Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Propostas, Práticas e Ações Dialógicas

Conhecendo para Valorizar – Patrimônio Cultural de Faina /GO

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Resumo

Este relatório técnico-científico visa apresentar ações/atividades de Educação Patrimonial realizadas no município de Faina-GO. A intervenção cultural objetivou apresentar à comunidade local os bens de interesse cultural e natural pertencentes ao município e instigar essas pessoas a desenvolver ações voltadas à conscientização e preservação destes bens.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Preservação; Direitos Culturais.

Introdução

Este relatório técnico-científico visa apresentar ações/atividades de Educação Patrimonial realizadas no município de Faina- GO. A intervenção teve por objetivo apresentar à comunidade local os bens de interesse cultural e natural pertencentes ao município, levantados durante trabalho de campo, visando a valorização e preservação destes bens com vistas a promover a cultura local.

O município de Faina está localizado na região noroeste do Estado de Goiás, a 218 quilômetros da capital, Goiânia, em uma área de 1.946 Km², com população estimada em 7.000 habitantes (IBGE/2018). Historicamente, Faina foi relacionado ao município de Goiás, do qual constituía território e tornou-se distrito em 1966, porém, somente em 1988 é emancipado e passa a ser município. Mantém áreas de interesse arqueológico relacionadas à exploração aurífera, preservadas em diferentes pontos de seu território, além de manifestações culturais com referenciais de memória e identidade de seus moradores.

O interesse pelo tema e pela ação interventiva se deu a partir da oportunidade de conhecer a área para realização de levantamento arqueológico direcionado à implantação de uma Mineradora, onde foram levantados e cadastrados junto ao IPHAN sítios arqueológicos relacionados com as atividades de exploração aurífera no período colonial, século XVIII, e um sitio pré-colonial. Fora da área do empreendimento foram identificados outros dois Sítios Históricos, Arraial de Anta e Santa Rita. Tendo em vista que a área apresenta alto potencial arqueológico a partir de então, há necessidade de realizar o levantamento além da área do empreendimento, de modo a conhecer e preservar o patrimônio local e apresentá-lo à comunidade local. Deve-se destacar, também, o Patrimônio Natural.

Este trabalho justifica-se pelo fato de que a implementação de um Programa de Educação Patrimonial, a partir de um levantamento dos bens culturais, seja de caráter natural, material ou imaterial, apresentado à comunidade, poderá instigar essa população a pensar em ações municipais e em políticas públicas com o objetivo de contribuir para preservação, valorização e difusão da memória e identidade. Parte-se da hipótese que a falta de um levantamento dos bens culturais existentes no município inviabilize sua proteção e preservação, pois não se protege o que não se conhece.

Referencial Teórico

História de Goiás

O povoamento do território que atualmente corresponde ao estado de Goiás iniciou-se no primeiro século da colonização da Brasil, a partir de expedições de caráter oficial denominadas “entradas”, “descidas e “bandeiras”, que buscavam explorar o interior da colônia, encontrar índios e riquezas naturais, principalmente ouro (PALACIN, 1986). Registros históricos datam as primeiras expedições ainda no século XVII, porém sem formação de povoações, pois os primeiros bandeirantes e jesuítas que passaram por este território não se fixaram, e visavam primeiramente o reconhecimento dos locais com ouro e da população indígena que aqui já habitava.

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As primeiras povoações surgem no século XVIII, de forma irregular e instável, próximas aos locais onde se encontrava ouro. De acordo com Palacin (1986) durante do século XVIII destacam-se três zonas de povoamento neste território: uma zona no centro-sul, com formação de arraiais no caminho que levava a São Paulo; uma zona na “região do Tocantins”; e uma zona mais ao norte, entre o Tocantins e os limites com a Bahia. Estas zonas de povoamento concentravam a população que se estabeleceu neste “interior” em busca de ouro.

A principal expedição (bandeira) de povoamento do território goiano foi a de Bartolomeu Bueno, Anhanguera, bandeirante paulista. A bandeira organizada por Anhanguera era de caráter oficial e financiada principalmente por João Leite Ortiz, genro do Anhanguera, e pelo seu irmão João de Abreu. A bandeira saiu de São Paulo em junho de 1722 e, após percorrer o caminho dos sertões, encontrou ouro nas cabeceiras do Rio Vermelho, na atual região da cidade de Goiás, retornando a São Paulo para expor ao rei as conquistas que almejara (PALACIN, 1986).

Em 1725, retorna à região do Rio Vermelho e funda o arraial de Sant’Ana que, mais tarde intitulada de Vila Boa, seria a capital da Capitania de Goyaz. Próximo ao arraial formam-se outros, onde se instalam aqueles que também se propunham a extrair ouro, como Arraial da Barra, Arraial de Anta, Arraial de Santa Rita, Arraial do Ferreiro, Arraial de Ouro Fino, Arraial de Curralinho, Arraial de Pilões e Arraial de Anicuns. Sobre estes, relata Pohl (1976:129), “Em pouco tempo surgiram indícios de civilização neste distrito. Apareceram caminhos de ligação e foram fundados arraiais da Barra, Meia ponte, Santa Cruz, etc”.

Neste momento, a principal atividade econômica do Brasil colônia era a mineração, e grande parte da produção aurífera das minas dos sertões era encaminhada à metrópole, tendo em vista que no direito português todos os produtos minerais extraídos destas terras eram de propriedade do rei. Diante da impossibilidade da coroa de explorar todo o território, concedia a particulares o direito de exploração e cobrava um imposto correspondente a parte da produção, denominado “quinto”. No entanto, havia ocorrência de contrabando.

O primeiro superintendente deste território foi Bartolomeu Bueno, o Anhanguera. Mas diante do crescimento populacional, aproximadamente 40.000 mil pessoas, a corte portuguesa decidiu elevar Goyaz a Capitania. Em 1749, chega a Vila Boa o primeiro governador e Capitão, Conde dos Arcos (PALACIN, 1986).

Não se pode falar da formação do Estado neste território sem mencionar os vários grupos indígenas que habitavam esta região no momento da ocupação pelos bandeirantes, onde se pode citar os Caiapós, Xavantes, Goiá, Crixás, Xerente, Carajás, Acroá, entre outros. Vários destes foram extintos em conflitos, aldeados, ou mesmo por doenças após contato com os homens “brancos”. Porém, fazem parte da formação da identidade deste território. Sobre a população indígena o viajante Pohl (1976) cita:

Goiás foi habitada por várias tribos selvagens, algumas das quais já não existem, como por exemplo as dos goiás e crixás, por terem sido exterminadas ou assimiladas. Outras destas tribos retiraram-se para a floresta virgem, para ali continuarem o seu modo de vida natural. São caiapós, xavantes, araés, canoeiros, apinajés, os capepuxis, temimbos, amadus, xerentes, tapirapés [...]. Avalia-se o número de todos os índios desta capitania em mais de 50.000 (POHL, 1976: 125).

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Em menos de 50 anos de exploração aurífera, a economia de mineração entra em decadência. Os veios já na produziam como no início da exploração e as estruturas de exploração aurífera desta época representam hoje registros históricos do período de formação do Estado de Goiás. Com a decadência aurífera muitos povoados desapareceram e grande parte da população migrou para outras regiões; os que aqui permaneceram se dispersaram para a zona rural, para criação de gado e agricultura, dando início a um novo ciclo socioeconômico que configura a principal atividade do estado até os dias atuais, a agropecuária.

Arraial de Santa Rita e Arraial de Anta

Os arraiais de Santa Rita e Anta, descritos por estudiosos e viajantes no contexto de ocupação do território goiano a partir da mineração, estão inseridos no atual município de Faina. Santa Rita, atualmente Jeroaquara (Distrito), localizado nas proximidades do Córrego Vermelho, constitui-se um dos primeiros povoados fundados pelos bandeirantes, em 1729 (SILVA e ROCHA, 2008). O Arraial de Anta, localizado próximo a Serra dos Macacos, Córrego Água Limpa e Antônio Dias, teve em seu ápice aproximadamente 200 casas, uma Igreja e duas capelas. Sobre os vestígios da extração aurífera nas proximidades do Arraial de Anta, Pohl (1976) menciona:

É muito aurífera esta grande serra, que se estende, na direção a leste para oeste, desde Ferreiro até o Rio Grande. Notávamos, em inúmeros pontos dos riachos, restos da antiga exploração na região, que apareciam com mais frequência no Córrego Água Limpa, que corre de norte para sul, e no córrego de Antônio Dias, a duzentos passos do Arraial de Anta, onde acampamos. As margens de ambos esses córregos mostram-se em toda parte cobertas de montes de cascalho. Já referi, acima, que aqui foram achados outrora pepitas grandes como batatas (POHL, 1976:173).

Em seus relatos, Pohl (1976) descreve Arraial de Anta:

O Arraial de Anta é edificado sobre uma colina baixa, inteiramente rodeada de serras. O seu nome provém da alteração da pronúncia da palavra Dantas. Assim se chamavam um dos primeiros moradores do lugar, em cujo terreno foi construída uma Igreja. Logo depois do descobrimento da Capitania foi instalada esta povoação, que é uma das mais antigas. A terra é extremamente aurífera. A grande abundância desse material precioso, que, nos primeiros tempos de descobrimento era extraído sobretudo no Morro de São José, deu a região uma extraordinária fama, atraindo para aqui grande número de colonos. Mas pouco durou esta época aurífera (POHL, 1976:174).

Passando por Santa Rita no ano de 1819, Johann Emanuel Pohl, relata:

[...] Aqui também a região era muito aurífera, pois, de novo, víamos, às margens dos incontáveis riachos, vestígios dos antigos trabalhos nos montões de cascalho. O mais notável desses riachos é o Córrego Vermelho [...] Santa Rita, que é um lugar muito pequeno, em visível decadência. Várias casas já desmoronando e muitas estão abandonadas. Restam ainda umas trinta, formando um longo quadrilátero. Esta localidade já foi muito célebre em razão da rica produção de ouro. Agora, por não haver negros, por falta de braços, as lavras de ouro estão inteiramente descuradas e abandonadas. Nota-se que a mineração da época tinha como único objetivo explorar as riquezas naturais, escravizando índios e negros (POHL, 1976:177).

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A exploração aurífera ocorrida nestes arraiais formou os primeiros núcleos de povoação da região, entre 1722 e 1822. De acordo com Silva e Rocha (2008), “o auge de extração de ouro nesta região ocorreu entre 1750 e 1770, até decair gradativamente até 1822”. Conforme menciona Palacin (1976), neste período os processos de extração e ocupação foram os mesmos das minas de Sant’Ana, onde havia uma exploração de aluvião, usando técnicas de extração, as escavações, a remoção de terras e o desvio de córregos para apurar o ouro.

A decadência da mineração no território que corresponde ao município de Faina coincide com declínio de ouro na Província de Goyaz, diante das dificuldades de exploração e falta de mão de obra escrava. No entanto, apesar da decadência, o arraial não desapareceu totalmente e os que ali permaneceram contribuíram para a “formação de seu povo” (SILVA e ROCHA, 2008).

Patrimônio Cultural

O tema Patrimônio Cultural tem sido bastante discutido no cenário nacional, devido a uma série de Leis e Decretos instituídos nos últimos anos, que visam à manutenção e preservação de bens referentes a memória, como a Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961, que considera o Patrimônio Arqueológico como um bem da união. A destruição ou retirada de qualquer material de um sítio arqueológico constitui crime sujeito a pena de multa e detenção (Lei de Crimes Ambientais nº9.605/98). Deste modo, diferentes autores trabalham a noção de patrimônio e discutem, no Brasil embasados principalmente nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal, o que melhor se pode definir como Patrimônio Cultural.

Do ponto de vista moderno, a categoria patrimônio tem delimitações bem precisas, com divisões estabelecidas, resultante de um processo de transformação, e que continua em mudança. Pode-se definir Patrimônio cultural como de acordo com a Constituição Federal de 1988, art. 216 - “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portando referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. Este artigo amplia a noção de patrimônio anteriormente estabelecido pelo decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, substituindo a noção de Patrimônio Histórico e Artístico, por Patrimônio Cultural Brasileiro.

São considerados bens culturais: I- as formas de expressão; II- os modos de criar, fazer e viver; III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados a manifestações artístico-culturais; V- conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Seja este patrimônio material ou imaterial, “intangível” ou de “Pedra e cal”, cabe ao poder público, conforme a Constituição, juntamente com a comunidade, a promoção e proteção de seu Patrimônio. A administração pública mantém a responsabilidade de gestão do patrimônio e toda a documentação relativa ao mesmo.

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Metodologia

A intervenção cultural consiste em uma “ação que permite provocar reações, e uma intermediação externa para que determinada comunidade busque soluções para algo” (ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2017). Deste modo, a proposta de intervenção apresentada neste relatório buscou um diálogo direto com a comunidade local do município de Faina, sobre o seu patrimônio cultural, através de atividades de Educação Patrimonial, visando a preservação do patrimônio local, hora desconhecido ou não contemplado por políticas públicas de preservação e conservação dos bens culturais.

Conforme coloca Coelho (2001), “o processo de ação cultural resume-se na criação de organização de condições necessárias para que as pessoas inventem seus próprios fins e se tornem sujeitos’’. Deste modo, os atores locais, como professores, estudantes, poder público e membros da comunidade, tem possibilidade de articulação e de fala diante do que consideram relevante em face a seu patrimônio. Não deve haver uma imposição, mas sim reconhecimento por parte da comunidade.

Porém, algumas comunidades, mesmo detentoras de bens, não os entendem como tal, uma vez que as políticas de preservação e práticas de conservação são assuntos tratados apenas por uma “elite” detentora de conhecimentos. Para tanto, há necessidade de apresentar às comunidades locais a importância de preservar o que os representa, e a eles cabe a escolha do que melhor os representa. Esta apresentação pode ser realizada através de uma importante metodologia de ensino nomeada Educação Patrimonial, que pode ser formal ou informal. A partir de então, a própria comunidade pode pensar em ações de preservação de sua história e seus bens culturais, diante de sentimentos de reconhecimento e pertencimento. Assim, a intervenção/ação foi proposta a partir da identificação de problemas relacionados à preservação e proteção do patrimônio cultural local.

O levantamento destes bens se deu em dois momentos, primeiramente a pesquisa bibliográfica do município e, posteriormente, a visita in loco dos pontos levantados. Deste modo, foi realizado o levantamento arqueológico da área onde estão localizadas as ruínas do Arraial de Anta, objetivando o registo fotográfico e o georreferenciamento com GPS dos testemunhos referentes ao período da exploração Colonial. O procedimento se deu através do caminhamento nas margens dos córregos Tijucal e Lava pé, vistoria de superfície no entorno do alicerce da antiga igreja, bem como entrevista com alguns moradores locais. E, através de pesquisa bibliográfica e entrevistas orais, foram levantados bens imateriais que representam a memória da comunidade.

Educação Patrimonial

A Educação voltada à preservação, conservação e valorização cultural é denominada de Educação Patrimonial. A proposta metodológica para o desenvolvimento de ações direcionadas à preservação de bens culturais foi introduzida no Brasil na década de 1980, por Maria de Lurdes Parreiras Horta, em seminário realizado no Museu Imperial no Rio de Janeiro. Desde então, ampliaram-se as discussões e ações voltadas à educação para reconhecimento de bens culturais, visando uma compreensão, internalização e valorização, tendo em vista ser um processo contínuo de experimentação e descoberta.

De acordo com Horta, Grunberg e Monteiro (1999), a “Educação Patrimonial é um processo permanente e sistemático centrado no patrimônio cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo”. Diante da experiência e do contato direto com os bens culturais, seus sentidos e significados, a educação patrimonial busca levar os indivíduos a um processo de conhecimento, apropriação e valorização cultural. E, consequentemente, à preservação e fortalecimento do sentimento de identidade e cidadania.

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A Educação patrimonial, segundo Horta (1999), é um instrumento de “alfabetização cultural”, que possibilita ao indivíduo reconhecer o universo sociocultural e histórico em que está inserido, valorizando sua cultura. Deste modo, a arqueologia, enquanto ciência que estuda os vestígios culturais deixados por nossos antepassados, tem por objetivo a difusão de conhecimento relacionado à evolução cultural e a faz através da educação patrimonial.

O conhecimento e preservação do patrimônio cultural é de extrema importância para a formação de cidadãos críticos e participantes, tendo em vista que para chegar a sua valorização e preservação os cidadãos devem passar por experiências, formal ou não formal, de educação patrimonial. Uma vez que atividades de educação patrimonial são direcionadas ao desenvolvimento pedagógico geram questionamentos e conhecimento.

A partir do momento que o cidadão se reconhece como detentor de determinado bem e se corresponsabiliza por sua preservação, desenvolve conhecimento crítico e atua, enquanto ator social, para sua valoração. Fortalecendo, assim, o sentimento de pertencimento e portador de identidade cultural. Deste modo, a educação patrimonial, seja formal, informal ou não formal, constitui-se uma importante metodologia pedagógica, e que proporciona às comunidades locais o direito de cidadania.

As ações educativas serão desenvolvidas a partir de etapas metodológicas, sendo estas: observação (identificação do objeto, função e significado); Registro (fixação do conhecimento percebida por observação e análise); Exploração (desenvolvimento da capacidade de análise e julgamento crítico); Apropriação (Recriação e envolvimento afetivo). HORTA (1999).

A ação de educação patrimonial apresentada teve como tema o Patrimônio Cultural do município de Faina. As atividades formam desenvolvidas através de pesquisa arqueológica e levantamento patrimonial, tendo por objetivo apresentar à comunidade os resultados levantados.

Durante o levantamento de dados foram evidenciados elementos significativos relacionados ao patrimônio imaterial que representam a memória e identidade da comunidade, sendo praticadas ao longo dos anos até a atualidade, como as folias de Reis, folia do Divino Espirito Santo (Santa Rita/Jeroaquara), Festa de Nossa Senhora da Penha e São Sebastião, Festa de Santa Rita, Comitiva em devoção a Nossa Senhora da Penha (cavalgada de Faina a Guarinos, 200 km) e a tradicional Festa do Peão.

Quanto ao patrimônio material, o município tem registrado junto ao IPHAN 26 Sítios Arqueológicos, sendo dois Sítios Pré-coloniais, dois Sítios Históricos Urbanos e 22 Sítios relacionados ao período de colonização, Sec. XVIII. Estes sítios foram identificados durante os processos de licenciamento ambiental para projetos de mineração (Mineração Sertão LTDA e Orinoco Gold LTDA). Além dos 13 Sítios Históricos de Mineração, identificados durante o projeto de intervenção, e que posteriormente serão protocolados no IPHAN/CNA.

Referente ao patrimônio natural, o município é contemplado com inúmeras belezas naturais, dentre elas destaca-se a Serra da Candonga e a Serra de Cubatão ou Serra de Santa Rita - ambas pertencentes ao complexo da Serra Geral - assim como, pelas cachoeiras, dentre estas algumas já conhecidas pelos fainenses, como a Cachoeira da Associação, Cachoeira do Ereno e Cachoeira dos Três Saltos. A Cachoeira do Lixão, Cachoeira do João Leão, Cachoeira Pequena, Cachoeira Vale da Cascata, dentre outras, foram visitadas e realizado registro fotográfico.

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Intervenção

Diante dos registros evidenciados, a atividade de educação patrimonial teve objetivo promover o interesse dos participantes pela preservação do patrimônio cultural do município através do conhecimento dos bens e, consequentemente, formar agentes multiplicadores. As atividades foram direcionadas a dois públicos alvos:

O desenvolvimento da atividade consistiu em três palestras, onde foram apresentados slides (Power Point) com informações sobre Patrimônio Cultural e suas especificidades, embasadas nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988, e os bens evidenciados durante pesquisa de campo.

No Assentamento Arraial de Anta a comunidade foi bastante receptiva à palestra, demostraram interesse e acompanharam os dias de trabalho de campo. Foi possível observar que a comunidade que reside próximo às estruturas, em glebas, demostraram interesse em preservar os vestígios identificados. Porém, não os conheciam como sítios arqueológicos, mas os consideravam importantes por terem sido “construídos pelos bandeirantes”, conforme cita Sr. Divino Café, morador local. A atividade de educação patrimonial despertou na comunidade o interesse de promover ações para preservar e valorizar todas as áreas com testemunhos, relacionadas às atividades de exploração do ouro do século XVIII, como limpeza, cercamento e identificação através de placas.

No Colégio Estadual Lindolfo Mendes da Cunha a atividade de educação patrimonial foi realizada para duas turmas de alunos do Ensino Médio (turno matutino 34 e Turno vespertino 25 alunos), com faixa etária entre 14 e 18 anos. Para este público, as informações sobre o Patrimônio Cultural do município foram apresentadas em slides (Power point) e também em vídeo produzido a partir dos registros fotográficos das estruturas arqueológicas identificadas durante as atividades de campo (https://www.youtube.com/watch?v=f6Cd6sxmAxg). Cada palestra teve duração de aproximadamente 50 minutos e após a apresentação foi aplicado um breve questionário com as seguintes perguntas:

  1. O que é Patrimônio Cultural?
  2. Quais os bens culturais conhecemos hoje?
  3. Quais os bens você considera importante?
  4. Qual a importância de preservar?
  5. Sobre o Patrimônio Arqueológico: Você conhece algum local que tenha estas estruturas?

Com a aplicação do questionário foi possível observar que os alunos, em sua maioria, não tinham conhecimento do que era patrimônio cultural, conforme a constituição, porém com a apresentação reconheceram a importância de se preservar e valorizar o que este representa. Sobre o patrimônio arqueológico do município, poucos conheciam e, após a apresentação, demostraram interesse em visitar.

Os alunos e o grupo gestor da unidade escolar foram bastante receptivos à palestra, demostraram interesse em estender a atividade para as outras turmas que não puderam participar nesta ocasião. Manifestaram interesse em desenvolver ações que ampliem o conhecimento sobre o patrimônio do município junto à comunidade local, como visita aos sítios arqueológicos e atividades na feira cultural que a Escola promove anualmente, tendo em vista divulgar e implementar ações direcionados ao turismo.

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Resultados e Perpectivas

Diante das atividades de educação patrimonial, realizadas como propostas de ação de intervenção, pode-se observar a ampliação dos conhecimentos tanto da comunidade como do alunado quanto às questões relativas aos bens patrimoniais e arqueológicos do município de Faina. Enquanto sujeitos, os participantes das atividades reconhecem a importância de preservar os bens referentes à identidade e memória da comunidade, e demostram interesse em desenvolver ações planejadas para valorizá-las, com a preservação dos locais com sítios arqueológicos identificados, elaboração de roteiro turístico para visitação e continuidade às festividades.

De um modo geral, a ação de intervenção e Educação Patrimonial realizada no município deu visibilidade ao seu patrimônio cultural. Pode-se perceber o interesse das pessoas da comunidade que souberam do projeto de intervenção e que, posteriormente às apresentações, têm trazido informações de lugares com vestígios de estruturas arqueológicas. Os alunos que participaram das palestras também têm enviado fotos de estruturas que aparentemente são sítios arqueológicos. Cabe ressaltar ainda que um grupo de pessoas da comunidade manifestou o interesse de desenvolver um projeto voltado ao Ecoturismo e Arqueoturismo na região.

No entanto, para o desenvolvimento deste projeto será necessário a elaboração de um diagnóstico mais detalhado do patrimônio material e natural, envolvendo a comunidade e o poder público municipal, na viabilização do projeto turístico e na criação de políticas públicas voltadas para a divulgação e preservação. Sensível ao projeto, a mineradora Orinoco Gold disponibilizou o transporte para levar os diretores, coordenadores, professores e alunos das redes estadual e municipal para visitação aos sítios arqueológicos de fácil acesso.

Os resultados deste trabalho apresentam a possibilidades de desdobramentos futuros. Está sendo trabalhado material em vídeo para a divulgação das belezas naturais do município e, também, elaborados projetos de sustentabilidade para as famílias assentadas no Arraial de Anta, local que apresenta vestígios do patrimônio arqueológico, embora impactado. Todos estes projetos podem assegurar, assim, a preservação do patrimônio cultural do município do Faina e, futuramente, o tombamento destes bens.

Referências

INSTITUTO NACIONAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Coletânea de Leis sobre preservação do Patrimônio – Rio de Janeiro: IPHAN, 2006.

COELHO, Teixeira. O que é ação Cultural. São Paulo: Brasiliense, 2001 (Coleção Primeiros Passo; 216).

ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017.

GRUMBERG, Evelina, Manual de Atividades Práticas de Educação Patrimonial. Brasília, DF: IPHAN,2007.

HORTA, M. de L. R; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A .Q . Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Museu Imperial, 1999

PALACIN, Luís, História de Goiás/ Luís Palacin e Maria Augusta Sant’Anna Moraes. – 4ª ed. Goiânia: Ed. UCG, 1986.

____________. O século do ouro em Goiás: 1722-1822, estrutura e conjuntura numa capitania de Minas/Luís Palacin – 4ª ed.- Goiânia: Ed. UCG, 1994.

POHL, Johann Emanuel, 1782-1834. Viagem ao interior do Brasil; tradução de Milton Amado e Eugênio Amado; Apresentação e notas de Mário Guimarães Ferri. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, Ed. da Universidade de São Paulo, 1976.

Web:

SANTO S, L. G.; PACHECO. A Oficina de educação patrimonial para o ensino fundamental em Aquidauana. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Anais da I Semana de Arqueologia, Suplemento 8: 149-153, 2009. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revmaesupl/article/viewFile/113517/111472, acesso em 26/06/18.

TEXTO BASE DISCIPLINA: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL II: RECURSOS, TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS Profª Ivanilda Junqueira, disponível em: https://ensino.ead.ufg.br/pluginfile.php/142448/mod_resource/content/2/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Patrimonial.pdf. Acesso em 15/04/2018

SILVA, Marcos Pedro e ROCHA, Cleonice. Caracterização da mineração aurífera em Faina, Goiás, em um contexto ambiental histórico e atual. Revista Ambiente & Sociedade. Campinas v.XI, n.2- p.451-463, jul.-dez, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/asoc/v11n2/v11n2a11.pdf, acesso em 15/07/2018.

Sites pesquisados

Vários acessos no decorrer do trabalho, de fevereiro a setembro de 2018.

http://www.faina.go.gov.br/pagina/152-dados-gerais

https://www.youtube.com/channel/UCSnbFQg1F-QVcJ4pWtHqt5Q

https://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/livros/ALeiCrimesAmbientais.pdf

http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/315

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm