Unidade 4: Estratégias de Educação Ambiental a partir dos PCN
3. A Educação Ambiental na prática pedagógica
3.1. Disposições iniciais
Após conhecermos um pouco dos PCN, deve estar claro que a EA, tal como é proposta no documento é um processo complexo, já que envolve a criação de novos contextos a partir da interação entre diferentes áreas do saber. O termo “complexo”, no sentido que foi empregado, não é sinônimo de difícil de ser executado. Existem certas disposições que são valiosas para nossa prática e que dependem apenas de nós mesmos:
- Procurar estabelecer relações de cooperação com os colegas de trabalho: como a EA tem proposta interdisciplinar, certamente você irá precisar da ajuda dos outros professores da escola para efetivar seus projetos dentro da área e, em contrapartida, será requisitado para ajudar os colegas. Mantenha a perspectiva de que vocês estão construindo algo em conjunto.
- Estar aberto a criar ou manter parcerias com outras instituições, como universidades, ONGs, empresas: muitas vezes, a instituição à qual você está afiliado não dispõe de infraestrutura adequada para as realizações de atividades práticas, no entanto, outras instituições podem disponibilizá-las. Em geral, universidades são muito abertas à comunidade, mas pode ser necessário que você tenha iniciativa de procurá-las. Procure estabelecer contato com docentes da instituição, eles podem ajudá-lo diretamente ou direcioná-los a outros colegas que podem auxiliá-lo.
- Levar a aula para fora dos domínios da escola: no seu tempo livre, enquanto pratica lazer, analise se a estrutura de parques, museus ou outros tipos de locais que você visitou possam ser utilizados como local para suas práticas escolares, considerando aspectos de segurança. No caso da impossibilidade de levar os alunos para fora da escola, um espaço público de conhecimento dos alunos, pode servir para ilustrar certos exemplos relativos ao meio ambiente.
- Procurar se informar sobre os problemas socioambientais da atualidade: por meio da leitura de jornais, assistindo a noticiários ou consultando a internet, mantenha-se informado sobre os problemas do mundo, do País e de sua comunidade.
- Analisar de maneira crítica as informações obtidas nas mídias: nem sempre existe precisão nas informações obtidas nas mídias, o que significa que manter um embasamento teórico sobre questões relacionadas ao ambiente é essencial para questionar a veracidade destas ou detectar tendenciamentos políticos.
- Tentar perceber quais são os campos de interesse do público aos quais as atividades são dirigidas: os interesses dos educandos nem sempre são os mesmos considerando as diferentes realidades socioeconômicas.
- Avaliar o desempenho dos projetos já realizados: sempre podemos aprender com os erros e acertos de projetos anteriores.
Longe de afirmar aqui que não existem dificuldades, os próprios PCN sinalizam que devem ser observadas as limitações de cada instituição educacional e que o professor não é o único responsável por criar as condições de ensino necessárias ao sucesso de suas práticas. Assim, cabe à sua esfera individual e constitui exercício da sua cidadania cobrar de nossos dirigentes que tais condições sejam garantidas.
3.2. Sugestões de práticas em EA
Como colocado anteriormente, não existe uma fórmula pronta para trabalhar educação ambiental na escola. Mas, com certeza, a EA tem que ser notada no cotidiano escolar, uma vez que visa provocar mudanças nos padrões comportamentais:
Uma escola com um currículo organizado a partir da educação ambiental precisa anunciar essa opção em suas rotinas e vivências cotidianas, em suas formas de organização e desenvolvimento das práticas pedagógicas, de sua proposta curricular, enfim, precisa demonstrar-se a partir de seu fazer cotidiano (SILVA, 2007).
Neste tópico serão apontadas duas práticas que tem potencial para provocar mudanças na vivência de uma escola. Estes são apenas exemplos de práticas interdisciplinares de EA, que podem ser aplicados na realidade da maioria das escolas brasileiras. Dias (2006) reúne boas sugestões para o exercício cotidiano da EA na escola.
3.2.1. Horta escolar
A horta escolar pode ser um laboratório prático de caráter interdisciplinar. Através da horta é possível exercitar conhecimentos sobre: plantio e colheita; germinação e ciclo de vida das plantas; diversidade biológica e estrutural de plantas; interações entre insetos e plantas; características, cuidados e manejo sustentável do solo; ciclagem da matéria orgânica; alimentação saudável e melhor aproveitamento de alimentos; cultura alimentar brasileira e regional; etc.
Também é possível estimular atitudes sustentáveis, pelo intercâmbio dos vegetais excedentes entre turmas diferentes, pela utilização de materiais reciclados como recipientes para plantio e pela produção de adubação orgânica via compostagem. Além disto, podem ser trabalhados valores como cooperação, por meio da divisão de trabalho, e solidariedade, através da doação da colheita a instituições carentes. Em escolas carentes a colheita pode constituir um incremento à alimentação familiar do educando.
Limitações como a falta de espaço podem ser contornadas através de hortas verticais ou suspensas, em garrafas do tipo PET (politereftalato de etileno) fixadas em muros.
Sugestão para consulta: Irala et al. (2001).
3.2.2. Projetos de reciclagem
A reciclagem de materiais se tornou um dos pilares da sustentabilidade nos últimos anos e fonte de renda para muitas pessoas. Implantar um projeto de reciclagem na escola permite abrir espaço para a discussão sobre diversos problemas ocasionados pela geração de lixo e para discutir possíveis soluções: destinação correta de resíduos sólidos; princípio dos 3R’s; políticas nacionais de resíduos sólidos; lixo e saúde pública; etc. Permite ainda desenvolver habilidades artísticas pela reutilização de material reciclado para confecção de artesanato, que podem ser expostos ou vendidos para arrecadação de fundos para escola.
Demanda envolvimento coletivo e trabalho prévio de conscientização dos alunos e funcionários sobre separação de lixo reciclável e não reciclável. É necessário considerar a destinação do material recolhido, levando em conta volume e frequência de recolhimento. Recomenda-se fazer contato com possíveis associações que possam se beneficiar ou comprar o material reciclado.
Sugestão para consulta: Luz & Musolino (2008).