Resumo
Este trabalho é resultado do projeto de intervenção intitulado Transformando espaços em lugares: o graffiti como elemento cultural da paisagem urbana de Goiânia, realizado como trabalho de conclusão de curso da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania. O tema central do trabalho é o reconhecimento do graffiti como patrimônio cultural e urbano, e, para tanto, foram abarcadas nas discussões questões relacionadas aos conceitos de espaço e lugar, arte urbana, paisagem cultural e cidadania patrimonial, dentre outros conceitos afins a essa temática. O trabalho foi estruturado a partir da perspectiva da pesquisa-ação, sendo que a intervenção foi realizada junto aos estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Deputado José de Assis, na cidade de Goiânia/GO, a fim de difundir e discutir as noções de patrimônio cultural e a importância do graffiti como patrimônio artístico-cultural e elemento de transformação da paisagem urbana da cidade de Goiânia. Como base para a realização da intervenção foi feito um levantamento fotográfico de exemplares de arte urbana da cidade de Goiânia, para composição de exposição fotográfica realizada no pátio central, para todos os alunos da escola. Além da exposição, foi realizada uma oficina e confecção de um painel colaborativo junto a um grupo de estudantes do ensino médio da escola, com a utilização, na prática, de técnicas de arte urbana apresentadas na oficina com os estudantes envolvidos. Esse relatório tem como objetivo expor as discussões teóricas que embasaram o projeto de intervenção, bem como expor os resultados da ação realizada.
Palavras-chave: Arte Urbana; Graffiti; Paisagem Urbana; Goiânia.
1. Introdução
Este relatório técnico-científico resulta do projeto de intervenção “Transformando espaços em lugares: o graffiti como elemento cultural da paisagem urbana de Goiânia”, envolvendo o estudo e o levantamento fotográfico a respeito da Arte Urbana na cidade de Goiânia-Goiás e, também, a realização de uma intervenção com a participação dos estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Deputado José de Assis, localizado no bairro Jardim América, região sul de Goiânia. Através de uma breve oficina expositiva sobre o histórico da arte urbana e o panorama atual do graffiti na cidade de Goiânia e do desenvolvimento de um painel artístico, a proposta de intervenção envolveu, entre outros fatores, a difusão de informações, de referências fotográficas e a sensibilização para o reconhecimento da arte urbana, ou seja, do graffiti como um dos elementos culturais da cidade.
O ponto de partida dessa pesquisa levou em consideração uma discussão apresentada no livro Fundamentos de Arquitetura, a respeito da relação entre “espaços” e “lugares”. Nesse sentido, na citação abaixo, Farrelly nos apresenta um questionamento e uma conceituação básica a partir dessa relação:
Página 507Quando um espaço se torna um lugar? Os espaços são físicos, tem dimensões, localizam-se em algum local, passam por mudanças com o tempo e fazem parte de recordações. Os lugares são espaços onde ocorrem atividades, eventos e ocasiões. Uma edificação pode ser um lugar ou uma série de lugares. As cidades, da mesma maneira, podem ser compostas por muitos espaços importantes ou representar um lugar propriamente dito. (FARRELLY, 2010, p 28).
No trecho acima, a autora propõe uma discussão a respeito de dois conceitos, o conceito de “espaço”, enquanto unidade física, inanimada, e o conceito de “lugar”, que é o espaço com vida, ocupado pelas pessoas, resultado do desenvolvimento de relações sociais. Diante do que é apresentado por Farrelly – bem como por discussões apresentadas por outros autores, na seção “Desenvolvimento” – iniciamos a nossa pesquisa com essa discussão, por compreendermos que o graffiti é uma forma de transformar os espaços em lugares, propiciando uma nova relação entre as pessoas e a cidade, patrimônio vivo e vivido diariamente por cada um de nós.
A escolha do graffiti como objeto dessa pesquisa se deu em decorrência da sua grande ocorrência na cidade (o que faz com que ele esteja presente na vida de todos que circulam pela cidade, ainda que apenas como “plano de fundo”), e do crescente reconhecimento da importância que este tipo de arte tem alcançado na contemporaneidade. A opção por estudar os graffiti também se deu pela força de expressão que esses possuem, são manifestações originais e diretas, expressão da sociedade e da cultura do local em que emergem. Essa temática sempre me despertou interesse pela relação que estabelecemos com a cidade e como a arte pode alterar essa experiência. De maneira geral, compreendemos arte como o que está nos museus, “oficializado”, mas os graffiti nos dão uma nova perspectiva, da arte presente nas ruas, colocada nos muros, acessível a todos.
Os graffiti, e a arte urbana de maneira geral, tem se tornado cada vez mais elementos de identificação de diversos grupos, e por isso também estão cada vez mais sendo estudados e inseridos nos roteiros acadêmicos como parte do patrimônio cultural. Nessa perspectiva, a intervenção foi planejada para levar para um público maior esse patrimônio (através da exposição fotográfica realizada em uma escola de ensino fundamental e médio), a fim de propiciar a discussão sobre essa temática no ambiente escolar, ainda na educação básica. Buscando aprofundar ainda mais essa discussão, também foi realizada uma oficina expositiva com um grupo de estudantes da escola e, na sequência, a confecção de um painel colaborativo com esses alunos, dando uma nova cara a um espaço da escola, local de convívio diário dos alunos.
O objetivo geral da pesquisa foi a realização de um levantamento fotográfico dos principais conjuntos de graffiti na cidade de Goiânia, base para a realização de uma exposição fotográfica em uma escola pública da cidade (foi escolhido o Colégio Estadual Deputado José de Assis), a fim de difundir essa prática artística. Para além da exposição fotográfica, através da busca por referenciais teóricos e da realização de uma oficina, buscamos compreender e difundir a importância do graffiti como patrimônio artístico-cultural e elemento de transformação da paisagem urbana da cidade de Goiânia entre os estudantes. Durante a realização da oficina com um grupo de alunos da escola, promovemos discussão acerca da relação entre patrimônio cultural e paisagem urbana, e como o graffiti se relaciona com esses dois conceitos. Como produto final da intervenção, foi proposto a confecção de um painel colaborativo com técnicas de arte urbana (especificamente o lambe-lambe e o graffiti com estêncil), em conjunto com os estudantes, a fim de colocar em prática o ponto de partida desse trabalho: a transformação de um espaço em lugar.
Página 508Este relatório estrutura-se em introdução, desenvolvimento, a intervenção e conclusão. Na parte “Desenvolvimento” serão apresentados os conceitos de arte urbana, paisagem cultural (e paisagem urbana), cidadania patrimonial, bem como todo o embasamento teórico do trabalho, e a metodologia adotada para a sua realização, enquanto a seção “A Intervenção” foi destinada para a descrição dos trabalhos realizados: o levantamento fotográfico, a exposição, a oficina e a confecção do painel colaborativo.
2. Desenvolvimento
As cidades são organismos vivos, em constante transformação, resultantes das dinâmicas sociais, culturais e econômicas, que influenciam na sua composição e, também, na forma como as pessoas se apropriam dela. Em decorrência dessas alterações sofridas na cidade, tem aumentado cada vez mais as discussões a respeito da “imagem da cidade” e da constituição de uma “paisagem urbana” (como categoria integrante do patrimônio cultural).
Segundo Lynch, “parece haver uma imagem pública de qualquer cidade que é a sobreposição de imagens de muitos indivíduos” (LYNCH, 1982, p 57), ou seja, a cidade é composta pelas diversas imagens produzidas e também percebidas por todos aqueles que a habitam. De acordo com o autor, há diversos fatores influenciadores da imagem da cidade, “tais como o significado social de uma área, a sua função, a sua história ou, até, o seu nome” (LYNCH, 1982, p 57), de maneira que a percepção acerca de qualquer espaço da cidade se dá a partir dos elementos que o compõe, mas também de como foram constituídos esses elementos, ou seja, a sua história. Considerados esses aspectos acerca da imagem da cidade (que é percebida através do visual), fica evidente a importância do estudo da paisagem (e aqui especialmente da noção de paisagem cultural) na compreensão de como as pessoas se apropriam da cidade.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) estabeleceu em 2009 uma portaria a respeito da Paisagem Cultural Brasileira, a fim de proteger essa parte do patrimônio cultural brasileiro. Segundo o IPHAN, a paisagem cultural caracteriza-se pela conjugação “do convívio entre a natureza, os espaços construídos e ocupados, os modos de produção e as atividades culturais e sociais, numa relação complementar capaz de estabelecer uma identidade que não possa ser conferida por qualquer um desses elementos isoladamente”; ou seja, a paisagem é o reflexo da atuação do homem no espaço, sendo que no cenário urbano, ela é o resultado da interação entre a comunidade e o espaço construído, e, principalmente, da apropriação das pessoas desse espaço. Segundo Carsalade (2014), “vivemos em um mundo dinâmico e que muda a cada instante”, onde a materialidade da paisagem construída não é constante, existindo a todo momento uma sobreposição/integração de velhas e novas paisagens adequadas à vida urbana existente no local.
Aprofundando a discussão apresentada na introdução, a respeito da transformação de espaços em lugares, de acordo com Zaidler (2013, p 125), “a intervenção artística na cidade transforma qualitativamente a amplitude do espaço público”. De maneira que a arte e as intervenções urbanas agregam novas possibilidades à cidade, “de modo que obra e entorno – o material e o sociocultural – se integram em um único bem simbólico, cuja principal potencialidade é oferecer-se à fruição e favorecer a percepção de um determinado local enquanto lugar” (ZAIDLER, 2013, p 125).
Página 509Atualmente parece bem dissipada a compreensão de que, no espaço urbano, a arte pode tanto ser concebida para se tornar uma referência dentro do caos, quanto idealizada como um desafio a ele, no sentido de levá-lo às últimas consequências, explicitá-lo, revelar suas tensões. [...] A arte pública contemporânea não mais pretende ordenar o espaço social e a visão, como na concepção renascentista; cumpre agora os papéis de trabalhar as diferenças e de revelar as inquietações que fervilham no tecido urbano. Essa concepção, entretanto, não deve ser imposta a ponto de excluir a existência das outras diversas possibilidades da relação arte/cidade. Uma obra pública, inexoravelmente inserida no campo da cultura, pode preservar características contemporâneas, e ser conservadora – no sentido de registro crítico – produtora, ou ainda questionadora da memória social e política, assim como de referências estéticas. (ZAIDLER, 2013, p 125-126).
Nessa perspectiva, compreendendo a noção de paisagem cultural como atuação do homem no espaço, na contemporaneidade os graffiti representam um importante elemento de composição e transformação dessa paisagem urbana, visto que modificam (de maneira rápida) esse espaço e instantaneamente permitem uma nova percepção deste. De acordo com Ferreira e Kopanakis:
A composição visual das cidades retrata as relações existentes entre os sujeitos e o ambiente em que vivem, ambiente este que, aos poucos, passa a se tornar um espaço apropriado pelo marketing e pela propaganda. Áreas públicas são privatizadas a fim de promoverem a mercantilização da vida. Dessa forma, as expressões artísticas que são desvinculadas do interesse comercial não encontram formas de divulgação e reconhecimento, sendo, cada vez mais, ignoradas pela mídia e acabam se tornando desvalorizadas. Diante desta ausência de possibilidades para que possam imergir, essas formas de manifestações artísticas e populares utilizam as ruas como espaço para se expressarem. (FERREIRA e KOPANAKIS, 2015, p. 80)
Considerando a cidade enquanto esse organismo vivo, e reforçando o graffiti como elemento de composição e transformação da paisagem urbana, Prosser nos traz uma importante visão de como a cidade pode ser interpretada através da prática da arte urbana, e de como a produção dessa arte é uma forma de manifestação da identidade cultural de quem a vive.
Página 510Para o jovem que pratica a intervenção urbana, a cidade é mais que um simples suporte para a sua manifestação visual. É o ponto de encontro entre ele e os seus iguais, o campo de batalha (ideológica ou física) entre ele e os seus diferentes. Arena, cenário, palco, é o lugar em que a vida – a sua vida – acontece, é testemunha participante dos seus embates consigo mesmo, com o outro e com o seu meio. A cidade é, para ele, ao mesmo tempo, eloquente, com os seus múltiplos gritos e significantes, e cúmplice, com seu silêncio de pedra. É um organismo vivo e pulsante em constante mudança, do qual ele faz parte, no qual ele vive a intensidade de cada momento e sobre o qual ele atua continuamente. Com a urbs ele dialoga de maneira ininterrupta e a ela se alia para expressar suas inquietações e inconformismos. (PROSSER, 2007 p 2-3).
A partir dessa perspectiva apontada pelos autores; ou seja, da cidade como local de expressão e do graffiti como uma das formas de expressão daqueles que, muitas vezes, não encontram seu espaço nos meios considerados “oficiais” de reconhecimento e valorização do patrimônio cultural, observamos que o conceito de cidadania patrimonial, cunhado por Lima Filho emerge na discussão.
Considerado como cidadania patrimonial a capacidade operativa dotada de alto poder de elasticidade de ação social por parte de grupos sociais e étnicos, em suas dimensões coletivas ou individualizadas de construir estratégias de interação (de adesão à resistência/negação) com as políticas patrimoniais tanto no âmbito internacional, nacional ou local, a fim de marcar preponderadamente um campo constitutivo identitário, pelo alinhamento dos iguais ou pela radicalidade da diferença. (LIMA FILHO, 2015, p 139)
Essa ideia de cidadania patrimonial, associada à importância do graffiti como forma de expressão artística, de crítica e de discussão sobre a sociedade em que vivemos, são pontos que influenciam o reconhecimento da importância da arte urbana como elemento transformador do espaço, criando lugares significativos na cidade, que permitem o desenvolvimento de uma “memória do lugar” que, segundo Farrelly (2010, p 28), são lugares que “possuem características, sons, texturas e eventos marcantes que os tornam memoráveis”. Associado a essa memória do lugar, cabe destacar uma indagação de Lima Filho (2015, p 140), em sua discussão sobre a cidadania patrimonial: “qual seria o lugar dos subalternos na representação do patrimônio brasileiro, aquele que não se encaixa na excepcionalidade ou na relevância/representatividade do patrimônio?”, visto que é nesse cenário que se encaixa o graffiti, negado pelas vias oficiais do patrimônio, mas considerado por muitos como importante elemento de identidade cultural, crítica social e de expressão artística.
O reverso do patrimônio tem lugar na cidadania patrimonial, potencializando a cidadania insurgente. (...) A elasticidade operativa que imputo à cidadania patrimonial permite aos sujeitos e coletivos adentrarem num campo marcadamente assimétrico da produção de poder do Estado, instruídos por uma prática histórica colonialista e a manutenção de um modelo econômico liberal, que se nutre da manutenção de hierarquias fantasiadas por um multiculturalismo acrítico na esteira conceitual da indústria cultural. (LIMA FILHO, 2015, p 140)
O reconhecimento do graffiti enquanto patrimônio só será alcançado através do desenvolvimento da cidadania patrimonial e do reconhecimento da importância da arte pública. De acordo com Pirolo (2007, p 18), a arte é uma forma de registro dos diversos períodos da história da humanidade, sendo que na contemporaneidade o graffiti exerce papel importante nessa narrativa, por ser uma expressão artística que emerge de setores tipicamente marginalizados da sociedade. Sendo assim, observamos que a arte exerce um papel importante na formação das pessoas, mas, acima disso, ela é um elemento de transformação social.
Página 511Nessas relações entre arte e espaço público, Stahl (2009, p 120) afirma que o público “designa todas aquelas pessoas e instâncias que com suas participações contribuem para uma discussão”, sejam no campo político, artístico, ou qualquer outro campo social. O autor complementa sua discussão com a noção de espaço público, e como esse se estabelece, afirmando que, “como acontece com as participações que se fazem neste incessante debate, essa configuração está sujeita, mais que a nenhuma outra coisa, às convicções do pensamento dominante e ainda mais aos impulsos que procuram a diferenciação universal” (STAHL, 2009, p 120). Dessa forma, para o autor, a arte urbana “intervém, portanto, num espaço público e numa construção do consenso, que se elabora constantemente, acerca do tipo de configuração que desejamos ver” (STHAL, 2009, p 120); ou seja, essas discussões incidem na função da arte no espaço público e também na sua função social.
Segundo Spineli (2002, s/p), “no território público, onde os símbolos artísticos podem ser polemizados, discutidos, é evidente a capacidade da arte de potencializar, nos indivíduos e nas comunidades, identificações estéticas, sociais, econômicas e políticas”. Ou seja, a arte pública cumpre uma função social de transformação, ao construir identificação e identidade para aqueles que a produzem e, também, a consomem como produto social. Nesse sentido, a função social da arte nos exige compreender todas as formas de arte como importantes, para além das fronteiras dos museus, observando as manifestações artísticas produzidas e realizadas na rua, levando em consideração o seu contexto social, e a arte urbana integrada ao seu lugar de produção, promovendo a socialização da arte e transformando espaços em lugares.
2.1 Breve Histórico sobre o Graffiti
Como afirmado anteriormente, a cidade é um objeto em constante transformação. No âmbito visual, um dos elementos que mais tem transformado a percepção da paisagem urbana são os graffiti, presentes em toda a cidade, seja em grandes conjuntos, ou de maneira isolada, em um muro ou fachada. O graffiti é uma das mais importantes formas de manifestação da arte urbana, sendo realizado por diversos grupos sociais e com diferentes objetivos, mas sempre com um ponto em comum: a sua habilidade de chamar a atenção do olhar e provocar uma reflexão sobre o que foi visto.
Uma das primeiras menções encontradas na história a respeito desse tipo de arte é em um ensaio de 1993, publicado pelo fotógrafo e ensaísta francês Brassaï, onde ele define os graffiti como “L’art batard des rues mal famées”, o que significa “A arte bastarda das ruas de má fama”.
Página 512Essa arte bastarda das ruas, tão menosprezada que mal é capaz de despertar a nossa curiosidade, tão incerta que as inclemências do tempo a podem apagar, transforma-se numa escala de valores. A sua lei é vinculativa, põe de pernas para o ar todos aqueles sistemas estéticos que tanto tempo levaram a introduzir. A beleza não é, na verdade, o objetivo de sua criação, mas é a sua recompensa. [...] Perante tal confronto, o que resta das obras contemporâneas? (BRASSAÏ, 1933 apud STAHL, 2009, p 8-9)
Desde então, esse tipo de arte urbana tem sido referenciado em diversas obras e tratado como arte. Segundo Stahl (2009, p 6), “estamos habituados a entender a História da Arte como uma sucessão de épocas”, apresentando os diversos movimentos ou manifestações artísticas em sequência, por sua identificação temporal. No entanto, paralelamente a essa história oficial, sempre existiu um tipo de arte “mais rebelde”, que não era guardada ou preservada em museus, mas sim uma arte que emanava das ruas, produzida pelas pessoas. Nesse sentido, o autor faz uma caracterização a respeito da “street art” (arte urbana, em português):
O termo Street Art é recente se o compararmos com a antiquíssima inquietude de representar um símbolo próprio na parede e passar assim a fazer parte da vida pública. Os textos extra-oficiais, assim como os desenhos das paredes, receberam várias vezes o nome de graffiti. [...] Em meados do século XIX – coincidindo com a descoberta de inscrições nos muros de Pompeia – apareceu pela primeira vez a palavra graffiti. Já desde o seu início, um dos traços característicos deste fenômeno foi o seu carácter extra-oficial. Por esta razão, alguns arqueólogos, como Raffaele Garucci, separaram com absoluta clareza os graffiti da arte oficial. Esta distinção condicionou desde o início a maneira de ver tanto a Street Art como os graffiti, que ainda hoje é determinante para a sua aceitação: o que provém da rua, raramente é considerado de qualidade. De acordo com as definições da arte e de suas épocas, a Street Art não é considerada, por assim dizer, de pura raça. Por vezes oferece elementos e objectivos absolutamente nobres, mas jamais renega as suas origens da rua. (STAHL, 2009, p 6-7)
Para o autor, a arte urbana está presente em todas épocas e lugares, no entanto, “entre as suas características há uma que é a mais fascinante, determinante e que se manteve ao longo do tempo: a estreita relação com o dia a dia da rua, o que a faz transcender para lá das suas origens” (STAHL, 2009, p 7). Essa relação com o cotidiano e sua emergência das ruas permite que qualquer um produza arte urbana, o que impregna essas manifestações artísticas de sentimento e se transformam numa forma de expressão, seja de protesto, de identidade e, principalmente, de identificação com o objeto produzido. Relacionado com isso, Ferreira e Kopanakis colocam a arte urbana como um “grito de manifesto”, de pessoas ou grupos muitas vezes não reconhecidos pela arte considerada “oficial”.
Página 513O aparecimento da arte urbana, como o grafite, surge, entre diversos fatores, como um grito de manifesto perante essa ausência de possibilidades e espaços que proporcionem à população o contato com a arte nas cidades, e permitam aos indivíduos se expressarem. (...) Diante de tais circunstâncias, nas quais os ambientes que permitem aos indivíduos criarem uma identidade com a cidade são cada vez menos frequentes, os indivíduos ressignificam o lugar e o “não lugar”, rompendo com os espaços convencionais de manifestação artística e utilizando as ruas para expor suas experiências. (FERREIRA e KOPANAKIS, 2015, p 81-82)
De acordo com Torres (2015, p 13), o graffiti é “um objeto de estudo multidimensional através do qual podemos interpretar alguns aspectos da cultura e dar conta de vários aspectos sobre as urbes”. A autora aponta que o graffiti é resultado do fenômeno caracterizado por Néstor Garcia Canclini de “hibridação cultural”, sendo também um fenômeno urbano “fragmentado e mestiço”, capaz de dialogar com as conjunturas políticas e sociais por qual passam as cidades, sendo capaz de produzir uma “cultura visual contemporânea”.
Historicamente, o graffiti sempre foi considerado uma manifestação artística “marginal”, por emergir principalmente de grupos sociais que não estavam nas elites das cidades, ou nos grandes centros de manifestação social. Segundo Torres (2015), no entanto, atualmente ele tem cada vez mais deixado de ser considerado parte da “margem”, “sendo assumido tanto como uma arte urbana valorizada em diferentes âmbitos, quanto como produção suscetível de se tornar objeto de consumo massivo” (TORRES, 2015, p 14). Essa mudança da visão sobre o graffiti se deu graças ao fato de que cada vez mais ele tem perdido seu caráter “clandestino”, sendo absorvido como prática artística aceita como experimentação de identidade e expressão cultural (tal como a música, esporte, dança, entre outras manifestações produzidas por esses grupos), em oposição à associação que sempre foi realizada desse tipo de produção com delinquência e uso de drogas ou práticas criminosas.
Esta forma de intervenção vem despertando interesse no campo das artes, o que tem significado mudanças de critério inclusive sobre seu papel na cidade. Ao conseguir abrir espaços como prática reconhecida e aceita no âmbito da institucionalidade oficial e nos setores especializados (próximos à concepção mais tradicional de difusão da arte em museus e galerias, e do registro do artístico em compêndios e revistas especializadas etc.), o graffiti passou a ser assunto de interesse público. Assim, ele começa a se despojar da sua clandestinidade constitutiva, permitindo que sejam procuradas maneiras de legalizá-lo e regulamentá-lo. (TORRES, 2015, p 15).
Apesar de já ter sido mencionado anteriormente, é na segunda metade do século XX que o graffiti aparece realmente como uma categoria de arte, e se consolida como manifestação artística. Segundo Farthing (2011, p 552), “a arte urbana se originou no fim da década de 1960 e início da década de 1970, na Filadélfia, onde grafiteiros pioneiros [...] trabalhavam, e ganhou notoriedade em Nova York, onde grafiteiros como Taki183 e Stan153 deram vida à ‘Escola Nova-Iorquina’ de grafite moderno”. Nesse mesmo período, segundo Stahl (2009, p 8), “com o slogan ‘as paredes têm a palavra’, as revoltas estudantis dos anos 1960 tentavam representar nas paredes das grandes cidades não só as suas ideias políticas, mas também a sua poesia”. Para Stahl, o mais interessante do graffiti é que ele se desenvolve em plena rua, e reflete o tempo em que foi produzido, pois, segundo o autor, a arte urbana não é dependente da cena artística dominante, se desenvolvendo por suas próprias vias.
Página 514Sthal (2009, p 10) afirma que o graffiti “foi sempre uma arte bastante juvenil, vinculada às diferentes subculturas que guiam a juventude”, sendo influenciada por tudo aquilo que compõe o universo dos artistas que a produzem, como os trajes típicos da época, a música, a dança e o estilo de vida do lugar em que estão inseridos, desenvolvendo assim uma cultura estética única, que reflete o lugar em que é produzida, sendo diferente em cada lugar do mundo, em uma mesma época – ressalte-se aqui que o graffiti é uma arte de caráter global, existente em todos os lugares do mundo, mas não única, pois se manifesta de maneira diferente em cada um desses lugares, influenciada pelos aspectos políticos, econômicos e sociais de cada lugar.
De acordo com Farthing (2011, p 552), “a princípio, o grafite se concentrava nas ‘marcas’ (um pseudônimo resumido inscrito em qualquer superfície pública disponível)”, mas logo evoluiu para as grandes “obras-primas”, enormes painéis com caligrafias extremamente complexas, e desenhos inspirados em desenhos animados e na cultura popular. Segundo o autor, no começo da década de 80 houve uma grande batalha das autoridades nova-iorquinas “contra os ‘vândalos’ grafiteiros”, ao mesmo tempo que galerias e instituições artísticas passavam a apreciar o potencial dessa forma de arte, e a procurar inseri-la em seus contextos.
Na década de 90, o graffiti perde um pouco de espaço e evidência no universo artístico, em decorrência da perda do seu caráter de “novidade”, mas, no fim do século passado e início deste, surgiu uma estética chamada “pós-grafite”, que ganhou destaque, com “o mesmo caráter antagonista do grafite, mas seguiram direções artísticas novas e desenvolveram técnicas inovadoras” (FARTHING, 2011, p 553). Em relação a sua inserção na atualidade, afirma Torres:
Já no século XXI [...] o graffiti reemerge transformado em diferentes práticas que conseguem ultrapassar os muros brancos como baluarte privilegiado da efetivação. Uma tendência maior a comunicar, apelando a um crescente senso estético (vinculado à arte pública das cidades), estimula a reaparição de um fenômeno que, no entanto, começa a ser cooptado, regulamentado e comercializado, mas que consegue manter parte de sua essência como expressão das culturas juvenis. (TORRES, 2015, p 24)
Encerrando a discussão acerca da história e da importância do graffiti, trazemos aqui um trecho síntese para o estabelecimento da relação graffiti-cidade-patrimônio, e como é importante o estudo desse fenômeno para a compreensão das nossas paisagens urbanas:
Página 515Para a Street Art, como o seu próprio nome indica, o lugar é uma categoria determinante. Ao contrário da arte que se faz nas paredes de um atelier particular, a Street Art está presente no âmbito público, ao qual toda a gente tem acesso. A primeira coisa que os artistas transmitem com os seus quadros é o simples fato de existir. Ao mesmo tempo transportam as suas próprias inquietudes para o lugar e ocupam-no com uma concepção própria e individual. Tudo isso gera imediatamente conflitos de diferentes índoles, entre os quais se encontra a questão da legitimidade. No entanto, raramente se discute em que profundidade sobre o direito de um indivíduo para influenciar a imagem do público e tão-pouco sobre onde se deveria permitir algo assim. [...] As questões sobre o que agrada à vista do ser humano, de como foi mudando o aspecto do público com o passar do tempo e do que está em consonância com o ser humano no momento actual, apresentam-se com pouca frequência. É que a Street Art não tem a aprovação da maioria. Melhor, transmite os seus próprios ideias ao mundo, normalmente, sem que lhe seja pedido. (STAHL, 2009, p 17-21, grifo nosso)
2.1.2 Diferenciações entre “graffiti” e “pichação”
De acordo com Torres (2015, p 34), “a separação que opera entre os conceitos graffiti e pichação, inclusive na academia, sugere uma necessidade política de conceder um tratamento diferenciado a práticas semelhantes em condições de criação e de reprodução distintas”. Em sua dissertação, a autora apresenta uma refinada discussão acerca da diferenciação entre esses dois tipos de manifestação, o que leva a sociedade, de maneira geral, a compreender uma como arte – e, portanto, que deve ser valorizada – e outra como vandalismo, que deve ser repudiada e reprimida.
Segundo Silva, a arte urbana teve como origem embrionária as chamadas “pichações”, partindo “dela num aprimoramento técnico que permitiu também amplificar a sua mensagem social” (SILVA, 2012, p 3). De acordo com o autor, a arte urbana se apresenta nessa discussão entre dois “opostos”, que seriam a pichação e o graffiti.
Página 516Agregando gradualmente um maior universo de linguagens e técnicas (do grafite para o estêncil, stickerart – uma espécie de adesivo, cartazes, colagens, placas, etc.), esta forma de ação direta se encontra numa seara contraditória que ora a associa aos códigos da subversão urbana e da rebeldia juvenil grandes cidades, em relação íntima com a ideia de marginalidade e criminalidade, ora aponta para o status de arte contemporânea, preocupada em se renovar, situar sua produção em novos espaços (saindo dos museus e galerias), encontrar novos sentidos para sua existência, incorporar novas formas e técnicas, dar visibilidade a novas questões e sujeitos. (SILVA, 2012, p 3)
Diversos autores apontam a origem da arte urbana nas pichações, a verdadeira “arte bastarda das ruas de má fama”, apontadas por Brassaï. Tudo o que hoje se compreende nesse grande guarda-chuva que é a arte urbana nasceu a partir dos chamados “tags”, uma forma “primária” de graffiti, em que são pintadas letras ou nomes que identificam o “pichador”. Gitahy (2012) apud Torres (2015, p 28), “equiparando a pichação ao graffiti, adverte-nos sobre a existência de pichações nas sociedades pré-modernas e antigas e os seus diversos usos e significados nesses contextos”. Consenso entre diversos autores, e também afirmado por Torres (2015, p 28), a pichação é um fenômeno mais identificável no Brasil, e se tornou uma imagem típica das grandes metrópoles, com os riscos e escritos no alto dos prédios, nas placas de trânsito, em viadutos, e em diversos outros locais da cidade.
Para Gitahy (1999, p 19), “tanto o graffiti como a pichação usam o mesmo suporte – a cidade – e o mesmo material (tintas). Assim como o graffiti, a pichação interfere no espaço, subverte valores, é espontânea, gratuita e efêmera”, sendo assim bastante similares, mas apresentando propósitos e características distintas. Para Torres (2015, p 31-32), “a característica mais chamativa da pichação é sua consolidação como uma agressão, uma forma de expressão ‘anárquica’ que não pretende se comunicar com a cidade, mas questioná-la”, ressaltando que “o significado da pichação, além da procura de reconhecimento social, de lazer e de uma descarga de adrenalina, está vinculado às reconfigurações da paisagem urbana, pois ela ‘acompanha a forma da cidade como se ela fosse um caderno de caligrafia’” (TORRES, 2015, p 32).
O graffiti e a pichação são considerados muitas vezes de forma separada e com distinções, especialmente por questões políticas, visto que, para muitos, o chamado “pixo” mantém algumas das características iniciais da arte urbana, como a ideia de revolução, contestação, questionamento, incômodo (como afirmado por Djan Ivson, no documentário “Pixo”, de 2009, em que afirma que a pichação “é confronto mesmo, tá ligado? Pichador quer escancarar mesmo, é anarquia pura, é ódio”), enquanto o graffiti se tornou parte das artes plásticas e da composição de uma cultura visual urbana. Do ponto de vista legal (e também para a sociedade), em muitos países ambos são considerados vandalismo, sendo que, no Brasil, o limiar está na autorização, visto que a lei proíbe a pichação enquanto depredação do patrimônio público ou privado, permitindo a sua realização quando autorizada (o que passa a ser entendido como graffiti e portanto como arte).
Em entrevista ao portal Mais Goiás, em 2017, Eduardo Aiog, presidente da Associação dos Grafiteiros de Goiás, fala a respeito dessa discussão:
Página 517“Aqui em Goiânia ninguém gosta do grafite. Gostam dos murais, dos personagens, dos bonecos, das florzinhas, da paisagem, do que é bonito. Grafite, grafite mesmo, são os trabalhos vinculados a letras e quem gosta deles tem que gostar de tudo, até da pichação”. [...] “O entendimento de arte da sociedade é limitado, mas, ao mesmo tempo, há muitos brasileiros cabeça aberta que adoram toda interferência urbana, que veem arte até na pichação. Esses estão preparados para gostar do grafite. Os outros na verdade gostam do barulho que o grafite faz, não entendem que a essência do grafite é a pichação”. (AIOG, 2017, s/p).
No presente trabalho encaramos as duas como importantes e relevantes, visto que ambas promovem o que foi indicado como ponto de partida do trabalho, as possibilidades de transformação de espaços em lugares através das mudanças que o graffiti provocam na paisagem urbana, mudanças essas também provocadas pela pichação. Dessa maneira, compreendemos a arte urbana como um todo, e coadunamos com o seguinte trecho apresentado por Prosser ao discutir as intervenções urbanas:
A chamada arte marginal de rua, enquanto manifestação e expressão, abrange desde o vandalismo anárquico até a arte politicamente comprometida. Vai da pichação, cujo propósito é marcar, demarcar um território, sujar, incomodar, agredir, chamar a atenção sobre certo espaço urbano e certa realidade ou simplesmente desafiar a autoridade (OLIVEIRA, 2005), até o lambe-lambe e o graffiti, nos quais também estão presentes os elementos citados, mas em que preocupações estéticas e sociais são maiores (RITCHER, 2000, p 132-133). Em todas essas formas de arte urbana pretende-se, porém e sobretudo, criticar e transformar o status quo. Atitudes ou preocupações sociais e políticas permeiam todas as manifestações dessa arte de rua, vista, ainda, pela maioria, como indesejável e infratora da ordem estabelecida. (PROSSER, 2007, p 3)
2.2 Metodologia e Procedimentos Adotados
Segundo Demo (1985, p. 23), a “pesquisa é a atividade científica pela qual descobrimos a realidade”. Para o mesmo autor, a “metodologia é uma preocupação instrumental”, ou seja, enquanto a pesquisa é o estudo que realizamos acerca de algum tema ou objeto, a metodologia “cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos” (DEMO, 1985, p 19); ou seja, a metodologia é o meio que utilizamos para a realização da pesquisa.
Considerando esses dois conceitos, a metodologia adotada para esse trabalho, que subsidiou todo o planejamento da intervenção cultural, foi a “pesquisa-ação”, visto que, segundo Tripp (2005, p. 447), esse tipo de pesquisa “requer ação tanto nas áreas da prática quanto da pesquisa”; ou seja, ela relaciona as discussões teóricas com as ações práticas, sendo estas autoinfluenciadas. Segundo o autor, para a utilização dessa metodologia, “temos que ter clareza a respeito tanto do que estamos fazendo, quanto do porque o estamos fazendo” (TRIPP, 2005, p 449). Desse modo, essa metodologia se mostrou adequada, pois, tínhamos clareza sobre esses aspectos no desenvolvimento da pesquisa. Primeiro, existiu a clareza a respeito do objeto, que são os painéis de graffiti da cidade de Goiânia; segundo, o porquê da realização dessa pesquisa, levando em consideração que a difusão dessa prática artística é um elemento importante para a paisagem urbana de Goiânia e do seu reconhecimento como patrimônio cultural.
Para a aplicação dessa metodologia e definição dos caminhos exatos que foram percorridos ao longo da intervenção, uma conceituação metodológica importante para a discussão foi a de “pesquisa social”, do autor Pedro Demo. Segundo o autor, “o social” da pesquisa aponta, em geral, para a pretensão de guinar o esforço de pesquisa para a realidade social” (DEMO, 2008, p 15), tratando-se assim de uma pesquisa que se baseia no contexto em que é produzida, nas relações sociais que a influenciam.
Página 518Sendo a realidade tão complexa, não linear, produtiva, desconstrutiva e reconstrutiva, surpreendente, nossos esforços de captação são preliminares, aproximativos, tentativos, nada mais. De um lado, nosso cérebro gosta de padronizar, porque vê melhor o que está ordenado, Diante de uma realidade caótica, nosso primeiro gesto é ver nela o que haveria, apesar dos pesares, de familiar, já reconhecido; nosso segundo gesto é divisar aí o que se repete, é regular; e nosso terceiro gesto é, se tudo falhar, aplicar uma ordem mental, a que chamamos em geral de “teoria”. Entretanto, essa tendência cerebral que explica pela via da simplificação não empana a dinâmica evolucionária que claramente “complexifica” suas dinâmicas autopoiéticas. E isto também está na dinâmica cerebral, quando interpreta, reconstrói, cria. Espera-se da pesquisa social que seja, pelo menos, mais criativa, interpretativa, sem com isto confundir construcionismo com invencionice. (DEMO, 2008, p 21).
Desse modo, na conjunção entre a “pesquisa-ação” e a “pesquisa social”, procuramos observar a arte urbana de Goiânia compreendendo que ela é uma prática social com a qual convivemos no dia a dia, a partir do desejo de compreender melhor esse tipo de produção artística e como nos relacionamos com ela. Nessa perspectiva, o nosso objeto foi observado como um elemento em transformação, por ser produto de uma realidade social. Nesse sentido, Pedro Demo, ao tratar da pesquisa em ciências sociais, afirma:
Num primeiro momento, podemos aduzir que o objeto das ciências sociais é histórico (...). Ser histórico significa caracterizar-se pela situação de “estar”, não de “ser”. A provisoriedade processual é a marca básica da história, significando que as coisas nunca “são” definitivamente, mas “estão” em passagem, em transição. Trata-se do “vir-a-ser”, do processo inacabado e inacabável, que admite sempre aperfeiçoamentos e superações. (DEMO, 1985, p 15).
Sendo esse objeto como variável, é necessário estabelecer qual a relação que desenvolvemos com ele. Para Demo (1985, p 16), nas pesquisas em ciências sociais “podemos aduzir a identidade entre sujeito e objeto, pelo menos em última instância. Quando estudamos a sociedade, em última instância estudamos a nós mesmos, ou coisas que nos dizem respeito socialmente”. Ou seja, estudar o graffiti em Goiânia é compreender esse tipo de arte não em si mesma, mas como essa arte propicia relações urbanas diferenciadas para todos na cidade, transformando espaços em lugares, dando vida e transformando a paisagem urbana e como nos apropriamos dela.
Considerando esses aspectos teórico-metodológicos, bem como os objetivos do trabalho, foram adotados os seguintes procedimentos: a) realização de levantamento bibliográfico e fotográfico dos principais conjuntos de graffiti de Goiânia; b) organização das imagens levantadas em forma de uma exposição que foi realizada no pátio do Colégio Estadual Deputado José de Assis para todos os estudantes da escola; c) realização de uma oficina com os estudantes do ensino médio da mesma escola, dividida em dois momentos. Primeiramente, houve uma breve exposição sobre o que é patrimônio cultural, arte urbana e alguns dos exemplares de graffiti de Goiânia e, no segundo momento, o desenvolvimento de um painel colaborativo com os estudantes, utilizando algumas técnicas de arte urbana, como o “lambe-lambe” e o graffiti por estêncil.
Página 5193. A Intervenção
O projeto de intervenção foi dividido em três partes: o levantamento fotográfico, a exposição e a oficina e confecção do painel colaborativo. A etapa de levantamento fotográfico foi a base para as demais partes da intervenção, visto que um dos objetivos do trabalho era conhecer o panorama do graffiti na cidade de Goiânia. As discussões teóricas serviram para “guiar” o olhar que foi dado para o levantamento fotográfico, sendo que, para algumas das discussões realizadas a partir do levantamento, foi utilizado como referencial um trecho do trabalho de Natalia Torres, sobre o chamado “sistema grafiti”, que aponta algumas das características dessa manifestação artística, e nos dá parâmetro para as discussões aqui realizadas. Nesse sistema apontado por Torres (2015, p 50-51) conseguimos encontrar algumas características dos graffiti, sendo eles: marginalidade, anonimato, espontaneidade, cenicidade, precariedade, velocidade e fugacidade. Essas características foram encontradas em diversos graffiti da cidade de Goiânia, registrados durante o levantamento fotográfico, e foram apresentados na discussão realizada na oficina, bem como serão apresentados a seguir na discussão realizada no tópico a seguir.
3.1 Levantamento Fotográfico
O levantamento fotográfico foi a primeira etapa do projeto de intervenção, após o levantamento bibliográfico. Foi realizado levantamento de diversos graffiti na cidade de Goiânia/GO, como base subsidiária para as demais etapas da intervenção realizada na escola. Foram levantados alguns “conjuntos” de graffiti existentes na cidade, como Beco da Codorna (considerado o primeiro museu de arte urbana da cidade), os fundos de quadra do Setor Sul (locais onde existem diversos conjuntos de graffiti, nos espaços destinados às áreas verdes do bairro, no projeto urbanístico da cidade), o Palácio da Cultura na Praça Universitária (onde está localizada uma Biblioteca Municipal, enquanto outra parte encontra-se abandonada), os muros do Colégio Pré-Universitário, o Ginásio de Esportes Jardim América (localizado na Avenida T-9), bem como algumas obras isoladas em diversos locais da cidade de Goiânia.
O Beco da Codorna é um espaço localizado no Centro de Goiânia, com acesso pela Avenida Anhanguera. Segundo matéria do site Curta Mais (2016), “até metade de 2014, o ponto funcionava de dia como estacionamento e a noite era ponto de distribuição de drogas, prostituição, habitação de vários moradores de rua e muito entulho”, até que foi realizado no local o “Encontro Cena Urbana”, evento que envolvia música, grafite, skate e comida, com supervisão do Prof. Dr. César Viana, junto a um grupo de alunos do curso de Publicidade e Propaganda da PUC-GO, em parceria com o Goiânia Ouro, com a SMT e com a COMURG.
O Beco da Codorna é o mais extenso beco do centro de Goiânia. Além da galeria a céu aberto, várias atividades artísticas e culturais acontecem por lá, bem como: gravação de videoclipes musicais, curta metragens, ensaios fotográficos e até mesmo um casamento já foi realizado. Um dos grandes destaques do Beco hoje, é a Upoint, a primeira galeria de Goiânia dedicada à arte urbana, além de também sediar a Associação dos Grafiteiros de Goiás. (CURTA MAIS, 2016).
Outro local com um grande conjunto de graffiti é o Palácio da Cultura, localizado na Praça Universitária. Na placa colocada pelo prefeito Íris Rezende em decorrência da inauguração do edifício, em 1969, o enaltecimento ao papel do edifício como Centro Cultural, que se encontra abandonado atualmente.
Página 520Aqui, de onde se descortina um dos mais belos panoramas de Goiânia, edificamos esta praça como homenagem aos universitários de nossa terra. Sua arquitetura arrojada, seus jardins verdejantes, seu centro cultural de grandeza ímpar são a projeção da cidade que, lá embaixo aguarda, confiante, o futuro dessa mocidade estudiosa. Ela há de representar o verdadeiro “campus” universitário e atravessará épocas mostrando ao povo que, nesta hora, já antevíamos o porvir e acreditávamos na inteligência, na pujança e no valor da nossa juventude. (Texto da Placa de Inauguração localizada na entrada do edifício do Palácio da Cultura)
De acordo com matéria de Marcelo Gouveia (2018), publicada no Jornal Opção, o edifício, “palco de exposições e mostras de arte [...] amargura a situação de total abandono pela gestão do prefeito Iris Rezende (PMDB)”. Segundo a matéria, o espaço foi utilizado pela última vez em 2016, quando foi transformado “em um ateliê de artes coletivo comunitário para ser utilizado diariamente por diversos artistas plásticos da capital. A proposta, no entanto, não prosperou por muito tempo e foi totalmente abandonada” (GOUVEIA, 2018, s/p). Reportagem de março de 2018 de Clenon Ferreira, para o Jornal o Popular, também tratou sobre o abandono do lugar e a possibilidade de recuperação, através da arte urbana, ainda não colocada em prática.
Segundo o atual secretário de Cultura, Kleber Adorno, a pasta está com um projeto de restauro e requalificação de toda a Praça Universitária, incluindo também as obras do Museu a Céu Aberto, que também estão depredadas. “A revitalização incorpora o processo urbanístico da praça, a exemplo do Palácio da Cultura, que servirá de espaço destinado às ações de artes visuais e administração. A proposta é que se inicie de imediato as respectivas restaurações”, explica Adorno. (FERREIRA, 2018, s/p)
Ao tratar sobre o Projeto da Cidade de Goiânia, Manso (2001), fala sobre o desenho urbano do Setor Sul, afirmando que no bairro foram projetados parques internos, local hoje subutilizado em relação às suas funções originais, e que apresentam grandes conjuntos de graffiti.
Limitados pelos fundos dos terrenos [...] de forma a poderem os pedestres (sobretudo as crianças) andarem pelos parques para se locomoverem neste setor. [...] Bastaria um beco, mas foram projetados parques para satisfazer outras necessidades [...], enfim, toda uma série de confortos necessários a uma vida civilizada. (Álvares, 1942, p. 33 apud Manso, 2001, p 224)
A partir do levantamento fotográfico, foi desenvolvido um portfólio do cenário do graffiti em Goiânia, mas também foram geradas algumas discussões, como a recorrência do “meta-graffiti”, a criação de marcas, que se espalham em diversos lugares, e também, a transformação do graffiti como elemento de composição de fachadas em estabelecimentos comerciais.
3.2 Exposição
A segunda parte da intervenção foi realizada juntamente ao Colégio Estadual Deputado José de Assis, localizado no Jardim América, em Goiânia. A escola conta com alunos do nível fundamental e médio, tendo, portanto, um público de idades variadas.
A ação, feita com toda a escola, foi a realização de uma exposição fotográfica a partir das imagens levantadas durante a pesquisa, mostrando um pouco da arte urbana desenvolvida em Goiânia, com um pequeno texto apresentando um breve histórico sobre a Arte Urbana e, também, uma parte dedicada ao Beco da Codorna, representado uma das novas centralidades culturais da cidade de Goiânia, revitalizado pela arte urbana. Após a fixação da exposição fotográfica, cada uma das turmas da escola foi levada individualmente ao painel, onde foi realizada uma breve explanação sobre o que se tratava a exposição fotográfica.
Página 5213.3 Oficina e Painel Colaborativo
A última das etapas do Projeto de Intervenção foi a realização de uma oficina no dia 17 de agosto de 2018, com um grupo de estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Deputado José de Assis. A proposta original levada até a coordenação da escola era a possibilidade de uma oficina expositiva para até todos os alunos do turno matutino da escola, com a seleção de alguns dos participantes para a confecção do painel colaborativo. No dia da realização da ação, no entanto, a coordenação optou pela seleção de alguns alunos para os dois momentos da intervenção (oficina e confecção do painel), buscando nas diversas turmas alunos que tivessem interesse pelo assunto e que gostariam de participar da atividade. Dessa forma, foram selecionados pela coordenação 13 alunos das diversas turmas, que participaram das duas partes da atividade. Durante a realização da oficina foi solicitado aos estudantes que escrevessem o que compreendiam sobre arte urbana, segue a transcrição de alguns dos comentários:
“A arte urbana, como qualquer outra arte, são manifestações de pensamentos e interpretação da sociedade em meio as cidades. Protestos, críticas, libertação artística são expressados tanto com pinturas em paredes tanto com esculturas e etc”. (Estudante da Turma EP2)
“A arte não é um vandalismo, e sim um jeito de se expressar, bom eu acho que arte deveria ser mais valorizada, tudo fica mais bonito, se tiver um muro todo desgastado e se você fizer uma arte ele vai ficar mais vivo, mais criativo. Arte é vida e um jeito de se expressar, não deixe a arte morrer!” (Estudante da Turma E3M02)
Ao propor a intervenção à coordenação, foi apresentada a ideia de realizar um painel colaborativo, que foi prontamente aceita. A escola sugeriu que o painel fosse realizado em um lugar próximo à área de convivência existente na escola (local utilizado para o lanche dos alunos, tendo ao lado uma pequena quadra, para realização das aulas de Educação Física e, também, para atividades realizadas fora do horário de aulas). Próximo ao local, já existiam graffiti realizados anteriormente, um no muro e outro na caixa d’água.
Após a realização da oficina, onde foi apresentada a ideia central do trabalho, bem como uma síntese da discussão apresentada na parte do “Desenvolvimento”, foi executado um painel colaborativo junto ao grupo de estudantes, utilizando as técnicas de “lambe-lambe” e de “graffiti com estêncil”, em um muro da escola. O muro encontrava-se com uma pintura publicitária, sendo que a própria escola forneceu as tintas para a preparação do local para a realização da ação junto aos estudantes.
A experiência foi proposta para que pudéssemos concluir um ciclo iniciado no primeiro ponto da discussão, a possibilidade de transformação de um espaço em lugar, nesse caso no ambiente escolar, para aproveitamento dos próprios alunos. A realização do painel foi bem aceita pelos alunos, que gostaram da experiência, afirmando que se tratava de uma atividade diferente do que costumavam realizar na escola, inclusive nas aulas de artes.
Página 522Conclusão
A intervenção Transformando Espaços em Lugares: O graffiti como elemento cultural da paisagem urbana de Goiânia teve como objetivo propiciar a discussão a respeito da arte urbana na cidade de Goiânia, levando essa temática a um local em que ela possui pouca entrada, ou, muitas vezes, é até desconhecida, enquanto “arte”. As pessoas conhecem os graffiti e as pichações, por conviverem com eles no seu dia a dia nas ruas, mas não o consideram arte, acreditando que esta manifestação cultural e artística está restrita ao que é produzido e veiculado em museus, ou através dos meios oficiais.
No decorrer da realização da Especialização, os três temas que a intitulam (patrimônio, direitos culturais e cidadania) emergiram de diversas formas, nas mais variadas discussões. Ao escolher o objeto de estudo para a realização do trabalho final do curso, um dos primeiros objetivos foi encontrar um tema que vinculasse essas três temáticas, para que pudessem ser colocadas em prática na intervenção as discussões reveladas no curso. Após a realização do trabalho, que envolveu a discussão teórica e a intervenção, é possível confirmar através desse relatório que o graffiti dialoga com essas três temáticas.
Como afirmado no título do trabalho, procuramos observar o graffiti como elemento cultural da paisagem urbana de Goiânia, que faz parte da sua composição e da sua transformação, e, agora, podemos concluir sim que o graffiti é um dos elementos do nosso Patrimônio Cultural Contemporâneo. Ele se relaciona também, indiscutivelmente, com a temática dos direitos culturais, visto que é uma das formas de expressão mais abrangentes na cidade, e voz de diversos grupos que não eram ouvidos na discussão do direito à cultura. Por fim, ele também responde à questão da cidadania, visto que é uma representação da sociedade em suas diversas faces, ao mesmo tempo que é uma crítica a diversos pontos dela. Fazer graffiti é uma forma de exercer a cidadania, e saber apreciar o graffiti é refletir sobre ele também, pois permite uma reflexão acerca da própria vida em sociedade.
Poder levar essa arte ao Colégio Estadual Deputado José de Assis foi uma grande experiência, pois foi uma forma de colocar em prática a necessidade da interação entre educação formal (provida pela própria escola), educação não-formal (a realização da exposição e da oficina) e educação informal (o estudo do graffiti, elemento do cotidiano da vida social).
Os resultados alcançados foram além do esperado, com a emergência da discussão a respeito da arte urbana dentro da escola, entre os alunos, tanto os participantes da oficina, como os que apenas visitaram a exposição fotográfica. Também foi positivo o resultado final do painel colaborativo, executado quase integralmente pelos estudantes, e que no momento em que ficou pronto já passou a ser utilizado por eles para tirar fotos com as asas colocadas na escola.
A proposta de intervenção foi realizada em apenas uma escola, no entanto, as oficinas expositivas poderiam ter prosseguimento, com realização em outras escolas e em outras instituições de educação não formal. Outra experiência que poderia resultar como prosseguimento do Projeto de Intervenção seria a realização da exposição em outros locais, a partir das fotos colhidas ao longo do levantamento fotográfico. A produção do portfólio, resultará, no futuro, em uma publicação online, criando um acervo digital sobre o graffiti na cidade de Goiânia.
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