artes Visuais); o processo da proposta em si (as atividades desenvolvidas/ intervenção realizada).

Quanto à finalização da proposta: sistematização e documentação de todo o processo; entrega de certificado para todos os envolvidos na experiência; entrega de uma cópia do relatório final, ou de materiais pedagógicos que tenham sido produzidos (planos de aula, vídeos artísticos pedagógicos, cd-rooms etc.) no espaço onde o estágio foi desenvolvido. Apresentação dos resultados finais em seminários e eventos.

Podemos perceber a importância do estagiário se entender como investigador-aprendiz na construção de saberes em processo e na interdependência das trocas sócio-culturais e educativas. Foi discutida com todos os grupos a percepção da trajetória individual e coletiva de sua formação em Artes Visuais dentro e fora da universidade: datada, incompleta e, portanto, passível de transformações.

Esperamos que a, essa altura, você já tenha uma percepção da importância do estágio na sua formação como futuro arte educador/a, bem como uma visão do caminho a percorrer do Estágio I ao Estágio V. Sabemos que uma coisa é escrever essa proposta no papel, outra é ver como a experiência e identidade docente vão se construindo no processo de nossa formação como professores de artes visuais.

Unidade 2: Mapas e cartografias: o estágio enquanto território

2.1. Espaços para desenvolvimento do estágio curricular obrigatório

Os estágios das Licenciaturas em Artes Visuais – Modalidade a Distância serão desenvolvidos nos diferentes municípios polos que sediam o curso. Já existe o convênio firmado com a Secretaria de Educação do estado de Goiás, assim, todas as escolas sob a responsabilidade dessa Secretaria são potencialmente campo de estágio para os alunos da UFG. Serão firmados convênios com as Secretarias Municipais de Educação em cada município polo para ampliar o leque de espaços para estágio, podendo ser vivenciada a dinâmica que cada município tem para a educação sob sua responsabilidade.

Além disso, é necessário indicar quantos alunos irão para aquele campo e a permanência. Essa compreensão de estágio curricular está sendo revista por muitos autores, como Pimenta e Lima (2008), que sustentam a necessidade de ressignificação do estágio e mostram “que projetos são possibilidades metodológicas para cumprir as finalidades do estágio em relação aos alunos que estão em formação”. (p. 219). Dessa forma, “pode responder às demandas da escola, ao levar conhecimento produzido, e também se nutrir destas para a elaboração de propostas, estabelecendo um diálogo entre escola e universidade e configurando-se assim um projeto de intervenção.”

O Estágio Curricular Obrigatório deverá ser desenvolvido nos municípios-polos com as seguintes especificidades:

Obs.: Mediante identificação da demanda de outras cidades, serão solicitados convênios com municípios do entorno da cidade polo. Porém, é importante lembrar que, não havendo condições institucionais, jurídicas e outras que possibilitem a celebração do convênio com a UFG, o estágio deverá ser realizado no município-polo sede do curso de artes visuais no qual o aluno se inscreveu

Estágio em situação de ensino formal: De acordo com o Artigo 5º da Resolução CCEP/402, o estágio curricular supervisionado ocorrerá preferencialmente em escolas públicas: ensino fundamental e médio, ensino infantil etc. O estágio curricular obrigatório ocorrerá preferencialmente em escolas públicas mediante convênio institucional estabelecido entre a UFG e a rede federal, estadual e municipal de ensino e instituições privadas. No entanto, as escolas particulares não estão excluídas do processo. Recomenda-se situações de intercâmbio e diálogo entre escolas de caráter diferente, onde a promoção de situações de trocas traga benefícios para ambos os contextos. Na escolha de uma escola particular isolada, o estagiário deve apresentar justificativa

Estágio em situação de ensino não formal: Dessde que conveniados com a UFG, este estágio pode ser desenvolvido em ONGs, projetos governamentais, asilos, creches, associações de bairro, de artesãos, projetos em hospitais, em centros recreativos, em museus e outras instituições culturais nas quais exista ou possa ser proposta uma ação educativa em artes visuais.

Obs.: Como o estágio I é de mapeamento, este servirá para identificar nos diferentes municípios que são polos EAD espaços não formais que se interessem em firmar convênio com a UFG para se tornarem campo de estágio para nossos alunos. Existe, na Pró-Reitoria de Graduação, PROGRAD – UFG, uma lista com os locais já conveniados, pelos quais os alunos e alunas podem optar para desenvolver seus projetos de intervenção/interação pedagógica.

2.1.2. Estabelecimento de parcerias

Entende-se que os locais de estágio sejam vistos como espaços potencialmente considerados como parceiros, numa relação dialógica. Deve-se buscar o envolvimento efetivo dos diversos atores-colaboradores: professores, coordenadores, alunos, funcionários, bem como o estabelecimento de conexões com o contexto (comunidade) no qual a escola está inserida.

A parceria da FAV será concentrada principalmente na ação do estagiário e nas ações colaborativas que busquem contribuir para um ensino de Artes Visuais, de modo mais efetivo. As escolas e demais espaços poderão oferecer contrapartida aos projetos — se for o caso — disponibilizando espaço físico, laboratórios, ateliês, materiais de consumo, ônibus, xerox etc. Por sua vez os estagiários comprometem-se a deixar no espaço concedente cópia dos materiais desenvolvidos e cópia do relatório final.

2.1.3. Da intervenção/interação pedagógica

O processo de investigação do contexto escolar e de suas dinâmicas, a compreensão da cultura escolar, a relação bairro-escola, os aspectos históricos e culturais da escola, as relações docentes-discentes-funcionários e demais aspectos levantados ao longo da imersão no campo de estágio servirão de base para a construção de um plano de intervenção/interação docente contextualizado, propositor de ressignificações didático-pedagógicas para o ensino de artes visuais no espaço campo em questão.

2.1.4. Plano de intervenção/interação

O plano será construído processualmente com base na imersão do estagiário no campo escolhido. Nele, deverá constar:

• Identificação do Espaço: tipo de escola (ou outro espaço), bairro, cidade, características fisíco-geográficas, histórico-sociais;
• A quem se destina: identificação do público alvo;
• Identificação das demandas;
• Definição do tema/projeto – linhas gerais;
• Detalhamento: objetivos, estratégias metodológicas, equipamentos e materiais necessários, parcerias estabelecidas, fluxo das atividades, estratégias de avaliação e reflexão do processo.

Por meio de ações qualificadas, os estagiários poderão contribuir com a escola/campo na valorização do profissional específico para essa área, evitando a prática comum do emprego de professores com outra formação para o ensino de artes. A situação é crítica também para outras áreas, como podemos ver nessa reportagem:

O MEC estima, com base nos dados do Educacenso de 2007, que existe um déficit de professores que chega a um número que varia de 700 mil a 900 mil. Por falta de formação adequada, entende-se que o docente não possui nível superior na área em que atua. Destes, 300 mil a 400 mil possuem licenciatura em área diferente daquela em que lecionam e outros 300 mil a 400 mil não têm curso superior. O restante, 100 mil aproximadamente, é graduado e, apesar de não terem licenciatura, atuam como professores na Educação Básica. São, por exemplo, médicos que dão aula de biologia. (TEATINI, João Carlos. REVISTA EDUCAÇÃO, EDIÇÃO 144 – abril/2009)

Além do fomento a demanda por profissionais com formação específica, a ação dos estagiários pode potencializar o uso de equipamentos, de salas especiais de artes visuais, incrementar o uso de recursos tecnológicos, desenvolvimento de material didático (livros, manuais, vídeos, cd-rooms...); organização de espaços de exposição de artes visuais (dos alunos e de demais artistas), bem como no fomento de relações escola-comunidade por meio da pedagogia de projetos.

2.2. Mapeamento das instâncias educativas da sua cidade

Prezado aluno,

Nesse primeiro estágio, vamos realizar um mapeamento do perfil da sua cidade, pensando e elaborando um mapa que contenha as informações sobre o que compõe este cenário. Nos estágios posteriores, cada um de vocês, sabedores desta realidade, terão condições de realizar um trabalho mais pontual, mais pertinente e condizente com o seu lugar, com sua cidade, seu contexto e sua cultura.

Denominamos mapeamento por acreditarmos que um mapa é sempre uma grande referência quando queremos ou precisamos adentrar num espaço, num determinado território. Às vezes, conhecemos de nome esses espaços, de passagem, sabemos onde fica, mas não temos mais dados para a sua leitura. Aquilo que muitas vezes nos parece familiar pode se transformar em estranhamento. E esse estranhamento será desvendado por você, conhecedor do seu lugar!

Pensar em mapas pressupõe que tenhamos legendas para saber lê-los, e será cada um de vocês a criá-las para que entremos e conheçamos as instancias educativas da sua cidade, assim como a cultura onde ela se formou e ajudou a formar.

Sabemos que os polos são compostos por várias cidades. A ideia é que cada um na sua cidade possa fazer esse inventário, o levantamento destas instancias. Depois, cada polo terá um grande mapa e poderemos visualizar as potencialidades e possibilidades para quando for se dar a inserção no campo do estágio.

Façamos deste mapa nosso guia de conhecimento para que saibamos por onde navegar! Sinalizamos aqui determinadas questões balizadoras para que vocês possam construir esse mapeamento.

Quantas escolas estaduais existem?

Qual o endereço destas escolas? Como são os bairros onde elas ficam?

Estas escolas são todas do mesmo tamanho? Como são os seus prédios? Elas atendem ao mesmo número de alunos? Os alunos destas escolas possuem o mesmo perfil? São da mesma região? Os que frequentam são todos da cidade ou também vêm da zona rural?

Estas escolas estaduais funcionam em três turnos: manhã, tarde e noite? Tem períodos intermediários?

Existe alguma destas escolas em período integral? Se sim, você sabe o que elas fazem no contra turno? Existe no contra turno espaço para o trabalho com a arte e a cultura? De que forma que o currículo esta organizado?

Quantas escolas particulares na sua cidade? Elas são voltadas para quais níveis? Educação infantil? Fundamental? Médio?

E quanto às escolas municipais? Quantas são? Qual o nível de ensino que elas oferecem? Onde estão localizadas?

Existem projetos de arte e cultura na sua cidade? De que natureza? Fundações culturais? Secretarias de cultura? Museus? ONGs que dedicam a trabalhar com a arte e a cultura? Galerias de arte? Feiras de arte? Exposições de arte? Associações de artesãos? Feiras de artesanato? Associações que lidam e trabalham com arte com pessoas que se encontram em sistema prisional? Em clinicas psiquiátricas?

Se existem estes espaços, de que forma eles lidam com a produção, promoção e difusão de arte e cultura na sua cidade? Lembremos que este mapeamento cumpre aqui a função de desvelarmos espaços potenciais para atuação do professor de arte!

Obs.: Esta atividade poderá ser desenvolvida em grupo, em duplas ou mesmo individualmente, pois sabemos que cada um se encontra em uma realidade diferente e, nem sempre, todos estão no polo. O importante é mapearmos os nossos territórios.

2.3. Cartografia da minha instância educativa

Construir uma cartografia da minha instância educativa, faz-se necessário que tenhamos guias, bussolas, que nos guie para dentro de nós mesmos! Portanto encontremos os nossos instrumentos... Nossas senhas e caminhemos!

A ideia de cartografia da instância educativa considera o capital simbólico e cultural dos diversos sujeitos de um determinado espaço pedagógico. Ninguém é um zero, um papel em branco que irá receber as tintas do conhecimento. No entanto muitas vezes aquele ditado “faça o que eu digo, mas não faça do que faço” parece se aplicar ao docente quando discursa sobre esse reconhecimento, mas na prática não consegue vivenciá-lo. Por isso mesmo, consideramos que a melhor maneira de exercitar essa conscientização é revisar como nos formamos ao longo da nossa trajetória educacional. Perceber nossa prática pedagógica como prática histórica cultural, ressaltando contribuições e conflitos de muitos atores que perspassaram nossas vidas; formas como vivenciamos as relações entre ensino e aprendizagem em face dos diferentes espaços, tempos e modos de ensinar e aprender Acreditamos que a elaboração de uma cartografia escolar possa contribuir para uma reflexão sobre o que profissional pretendo ser. Onde quero atuar etc.

O multiculturalismo crítico defendido e praticado por McLaren tem suas bases a pedagogia da libertação de Paulo Freire e apresenta um caráter de resistência. Nesta concepção busca as transformações criticando oposições, semelhanças e diferenças. Postula que as diferenças são construções históricas e culturais, fruto de produção e recepção, ideológica de signos culturais.

Maffesolli (1996, p.333) sugere que na pós modernidade, ao invés do conceito de identidade, usemos a concepção de identificações sucessivas:

“...a identificação ressalta que a pessoa é composta de uma série de estratos que são vividos de um modo sequencial, ou mesmo que podem ser vividos concorrentemente, ao mesmo tempo. É essa estratificação que engendra todos os territórios delimitados pelas diferentes tribos contemporâneas”.

Nos descentramentos identitários apontados por Maffesoli, percebemos a questão do deslocamento do indivíduo para “outros” indivíduos, que podem estar fora ou dentro do mesmo sujeito. É no plano da cultura que estas interações acontecem e que redefinem papéis e comportamentos. É assim que estamos propondo vivencia as situações escolares que nos construíram para entender as que iremos construir futuramente.

2.4. Construindo cartografias

Estamos chegando mais perto de cada um de nós... Cada vez mais. O GPS traz a ideia da precisão e só nós, sabedores e conhecedores do nosso lugar, poderemos guiar uns aos outros nesse território.

A essa altura, a turma toda já deve ter um mapa da situação escolar da sua cidade. Quantas escolas estaduais, quantas municipais, quantas particulares? Agora vamos fazer um exercício que verticaliza a horizontalidade do mapa. Você vai fazer outro mapa, que vamos chamar aqui de cartografia relacional. Ou seja, como você se relaciona com este mapa. Em quantas escolas estudou? Em quantas deu aula? Filhos em escolas? Cada um dos alunos vai produzir seu próprio mapa e compartilhar com os colegas.

A construção de um mapeamento geral da sua cidade nos leva a uma segunda proposta, que diz respeito a você mais de perto e sua relação com estas instancias educativas que mapeou. Queremos, aqui, trazê-lo para bem perto da sua subjetividade. De que forma estas instancias educativas fazem parte do meu processo de formação e construção de conhecimento? Lembremos que as historias educativas e as escolas fazem parte de um ideário de mundo, de sociedade que ela quis formar por meio dos seus currículos, das suas construções. O que propomos aqui é que cada um de vocês olhe para estas escolas e pensem: De qual eu fiz parte? Onde foi possível estudar? Foi a escola dos meus sonhos? Ou a escola dos meus sonhos me excluiu por questões financeiras, de status, de possibilidades?

Aqui, vamos pensar a escola que habitou e habita cada um de vocês. Seja como for, chegamos até aqui e foi essa escola que possibilitou isso. Então, queremos que você compartilhe essa caminhada conosco, pois a sua historia de escola, de educação, poderá sinalizar questões importantes para refletirmos as formas como foi se dando essa sua escolarização. Ainda, poderá sinalizar referenciais que nos encaminham para outras trilhas nesta jornada formativa que estamos construindo, nessa formação na licenciatura em artes visuais.

Pensar nesta singularidade de escola e de formação nos leva até o sentido daquilo que me pertence, daquilo que cada um vem construindo na sua historia de vida. Mesmo que passemos pelas mesmas escolas, não construímos histórias iguais. Não temos lá as mesmas vivências, as coisas não repercutem iguais em nós. Faz-se importante pensar nesta questão, pois isso vai definindo minha concepção de educação, de ser professor, de sala de aula, de posicionamento na vida e na profissão. Este posicionamento de singularidade, de pensar a escola enquanto um espaço do qual faço parte nos leva ao conceito de território do Milton Santos, quando ele nos aponta que:

(...)Por território entende-se geralmente a extensão apropriada e usada. Mas o sentido da palavra territorialidade como sinômino de pertencer aquilo que nos pertence... Esse sentimento de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde da existência de estado. Assim essa ideia de territorialidade se estende aos próprios animais, como sinônimo de área de vivência e de reprodução. Mas a territorialidade humana pressupõe também a preocupação com o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres vivos e privilégio do homem. (SANTOS e SILVEIRA, 2008, p.19)

Pensar a escola nesta concepção de território nos faz pensar no quanto as escolas que estudamos, os professores que tivemos, impregnaram em nós jeitos de ser, maneiras de se comportar. O que queremos e propomos com este mapeamento e cartografia de nos mesmos é que não nos conformemos com aquilo que foi mapeado, mas, sim, que tenhamos clareza do revelado para podermos não repetir o que já foi feito. Devemos ousar, no sentido de ir além, de poder construir outras cartografias com nossos alunos e que eles saibam e sejam capazes de decifrar seus enigmas e se encontrem com desenhos de escolas mais condizentes com seus tempos, com eles mesmos. É nossa, é de cada um de vocês esta responsabilidade, esse compromisso.

Conhecer a nós mesmos para pensar em formas de atuação possibilita promover outros caminhos constritivos para nossos alunos. Pra isso, e não encerrando essas questões e sugestões, propomos que vocês reflitam e respondam:

Das escolas mapeadas, de qual eu fiz parte? Em quais estudei?

Estudei em varias escolas ou numa única durante toda a minha escolaridade básica?

Eu optei pela escola ou optaram por mim? Você tem ideia de por que essa escolha? Foi a única possível?

Onde fiz minha escolaridade dos primeiros anos? Cursei o jardim da infância? E a educação infantil? Fiz supletivo? Cursei educação de Jovens e Adultos ou fiz o ensino regular?

Ter construído a minha educação da forma como construí me faz pensar em que? Faz-me sentir como?

Sinto-me incluído ou excluído de algum processo educacional neste país?

O que a minha história educacional me possibilitou? O que a falta dela em algum momento não me permitiu?

O que significa cursar essa Licenciatura em Artes Visuais, na modalidade a distancia?

Das situações vivenciadas na minha escolaridade, o que eu buscaria fazer diferente com meus alunos? Por quê?

O que eu repetiria? O que não repetiria e por quê?

Dos lugares mapeados, qual eu escolheria para lançar-me no exercício do ser professor? Do ser professora? E por que esta escolha?

Unidade 3: Espaços de Estágio: Territórios de Sentidos

Desse ponto em diante, vamos trabalhar juntos com a disciplina PENSAMENTO E INVESTIGAÇÃO EM ARTE E EDUCAÇÃO, de autoria do Prof. Dr. Raimundo Martins. E porque estamos fazendo esta proposta de caminhos conjuntos? Primeiro, porque já percebemos que nossa proposta de Estágio Curricular Obrigatório pauta-se na investigação e na pesquisa; segundo, porque a disciplina com a qual vamos dialogar nos prepara para a atitude investigativa, culminando num exercício de pesquisa etnográfica no campo escolar. A ida a campo é exatamente a culminância de todos os exercícios propostos até aqui. Depois de todos esses exercícios, cremos que é hora de mergulhar no contexto (formal ou não formal) de situações de ensino-aprendizagem. No entanto, esse mergulho precisa também de mapas (já construídos por vocês), de GPS (cartografias já realizadas) e bússolas que serão agora representados pelas técnicas de coleta de dados: questionários; roteiros de observação-reflexão; diários de campo; registro de imagens; roteiros de entrevistas etc. Esse mergulho terá continuidade nos outros estágios. Este é apenas um ponto de partida. Em outras palavras, vivenciaremos uma experiência interdisciplinar e esperamos que seja enriquecedora para a formação de sua identidade docente.

Referências Bibliográficas

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