Licenciatura em Artes visuais Percurso 1
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Princípios Norteadores da Educação

Autora

Drª Cleide Aparecida Carvalho Rodrigues Possui mestrado em Educação pela Universidade Federal de Goiás (1999) e doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2006). Atualmente é professora associada da Universidade Federal de Goiás. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Formação de Professores, atuando principalmente nos seguintes temas: mídia e educação, educação a distância, formação de professores,relação tecnologias em processos de formação.

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Apresentação

Bem-vindo à disciplina de Princípios Norteadores da Educação. Espero que possamos ter excelentes momentos e que este material didático possa contribuir para sua formação e para seu desenvolvimento profissional. Nesta disciplina, você terá oportunidade de estudar alguns conceitos de educação importantes para explorar a proposta do curso de Artes Visuais. Esses conceitos foram selecionados a partir de estudos teóricos da educação. Seu conhecimento sobre os temas também é importante, por isso convido você a começar a refletir: O que entendo por educação? Existe só um tipo de educação? Quem não vai à escola não tem educação?

Unidade 1: Princípios Norteadores da Educação

Para começar a pensar

...“O mundo não satisfaz o homem, e o homem com sua ação,
com sua atividade, resolve transformá-lo”. (Lenin)

Afirmar que um fato ou fenômeno que ocorre no cotidiano é pedagógico pressupõe conceber a educação como um processo caracterizado por múltiplas determinações e um processo permanentemente construído pelo homem. Numa concepção histórica, encontra-se o pensamento de Saviani (1984), que considera a educação como um processo constituído de atividades mediadoras no seio da prática social global.

Nesse sentido, pode-se afirmar que a educação está sempre referida a uma sociedade concreta e historicamente situada. Alinhado a essa abordagem, Libâneo (1992) apresenta as seguintes modalidades de educação: formal, não formal e informal. A educação formal seria estruturada, organizada e planejada intencionalmente. Envolve educação de adultos, educação sindical, educação profissional. A educação não formal consiste em atividades com caráter de intencionalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização. A educação informal refere-se a práticas educativas não intencionais como a organização social e a família. De acordo com essa caracterização, uma passeata de homossexuais pode ser considerada uma atividade de educação não formal, pois trata-se de uma atividade com caráter de intencionalidade, porém, com baixo grau de estruturação e sistematização. Na verdade, uma atividade dessa natureza traz o entrelaçamento das três modalidades de educação, pois expressa o conjunto de conhecimentos, valores e ideias adquiridas pelo homem na sua formação integral. Mesmo uma modalidade de educação informal, como a família, caracterizada pela não intencionalidade, traz no seu cerne exigências e conhecimentos adquiridos em processos intencionais formais e não formais.

Para refletir

Que significa dizer que algo é “pedagógico”? Uma passeata de homossexuais, por exemplo, teria um caráter pedagógico? Qual é a relação entre a expressão “pedagogizar o ensino” e a “intencionalidade” da educação?

Cada grupo familiar pode desenvolver um processo educativo diferente, de acordo com sua prática social e cultural.

As nossas práticas sociais em diferentes espaços (família, escola, igrejas, etc.) estão diretamente relacionadas e o conjunto de saberes e conhecimentos que transitam entre os diferentes espaços.

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Um fenômeno social como uma passeata homossexual enquadra-se como uma prática pedagógica porque, de um lado, expressa uma luta concreta pelos direitos individuais e coletivos de participação social contra a exploração e discriminação. Por outro lado, insere-se no desenvolvimento histórico da sociedade, pois supõe processos educacionais intencionais.

A luta contra a discriminação sexual, racial ou religiosa revela que, em nenhuma sociedade, a alienação pode ser total e absoluta, uma vez que a contradição que a constitui gera a possibilidade de desvelar e superar a realidade existente.

Para refletir

Pode-se dizer que uma prática é pedagógica quando se trata de uma ação consciente, intencional e planejada dirigida ao processo de formação do homem e à construção histórica dos indivíduos e da sociedade.

No intuito de executar uma ação planejada, a prática pedagógica se reverte em prática de ensino, ou seja, na manifestação peculiar da educação formal escolar. De fato, a educação escolar, via processo ensino-aprendizagem, é a maior manifestação do caráter pedagógico. No entanto, o pedagógico não pode ser reduzido à instrumentalização das atividades de ensino, haja vista a dimensão da prática pedagógica presente no cotidiano da formação humana, seja nas relações de trabalho, seja nas educativas propriamente ditas.

No ato pedagógico, não se pode perder de vista, também, a dimensão política, já que o caráter político das atividades humanas não se distingue do caráter social. Ambos constituem a prática histórica do homem que, por sua vez, constitue a prática educativa. A prática pedagógica formal ou não formal aponta para uma visão de totalidade, uma vez que se constitui de nexos que se inserem no desenvolvimento histórico da sociedade.

A prática educativa escolar requer o ato de pedagogizar a matéria de ensino. Isso implica, num primeiro momento, a conversão dos conhecimentos humanamente construídos e reconhecidos cientificamente em conhecimentos sistematizados e estruturados e de acordo com pressupostos didáticos. Ou seja: converter aqueles conhecimentos em conhecimentos teórico-práticos numa dada realidade. Num segundo momento, em consequência do primeiro, implica-se a estruturação e sistematização dos elementos constitutivos do processo de ensino, que não se reduz à matéria ou método de ensino, mas constitui um conjunto de princípios teórico-didáticos que, a priori, surgem da intencionalidade política, científica ou social.

O ato de pedagogizar a matéria de ensino, segundo Libâneo (1993), consiste na expressão do processo de articulação e de conversão do conhecimento científico em matérias de ensino, ou seja, em conteúdos de ensino. De acordo com esse autor, esse ato só é consolidado a partir da apreensão dos aspectos cognitivos, sociais, políticos e culturais que encontram-se no ato educativo.

A educação escolar e a prática social não são meros processos que coexistem. Uma age sobre a outra, exercendo influências e conexões que se encontram veladas pela realidade objetiva. Portanto, o trabalho docente compreende a formação e o desenvolvimento da personalidade dos indivíduos, o que os remete para a atividade social.

Na articulação desses aspectos com os conhecimentos já existentes e de outros que possam surgir, faz-se necessária uma formação pedagógica integral do professor, ou seja, uma formação teórico-científica mediada pela prática.

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Na verdade, a prática educativa envolve um conjunto de atividades intencionalizadas e essas são como práticas sociais carregadas de influências do meio social sobre o desenvolvimento dos indivíduos. Nesse sentido, é importante perceber que a categoria mediação está presente no processo educativo carregado de contradição, mas é apreendido na totalidade pelo professor. A capacidade dessa apreensão surge de uma formação teórica e prática, de reflexão-ação-reflexão sobre o processo pedagógico das formas de educação sistematizadas ou não.

A relação intrínseca entre as modalidades de educação e as exigências da sociedade e das contradições e antagonismos envolve não apenas uma postura crítica e de denúncia da opressão e da exploração, mas, também, apreensão da realidade social concreta e cotidiana em que a participação política e a cultural são práticas de cunho pedagógico, ou seja, de formação e de construção histórica dos indivíduos e da sociedade.

Problematizando

Ao abordar o conceito de educação, o estudioso José Carlos Libâneo apresenta diferentes entendimentos e utilizações desse termo, tanto os de natureza de senso comum quanto de nível teórico-acadêmico, os quais correspondem ao educativo como resultado da ação e do processo de formação dos sujeitos num determinado contexto social. Leia o texto indicado e faça um quadro de síntese, apresente o entendimento do autor de um lado e o seu entendimento do outro. Depois coloque sua síntese no ambiente virtual conforme orientação do seu professor.

Nesse sentido, o professor, pela sua formação acadêmica de cunho pedagógico, dispõe de elementos que permitem o conhecimento das capacidades intelectuais do educando, bem como a capacidade para articular a matéria de ensino e o conhecimento já adquirido pelo indivíduo na vida social, seja de maneira formal , não formal ou informal. Desse modo, é possível a mediação entre a lógica do processo de ensino e a lógica do processo de aprender.

Considerando-se esses e outros elementos da formação pedagógica, tais como a complexidade e implicações da realidade histórica-social, conteúdos e metodologias, enfim, os nexos do processo ensino aprendizagem, pode-se dizer que o professor é um pedagogo à medida que se dispõe a gerar possibilidades que tornem o processo educativo uma prática de investigação e de transformação das condições existentes.

Olho vivo

Leia o Texto Complementar: Os Significados da Educação, Modalidades de Prática Educativa e a Organização do Sistema Educacional – Libâneo.

Nesse texto, o autor apresenta uma análise das diferentes concepções de educação com o propósito de vislumbrar-lhe a amplitude à medida que a considera objeto de conhecimento da Pedagogia. Libâneo concebe a Pedagogia como ciência, atribuindo-lhe a tarefa de síntese das contribuições das demais ciências da educação e reconhecendo, ainda, que os “...processos educativos ocorrentes na sociedade são complexos e multifacetados, não podendo ser investigados à luz de apenas uma perspectiva e, muito menos, reduzidas ao âmbito escolar.” (p. 69)

Para refletir

“Talvez uma das mais importantes características do professor hoje seja a capacidade de conhecer os processos mentais internos dos alunos e como ativá-los em função da aprendizagem de sua matéria. Ou seja, o melhor que um docente pode fazer pelos seus alunos e pela sua matéria é “ensinar a aprender”. (Libâneo)

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1.1 O Ser Professor

A afirmação supracitada conduz a uma reflexão sobre a essência do papel do professor na formação humana no 3º milênio. Esse desafio atribuído ao professor tem dimensões que ele próprio, muitas vezes, desconhece, ou estão distante das condições reais do trabalho docente.

A atitude de professor é apresentada no cotidiano da sua prática. Logo, caracterizar especificamente um professor merece cautela, uma vez que se incorre no risco do surgimento de rotulações ou esteriótipos de profissionais, o que creio não ser benéfico para o avanço de reflexões em torno da formação de professores.

Na verdade, o papel do professor consiste em provocar no aluno a necessidade interior de colocar em evidência os conhecimentos cognitivos através da prática investigativa e construtiva do processo de ensino, bem como os conhecimentos produzidos no âmbito cultural, social e político de cada indivíduo. Cabe ao professor com uma sólida formação pedagógica a tarefa de fazer a mediação entre o conhecimento adquirido pelo indivíduo no exercício da vida social ou nas modalidades informais e não formais de educação.

Confiar que uma característica importante do professor universitário, hoje, seja a capacidade de conhecer os processos mentais internos dos alunos e de ativá-los em função da aprendizagem de sua matéria pode gerar uma compreensão equivocada da formação acadêmica, centrando-a apenas nos aspectos psicopedagógicos. Digo isso por acreditar que a capacidade do professor deve ser mais ampla e profunda, pois envolve, também, conhecimento e reflexão sobre os aspectos sociais, políticos, filosóficos e culturais presentes no cotidiano do educando e do educador. Nesse sentido, faz-se necessário que o professor tenha uma formação pedagógica continuada e sólida para conhecer o concreto construído e reconstruído cotidianamente, bem como refletir sobre ele. Em outros termos, o professor há de ser um investigador de sua própria prática.

As categorias que permitem uma reflexão a partir dessa abordagem, tais como totalidade, contradição e hegemonia, devem ser percebidas e redimensionadas na prática cotidiana de construção do pensamento, ou melhor, do conhecimento.

Entendo que esse papel atribuído ao professor requer um exercício imensurável de reflexão-ação-reflexão sobre sua prática cotidiana, condição importante para tornar possível o exercício de “ensinar a aprender”. Caso contrário, a prática docente cai num pragmatismo ou idealismo.

Para se alcançar o propósito de “ensinar a aprender” defendido pela afirmação aqui refletida, é preciso que o professor supere suas limitações teórico-metodológicas, dispondo-se ao exercício de investigação sobre sua prática e a realidade em que se encontram inseridos os sujeitos do processo educativo.

Olho vivo

Cada professor atua de acordo com sua concepção de educação, mundo, sociedade e aprendizagem. A partir da sua concepção, sua prática se consolida. Podendo seguir determinada tendência pedagógica.

Saiba mais

Por meio de estudos, realizados nos últimos anos sobre a prática docente, concluiu-se que a busca do exercício de investigação “aprender a aprender” tem gerado resultados reveladores quando se volta para a reflexão das práticas cotidianas. Muitos exemplos são encontrados em trabalhos expostos em encontros de pesquisas na área educacional, tais como no Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE) e da Associação Nacional de Pesquisa em Educação (ANPED – http://www.anped.org.br).

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Enfim, o professor tem um papel importante de provocar nos educandos a necessidade interior de investigar a realidade, de dominar novos conceitos de ciência, suas leis, seus métodos e converter esses conhecimentos em ação prática. Para isso, o professor tem que propiciar situações, problematizações, nas quais os alunos desenvolvam não só suas capacidades cognoscitivas, mas também sua capacidade de reflexão sobre a realidade e vontade política de transformação.

Olho vivo

Propiciar situações de questionamentos, vivências artísticas, curiosidades estimuladas e outras, contribuem para a formação de sujeitos que reproduzirão essas práticas na sociedade.

De acordo com Danilov (1978), a importância da tarefa cognoscitiva reside em provocar nos educandos a aspiração de busca independente de soluções a partir de análises das condições e dos conhecimentos disponíveis. A propósito, a relação entre o processo de conhecimento e as capacidades cognitivas do educando tem provocado vários estudos e pesquisas, principalmente quando se tem a preocupação de pensar sobre a formação do homem moderno.

Concordo com Danilov (1978), em que os conhecimentos assimilados ativamente transformam-se em convicções dos alunos, em instrumentos de raciocínio e em atividades práticas. O conhecimento é o resultado não só dos esforços do pensamento, mas, também, da atividade cognoscitiva.

Nesse sentido, Danilov (1978) defende que o professor exerce a arte de conduzir o aluno à aquisição de conhecimento, conduzindo-o paulatinamente para tarefas mais complexas e, ao mesmo tempo, em prepará-los para executar essas tarefas levando em consideração que cada trabalho independente exige um exercício de tensões entre o conhecimento e o pensamento. Esse autor atribui ao professor duas funções: explicar e fazer compreensível aos alunos a nova matéria e analisar a assimilação e evolução dos conhecimentos dos alunos.

A dimensão educativa do ensino influi nos resultados da assimilação de conhecimentos e habilidades que se transformam em princípios e modos de agir em frente à realidade. Nesse sentido, requer do professor uma compreensão clara do significado social e político do seu trabalho, do papel da escolarização no processo de democratização da sociedade, do caráter político-ideológico de toda educação, bem como das qualidades morais da personalidade. Para atingir tal compreensão, é preciso uma formação teórica e política que resulta em convicções profundas sobre a sociedade e as tarefas da educação.

No processo pedagógico escolar, a instrução e o ensino são elementos primordiais que traduzem objetivos sociais e políticos em objetivos que selecionam e organizam os conteúdos e métodos, estabelecendo as conexões entre ensino e aprendizagem. A instrução que tem os conteúdos das matérias como núcleo refere-se ao processo e ao resultado da assimilação sólida de conhecimentos sistematizados e ao desenvolvimento de capacidades cognitivas.

Para refletir

O ensino consiste no planejamento, organização, direção e avaliação da atividade didática, concretizando as tarefas da instrução. O ensino contém a instrução.

A instrução e o ensino se unificam na educação formal em decorrência da sua necessária ligação com o desenvolvimento da sociedade e com as condições reais em que ocorre o trabalho docente. A didática se encarrega dessa ligação formulando diretrizes orientadoras do processo de ensino.

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Para Danilov (1978), o processo de ensino é uma sequência de atividades do professor e dos alunos, tendo em vista a assimilação de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, através dos quais os alunos aprimoram capacidades cognitivas. Esse processo é, na verdade, um processo de educação.

A educação possui uma tarefa essencialmente de cunho político-social no processo histórico, pois é uma atividade prática que serve à construção do homem e do seu mundo.

Para Refletir

A finalidade do processo de ensino é proporcionar aos alunos os meios para assimilar ativamente os conhecimentos. A natureza do trabalho docente é a mediação da relação cognoscitiva do aluno com as matérias de ensino.

Nesse sentido, a atividade docente não se reduz ao repasse de informações de forma organizada e planejada. É uma prática de mediação entre o conhecimento socialmente construído e as potencialidades cognitivas do educando. Nesse processo, são geradas as manifestações dos indivíduos na prática social, manifestações que se caracterizam como sociais e políticas simultaneamente, sejam formais, não formais ou informais. Enfim, o ser professor envolve um constante aprender a aprender na construção de sua prática docente.

1.2. O Papel do Professor Contemporâneo numa Nova Perspectiva

“Educar nos obriga não só saber tratar com o conhecimento, mas também a pensar, organizarmos, respeitar-nos num permanente diálogo com os outros.” José de Sousa Miguel Lopes, 1998.

Dicas de links

http://www.youtube.com/results?search_query=Ant%C3%B4nio+N%C3%B3voa&search_type ou então vá ao site http://www.youtube.com.br e digite no campo de busca “Antônio Nóvoa"

Para iniciarmos esse diálogo, sinto necessidade de retomar alguns aspectos históricos.

Curiosamente, na Grécia Antiga, a função de professor era exercida pelos homens denominados literator, primus magister ou magister ludi literarii, conforme o nível de ensino. Quanto a mulher, cabia a primeira educação, a familiar, da formação de boas maneiras, respeito à pátria e aos ancestrais.

Uma das mudanças da Idade Média foi a criação da instituição escolar nas cidades. A escola, então, passa a ser ligada ao mercado, para formar um novo tipo de conhecimento, um novo tipo de pensamento. Nesse processo surgem mulheres no exercício do magistério. Entretanto, a predominância era nos conventos.

A partir do séc. XVI, surgem as casas de preparação para o magistério. Mas é no séc. XIX que ocorre a feminização do catolicismo que se expande ao magistério. No Brasil, a característica da feminização do magistério é favorecida pela influência religiosa da própria história, marcada por um conjunto de valores conservadores e preconceituosos no exercício do magistério. E, hoje o que é ser professor e professora?

Em primeiro lugar, entendemos que ser professora, mais que professor, é conviver com representações construídas acerca dessa profissão. Ser professora é diferente de ser professor. Ser professora é conviver cotidianamente com as imagens construídas ao longo da história (adjetivada por paciente, amorosa, abnegada, vocacionada etc.). Sua escolha está ligada à falta de capacidade e inteligência para exercer outra profissão. Enquanto ser professor é ser exigente, assediado pelas adolescentes, inteligente, etc.

Para as professoras, as exigências são: ser paciente, dedicada, compreensiva e, quando não querida carrega os estigmas de “ mal-amada” ou “mal-casada”, usados pela sociedade e, até mesmo, pelas próprias professoras. Outros aspectos se destacam quanto a “imagem” do professor hoje:

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Então é isso ser professor e professora?

Para Andrea Ramal, o professor deste milênio será um estrategista da aprendizagem. Isto é, precisará conhecer a psicologia e a ecologia cognitivas de seu tempo (em outras palavras: saber como o aluno aprende) para poder criar estratégias de aprendizagem no ambiente do computador e de outras tecnologias como um novo ambiente cognitivo. Isto significa compreender que, no contexto digital, mudam as nossas formas de pensar e, portanto, de aprender.

Pierre Lévy usa duas expressões interessantes para falar do professor: arquiteto cognitivo e engenheiro do conhecimento. Isso é, aquele profissional responsável por traçar e sugerir caminhos na construção do saber.

Para cada um de nós o que é ser professor ou professora?

Como pontos de reflexão, apresento alguns dados produzidos por pesquisadores sobre a profissionalização docente. Nos estudos dos Drs. Claus Dieter Stobäus e Juan José Mouriño Mosquera sobre o mal-estar na docência: causas e consequências são apontadas:

Segundo esses pesquisadores, algumas dessas causas têm raízes profundas, que podem ser localizadas:

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Não se pode esperar ou querer as condições ideais para mudar, mas, sim, as condições mínimas de cada momento e cada realidade. Nesse caso, o professor tem duas opções: demitir-se da luta ou enfrentar os desafios.

Já que a primeira não é nossa postura, partimos para a segunda opção, considerando como um grande passo o professor destruir seus mitos, enfrentar seus preconceitos e acreditar na possibilidade de mudança do ser humano e da realidade. Para isso, o autoconhecimento, a fotografia de sua própria prática e a atitude de humildade devem fazer parte de sua postura profissional. Adotando a segunda opção temos alguns sinais de perspectivas para a transformação do papel do professor:

Nesse processo de mudança, todo cuidado é necessário para não cairmos numa postura ingênua, idealista, de voluntarismo nem determinista que acredita que tudo já está definido. Mudar implica enfrentamento de situações adversas. Como afirma Vasconcellos( 1998, p.56 ), “ é preciso, pois, projetar o horizonte e ver como intervir na realidade para a partir do que existe, reverter e engendrar o novo”.

Retornando ao campo das possibilidades, surgem alguns indicativos para o professor pautar sua mudança de postura. São eles:

Entendemos que, nesse milênio, será muito mais difícil ser um mestre. Mas, em contrapartida, estaremos contribuindo para formar, ao invés de receptores passivos de conteúdos, seres mais capazes de atribuir novos sentidos para a realidade; pessoas que saibam criar novos saberes, a serviço da humanidade.

Esse processo de mudança não se restringe a uma questão metodológica, nem a um “ecletismo “ ou “bricolagem’ de teorias e práticas muitas vezes incompatíveis.

Mudar a postura do professor não é um ato mágico, pois é sua postura diante do aluno, do conhecimento e da realidade que terá ressonância do seu papel. A postura do professor deve ser contextualizada, problematizadora e interativa com o aluno. O professor protagonista do processo educativo não age com voluntarismo nem determinismo, mas com consciência da dimensão política da educação e da importância de sua atuação como sujeito que constrói sua prática a partir da reflexão-ação-reflexão.

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Essas e outras questões não devem ser respondidas sem reflexão individual e uma discussão coletiva.

No contexto atual, não se deve atribuir à escola o papel de formação para o trabalho ou para a vida, mas entendê-la como um espaço de humanização, onde o sujeito parte da informação para conhecer a realidade social e transformá-la. Neste espaço, qual é o papel do professor? A palavra-chave usada é mediador. Mas o que é ser mediador? O melhor não seria humanizador?

Entendo que a escola é mais que um espaço de humanização, ela é um espaço de conexões. Esse espaço de conexões resultar no entendimento de que conectar não se restringe a ligar pontos, mas, sim, estabelecer relações convergentes ou divergentes, provocar tensões, perceber intersecções, ou seja: construir redes de idéias, saberes e dúvidas tecidas pelos diferentes fios, isto é, os sujeitos e suas singularidades.

O professor nesse espaço precisa ter convicção da sua proposta, do que ele considera significativo para que o aluno aprenda. Mas como saber o que é significativo para o aluno aprender?

“Não é possível fazer uma escola para todos dentro de uma sociedade para alguns”. Essa afirmação de Vasconcellos (1998) indica que definir o que é significativo para o aluno exige de nós, professores, compreender que um dos grandes problemas hoje é a falta de um objetivo político, de um projeto educacional assumido socialmente. O uso de chavões como formação para cidadania, autonomia, senso crítico, democracia, qualidade de ensino e tantos outros reina na atual ordem do processo de produção em que as relações entre os homens no mundo do trabalho, na relação com a natureza, no mundo simbólico e cultural são tão diversas. A escola busca o seu sentido no tratamento com o conhecimento. Estudos, pesquisas e nossas experiências apontam que o ser humano tem como necessidade fundamental a interação como o outro. Nesse sentido, a escola concebida como espaço de conexões compreende que:

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Entende-se que o sentido do estudo se dá pela articulação entre compreender o mundo que em vivemos (viver num mundo que faça sentido), usufruir do patrimônio acumulado pela humanidade e transformar esse mundo a serviço da humanidade.

A escola é uma instituição educativa e, como tal, é de suma importância que esteja clara a definição do seu projeto na sociedade e disponibilizadas as condições materiais, organizacionais e humanas para efetivação de um trabalho de formação do ser humano, não apenas instrucional.

Nesse contexto, está em nossas mãos, agora, a possibilidade de deletar a escola de portas fechadas e cercadas por muros, para deixar nascer a escola da multiplicidade, das diferenças culturais, do hipertexto, do link, das janelas abertas e das salas de aulas conectadas com o mundo das possibilidades.

Encerro aqui esta reflexão com um pensamento de um pequeno notável mestre que deixou suas marcas em nossa formação e nossa prática docente:

“O novo professor precisará, no cotidiano, criar condições para a vivência dos contextos por parte dos alunos e propiciar também a convivência entre os sujeitos. Será uma nova pedagogia, que denominamos pedagogia da diferença, a qual se estrutura a partir do diferente na diferença, enfatizando as singularidades, tanto de natureza espaço-temporal como no âmbito das subjetividades. Esse será o novo papel do professor e esta deverá ser a nova escola no mundo contemporâneo: uma escola centrada nos homens e nas mulheres, enquanto expressões do ser humano.” Felipe Serpa, novembro de 2000

Para refletir

Você leu e refletiu sobre ser professor e sobre situações pedagógicas. A partir de agora, você vai conhecer a proposta do seu curso. Que tal perguntar:

O que é ser professor(a) de artes visuais? Que características preciso ter para me tornar um(a) professor(a) de artes visuais?


Referências bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

__________. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 1987.

DANILOV, M. A. El processo de Enseñanza en la Escuela. Ciudad de la Habana: Editorial de Libros para la Educación, 1978.

LIBÂNEO, J. C. Os Significados da Educação, Modalidades de Prática Educativa e Organização do Sistema Educacional. Inter-Ação, Rev. da Faculdade de Educação/UFG, 16(1-2), p.35-46, jan.dez. Goiânia,1992.

_________. O Ato Pedagógico em Questão: O Que é Preciso Saber. Inter- Ação, Rev. da Faculdade de Educação/UFG,17(1-2), p.111-125, jan.dez. Goiânia, 1993.

_________. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.

RAMAL, Andrea Cecília. O Professor do Novo Milênio. Texto mimiografado, 2002.

REYES, Guillermina L. & PAIROL, Gladys E. V. Pedagogia. Ciudad de la Habana: Editorial Pueblo y Educación, 1988.

SERPA, Luiz Felipe. O papel do Professor. Artigo publicado no Correio da Bahia, 27/11/2000.

STOBÄUS, Claus Dieter & MOSQUERA, Juan José Mourino. O Mal-Estar na Docência: Causas e Consequências. http://www.humanas.unisinos.br

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Resgate do Professor como Sujeito de Transformação. São Paulo: Libertad, 1998.