Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Propostas, Práticas e Ações Dialógicas

Documentário Coletivo Cultural Noiz nas Ruas: Resgate de Vidas Através da Música

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Resumo

O presente relatório técnico-científico propõe, por meio da produção de um documentário de nossa autoria, apresentar a vivência e o protagonismo juvenil presente nas ações do Coletivo Cultural Noiz nas Ruas, grupo de música e dança situado no município de Valparaíso de Goiás que tem como foco o Hip Hop, o Break, as batalhas musicais e o grafite, apresentados em locais públicos desta cidade. A relevância da intervenção cultural, em forma de vídeo documental, está no registro imagético das atividades do Coletivo, bem como na preservação da historiografia do movimento, a fim de consolidá-lo, em futuro próximo, como uma manifestação artística representativa para o patrimônio cultural da cidade.

Palavras-chave: Cultura; Cidadania; Hip Hop; Arte, Jovens; Identidade Cultural.

Introdução

Este relatório técnico-científico destaca a importância do trabalho executado pelo Coletivo Cultural Noiz nas Ruas que objetiva, entre outros aspectos, a manutenção da vida cultural digna de jovens de periferia da cidade de Valparaíso de Goiás. As etapas e o desenvolvimento da ação de Intervenção Cultural descritos neste Relatório Final buscam explanar o alcance dos objetivos – gerais e específicos – propostos pelos autores do relatório – que levaram em conta os processos de vivência e as ações culturais do Coletivo Cultural Noiz nas Ruas.

O referido grupo atua em uma cidade jovem, com 23 anos de emancipação e com uma vida cultural iminentemente pulsante no centro urbano. Valparaíso de Goiás, apesar de ter uma economia próspera, apresenta diversos problemas sociais e de infraestrutura típicos de cidades que ficam no entorno de Brasília-DF.

Neste contexto, surgiu o Coletivo Cultural Noiz nas Ruas, união de jovens com o objetivo principal de resgatar outros com ou sem riscos sociais, através da música e da dança, o Hip Hop - que encanta pela magia de seu ritmo, pela linguagem da rua e da periferia urbana - bem como pelas letras musicais que estimulam a autoestima e incentivam a busca por um futuro melhor. O Noiz nas Ruas vai às escolas, levando música, palestras e batalhas de MC´s, promovendo e estimulando o surgimento de novos talentos da música, da dança Break e do grafite.

O coletivo Noiz nas Ruas, chamou a nossa atenção pelo som que vinha da praça central da cidade – som de jovens que pediam atenção para as suas necessidades. Os jovens que compõe o Noiz nas Ruas usam a praça central da Etapa A de Valparaíso de Goiás, Escolas Estaduais e Municipais, o próprio CEUs das Artes da cidade, dentre outras ruas e bairros do Município. A motivação e a escolha do objeto de intervenção sociocultural se deu ao conhecer e apreciar o trabalho desta turma que (re)produz arte e cidadania em seu local.

Ao longo desse estudo observamos que o município ainda está à procura de sua identidade cultural; assim sendo, os jovens utilizam os espaços públicos na busca dessa identificação. Entender parte deste processo de busca pela identidade cultural deste jovem e fazer disso nosso objeto de intervenção cultural por meio de filmagens, ou seja, por meio da produção de um documentário é o construto da nossa Intervenção Cultural.

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Como já mencionado, esta IC leva em conta o trabalho realizado pelo Coletivo Cultural Noiz nas ruas, uma vez que, ele traz em voga problemas culturais enfrentados em muitas cidades brasileiras: o pouco acesso a políticas públicas de cultura e os recursos escassos para as atividades culturais. Em contrapartida, apresenta a resistência do grupo, que busca promover a cultura por meio de seus agentes.

A relevância da IC, em forma de vídeo documental, está no registro imagético das atividades do Coletivo, bem como na preservação da historiografia do movimento, a fim de consolidá-lo como uma manifestação artística representativa para o patrimônio cultural da cidade. Sobre o Hip Hop no mundo, a autora Vidal de Souza afirma que:

“De acordo com Contador (1997), o termo Hip Hop, foi criado em meados de 1968 por Afrika Bambaataa, reconhecido como fundador oficial do Hip Hop. Ele teria se inspirado em dois movimentos cíclicos, ou seja, um deles estava na forma pela qual se transmitia a cultura dos guetos americanos, a outra estava justamente na forma de dançar popular na época, que era saltar (hop) movimentando os quadris (hip)” (VIDAL DE SOUZA, 2007, p.05).

Complementando a abordagem sobre o tema e seu desenvolvimento, a mesma autora cita um outro autor que diz:

Segundo Big Richard (2005), são quatro elementos do Hip Hop: MC (compositor do rap), DJ (artista e técnico que mistura músicas diferentes para serem ouvidas e/ou dançadas, usando suportes como vinil, CD ou arquivos digitais sonoros para "tocar), Break Boy /ou Break Girl (B.Boy - dançarinos) e Grafiteiro. “Entre eles, as diferenças são grandes, porém todos têm um objetivo comum: a transmissão de uma mensagem consciente, relacionada com a realidade vivida em seu meio de origem...” (Big Richard apud VIDAL DE SOUZA, 2007, p.05 e 06).

Como ocorre com outros produtos culturais, o Hip Hop tem solidez comercial e destaque na mídia e nas redes sociais, e de acordo com Vidal de Souza:

O Hip Hop brasileiro é diferente do norte-americano. Apesar de existir uma tendência de apropriação de alguns símbolos de uma cultura negra internacionalizada – como as roupas - dando a impressão de um movimento globalmente mais uniforme, as muitas diferenças que separam brasileiros e norte-americanos ajudam a determinar, no Brasil, um Hip Hop diferenciado. As letras retratam o cotidiano vivido. A falta de escola, emprego, saúde e lazer são tema para os quatro elementos do hip hop (VIDAL DE SOUZA, 2007, p.07).

Desta forma, a IC proposta “Documentário Coletivo Cultural Noiz nas Ruas: Resgate de Vidas através da Música” teve como objetivo central perceber o Hip-hop como música representativa para os jovens em risco social; além de conhecer e explanar em imagens o “Coletivo Noiz nas Ruas” e seu trabalho com a música nas comunidades de bairros de baixa renda no município de Valparaíso de Goiás.

Os objetivos específicos foram: I – Produzir e reunir imagens produzidas pelo grupo, em forma de “documentário”; II – Reconhecer o coletivo Noiz nas Ruas como um catalisador do ritmo Hip-hop na cidade de Valparaíso de Goiás; III - Apurar a necessidade de formalização legal para a sua inclusão na sociedade civil organizada e a observância de editais de fomento cultural; IV - Aplicar a metodologia de pesquisa participante e, assim, apreender o processo de criação e desenvolvimento do Coletivo Noiz nas Ruas.

Logo, a divisão do trabalho deu-se da seguinte forma: os dois primeiros objetivos específicos foram alvos da pesquisadora Soraya Neres e os dois últimos do pesquisador Rômulo Sérgio.

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Desenvolvimento

Para o entendimento da intervenção cultural proposta, a compreensão de alguns conceitos são necessários, pois estes clareiam e norteiam as experiências a serem destacadas no documentário. Logo, discorreremos sobre os seguintes conceitos: Identidade, Cultura de Massa e Cidadania Patrimonial.

Por identidade toma-se como referência o conceito adotado no trabalho de Faria e Souza (2011) quando citam um sociólogo francês Claude Dubar que entende, por identidade, um processo que envolve características pessoais, a socialização e o contexto envolvido. Os autores citam Dubar que diz:

“Dubar (1997) concebe identidade como resultado do processo de socialização, que compreende o cruzamento dos processos relacionais (ou seja, o sujeito é analisado pelo outro dentro dos sistemas de ação nos quais os sujeitos estão inseridos) e biográficos (que tratam da história, habilidades e projetos da pessoa). Para ele, a identidade para si não se separa da identidade para o outro, pois a primeira é correlata à segunda: reconhece-se pelo olhar do outro. Porém, essa relação entre ambas é problemática, pois não se pode viver diretamente a experiência do outro, e ocorre dentro do processo de socialização” (Dubar apud FARIA E SOUZA, pp.35-36; 2011).

Os autores seguem apresentando conceitos que vão na mão de um processo intermitente e perene de adaptações e traz aspectos sociais dentro da construção deste ser identitário, em meio ao seu lugar de socialização. Sendo assim, para Santos:

“As identidades culturais levam a marca por excelência do humano: a complexidade e a dinamicidade. Esse fenômeno, por sua natureza, cria possibilidades de construção de várias abordagens e teorização. Todavia, advertimos que nenhuma teoria é suficientemente completa para dar conta de forma definitiva do real sociocultural. A realidade é sempre mais complexa e dinâmica para ser enquadrada de forma absoluta por uma teoria” (SANTOS, 2011; p.155).

Observamos que tal conceito não se encerra, pois o processo humano de vida em sociedade e a realidade que se coloca todos os dias o molda, afirma e contesta toda essa identidade cultural; que uma cultura também pode ser múltipla.

No caso do conceito Cultura de Massa, adotamos o que é proposto por Theodor Adorno e Max Horkheimer em Dialética do Esclarecimento, citado por outros autores, que nos traz a problemática da sociedade de massa como uma cultura alienante por uma indústria cultural propagada para fomentar a arte de forma vazia e livre de pensamentos críticos. No site significados.comencontramos uma definição sucinta do que significa cultura de massa e sua implicação na falta de crítica da “massa” que absorvia produtos culturais alienantes e sem conteúdo, principalmente político.

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Cultura de massa é o produto da chamada Indústria Cultural, consistindo em todos os tipos de expressões culturais que são produzidos para atingir a maioria da população, com o objetivo essencialmente comercial, ou seja, de gerar produtos para o consumo. Seguindo a lógica do capitalismo industrial e financeiro, a cultura de massa busca padronizar e homogeneizar os produtos, para que possam ser consumidos pela maioria das pessoas. Assim, tudo o que pertence a cultura de massa deve seguir um padrão pré-definido para o consumo imediato. Músicas, filmes, gêneros de dança, séries de televisão, revistas, desenhos animados, moda, gastronomia e etc. A lista de elementos que a Indústria Cultural se apropria e transforma em cultura de massa é gigantesca. Os meios de comunicação de massas (rádio, televisão, jornais, revistas e, principalmente, a internet) são os principais aliados da Indústria Cultural para a disseminação da cultura de massa, ajudando no processo de homogeneização cultural e na alienação dos consumidores. Vale ressaltar que o termo "massa" não está relacionado, neste caso, com classes sociais, mas unicamente com o grupo formado pela maioria das pessoas de uma sociedade (Site acessado em 25/04/2018).

Sobre Cidadania Patrimonial, especificamente, destacamos que o direito à cultura está expresso em documentos oficiais do governo, como a Constituição de 1988, a Declaração dos Direitos Humanos e outros tratados e acordos internacionais. Pressupondo que o convívio social faz as pessoas produzirem bens simbólicos e significações para o reconhecimento e pertencimento de cada local e comunidade, entende-se que aí está a gênesis do patrimônio cultural. Pois, de acordo com Filho (2015):

Considero como cidadania patrimonial a capacidade operativa dotada de alto poder de elasticidade de ação social por parte de grupos sociais e étnicos, em suas dimensões coletivas ou individualizadas de construir estratégias de interação (de adesão à resistência/negação) com as políticas patrimoniais tanto no âmbito internacional, nacional ou local, a fim de marcar preponderadamente um campo constitutivo identitário, pelo alinhamento dos iguais ou pela radicalidade da diferença. Tal capacidade cognitiva e de agência se utiliza da exploração de categorias cunhadas no devir da construção epistêmica da antropologia, tais como cultura, natureza, território, tradição, parentesco, identidade, interagidas com as categorias patrimoniais como tombamento, registro e inventário e, por fim, enfeixadas por categorias nativas como nós e não-nós, objetos, mitos, ritos, humanos e não humanos, parentes, consanguíneos e afins, os chefes, os xamãs, os artistas, o corpo, a pintura, os jovens e os velhos, os que sabem fazer, entre outros indexados por um sistema linguístico e cultural próprios (FILHO, 2015; pág.139).

Os conceitos aqui explanados tem uma razão de estarem presentes neste relatório técnico-científico. Por lidarmos com um grupo pulsante de atores culturais que utilizam a música e o entretenimento para a promoção de jovens, o conceito de Identidade Cultural aplica-se no entendimento desse movimento social promotor de uma identificação em um lugar ou espaço reivindicado por eles. Em contramão à Cultura de Massa que iguala todos os produtos culturais, o Hip Hop aqui apresentado busca uma originalidade própria em uma cidade “nova”.

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Por fim, Cidadania Patrimonial é o que busca o Coletivo Noiz nas Ruas, o direito à cultura, à socialização, à expressão da vida em sociedade de forma digna. E nossa apreensão da realidade por meio desse grupo vai em busca da percepção de cada um destes conceitos, como se dão, se formam e se expressam por meio das práticas culturais do Coletivo.

O desenvolvimento do documentário se deu de forma confortável – com a participação e acesso facilitado do Coletivo Noiz nas Ruas - no que diz respeito à abertura do Coletivo para a produção do relatório e como protagonistas do documentário. Este segundo de forma mais ampla possível, pois, a edição das imagens e o tratamento do documentário também foi feito em parceria com o Coletivo, uma vez que eles realizam este trabalho para registrar as batalhas de Hip Hop e a arte urbana nos espaços em que vivem.

A oportunidade de enfrentar questões como o preconceito racial e o social foi encontrado pelo Coletivo através do trabalho com o Hip Hop. Durante a pesquisa, nos expuseram que em certas ocasiões algumas batalhas realizadas foram confundidas com arruaças e tiveram que passar por revistas policiais, mas que, depois de identificados como artistas e ativistas de resgate de jovens em risco, tiveram o mínimo de consideração como cidadãos. O Hip Hop nasceu marginalizado, principalmente, por originar-se do movimento negro. Assim como nos EUA, em todos os países em que adentra sofre algum tipo de preconceito ou marginalização, e no Brasil não é diferente. O Noiz nas Ruas luta para sobreviver, para manter viva uma arte e descriminalizar o negro e sua rica cultura.

Produzir e reunir imagens das ações do coletivo foi a atividade predominante nos últimos meses da ação intervencionista. Para tal, estar junto com o coletivo em todas as apresentações foi fundamental para o desenvolvimento do documentário. O conteúdo trabalhado pelo coletivo foi envolvedor e despertou uma sensação de superação não só entre os jovens, mas também nos ouvintes e no público em geral. Logo, para atender o Objetivo I do relatório foi necessário conhecer de perto o que é o Coletivo, com conversas informais com os membros e com a diretoria, e obter algumas entrevistas: com o idealizador e vice presidente Mc Dejan Medeiros, com o Mc e presidente Sandoval Sanduba, com a Diretora Priscila Guirra do Colégio Estadual Almirante Tamandaré, Professores, Alunos e pessoas da comunidade. Todos os encontros foram filmados para a edição do documentário.

Um dos vieses da intervenção se deu com um bate papo interativo e por videoconferência, em que o papel do pesquisador participante foi o de apurar e orientar sobre a importância de uma instituição legalizada para benefícios junto a órgãos culturais governamentais. Durante este bate-papo abordamos aspectos sobre a trajetória do Coletivo Noiz nas Ruas e sobre dois editais de fomento, um da Funarte (Fundação Nacional das Artes) com foco nas artes visuais, com inscrições abertas no momento do bate papo, cujo título era “Edital Prêmio Funarte Artes Visuais – Periferias e Interiores” e o outro edital com edições anuais “FAC – Edital de Fundo de apoio à Cultura de Goiás” que contempla especificamente a música, atividade central do coletivo.

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Com a finalidade de executarmos o Objetivo II, foi necessário participarmos das palestras, das batalhas de rimas, das apresentações das danças de Break e conhecer os grafites feitos pelos jovens na cidade. O Coletivo nos demostrou que é uma instituição competente, que a seriedade e o respeito fazem parte do trabalho. Além de passar a mensagem de positivismo e que todos ali são cidadãos do mundo.

Como uma forma de consolidar as ações do Coletivo junto à comunidade, ou seja, como uma manifestação artística e cultural do Município, foi realizada uma pré-exibição do documentário para a comunidade. Esta apresentação se deu para que pudéssemos medir a primeira impressão social pelo trabalho desenvolvido com um grupo que promove uma interação sociocultural com os que o veem.

Como resultados dos dois últimos objetivos específicos, obteve-se um retorno satisfatório da população e do Coletivo. Em primeira mão pudemos, através de um convívio com o “Noiz nas Ruas”, trocar informações, experiências artísticas; de protagonismo juvenil; de convivência em grupo; de motivação para o trabalho cultural como resgate social. Também houve trocas de conhecimento e muitos momentos prazerosos por detrás das câmeras, que justificaram ainda mais a escolha desta ação interventiva. Logo, atendendo aos objetivos propostos, observamos que foi despertada a vontade e a dedicação do grupo de buscar alternativas de fomento para as atividades através de editais e instâncias de financiamento a cultura públicos.

É preciso destacar, mais uma vez, que durante a produção do documentário foram relatadas a inobservância do Coletivo aos editais públicos e a formalização enquanto instituição ainda muito incipiente. O que nos motivou a esclarecer junto ao grupo, numa abordagem interativa, alguns quesitos de formalização para esta instituição que já tem um trabalho social perante a comunidade.

Não obstante, demonstraram interesse em transferir a titulação jurídica de pessoa do Coletivo de MEI – Microempreendedor Individual - para pessoa jurídica, a fim de atender a alguns eventos como empresa constituída. No entanto, para este ramo de atividades a titulação ainda não se adequava ao Coletivo e aos órgãos afins. Por isso, foi observada a necessidade de registrar e modificar a condição de MEI para uma associação sem fins lucrativos, como uma entidade do terceiro setor perante os órgãos competentes. Logo, esta nova modalidade empresarial viria atender até mesmo aos editais de fomento, que em sua maioria preconizam que a empresa seja uma associação cultural e não um MEI.

Ao final da apresentação do documentário parcial para a comunidade foram gravadas algumas entrevistas sobre as impressões que tiveram do trabalho e, principalmente, do trabalho do Coletivo com os filhos, os jovens e a quem interessar. Estas imagens constam na edição final do documentário submetido a banca avaliadora (Link do documentário no canal do youtube: https://www.youtube.com/watch?v=lT1_3OSS7Hs).

Por fim, é relevante salientar que os resultados diretos e indiretos foram substanciais e obtidos em mão tripla, ou seja, pelo “Noiz nas Ruas”, pela comunidade e por nós, enquanto pesquisadores e interventores. Diante disso, foi empregada nesta intervenção cultural a Metodologia Participante.

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Metodologia

Pressupõe-se na Metodologia Participante que os pesquisadores participem ativamente da rotina e do trabalho de um grupo ou comunidade para entender como se dão seus processos de desenvolvimento. Segundo Brandão (2006),

Assim, a pesquisa participante apresenta-se como uma alternativa de "ação participante" em pelo menos duas dimensões. A primeira: agentes sociais populares são considerados mais do que apenas beneficiários passivos dos efeitos diretos e indiretos da pesquisa e da promoção social dela decorrente ou a ela associada. Homens e mulheres de comunidades populares são vistos como sujeitos cuja presença ativa e crítica atribui sentido à pesquisa participante. Ou seja, uma pesquisa é "participante" não porque atores sociais populares participam como coadjuvantes dela, mas sim porque ela se projeta, porque realiza desdobres através da participação ativa e crescente desses atores” (BRANDÃO, 20016. Pág.31).

Conclusão

Um dos resultados mais satisfatórios foi, sem dúvida, o retorno da comunidade após a exibição do documentário. Tivemos a oportunidade de devolver a quem mais precisa as imagens produzidas de um trabalho realizado com e para a comunidade, que tinha até então uma visão preconceituosa sobre o Hip Hop.

O documentário foi um passo para que essa percepção começasse a clarear, a perceber que aqueles jovens não são delinquentes; que não passam o dia e a noite na praça sem fazer nada; que ali, como nos outros pontos culturais da cidade, há artistas que buscam formas e maneiras de modificar o mundo e a maneira de viver neste mundo; e que eles, assim como toda a comunidade de Valparaíso de Goiás são cidadãos de valores; de que mesmo sem dinheiro podemos realizar nossos sonhos e coletivamente expandir, deixar um legado para os descendentes e afirmar que nossa ancestralidade é latente, enquanto ainda temos tempo no espaço chamado vida.

O Coletivo Cultural Noiz nas Ruas marca não só os jovens que fazem parte do trabalho, mas todos da cidade que conhecem hoje a manifestação cultural do Hip Hop, da dança do Break, das batalhas de rima que enriquecem os vocabulários e a arte do grafite; de forma a mexer com os sentimentos e provocar a vontade de mudar a realidade através dessa Arte. Quando se está diante de um grupo cultural de vida tão atuante como o Coletivo Cultural Noiz nas Ruas tem-se a oportunidade de ver a interação com a comunidade fluir com solidez e responsabilidade. Trata-se de um grupo sólido, consciente do seu trabalho.

Por tudo exposto acima, pudemos reunir imagens, conhecer histórias, interagir com pessoas comprometidas a doar seu tempo e seu esforço pelos ideais que acreditam. Assumiram o desafio de promover uma face cultural nova para esta cidade de história recente, como Valparaíso de Goiás.

Tudo o que se vê no documentário editado pelos pesquisadores e pelo próprio Noiz nas Ruas é fruto de um trabalho de meses. Esperamos ter contribuído e demonstrado a realidade de uma entidade que compõe o terceiro setor no Brasil e que espelha a história de muitos grupos: falta de formalização, às vezes por desconhecimento da importância e\ou ausência de fomento de qualquer ordem.

O que vemos é a luta, o desejo de mudança e as motivações pessoais pelo que se faz, que levam à permanência das atividades. O Coletivo Noiz nas Ruas sobrevive para ver os jovens sobreviverem às realidades impostas por desigualdades, estereótipos e para terem voz e vez dentro de suas comunidades e regiões.

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LINK DO DOCUMENTÁRIO NO CANAL DO YOUTUBE:

https://www.youtube.com/watch?v=lT1_3OSS7Hs

FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO:

Entrevistados:

Mc Dejan Medeiros – Idealizador do Coletivo Noiz nas Ruas e Vice Presidente.

Mc Sanduba – Presidente do Coletivo Noiz nas Ruas.

Professoras – Divina Maria de Jesus, Diretora Priscilla Guirra.

Integrantes do Coletivo Noiz nas Ruas – Mc Chicão, Mc Cândido, Mc Gláucio, Mc Diego.

Entrevistador: Soraya Neres

Textos e Roteiro: Rômulo Sérgio

Câmeras: Lucas Neres e Mc Sanduba

Edição: Lucas Neres

Locais de Filmagens: Praça Central do Valparaíso de Goiás, Céus das Artes, Colégio Estadual Almirante Tamandaré, Centro Cultural Mestre Sabá e Bar Cultural Piratas. Todos na Cidade de Valparaíso de Goiás.

Referências

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FARIA, Ederson de; SOUZA, Vera Lúcia Trevisan de; Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 15, Número 1, Janeiro/Junho de 2011: 35-42.

FILHO, Manuel Ferreira Lima. Cidadania patrimonial. Revista ANTROPOLÓGICAS, Ano 19, 26(2):134-155, 2015

GEERTZ, Clifford, 1926, A interpretação das culturas. l.ed., IS.reimpr. - Rio de Janeiro : LTC, 2008. 323p.

MORAIS, Ingrid Agrassar; A Construção Histórica Do Conceito De Cidadania: O Que Significa Ser Cidadão Na Sociedade Contemporânea? – XI Congresso Nacional de Educação – EDUCERE – 2013; Grupo de Trabalho História da Educação. Disponível: http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2013/75985556.pdf.

SANTOS, Luciano dos; As Identidades Culturais: Proposições Conceituais e Teóricas. Identidade e diferença. Revista Rascunhos Culturais – Coxim/MS – v.2 – n.4 – p.141.157 – Jul.dez.2011

A ORIGEM DAS COISAS. A origem do hip-hop. Disponível em: http://origemdascoisas.com/a-origem-do-hip-hop/. Acesso em: 01 abr. 2018.

SIGNIFICADOS. Significados de cultura de massa. Disponível em: https://www.significados.com.br/cultura-de-massa/. Acesso em: 10 abr. 2018.

ESPECIALIZAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM PATRIMÔNIO, DIREITO CULTURAIS E CIDADANIA. https://producao.ciar.ufg.br/ebooks/patrimonio-direitos-culturais-e-cidadania/edicao1/cnt/modulo1/capitulo-01-2.html; NDH/CIAR, Universidade Federal de Goiás. Acesso em:10 abr. 2018.

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