Licenciatura em Artes visuais Percurso 2
57

Ateliê de Linguagens Tridimensionais

Autores

Drª Eliane Maria Chaud Doutora em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (2012). Mestre em Artes pela Universidade de Brasília (2000). Graduada em Educação Artística - Habilitação Artes Plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia (1990), e Bacharel em Decoração pela Universidade Federal de Uberlândia (1992) . Professora da Universidade Federal de Goiás desde 1996. Experiência na área de Artes, com ênfase em Artes Plásticas, atuando principalmente nos seguintes temas: processos de criação, poéticas compartilhadas, práticas culturais, arte em comunidade.

Keith Richard Tem experiência na área de Artes Visuais, com ênfase em Artes Plásticas, atuando principalmente nos seguintes temas: produção coletiva com o Grupo Empreza de artistas plásticos criado em 2001, produz imagens e objetos ligados a performance; pintura e desenho. Desenvolve pesquisas em poéticas da arte contemporânea e cultura visual.

Saiba mais

Apresentação

Prezado aluno,

Nesta disciplina, você iniciará sua aprendizagem em relação à tridimensionalidade. Realizará exercícios nos quais irá experimentar alguns passos sobre como trabalhar códigos/signos através da linguagem tridimensional, a compreensão e aplicação de seus processos, sendo assim orientado para a experiência artística e sua aplicação, futuramente como professor.

Leia os textos e observe, atentamente, as palavras sublinhadas; elas lhe auxiliarão no desenvolvimento de exercícios propostos. É essencial, para o bom desempenho da disciplina, dedicação à produção.

Unidade 1: Introdução à Escultura

Antes de adentrar no mundo das formas escultóricas, façamos uma rápida retrospectiva de alguns conceitos em relação à arte e à estética, que já foram vistos em módulos anteriores. Caso queira aprofundar seus estudos, releia os livros anteriores. A reflexão sobre os conceitos de arte e estéticas ajudará em sua produção, dando maior consistência aos seus trabalhos.

Você já parou para pensar quando e como surgiu o conceito de arte? Sua existência, como conceito e prática, desenvolveu-se de forma hegemônica na Europa Ocidental por mais de dois milênios. Essa cultura produziu as bases do que nos referimos como sendo arte ainda hoje, como sentido estético.

Na Renascença europeia as artes visuais reclamam um status diante das artes liberais para deixar de ser considerada uma arte mecânica.

“Na hierarquia medieval, as artes visuais eram colocadas no mesmo nível das artes mecânicas, o que não acontecia com as artes liberiais, que na época se limitavam às ciências linguísticas e matemáticas. A nova geração de pintores, escultores e arquitetos lutava para ser admitida nas artes liberais e para situar-se no mesmo nível dos retóricos, poetas e estudantes de geometria. Como artista liberal, era preciso reconhecer os fundamentos científicos de sua arte, passar por um aprendizado teórico e, se possível até mesmo contribuir para a teoria das artes. A partir de então, portanto, as considerações teóricas acompanham a prática artística, ou para se mais exato, creio que o fato de a prática ter que fundamentar-se na teoria foi algo que se tornou um artigo de fé para os artistas de vanguarda. Daqui por diante, teremos de descobrir não apenaso que os escultores fazem, mas o que pensam ou dizem, ou pelo menos o que seus porta-vozes literários expressam em palavras”. (WITTKOWER, 1991, p. 78)

58

Isso significava que sua prática deveria ser considerada mais do que um mero fazer e tornar-se produção intelectual, como as outras, e que o objeto artístico passasse a ser considerado ainda mais diferenciado dos comuns.

Algumas práticas fundamentavam e limitavam a busca pela distinção do objeto artístico: a ciência da perspectiva, o conceito de belo retomado da antiguidade clássica grega e a imitação, conceito e prática a que o processo artístico sempre esteve ligado. Citaremos apenas três para iniciar a discussão sobre o que valida um processo e seus produtos como sendo artísticos.

A imitação é essencial para a espacialidade de uma obra que está sempre buscando imitar algo. Por meio dela, o artista captura e registra o seu tempo, não só em obras naturalistas fiéis ao modo de ver ou na arte descritiva, mas também nas expressões contemporâneas. A imitação também gera uma discussão importante para as obras escultóricas que exigem modelos e moldes, ou seja, a transposição mecânica dos aspectos de um estudo intermediário para a obra final.

Além desses fatores, o Renascimento (séc. XV) elaborou dois artifícios para distinguir os objetos artísticos e o espaço da obra em relação ao mundo comum: a moldura para as obras bidimensionais e o pedestal para os trabalhos tridimensionais, reforçando assim o espaço ilusório e naturalista da obra. Essa configuração das obras diante da realidade permaneceu quase inalterada até o modernismo, no século XX, quando os artistas produziram obras que questionavam e ultrapassavam aquelas fronteiras.

Outra observação importante a ser feita é sobre a noção, ainda influente, de que algumas artes são consideradas superiores. Essa classificação foi feita pelas academias de arte, criando uma distinção de materiais e processos nobres para a produção da grande Arte (com letra maiúscula). Separação que só será posta em questão com o advento do modernismo, quando os artistas vão começar a considerar outros materiais e processos como possíveis para se fazer arte. Nesse momento, analisaremos as transformações radicais do fazer artístico no século XX; grande parte delas ocorreram também na linguagem tridimensional.

Glossário

Escultura: Expressa-se pela criação de formas plásticas em volumes ou relevos, seja pela modelagem de substancias maleáveis e moldáveis, no desbaste de sólidos, seja pela reunião de materiais e ou objetos diversos.

Fonte: Houais Dicionário da Língua Portuguesa

Para experimentar

Pesquise o comportamento da escultura (seus materiais, procedimentos, figura humana, espaço), analisando obras.

Procure, em livros, textos e internet, esculturas de Michelângelo, Bernini, Canova, Rodin e Rosso, e realize a catalogação de cada escultura juntamente com a análise dos aspectos anteriormente citados.

1.1 Escultura no século XX

Nesse tópico, trataremos da escultura modernista e da expansão das possibilidades dessa linguagem no início do século XX, pelo questionamento de alguns aspectos tradicionais: a representação da realidade, supremacia dos temas, materiais e procedimentos tradicionais.

Segundo Herbert Read (2003), moderno seria um conceito usado para indicar um estilo que rompe com a tradição estabelecida e procura criar formas mais apropriadas ao sentido e a sensibilidade da nova época. O panorama encontrado no final do século XIX e início do XX forneceu as bases para esse conjunto de modificações. Dentre algumas conquistas científicas e tecnológicas, salientamos o advento da fotografia. Essa invenção proporcionou a liberação das linguagens artísticas do contexto representativo da arte junto à natureza.

59

Entre alguns escultores, encontraremos o marco dessa passagem na produção de Constantin Brancusi (Ver Figura 1) e Henry Matisse (Ver Figura 2) se contrapondo à geração anterior de escultores pré-modernistas a que pertencem Auguste Rodin e Edgar Degas (Ver Figura 3). A abstração começa a prevalecer, e a figura humana representada e isolada passa a se relacionar com o espaço circundante.

Figura 1: Constantin Brancusi. A prece, 1907.
Figura 2: Henri Matisse. O escravo.
Figura 3: Edgar Degas. Bailarina.

Nas obras de Rodin e Degas, tem-se ainda a representação da figura humana como fator importante. Na experiência da escultura como figura, há coerência na estrutura, força no movimento, o tema tradicional e neutro, a conexão e disposição rítmica da massa. Assim, a escultura é estruturada por propósitos artificiais do anatomicamente expressivo.

Em Matisse, vemos o imediatismo, a descontinuidade da estrutura, o arbitrário, a ingenuidade diante do tema e a inocência no manuseio direto do material. Proporção, peso, equilíbrio são propositadamente falseados, e a escultura é estruturada pela coerência intencional da percepção.

A escultura A Prece (Figura 1), de Brancusi, possui uma estrutura geométrica, uma organização de volumes; com vistas à formulação de uma ordem particular ao objeto individual, há uma reconstrução da figura humana. Já a escultura O Beijo (Figura 4), também de Brancusi, é considerada por Tucker como a primeira escultura-objeto. Compare com a escultura O Beijo (Figura 5), elaborada por Rodin.

Figura 4: Bracusi. O Beijo,1908.
Figura 5: Auguste Rodin. O Beijo, 1901.
60

Essa comparação nos leva a considerar a condição a que o objeto artístico estava retornando, a de um objeto comum dentre os outros, mais próximo do espaço real e não mais preso dentro da ordem visual da perspectiva elaborada na Renascença.

Figura 6: George Brasque. O clarinete.

A contribuição das esculturas e pinturas Cubistas foi considerável para compreendermos a nova função das artes. Nesse momento, o objeto artístico já não representava a realidade, mas a substituía. As esculturas cubistas trazem outras contribuições como uma maior inter-relação entre espaços interno e externo; inclusão direta de novos materiais e um novo procedimento para se trabalhar a escultura, a construção. Um exemplo desse efeito dinâmico, salientamos nas esculturas de Pablo Picasso: a assemblage, em Bandolim (Figura 6), e as esculturas em bronze, como Cabeça de Mulher, de 1909.

Aprofundando essas questões, surge o Construtivismo, outro movimento de vanguarda e uma consequência direta do pensamento Cubista. Os materiais se renovam assim como a maneira de empregá-los. Surgem os materiais plásticos e transparentes, produtos oriundos do avanço industrial da época. Em suas construções, os escultores construtivistas negaram o volume e a massa como uma expressão do espaço. Suas obras possuíam um ritmo dinâmico, uma imagem vital e diferente do espaço e do tempo.

Figura 7: Naum Gabo. Cabeça construída, 1916.

Naum Gabo (Ver Figura 7) e Antoine Pevsner (Torso, 1924) constroem o volume de suas esculturas entre vazios, ângulos, planos e linhas. Segundo Read (2003), os artistas construtivistas desenvolveram uma abstração cada vez mais profunda até uma característica próxima ao conceito de concreto, projetando uma imagem mental como ícones de significado universal.

Concluindo, vamos observar que em cada momento as modificações emergiram na escultura, apresentando novos comportamentos, e materializando novos pensamentos artísticos. Os escultores concretizavam suas obras explorando novas possibilidades junto aos elementos escultóricos como o objeto, a massa, o volume, o espaço, a cor, os materiais e os procedimentos.

Para experimentar

Execute uma escultura pelo método da construção, ou seja, a agregação de vários elementos semelhantes ou diversos. Analise as obras dos seguintes escultores: Pablo Picasso, Lászlo Moholy – Nagy, Antoine Pevsner, Naum Gabo, Marcel Duchamp. Em seguida, observe materiais manufaturados, industrializados, naturais, objetos do cotidiano (portas, caixas de madeira, janelas, objetos de cozinha, objetos pessoais etc) ou metal.

Desenhe a proposta várias vezes e escolha a que lhe parece a melhor. Escolha alguns exemplos que estejam em sintonia com a sua ideia, eleja um procedimento de agregação adequada à sua ideia, ou seja, amarração, solda, parafusos, cola, pregos. Nesse exercício, inclua elementos com cor. Documente o desenvolvimento de sua obra e também seu posicionamento no espaço definitivo.

61
Para experimentar

Execute uma releitura de escultura com características modernas, ou seja, com a negação dos elementos escultóricos tradicionais, como a figura humana, o espaço e o volume.

Escolha uma escultura do período em questão, analisando as obras dos seguintes escultores (modeladores) modernos: Medardo Rosso, Antoine Bourdelle, Ernest Barlach, Edgar Degas, Auguste Rodin, Henri Matisse.

Desenhe várias vezes a sua proposta, transfira sua ideia para a argila, gesso ou plastilina (massinha de modelar) com dimensões médias de 30 cm. Documente sua escultura em várias posições e durante todo o desenvolvimento antes de sua secagem completa. Você pode utilizar uma estrutura de metal interna. Tenha cuidado especial com o acabamento.

1.2 Conceitos da tridimensionalidade

Observamos que o conceito de escultura modificou-se nas diversas modalidades vivenciadas nas linguagens modernas. Em relação aos processos escultóricos, vamos chegar a uma escultura mediante quatro procedimentos: três formas diretas (a modelagem, o entalhe e a construção) e uma por reprodução (fundição) de se chegar a um produto final.

A primeira forma de produzirmos uma escultura passa pelo método aditivo da modelagem. Diversos materiais podem ser inseridos nesse contexto: a argila, o gesso, a plastilina (massinha de modelar) e a cera.

A segunda forma seria compreendida pelo método subtrativo do entalhe. A massa de uma matéria dura, como a madeira, a pedra, o gesso endurecido, poderia ser desbastada, paulatinamente, até a forma desejada.

O terceiro método direto de materializarmos uma escultura advém da construção. A agregação de inúmeros materiais ou peças seria proporcionado pela soldagem, colagem ou outras formas de aglutinar coisas.

O último procedimento seria a fundição, ou seja, um processo de reprodução. Esse procedimento é dividido em duas modalidades: fundição a frio (gesso, resina, barbotina) e a quente (alumínio, bronze).

A escolha de um material é muito importante para o artista, pois através desse que ele expressa suas idéias. Dependendo dessa escolha, o artista pode acertar ou não conseguir demonstrar o que quer exprimir. Cada material colaborará com a intenção do artista. Poeticamente, os materiais e seus procedimentos trazem conotações intrínsecas importantes para a melhor compreensão da obra. Por exemplo, se queremos trabalhar com materiais leves e esvoaçantes, devemos procurar materiais e procedimentos que nos ajudem nesse sentido.

1.3 Elementos da Tridimensionalidade

Algumas pessoas são propensas a pensar escultoricamente, porém muitas outras tendem a pensar pictoricamente. Essas pessoas podem encontrar algumas dificuldades no desenho tridimensional. Com freqüência envolvem-se tanto com a vista frontal de um desenho que negligenciam outras vistas. Podem achar que as estruturas internas das formas tridimensionais estão além de sua compreensão ou ser atraídas com facilidade pela cor e pela textura das superfícies, quando o volume e o espaço são mais importantes (WONG,1996. p. 238).

A tridimensionalidade pode precisar de elementos que estão distribuídos na seguinte ordem, de acordo com Wong (1996):

62

A aquisição desse repertório é fundamental, pois os conceitos, assim como os materiais, serão ferramentas de trabalho na criação de trabalhos artísticos.

Unidade 2: Modelagem

Iniciaremos esta unidade conhecendo a técnica de modelagem em argila, quais os tipos de argila, as ferramentas necessárias para trabalhar e o passo a passo desse procedimento.

Na técnica de modelagem, você dá forma ao material, adiciona e retira material dúctil e maleável para chegarmos a uma forma final. Dentro do conjunto de materiais temos a argila, o papel machê, a cera e o gesso. A modelagem oferece por meio de seus materiais diferentes níveis de plasticidade.

2.1 Argila

A argila sempre foi utilizada para realizar esculturas. Muitas culturas empregaram técnicas de cerâmica para conseguir a terracota. A presença desse material em diversas civilizações se deve a sua abundância em regiões de clima tropical e temperado.

A técnica empregada era geralmente a da modelagem a pressão: a argila úmida era comprimida dentro de um molde de argila previamente cozido. No ano de 200 A.C., datam os 7000 guerreiros chineses do mausoléu do primeiro imperador Ch´in no monte Li (ver figura 8).

Na escultura tradicional, esse material dúctil foi utilizado como fase de preparação ou exercícios anatômicos para se chegar a um produto final em outro material mais resistente, como a pedra ou o bronze. Na história da escultura, esses modelos em argila, importantes como meio transitório, foram desconsiderados pelos próprios escultores como esculturas. Será nesse contexto, juntamente com a abundância desse material na natureza, que a escultura pelo processo de modelagem em argila será estigmatizada.

63

A argila é um silicato de alumina hidratado, sendo constituída por alumina (40%), sílica (45%) e água (15%). Durante o processo de secagem ocorre a perda de água e dedução de volume. A argila é um material que necessita de preparo muito específico, pois ela se altera com grande facilidade pela sua plasticidade (propriedade que se relaciona com a estrutura laminar da argila e da água, conservando a forma que é dada à argila). Para ser transformada em cerâmica, a argila deverá passar por um cozimento ou queima entre 900 e 1000 graus Celsius.

Figura 8: Autor desconhecido.

Onde encontrar:

A argila é um material fácil de conseguir em brejo e beira de rios. As argilas encontradas nesses locais são consideradas primárias, pois não estão em estado suficientemente uniforme, com a devida plasticidade e textura fina para ser empregada na modelagem de uma escultura.

Existem distintos tipos de argila de acordo com misturas de outros minérios: argila de bola, caulim, argila para louça, argila refratária, argila para grés, betonito e por último a argila vermelha. Essa última, muito empregada por todos os ceramistas, possui grande porcentagem de ferro, ideal para trabalhos manuais em geral. É esse tipo que normalmente encontramos disponível, os outros requerem encomenda em fabricantes especializados.

É melhor adquirir a argila já devidamente elaborada. Isso nos ajuda no desenvolvimento e conclusão da obra sem a presença de imprevistos como rachaduras e empenagens. Uma boa manipulação da argila, junto aos ingredientes necessários, facilitará as fases da modelagem e da secagem dos objetos e das esculturas.

Preparação:

Pode-se encontrar a argila de vários estados. Mesmo adquirindo-a úmida, você terá que bater bastante sobre uma superfície rígida coberta por um pano áspero de algodão até que esteja na plasticidade adequada de modelar. Não bata diretamente sobre a madeira nem utilize plástico, pois são aderentes e a argila grudará. Caso a massa resseque, deixe-a de molho em água, até que absorva água, amoleça novamente e possa ser reprocessada.

Atenção

É importante bater e amassar a argila para que sejam retiradas as bolhas, caso contrário, estas farão o trabalho rachar durante a secagem ou explodir durante a queima.

Depois de preparar de preparar a argila, ela deve ser deixada em repouso durante algum tempo em ambiente úmido adequado e embalada, para que depois venhamos a executar o trabalho.

Manter sempre a mesma umidade da argila para a realização dos objetos. Durante o processo de elaboração das peças, sempre acondicionar em sacos plásticos (sem a presença de ar) e panos levemente úmidos os objetos em argila. Mantenha suas mãos sempre úmidas para evitar que resseque a argila enquanto trabalha.

Ferramentas:

Argila oferece uma grande liberdade na escolha de ferramentas para o seu manuseio como: colheres, facas, garfos, diversos tipos de tampas de perfumes, espátulas de madeira, espátulas de ferro, diversos elementos com texturas, formas de alumínio, e diversos elementos do seu cotidiano poderá ser inserido no processo de elaboração da obra.

Algumas ferramentas comuns no manuseio da argila estão nas imagens 9 e 10:

64

Você também vai precisar de:

Glossário

Barbotina é uma espécie de cola preparada para emendar as esculturas ainda moles. Junte um pouco de argila e água, misture com garfo ou mãos até obter uma consistência cremosa. Guarde em recipiente fechado.

2.2 Métodos de modelagem

Processo de esvaziamento: modelando uma esfera

Por meio do processo de esvaziamento, você poderá modelar uma esfera. Acompanhe e observe o passo a passo da modelagem de uma esfera.

65
1. Separe um pedaço de argila; Amasse o bloco pequeno e gire sobre a mesa para arredondar;
2. Em seguida, segure o bloco em uma das mãos e continue arredondando e batendo com a palma da outra mão levemente curvada e rígida. Deixe a forma bem acabada;
3. Reparta a esfera ao meio, utilizando o cortador;
4. Esvazie o interior da bola com uma esteca redonda, deixando a espessura uniforme de 1 cm;
5. Arranhe bastante as bordas da esfera com garfo;
6. Passe barbotina com pincel par emendar as duas partes;
7.Pressione levemente uma metade contra a outra para garantir que se unam;
8. Arranhe a emenda por fora com o garfo;
9. Coloque um rolinho fino sobre a emenda;
10. Use a espátula para espalhar a argila e reforçar a emenda;
11. A esfera está pronta.
66
Para experimentar

Utilize o método da esfera oca para criar outras formas. Esse processo pode ser utilizado para blocos com diversos formatos e tamanhos. Construa uma escultura com os diversos elementos modelados, esferas, cubos, ovoides, etc. Explore o espaço de dentro e o de fora de cada objeto. Una-os com outros elementos como parafusos, pinos ou a própria emenda.

Técnica de rolo: modelando uma forma cilíndrica

A técnica de rolo será útil par modelar qualquer tipo de trabalho. Os rolos de argila devem ser uniformes, com aproximadamente 25 cm de cumprimento, finos ou grossos de acordo com a espessura da peça. Faça a quantidade aproximada de rolos a serem empregados no trabalho. Observe o passo a passo da modelagem da forma cilíndrica.

1. Prepare várias bolas de argila;
2. Comece a afiná-las, rolando sobre a mesa com a ponta dos dedos em movimentos de vai e vem;
3. À medida que o rolo for esticando, deslize os dedos sobre ele sem apertar. Guarde-os sob o tecido levemente umedecido;
4. Ao terminar de fazer os rolos, faça uma espiral com um deles, o maior, para servir de base para o cilindro;
5. Utilize uma espátula para unir a argila, raspando da borda para o centro, faça isso dos dois lados;
6. Coloque o primeiro rolo sobre a base bem alinhado e corte o que sobrar;
7. Coloque um rolinho fino na parte interna do trabalho;
8. Una as partes internas e externa, raspando com a espátula;
9. Empilhe 3 rolos por vez e alise as superfícies interna e externa com a espátula.
10. Repita a operação até atingir a altura de 20 cm;
11. Bata levemente a ripa de madeira sobre a superfície
12. Ao terminar, alise toda a superfície.
67
Para experimentar

Construa esculturas a partir dessa técnica, explorando a forma cilíndrica, oval (com rolos de diferentes tamanhos) ou incluindo a técnica anteriormente ensinada, como a bola de argila.

Técnica de placas: modelagem de uma forma cúbica

Nessa técnica, vamos utilizar as duas ripas (da mesma espessura, aproximadamente 1 cm) e o rolo de massa. Veja como fazer o passo a passo da modelagem de forma cúbica:

1. Coloque as duas réguas paralelas e disponha uma quantidade de argila bem amassada entre as duas madeiras; passe o rolo de abrir massa sobre a argila, fazendo um movimento de vai e vem até que fique da espessura das ripas.
2. Mantenha a uniformidade da espessura e então retire os excessos.
3. Recorte cinco quadrados do mesmo tamanho. Deixe secar por um tempo até o ponto de couro (argila com uma certa firmeza). Recorte todos os cantos que serão emendados em ângulos de 45 (chanfrado). Cuide da uniformidade.
4. Risque todos os cantos que você recortou com um garfo. Aplique barbotina sobre os canos da base e das duas primeiras paredes
5.1. Una placas e risque também os encontros, faça rolinhos finos e agregue nesses cantos. Depois espalhe com a espátula. Termine os encaixes.
5.2. O cubo pronto serve de base a outros trabalhos.
6. Bata levemente a ripa de madeira sobre a superfície da peça para aplaná-la e alise a peça.
68
Para experimentar

Crie uma escultura a partir do cubo, você poderá fazer texturas, recortes, agregar volumes, captar a forma de outros objetos com placas finas de argila, sempre cuidando para que a massa fique bem emendada.

Como exemplo da potencialidade da argila, procure na internet obras da escultora Kymio Mishim que utiliza esse método para construir um dos elementos de sua instalação realizada totalmente com a argila.

2.3 Moldagem

Esse método visa construir moldes de argila para confeccionar outros objetos em argila ou em outros materiais. A moldagem, um processo indiciário, facilita o processo de reprodução de objetos, em especial quando se trabalha com grandes quantidades. Acompanhe o processo do passo a passo da moldagem em placa de argila:

1. Escolha um objeto de plástico para ser reproduzido. O ideal é um objeto simples, sem muitas reentrâncias. No exemplo, a artista trabalha uma cabeça de boneca de porcelana.

2. Prepare a argila: faça placas para serem usadas no processo de reprodução com moldes. Condicione essas placas dentro de um plástico e aguarde. É importante guardar a maleabilidade da argila.

3. Ecolhido o objeto, pincele-o com óleo de cozinha. Escolhido o ângulo que será captado, firme o objeto em uma cama de argila.
4. Coloque sobre o objeto uma capa de argila, lisa, ligeiramente úmida. Pressione, com cuidado, a capa de argila para captar todos os seus detalhes.
5. Docemente, retire a argila após alguns minutos de secagem (utilize um secador de cabelo). É importante deixar secar um pouco antes de tentar retirar a capa. Nesse momento, você terá um negativo do objeto a ser reproduzido.
6. Realizadas as fôrmas de argila, deixe secar e depois realize uma queima para que fiquem firmes e prontas para a confecção dos objetos reproduzidos.
7. Você poderá utilizar essas fôrmas de argila, reproduzindo objetos em diversos materiais como: argila (moldando placas em argila), papel marché, plastilina (massinha de modelar), pedaços de vidros (preenchendo todo o interior do molde), o vidro exigirá uma segunda queima para o seu derretimento (acima de 800 graus C.).
8. Feitas as fôrmas de argila, pressione capas de argila no interior de cada molde. Delicadamente, retire os objetos de cada forma. Caso saia danificada, modele e faça o acabamento individual dos objetos.
69
Para experimentar

Escolha um objeto de plástico com um significado poético do seu interesse. Não se esqueça de que o objeto trará um conteúdo a ser trabalhado na obra. Escolha um ângulo desse objeto. Reproduza em uma quantidade que possa ser exposta em uma parede. Caso você encolha a argila, você pode realizar a queima em um ateliê de cerâmica ou incluí-las ainda úmidas no seu projeto de instalação. Realize uma instalação com tais objetos. Documente vários ângulos da obra via fotografia.

Unidade 3: Entalhe

Entalhe é um processo escultórico pelo qual é retirado de um bloco partes do material, normalmente este material possui certa rigidez. O entalhe pode se feito em madeiras, pedras e gesso.

Na Grécia e ainda no Renascimento outros instrumentos eram utilizados para o desenvolvimento de detalhes como a puam cinzéis, a furadeira de arco, a máquina de pontear.

Durante muitos anos esse procedimento foi o único a ser considerado como escultura. No Renascimento, Alberti, escritor e humanista deste período, define com clareza a diferença existente entre o modelador e o entalhador: “Aos que trabalham com cera ou gesso - diz ele - acrescentam ou subtraem material, nós os chamaremos de modeladores, enquanto que os artistas que apenas subtraem, trazendo a luz a figura humana potencialmente oculta no bloco de mármore, são por nós chamados de escultores.”

Para experimentar

Exercite a técnica do entalhe em sabão em barra ou de bola. Este material é muito interessante, pois é simples de ser trabalhado. Você precisa de uma barra ou pedaço de sabão, uma faca pequena ou estilete, depois é só ir esculpindo o desenho projetado. Fácil e prático.

3.1 Entalhe em gesso

Dentre os materiais a ser entalhado o gesso é o que possui certa facilidade, por não ser tão rígido e bem acessível, podendo ser encontrado em ferragistas e lojas de material de construção. O gesso é uma substância, normalmente, vendida na forma de um pó branco, produzida a partir do mineral gipsita composto basicamente de sulfato de cálcio hidratado. Quando a gipsita é esmagada e calcinada, ela perde água, formando o gesso. Tradicionalmente o gesso foi utilizado como um meio auxiliar, similar á argila ou a cera.

A escultura moderna viu no gesso possibilidades expressivas que merecem ser expostas. Os artistas tomaram novamente consciência da dicotomia entre modelar e esculpir. Também houve um novo grande interesse pelo entalhe direto, sem modelos ou medidas transpostas mecanicamente. Escultores como Brancusi e Henry Moore se distanciam do método tipo-relevo e aproximam-se do método de trabalho do artesanato arcaico, com etapas sucessivas e dando voltas ao redor da massa de pedra.

Os escultores contemporâneos trataram o gesso como um material com características próprias. Autores como Claes Oldeburg e Gorge Segal não hesitaram em pesquisar este material e criaram obras figurativas permanentes; outros, como John Davies, o utilizou em conjunção com outros materiais numa mistura de meios em que cada um tem um papel de acordo com suas qualidades essenciais.

Preparar o gesso é uma operação delicada, embora simples, que requer um conhecimento prévio das proporções da mistura para que a massa obtida seja fluida, nem muito líquida nem demasiado espessa. A proporção ideal é 65% gesso + 35% água

70

Esse material impõe, outras condições, como o ritmo de trabalho: em boas condições, a mistura demora de 10 a 30 minutos para secar até o ponto em que é possível trabalhá-lo.

Na hora de armazenar, guarde o gesso em local sem qualquer tipo de umidade. Forre o lugar onde vai colocá-lo com saco plástico par evitar a umidade do solo. A embalagem deverá ficar fechada até a hora de ser usado.

Para preparar um bloco de gesso para esculpir, vamos precisar de:

O exercício de entalhe no gesso começa com a produção de um bloco de 25 cm, acompanhe o passo a passo do entalhe em gesso.

Lembre-se que durante o trabalho, devemos colocar as ferramentas na posição diagonal, raspando para fora do bloco, nunca em direção do bloco. Depois de trabalhar no entalhe, seu bloco de gesso ganha forma.

1. Utilize uma caixa de papelão. Lacre com fita crepe ou adesiva as laterais internas e externas para evitar vazamentos. Passe óleo de cozinha a ou vaselina por dentro da caixa com um pincel;
2. Prepare um balde com água limpa e na temperatura ambiente. A seguir derrame na água, com a mão, o pó de gesso, como se estivesse peneirando, até formar uma ilha. A água vem sempre em primeiro lugar, depois do gesso;
3. Deixe repousar por um ou dois minutos, assim o gesso absorve bem toda a água. Depois misture girando sempre para o mesmo sentido, evitando introduzir ar na massa. Quando a mistura ficar homogênea e sem caroços, está pronta para ser usada, não acrescente mais água ou gesso. Bata o balde cheio para eliminar possíveis bolhas de ar do seu interior;
4. Agora você tem apenas alguns minutos para despejá-lo na caixa. Bata na caixa também. Se endurecer antes, faça nova preparação, pois essa mistura não formará um bloco uniforme. Cuidado: o gesso aquece durante o processo de endurecimento;
5. Faça um esboço simples dos pontos de vistas da forma a ser entalhada para facilitar sua execução. Entalhe a forma desejada com as ferramentas que achar mais adequadas. Lembre-se: cada corte tem um efeito e o que for retirado será permanente;
71

Unidade 4: Objetos

Nesta unidade, você irá conhecer alguns dos termos, técnicas, conceitos e atitudes que causaram grande controvérsia na arte do século XX devido à sua carga libertadora dos limites em que a arte atuava até ali. Fora do esquema de funcionamento da tradição acadêmica e diante de um novo contexto cultural, os artistas buscaram alternativas para continuar a produzir arte ou, simplesmente, deixar de reproduzir o que já estava estabelecido e aceito.

Essas manifestações ocorrem com intensidade na escultura do período que vai de 1907 a 1914 nas vanguardas modernistas europeias, sendo um dos períodos mais intensos da escultura moderna. Nesse momento, surge a arte objetual, na qual artistas substituem a representação da realidade – através de meios plásticos aptos a configurar uma aparência ilusionista da mesma – pela apresentação da própria realidade, apropriando-se, diretamente, dela e dos objetos que a compõem. Cabem dentro dessa definição os ready made, as colagens, os objet trouvé e muitas manifestações de movimento artísticos mais recentes como os neodadaístas, neorrealistas, a pop art etc, além de grande parte da arte contemporânea que se desenvolve tendo-os como referencial.

4.1 Assemblage

Figura 16: Pablo Picasso.

Esse termo define a ação e o resultado de incorporar na obra de arte materiais diversos e, inclusive, objetos ou fragmentos de objetos heterogêneos deslocados de seu contexto habitual ou utilitário. Assim definido, o termo engloba a colagem. Porém, habitualmente, costuma-se reservar essa última palavra para as composições planas, empregando a denominação assemblage para obras tridimensionais e de caráter escultórico, como a Guitarra de Picasso (Figura 16).

As primeiras assemblagens foram obra de escultores futuristas, como Boccioni, e depois de dadaístas e surrealistas. Muitos deles eram também pintores, razão pela qual, desde seu início, essa técnica surge num terreno intermediário entre pintura e escultura, cuja exploração é uma constante na arte contemporânea.

4.2 Ready made

Figura 17

Termo criado e definido por Marcel Duchamp (que pertenceu ao movimento dadaísta) como “um objeto usual promovido à categoria de objeto artístico pela simples escolha do artista” que estampa nele sua assinatura como um sinal de apropriação. Um dos primeiros objetos desse tipo foi o urinol de porcelana que, titulando-o de Fonte (ver Figura 17) e com o pseudônimo de R. Mutt, foi enviado por Duchamp a um concurso de arte e foi rejeitado. O artista produziu algumas dezenas desses objetos, mas resistiu à tentação de multiplicar seu número. Para ele, bastava a escolha do artista para que qualquer objeto viesse a ser “promovido à dignidade de objeto artístico”, partindo de uma indiferença visual, sem nenhum tipo de conotação estética, com um sarcasmo antiartístico. Mas essa escolha estava de algum modo condicionado pelo objeto; já eram objets trouvés.

72

4.3 Objet trouvé

Figura 18: Meret Oppenheim.

Essa expressão, traduzida literalmente, significa “objeto encontrado” e alude a uma categoria de objetos definida pelos surrealistas. Uma das contribuições mais válidas do Surrealismo, amplamente expostas por André Breton em seus escritos, é a de ter-se aprofundado na multiplicidade de significados que podem ter os objetos para nós: isso foi exposto em 1936 em Paris, apresentando ao público todo tipo de objetos: naturais (minerais, vegetais, animais dissecados), explicados ou incorporados a determinadas composições, objet trouvés deixados em seus estado natural ou alternados, modelos matemáticos e objetos procedentes de coleções etnológicas (fetiches, talismãs, simbólicos etc.). Veja o exemplo da Figura 18.

O objet trouvé surrealista usa o encontro, a descoberta e o acaso como forma de criatividade, uma forma de realização superior inclusive ao racional. A escolha conta como a interpretação por parte do artista; mas a descoberta pressupõe que o objeto está aí previamente, dotado da capacidade de ser poetizado e, definitivamente, de manifestar conteúdos estéticos.

4.4 Objetos Populares

Figura 19: Obejo.

Esses são desenvolvidos no cotidiano de diversas culturas. Suas construções se dão por práticas artesanais tradicionais, pelo reaproveitamento ou utilização de materiais industrializados ou naturais, em que formas e funções são reinventadas. Lata recortada que se transforma em lamparina, em panela de pressão, palha de bananeira ou bucha e cabaça em bonecas (Figura 19). Também o são trabalhos de cerâmica, que são objetos de um ofício extremamente rico em todo o Brasil. Além de outros como a madeira, buriti, pedra-sabão, palha de milho, garrafas pet etc.

Em geral ressaltamos que o universo dos objetos ao nosso redor pode e deve ser reconfigurado. Podemos chamar a atenção para esse processo em qualquer cultura ou local e em nosso contexto. O que mais encontramos? Que tipo de adaptações as pessoas fazem com suas coisas? Isso modifica o universo simbólico também. Pense a respeito.

Referências Bibliográficas

Reed, Herbert. Escultura moderna. Uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Lupien, Jucelyn. Une modélisation singuliére d´un contenu (surplus?) plastique. Espace, verão.

Chavarria, Joaquim. Cerâmica. Lisboa: Editorial Estampa, 1997.

Midgley, Barry. Guia Completo da escultura, modelado, y cerâmica; técnicas e materiais. Barcelona : Herman Blume, 1982.

Wong, W. Pricipios da forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Krauss, Rosalind. Caminhos da Escultura Moderna. São Paulo : Martins Fontes, 1998.

_______________. O campo ampliado da escultura. Rio de Janeiro: Editora URFJ, Revista Gavea, n. 1, 1981.

Dubois, Philippe. O ato fotográfico. São Paulo: Papirus Editora,1993.