Resumo
O trabalho trata de uma ação interventiva cultural realizada na biblioteca da Instituição de Ensino Superior Privado de Brasília (IESB), campus Ceilândia. Teve como objetivos promover ação cultural, conscientização e lazer acerca do uso dos recursos naturais do planeta para preservação do patrimônio cultural imaterial ambiental/natural, garantindo acesso às futuras gerações. Para tal, foram exibidos para o corpo acadêmico da instituição, em horários pré-determinados, vídeos, documentários e curta-metragem acerca da temática, selecionados pela autora do projeto. Ao final de três meses, por meio da educação não formal, realizou-se uma roda de conversa entre os participantes e foi possível perceber, entre outros aspectos, que há um desconhecimento mais profundo no que tange aos direitos culturais, à legislação e, ainda, que há preocupação diante do cenário atual do meio ambiente. A ação se debruçou sobre os objetivos sustentáveis e as metas da Agenda 2030 da ONU, iniciada em 2015, onde as bibliotecas são intermediárias de transformação social para a libertação do ser humano, combatendo e erradicando a pobreza e protegendo o planeta com medidas urgentes para direcionar as nações para o consumo consciente.
Palavras-chave: Educação não formal. Biblioteca Universitária. Patrimônio cultural imaterial ambiental. Agenda 2030. Ação cultural.
1. Introdução
A biblioteca é local de captação de informação fundamentada, selecionada, organizada e difundida para produção de conhecimento. Castro (2006) fala de um espaço de salvaguarda e conservação de seus acervos produzidos no passado para que se saiba conduzir o presente, já que obtém a identidade de um povo. Nesse viés, o bibliotecário, por ser o profissional destacado nessa área, é o guardião das memórias antigas e mais recentes da pátria.
As bibliotecas universitárias possuem importante papel na vida acadêmica de uma pessoa, uma vez que é detentora dos conhecimentos, ciências e experiências no mundo, dando apoio informacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão, por meio dos conteúdos disponíveis em seus catálogos em vários suportes, como livros, periódicos, mapas, guias em formatos impressos ou virtuais. De acordo com Hubner (2014, p. 17) “[...] elas estão presentes na trajetória da formação acadêmica dos mesmos, contribuindo para o seu crescimento pessoal e profissional, bem como exercendo um papel central no cotidiano da universidade.” Ainda, complementa o autor, as bibliotecas universitárias são espaço de liberdade, já que os livros são abertos a todos sem restrições, tornando um local de total acesso a cultura e história da nação.
Os incentivos culturais dentro da biblioteca universitária são vitais para formação de cidadãos competentes. Dentro das instituições de ensino superiores é que nascem profissionais capacitados a movimentar a sociedade em todos os seus seguimentos. Com esse enorme poder nas mãos é que pessoas podem modificar para melhor ou para pior a história de seu povo ao deixar um legado para as futuras gerações. É preciso estimular, através de práticas de culturas dentro da biblioteca, com apoio de outros profissionais, de modo a seduzir estudantes a participarem e proporem ativamente atividades de valor cultural. Os benefícios são enormes, eles vão além da aquisição de conhecimento; sobretudo o ganho com lazer, diversão e leveza, tão escassa nos dias de hoje, onde a convivência social é cada vez mais intolerante e a vida mais corrida, essa ocupação com afazeres culturais envolve e melhora a empatia das pessoas. (ROSA, 2009)
Página 611A proposta desse trabalho envolveu a comunidade acadêmica do Centro de Ensino Superior de Brasília IESB com relação aos cuidados com o meio ambiente, trazendo reflexões acerca do uso e das atitudes perante a necessidade de preservação como garantia do direito patrimonial ambiental às gerações futuras. O trabalho buscou convidar o corpo acadêmico a participar de sessões de “cinema” onde foram exibidos documentários e filmes pré-selecionados, em horários cabíveis à visualização e adesão pelos participantes. Estes tomaram conhecimento do projeto por meio de divulgação feita com cartazes na biblioteca, buscando atingir ao máximo de pessoas, chamando a atenção para os inúmeros dados e pesquisas feitas ao longo do tempo por especialistas sobre o trato com o planeta e como tudo que dele se origina tem sido consumido, tratado, cuidado, resguardado; quais os pontos críticos, segundo os documentários, e quais medidas devem ser tomadas para realizar mudanças.
2. Objetivo Geral
Promover a conscientização na preservação dos patrimônios ambientais (naturais) através dos recursos audiovisuais (documentários) para as futuras gerações no Centro Universitário de Educação Superior de Brasília – IESB.
2.1 Objetivos específicos
- Mostrar a importância da biblioteca na proposição de políticas culturais em instituições de ensino superior privado de Brasília.
- Desenvolver ações culturais e de lazer no ambiente do Centro Universitário privado de Brasília
- Promover reflexão sobre a influência das atividades culturais e a responsabilidade sustentável na preservação do meio ambiente.
- Fazer análise comportamental e o envolvimento dos docentes e discentes perante as amostras audiovisuais.
3. Referencial Teórico
Os primeiros debates sobre a função cultural das bibliotecas foram iniciados no final do século XIX. Já em 1987 a Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação trouxe pela primeira vez o conceito sobre ação cultural em bibliotecas. A partir de então as bibliotecas passam a ser reconhecidas como espaços culturais, onde se usou diferentes nomenclaturas tais como “mediação cultural”, “fabricação cultural” e ainda “animação cultural”, que resultaram na publicação de vários artigos acerca do tema na época.
O que são ações culturais e para que elas existem? De acordo com SPERRY (1987) o objetivo é estimular e aprimorar o gosto pela leitura e pelas artes, tais atividades são viabilizadas pelos bibliotecários e outros profissionais ligados tais como autores, editores, historiadores e pesquisadores. Essas iniciativas estimularam o Brasil para a criação da “Lei Sarney” que concedia incentivos fiscais para operações em caráter cultural.
Embora a visão de biblioteca como aporte cultural tenha surgido há quase quatro séculos no Brasil, o que se percebe é que, em especial nas bibliotecas universitárias de instituições privadas de Brasília, sejam Centros Universitários, Faculdades ou Universidades , ainda são tímidas e ínfimas as ações com relação a esse tema, seja pela falta de estímulo dos profissionais da biblioteca, estrutura física, incentivos financeiros ou recursos humanos. É preciso resgatar e entusiasmar profissionais a buscarem parcerias para reanimar as bibliotecas universitárias para que elas não se tornem apenas depósito de livros. (GRANJA, 1987)
Partindo da convivência no ambiente acadêmico é possível observar a importância do papel da biblioteca como agente ativo para mediar cultura. É conhecido que a educação está intimamente ligada com a cultura. Logo, esta deve estar envolvida com o desenvolvimento das políticas pedagógicas de ensino. Diante disso, pretende-se colocar a biblioteca como espaço de cultura e desenvolver atividades programadas com foco nas questões sustentáveis e socioambientais.
Página 6124. A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas e a Função Socioambiental das Bibliotecas
A agenda 2030 da ONU foi instituída em 2015 com 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e 169 metas para os próximos 15 anos, envolvendo seus 193 países-membros. Entre os objetivos principais está a erradicação da pobreza em todas as suas formas, sendo esse um dos mais importantes pilares para o desenvolvimento sustentável.
Todos os países e todas as partes interessadas, atuando em parceria colaborativa, implementarão este plano. Estamos decididos a libertar a raça humana da tirania da pobreza e da penúria e a curar e proteger o nosso planeta. Estamos determinados a tomar as medidas ousadas e transformadoras que são urgentemente necessárias para direcionar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. Ao embarcarmos nesta jornada coletiva, comprometemo-nos que ninguém seja deixado para trás. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2018)
A Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias - IFLA (2015), em atenção ao programa, diz que as bibliotecas terão um papel crucial para desenvolvimento dessas ações, já que os centros de informações podem dar apoio em muitos quesitos apresentados no documento, enquanto instituições indispensáveis na transformação social. Nesse momento, busco a biblioteca universitária do Centro Universitário IESB, localizada em uma região administrativa periférica denominada Ceilândia, na região do Distrito Federal, com a proposta de unir atividades culturais e consciência ambiental.
5. Metodologia
Há uma visão arcaica sobre a missão das bibliotecas, em que o bibliotecário é apresentado na figura do senhor ou da senhora de idade cujo objetivo é pedir silêncio. Outro equívoco que permeia esse espaço é com relação ao seu uso; as bibliotecas não são mais espaços estáticos e inertes, onde não se pode circular ou conversar ainda que moderadamente; pelo contrário, a biblioteca cada dia mais se apresenta de forma dinâmica, onde é possível encontrar um local descontraído, leve e de interação. Ainda existem muitas escolas no Brasil com alunos sendo castigados por diversos motivos (atrasos, mau comportamento) e sendo encaminhados para a biblioteca, imputando nas crianças a visão de um local enfadonho. É necessário destruir estereótipos arraigados de preconceitos e desprovidos de verdade; adultos que não leem foram crianças que não leram. As bibliotecas universitárias precisam resgatar esse convívio cultural.
Para promover intervenção cultural na biblioteca do Centro Universitário IESB e descobrir quais ações culturais são desenvolvidas na instituição e na biblioteca foi necessário a ajuda de bibliotecários e auxiliares da biblioteca, além de alunos que foram voluntários nesse processo. Por estar acoplada ao teatro, onde encontramos toda a estrutura para apresentações, com projetores e cadeiras confortáveis para o público, foi possível disponibilizar o local todas as terças e quintas-feiras de cada semana, durante o período de três meses (maio a julho de 2018), entre 12 e 14 horas. Esse espaço foi liberado para filmes, documentários, animação e curta-metragem, que tratam sobre o meio ambiente e as ações do homem, consolidando o papel da biblioteca como mediadora de informação e cultura, bem como despertando nos alunos a preocupação com a preservação do meio ambiente para garantir o patrimônio cultural imaterial ambiental para as futuras gerações. Como traz CARVALHO (2008, p. 87), “no contexto do patrimônio comum da humanidade o termo “patrimônio” é conceituado como legado que se recebe do passado para ser desfrutado no presente e em seguida ser transmitido às futuras gerações”. Ao final desses três meses de assistência, os voluntários foram reunidos, a fim de promover um debate (roda de conversa) sobre o que foi possível absorver com essas ações.
Página 6136. Ação Interventiva
A ação de intervenção foi realizada com os docentes, discentes e colaboradores do Centro Universitário IESB, de modo que alunos de diversas áreas pudessem participar. O objetivo do trabalho foi abrir diálogos de responsabilidade com o uso do meio ambiente e preservação do patrimônio ambiental/natural. Um auditório foi disponibilizado entre 12h e 14h com recursos de áudio e vídeo exibindo documentários nos horários do almoço, quando parte dos alunos está disponível por terem encerrado suas atividades acadêmicas.
7. Procedimentos
Na ação interventiva foi utilizado projetor com som e imagens em um ambiente específico, com cadeiras e controle de acústica, para que os participantes pudessem assistir confortavelmente aos vídeos e absorver a proposta. O plano de ação visou puramente conscientizar e promover o consumo sustentável, para diminuir o impacto no meio ambiente e a emissão de poluentes e resíduos na camada de ozônio, que coloca em risco as necessidades das gerações posteriores deixando em situação de vulnerabilidade o patrimônio cultural ambiental. Como destaca o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) responsável por salvaguardar os bens imateriais através do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI, 2018, grifo nosso), que propõe:
Nas diretrizes da política de apoio e fomento do PNPI estão previstas a promoção da inclusão social e a melhoria das condições de vida de produtores e detentores do patrimônio cultural imaterial, e medidas que ampliem a participação dos grupos que produzem, transmitem e atualizam manifestações culturais de natureza imaterial nos projetos de preservação e valorização desse patrimônio. A promoção da salvaguarda de bens culturais imateriais deve ocorrer por meio do apoio às condições materiais que propiciam a existência desses bens e pela ampliação do acesso aos benefícios gerados por essa preservação, e com a criação de mecanismos de proteção efetiva dos bens culturais imateriais em situação de risco.
A disponibilização e reprodução de documentários buscou promover impacto nos estudantes de ensino superior a fim de olharem mais seriamente para as condições climáticas e o mau uso dos componentes e agentes poluidores, além do consumo deliberado de plásticos e outras fontes não recicláveis que estão deteriorando o meio ambiente. Para MILANESI (1997, p. 108) “Filmes, e gravações podem ampliar o campo da compreensão. Ver documentários sobre eles ou sobre qualquer particularidade que lhe diga respeito e até ouvir os seus cantos tradicionais é uma possibilidade que nenhum pesquisador descarta.”
Na ação foram disponibilizados documentários, filme e curta-metragem, que retratassem as condições ambientais do planeta, as quais foram divididas em algumas partes como: oceanos e vidas marinhas, aquecimento global, degradação das florestas e produção de lixo. Esta autora fez uma vasta pesquisa sobre documentários mais completos, com indicações a prêmios e grandes produções mundiais. Outro ponto crucial para a mostra foi o recorte temporal dessa década, para enfatizar a preocupação e os levantamentos mais recentes na área.
Página 614Esse trabalho não buscou aprofundamentos científicos e acadêmicos acerca desses temas, muito embora tenha disponibilizado produções com fontes fidedignas e confiáveis, uma vez que o foco se dedicou sobre a percepção nesse setor, que na maioria das vezes é ignorado pela população, por desconhecimento ou até mesmo por falta de envolvimento. Entretanto, houve grande esforço para mostrar o quão devastador pode ser para nós e para nossos descendentes o descaso e o não cuidado com o planeta.
Conforme já destacado, as atividades ocorreram durante os meses de maio e julho do presente ano, através de um telão no auditório do teatro do Centro Universitário IESB, unidade oeste, localizado na QNN 31 Ceilândia norte, nas terças e quintas-feiras, das 12h até 14h, pensando em um momento de lazer, conhecimento e cultura, já que nesse horário não há aulas. Nas oito semanas de intervenção e análise discentes de variados cursos e colaboradores se interessaram pela atividade e puderam assistir as amostras de filmes e documentários selecionados. São eles:
Trashed – para onde vai nosso lixo: é um documentário com 98 minutos, de 2012, que retrata o destino do lixo chamando atenção das autoridades e também da população para evitar sacos plásticos e aprender a separar o lixo. O apresentador Jeremy Irons caminha em meio às montanhas de lixo de uma praia no Líbano, onde vários dejetos são levados pelo mar a praias de outros países, além de liberar dioxinas pelo ar. O vídeo traz ainda um centro de tratamento de lixo na Inglaterra bem próximo a áreas residenciais.Tais imagens levam a reflexão do quão prejudicial é o falta de tratamento das toneladas de lixo produzidas diariamente no mundo. (RECICLOTECA, 2017)
Mission blue: é um documentário de 2014, disponível na Netflix, com 96 minutos, dirigido por Robert Nixon e Fisher Stevens, produtores indicados ao oscar por outros trabalhos. É a história de uma oceanógrafa, Sylvia Earle, com objetivo de conscientização ambiental, denunciando as condições dos oceanos em virtude das ações humanas. “A obra, que demorou 4 anos pra ficar pronta, mostra o porquê das escolhas de Sylvia e como ela corre o mundo inteiro para levar essa mensagem e conscientizar milhares de pessoas.” (MENOS1LIXO.COM, 2016). As imagens são incríveis e surpreendentes; além do mais, elas conseguem mostrar a transformação nas águas ao longo dos anos e o risco do desequilíbrio do planeta.
O sal da terra: é um documentário lançado no ano de 2014 com duração de 105 minutos, título original The Salt of the Earth dirigido pelo alemão Wim Wenders e pelo fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Retratando as questões sociais e ambientais por meio das fotos é possível observar um pouco da história do homem e o impacto sobre o planeta, mostrando a exploração dos recursos naturais e a relação das civilizações com a natureza. “Ele agora embarca na descoberta de territórios primitivos, da fauna e flora selvagens, de paisagens grandiosas: um grande projeto fotográfico em tributo à beleza do planeta.” O documentário nos leva a refletir como o ser humano é responsável pelas suas mazelas, seja por suas ações diárias até o descaso das autoridades e o fomento à guerra, que destrói a terra e as pessoas. (GOIASMAIS20, 2015)
Página 615Momento patrimônio – Patrimônio natural: é um programa da TV UPF disponibilizado em 2012, com duração de 70 minutos. Nele, a professora Aline Custódio, engenheira ambiental e doutora em engenharia química com ênfase na área ambiental, e Flávia Biombo, bióloga e mestre em educação e coordenadora do Museu zoobotânico Augusto Ruschi do instituto de ciências biológicas de Passo Fundo, explicam sobre o meio ambiente como patrimônio cultural da humanidade e a relação dele com os povos e a natureza conosco, enfatizando que precisa ser preservado também na área urbana. A concepção de natureza para as pessoas ainda está restrita apenas às áreas ditas preservadas, mas nós constituímos e fazemos parte do meio ambiente, sendo este essencial para nossa identidade cultural.
Os documentários foram exibidos alternadamente, a cada semana. Na primeira semana Trashed, Mission blue e Sal da terra; sempre ao final da exibição o vídeo patrimônio natural era disponibilizado. O objetivo era relacionar os vídeos com a visão cultural ambiental de que não só perdemos o planeta, mas, sobretudo, perdemos nossa história, nosso habitat, costumes, crenças, religiões, flora, fauna, botânica e nossa essência que nos fora reservada quando nascemos. O processo interventivo teve como base a educação não formal que, como esclarece BRANDÃO (2007), é aquele processo que acontece pela interação e pelas trocas de pensamentos, visões, aprendizados, vivências, saberes, onde o conhecimento é discutido e mediado pelos próprios envolvidos, através da interação. É pelo contato, pelas experiências entre essas pessoas que se busca a união entre atividade audiovisual e lazer, com intuito de chamar atenção à realidade do meio ambiente.
8. Resultados
Na primeira semana de maio tivemos feriado na terça-feira, por essa razão os documentários foram exibidos na segunda e quinta-feira; como também na última semana, que foram exibidos na terça e sexta-feira ao invés de quinta, conforme cronograma estabelecido previamente. No total foram disponibilizadas 26 exibições durante 13 semanas. A amostra foi divulgada nas salas de aulas e informativos afixados na biblioteca e nos murais do campus oeste. Foram aproximadamente 5 pessoas (alunos, professores e colaboradores) por sessão, no total de 130 ao longo do projeto, exceto no mês de julho, pois devido às férias a adesão caiu consideravelmente.
A roda de diálogos aconteceu em meados de agosto, com o retorno das aulas dos alunos. Durante a discussão foram abordados alguns pontos, mas no geral cada um podia falar abertamente sobre sua percepção com relação aos vídeos e ao tema. No total compareceram 10 alunos, além de 3 colaboradores da biblioteca, entre auxiliares e a bibliotecária (não participaram docentes), sendo que a maioria dos estudantes eram mulheres da área de humanas, do curso de psicologia, que se mostraram muito tocadas com o assunto abordado durante os meses. O debate foi conduzido por meio de questionamentos tais:
- O que foi entendido/identificado nos documentários?
- O que pode ser mudado a partir dessa atividade?
- Impactou em algum hábito diário? Qual?
- Você considera esse projeto importante?
- Mais pessoas poderiam ser beneficiadas?
- O que você entendeu sobre Patrimônio Cultural Ambiental?
Todos os participantes entenderam perfeitamente a proposta da ação e ficaram muito satisfeitos em participar, inclusive, sugeriram que os professores poderiam exibir nas aulas em alguma disciplina para que fosse mais difundido. Embora tenham disciplinas nas turmas sobre meio ambiente, o assunto é abordado de maneira diferente, de forma mais didática, e não necessariamente como patrimônio. Poucos conheciam os documentários e as realidades climáticas e ambientais e ficaram impressionados com algumas imagens, embora o assunto seja debatido com frequência em vários meios de comunicação.
Os voluntários consideram que algumas atitudes podem ser mudadas, mas confessam que isso não é tão simples assim e que é necessário tempo e estímulo social e governamental para as mudanças. Foi abordado por alguns o excesso de uso de materiais plásticos, em especial nas lanchonetes do Centro Universitário, onde os lanches são servidos em pequenas vasilhas de plástico e talheres de plástico e, embora muita coisa ainda seja reciclada, os gastos com água e emissão de gases é enorme. Os participantes consideram que a geração precisa mudar como um todo, desde os que fornecem até os que consomem, e comentaram algumas iniciativas em algumas partes do mundo, como um Café em Nova Iorque que diminui o preço do café caso o cliente leve seu próprio recipiente.
Algumas pessoas alegaram que têm se esforçado para fazer a diferença no gasto de água com o banho e ao escovar os dentes e que carregam garrafas. Houve aquelas que comentaram que compraram canudos de vidro – houve, também, comentário que já estão sendo fabricados canudos feitos de amido de milho, que dissolvem em dez dias - e carregam consigo para todos os lugares, pois alegam que não pesa. Outras disseram que já evitam usar a pequena pá de plástico para mexer o café, mas almejam carregar suas xícaras, dentre outras ações, como comprar produtos com refil e usar sacolas de algodão para fazer compras nos mercados. Mas, houve dois alunos que acharam complicado o fato de se desfazerem de sacolas de plásticos, alegando que ficava inviável de armazenar ou até mesmo separar o lixo e outros objetos; foi comentado sobre o uso das sacolas de papel.
Todos os participantes consideraram o projeto absolutamente importante, elogiaram e abraçaram a causa e agradeceram por poderem participar, dizendo que gostariam de trabalhar em outras frentes do tema para que outras pessoas pudessem ser alcançadas; comentaram algumas pequenas ações que podem ser feitas no bairro ou no prédio onde moram. Os envolvidos no trabalho realmente entenderam a necessidade de cuidarmos com mais afinco do planeta.
Com relação ao patrimônio cultural ambiental pareceram-me um pouco surpresos, pois imaginavam que patrimônio era somente o material, que ficava nos museus ou em praças expostos e que os animais, espécies de plantas - a flora e fauna, os oceanos, a vida marinha, fossem um bem da humanidade e precisassem ser preservados para deixarmos nosso legado às futuras gerações. O desconhecimento soa natural, visto que a relação entre cultura e a natureza, antes conceituada tão somente como os conjuntos paisagísticos e arqueológicos, altera-se a partir do último ano do século XX, pois, como bem explicita Pelegrini (2006), surge urgência de uma dita consciência de preservação no campo ambiental. Esta só se consolidou na década de 1980, com uma ação que surgiu através da comunidade científica, irradiando para organizações não governamentais, criando uma onda de reivindicações acerca da qualidade de vida no planeta. Essas ações não partiram do Estado que, a princípio, sugere que o homem seja afastado do meio ambiente, não contemplando que o ambiente faz o homem e que o homem faz seu ambiente.
Página 617A educação patrimonial ambiental é prioridade, já que aponta a diversidade e pontua as mudanças na cultura, ambiente e na própria sociedade, processo natural com o passar do tempo. O ensino direcionado e contínuo de educação ambiental precisa alertar a população que o não respeito ao patrimônio cultural imaterial ambiental e toda sua diversidade está fadado à perda de sua identidade, pondo fim a valores únicos, contrariando o exercício da cidadania. Diante disso, é necessário o debate sobre reflexões em torno do coletivo para que seja desenvolvida conscientização ambiental respeitando as tecnologias e os espaços para desenvolvimento social (PELEGRINI, 2006).
9. Conclusão
Diante do exposto, é possível observar que uma parcela da população, ainda que tímida, possui alguma consciência das ações humanas no processo de mudança climática do planeta, dos oceanos e das espécies como um todo, mas é necessário insistir nesse tema para que as futuras gerações não pereçam. Como proprietários, deveremos cuidar e preservar o nosso patrimônio ambiental, mudando atitudes e conscientizando outras pessoas a modificar essa dita “cultura”, tão arcaica, do uso da praticidade na hora de adquirir produtos no mercado; no descuido na separação do lixo, no uso deliberado de produtos não recicláveis, degradação de florestas, pesca ilegal, extração de minerais, poluição dos rios e mares; são vários os itens que aqui podem serem listados. É necessário que as autoridades, juntamente com a população, realizem educação socioambiental para que hajam mudanças rápidas e drásticas, pois com o passar do tempo a situação está ficando cada vez mais lastimável.
A biblioteca universitária, instituição chave como transformadora social, realizou atividade cultural através dos documentários exibidos, que atingiu parte do corpo docente e discente, contribuindo com algumas das metas da Agenda 2030 da ONU, que busca o consumo consciente e sustentabilidade para a erradicação da pobreza. A atividade seguirá anualmente, para que mais pessoas possam ser atingidas e mais mudanças possam ser feitas, exercendo e contribuindo com a importância para a memória cultural e identidade dos povos.
Desta forma, preservando o patrimônio cultural garantido pela lei máxima do país, a Constituição Federal de 1988, conforme previsto nos artigos 215 e 216 que versam sobre as questões relativas à cultura, quando afirma “a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”. Assim, a biblioteca do Centro Universitário IESB contribui diretamente para o fomento da cultura, educação e lazer dentro da comunidade acadêmica na qual está inserida.
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