Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Propostas, Práticas e Ações Dialógicas

O Carro de Boi como Manifestação Cultural no município de Cezarina-GO

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Resumo

Este trabalho tem como objetivo incentivar os jovens a participar, valorizar e preservar a cultura popular e o patrimônio cultural que permeiam a sua própria aprendizagem, formação e expressão de ideias e opiniões. Foram realizadas ações que versam sobre a importância do carro de boi como manifestação cultural para o município de Cezarina –GO, pois percebemos que no passado o veículo teve muita evidência na região, sendo utilizado por nossos antepassados como meio de transporte de produtos agrícolas, de animais de pequeno porte e de pessoas. Nos dias atuais, com a modernização, o carro de boi tem a sua funcionalidade um pouco reduzida na zona rural, porém, possui papel de destaque na cultura do nosso município. É exposto como ornamento em propriedades rurais e em centros comerciais, como o Casarão Goiano, por exemplo, e utilizado em desfiles, cavalgadas e na Romaria dos Carreiros, na tradicional festa do Divino Pai Eterno em Trindade-GO. Diante de tais constatações, nossa intenção foi a de realizar ações com o intuito de contribuir para a valorização do carro de boi como manifestação cultural do município. Tais atividades ocorreram com alunos do 7º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Maria do Carmo Franco, situada na Rua do Comércio S/N em Linda Vista, Cezarina-GO.

Palavras-chave: Carro de boi. Patrimônio Cultural. Identidade e Cultura Popular.

Introdução

Este trabalho tem como objetivo incentivar os jovens a participar, valorizar e preservar a cultura popular e o patrimônio cultural que permeiam a sua própria aprendizagem, formação e expressão de ideias e opiniões. O relatório expõe a importância do carro de boi como manifestação cultural para o município de Cezarina–GO, pois o estudo sobre o Patrimônio Cultural e a importância de sua preservação despertou em mim o interesse de discorrer sobre esse bem, que representa uma das formas primitivas de transporte no meio rural.

O carro de boi tem papel importante no nosso município. Era utilizado por nossos antepassados como meio de transporte de produtos agrícolas, de animais de pequeno porte, de pessoas e, até mesmo, em cortejo fúnebre. Nos dias atuais, com a modernização, o carro de boi tem a sua funcionalidade um pouco reduzida na zona rural, porém, é destaque na cultura do nosso município, sendo exposto como ornamento em propriedades rurais e em centros comerciais, como o Casarão Goiano, por exemplo, bem como utilizado em desfiles, cavalgadas e na romaria dos carreiros, na tradicional festa do Divino Pai Eterno em Trindade-GO.

No decorrer desta especialização eu fui descobrindo como é importante a preservação do Patrimônio Cultural, pois a minha concepção sobre o assunto era um pouco reduzida. Agora, com uma visão mais ampla, gostaria de contribuir compartilhando com os alunos a importância da manifestação cultural e da preservação do patrimônio cultural, vendo que esse tema abrange o campo individual e social e é uma forma de expressar e manter viva a história e a tradição de um povo.

Segundo Vygotsky, a escola tem uma contribuição importante na troca de conhecimentos, pois nela o aluno vivencia diariamente a diversidade cultural no contato com professores, colegas, entre outros. Quando o aluno vem para o ambiente escolar traz consigo uma bagagem de conhecimentos e vivências que não podem ser descartadas e, sim, trabalhadas, para que haja ampliação e um melhor conhecimento.

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A partir dessas considerações, enfatizo que o tema é relevante e pode levantar reflexões e discussões que venham contribuir com a valorização e preservação das manifestações culturais. Nesse caso, colocando em destaque o carro de boi como manifestação cultural para o município de Cezarina e, com isso, buscando as raízes culturais do município e despertando principalmente nos mais jovens a motivação e o interesse sobre a sua própria cultura, com o objetivo de formar cidadãos mais sensíveis e conscientes no que diz respeito aos bens culturais.

Objetivo Geral

Proporcionar aos estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Maria do Carmo Franco ações em que o conhecimento e a busca dos valores culturais evidenciem a importância do Carro de Boi como Manifestação Cultural para o Município de Cezarina –GO.

Objetivos Específicos

Desenvolvimento

1. Carro de Boi: da Antiguidade as Dias Atuais

A história do carro de boi remonta há mais de cinco mil anos antes de Cristo, provavelmente sua origem se deu desde a idade da Pedra ou no período Neolítico. Os registros históricos mais coerentes aparecem na China antiga, Índia, Suméria, Egito antigo e até mesmo em Israel, tendo registro histórico na própria Torah, ou Antigo Testamento cristão. O documento narra que Davi levava a Arca da aliança para Israel em um carro de boi, descrição encontrada no livro 2 de Samuel, capítulo 6, verso 3: “E puseram a arca de Deus em um carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que está em Geba; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo” (Bíblia Sagrada, Antigo Testamento, 2Sm6:3).

O carro de boi é formado basicamente por compostos talhados de madeira, como uma carroça, puxado por bois. A quantidade de bois depende muito do terreno e a interligação desses animais, denominada emparelhamento, se dá através de um dispositivo conhecido por “canga”.

A função primordial do carro de Boi era, inicialmente, a de transportar, pessoas e insumos. Na China era usado para levar o arroz dos campos alagados para os centros comerciais, ao longo do Rio Amarelo e YangTsé. Na Europa possuía fundamentalmente a mesma função, de transportar pessoas e coisas e, por isso, era apelidado por diversos nomes, como “Boeiro” em Portugal, por exemplo.

A cultura e a tecnologia do carro de boi se estendeu mundo afora, principalmente na era da colonização, quando os Europeus colonizaram a África e a América Latina. Aqui no Brasil ele foi fortemente usado em quase todo o território nacional, mas, principalmente no Sul, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, recebendo o nome de “carreta”, nos pampas gaúchos, e “cambona”, em algumas regiões do interior do Brasil.

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Conforme destaca o jornal Livre, online, disponível em http://www.jornallivre.com.br/o-que-e-carro-de-boi, Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil, trouxe consigo carpinteiros e carreiros práticos, e, em 1549, já se ouvia o “cantador” nas ruas da nascente cidade de Salvador/BA. A presença do carro de boi também é mencionada no “Diálogo das Grandezas do Brasil”, de Ambrósio Fernandes Brandão onde narra o seguinte trecho: “É necessário que tenha (…), 15 ou 20 juntas de bois com seus carros necessários aparelhados (…)”, e, mais adiante, “A vaca, sendo boa, é estimada a (…), e o novilho, que serve já para se poder meter em carro, a seis e a sete mil réis (…)”. (Scavacini 2013, p.01).

Também averigua-se que durante os séculos XVI e XVII, no período Brasil-colônia, o carro de boi foi o principal transporte da indústria açucareira, transportando a matéria-prima para o engenho e o produto final para as cidades. Segundo Scavacini (2013),

“{…) transportavam materiais de construção para o interior e voltavam para o litoral carregados com pau-brasil e produtos agrícolas produzidos nas lavouras interioranas. No Brasil colonial, além dos fretes, o carro de bois conduzia famílias de um povoado para outro muitas vezes transformado em “carro-fúnebre” e os carreiros precisavam lubrificar os “cocões” para evitar a cantoria em hora imprópria”.

No Rio Grande do Sul, o carro de boi ainda atuava como meio de transporte de exportação, conduzindo e escoando a produção agrícola para Argentina e Uruguai. Conforme atesta Scavacini (2013), “na Guerra do Paraguai, os carretões transportaram munições, mantimentos e serviram ainda como ambulâncias”. O carro de boi somente perdeu sua importância quando foi substituído no século XVII pelo transporte conhecido popularmente como “a tropa de burros”, conforme assinala Bruna Scavacini:

Mais leves e mais rápidos, os muares não exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No final do século, vieram os cavalos para puxar carros, carroças e carruagens, e o carro de bois foi proibido por lei de transitar no centro das cidades, ficando o seu uso restrito ao meio rural. (SCAVACINI, 2013, p.02).

Por fim, os veículos motorizados aceleraram o processo de decadência do carro de bois no Brasil, na Argentina, em Portugal, na Espanha, na Grécia, na Turquia, no Irã, na Indonésia e na Malásia. Contudo, em todos esses lugares, artesãos continuaram a construí-los e a aperfeiçoá-los e, graças a essa gente, o carro de bois persiste na sua marcha pela história. (SCAVACINI, 2013, p.03).

A tecnologia logística, devido a globalização e graças a terceira e quarta revolução industrial, sofreu grandes aprimoramentos. Os antigos meios de transporte deixaram de ser populares e muitos desapareceram. Outros tem lutado para se manter ao menos como patrimônio cultural, como é o caso do carro de boi.

No decorrer dos tempos a tecnologia veio avançando, os meios de transporte continuaram evoluindo e o carro de boi foi perdendo seu espaço. Muitos desapareceram, deixando de ser conhecidos para as novas gerações, porém, existem ainda pessoas e instituições que lutam para que manifestações culturais como essas do carro de boi se mantenham vivas, como é o caso do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão responsável por essa área no Brasil.

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Mesmo com a modernidade interferindo no correr do tempo, no Estado de Goiás (destacando o município de Cezarina) a cultura e a tradição do carro de boi é muito forte e prevalece viva em nosso meio. É um orgulho saber que o carro de boi vem tendo seu reconhecimento cultural porque foi através dele que se iniciou toda a história econômica, social e cultural do nosso município. Relata o carreiro Batista Franco Filho:

“Pra mim é um orgulho poder falar do carro de boi porque sou apaixonado por essa cultura, ainda mais por saber que o carro de boi teve uma função muito importante pro aumento do nosso município. Cresci no meio de uma família que sempre morou na zona rural, onde os meus avôs e meus pais sempre contavam causo sobre o carro de boi. Por ser de uma família de carreiros sempre me despertou a curiosidade do conhecimento do carro de boi, ainda pequeno gostava de visitar a fazenda do Sr. Cacildo pra ver o Sr. Tamiro carrear milho, pra ouvir o carro cantar, por ser de uma família de carreiro sinto que isso está no sangue - quando o carro canta a vida se encanta e os maus se espanta, cresci com essa paixão, dediquei na lida ensinando os bois para puxar o carro. Hoje em dia trabalho no Casarão Goiano, ponto turístico no município de Cezarina, na lida com os bois no engenho e no carro de boi, para mostrar pros visitantes. Preparo os bois durante o ano inteiro par ir pra festa da Trindade, no tradicional desfile de carro de boi. Sou carreiro com orgulho e hoje já ensino meu filho de seis anos de idade na lida com os boi de carro. Eu quero agradecer e dar os parabéns pra professora Maria Amélia, que me convidou pra participar desse trabalho, fiquei feliz em poder ajudar e saber que com o pouco que eu sei pude ajudar os jovens a entender um pouco mais sobre a cultura do carro de boi.” (Batista Franco Filho “carreiro” em 03/09/2018).

Nesse sentido, o desenvolvimento do projeto de intervenção intentou contribuir principalmente com os jovens, no que diz respeito à importância que o carro de boi tem para a cultura do município de Cezarina, sendo hoje um patrimônio cultural. Segundo o acervo da página pessoal do Ms. Serrano Neves (2002),

“O uso do carro de bois como meio de transporte de cargas praticamente desapareceu, mas a tradição se mantém, como em Goiás – onde sou radicado – existe uma romaria feita nesses carros, que se deslocam em caravanas engrossadas a cada entroncamento, carregando o “de um tudo” para a viagem”.

Os bois devem ser escolhidos ainda quando são apenas bezerros. Escolher conforme o padrão de pelagem, índole do animal e seu porte são requisitos fundamentais; também é importante castrar os animais. O treinamento é árduo, pois um boi deve acostumar-se a andar emparelhado ao outro, sem brigas, por isso sua escolha desde bezerro é fundamental para que eles se acostumem com a presença um do outro e se transformem em uma equipe.

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Os bois devem puxar juntos o carro, mas cada dupla possui sua especialização como, por exemplo, os de coice, responsáveis pelo equilíbrio do carro, outros são responsáveis pela potência, outros pela velocidade e outros de guia, que seguem o comando do responsável pela carruagem, aqui denominado de candieiro. Uma vez crescidos, o carreiro deve argolar seus chifres e amarrar interligando essas argolas umas às outras, valendo lembrar que os próprios novilhos escolhem seu lado no pareamento do carro.

Ajojados ou não, basta entrar no curral e suspender a canga que eles entram debaixo dela, encaixando o pescoço nos canzis, e aí é só atar a brocha (corda de couro que segura os canzis por debaixo do pescoço. Um carro clássico tem pelo menos três juntas: a de coice junto ao cabeçalho, uma de meio, e a junta de guia composta por bois mais inteligentes ou experientes, que sabem o caminho por onde o carro pode passar. (NEVES, 2002, p.01).

Candiar um carro de boi geralmente é um serviço para criança, de tão fácil que é. Pois, como visto, basta erguer a canga que os animais se alojam sozinhos. Mas, dirigir um carro de boi exige muita calma, é necessário que o candieiro tenha conquistado a confiança dos animais e que estes conheçam sua voz, pois no decorrer da viagem um boi pode esbarrar no outro e daí se torna necessário o comando verbal, ordenando que se afaste ou que se adiante. Se o boi não conhecer ou não for íntimo do candieiro pode não cumprir a ordem, e quando não cumprem é necessário que o carreiro use o ferrão, que é uma vara comprida com um ferrão na ponta, capaz de alcançar todos os bois da junta.

2. O Carro de Boi como Patrimônio Cultural

A cultura como patrimônio tem papel imprescindível na formação da identidade de uma nação e na formação de grupos ou categorias sociais. Por exemplo, há várias culturas no Sul que são desconhecidas no Centro-Oeste e vice-versa, embora sejamos da mesma nação. Mas, tais tradições definem o povo local. Portanto, preservar e divulgar a cultura, transformar a tradição em patrimônio é fundamental para o desenvolvimento cultural de um povo e sua perpetuação. Em nosso país, essa consciência se deu a partir do início do século XX:

No Brasil, as primeiras medidas oficiais surgiram em 1936, a partir de um anteprojeto de Mário de Andrade e alguns intelectuais da época, com suas concepções sobre arte, história, tradição e nação, através da criação do SPHAN-Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.(ROCHA, 2010, p.02)

Quando falamos em patrimônio, a primeira associação que nos vem à mente são os bens materiais. Entretanto, nesse último século a definição da noção  de patrimônio se ampliou, passando a agregar também os bens de natureza imaterial, conforme está escrito na Constituição brasileira de 1988:

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Art.215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso as fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais, § 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. Art.2016. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I- as formas de expressão; II- os modos de criar, fazer e viver; III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico–culturais; V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamentos e preservação.

Podemos, então, afirmar que patrimônio cultural são bens de natureza material e imaterial, conforme está escrito na Constituição brasileira de 1988. Tudo que foi produzido e repassado como herança, cultura, experiências e memórias são diluídos a fim de formarem nosso patrimônio cultural, nossa riqueza que nos define como povo, tribo e nação.

Segundo Pelegrini (2006), as noções de patrimônio cultural estão vinculadas às de lembrança e de memória, que “são fundamentais no que diz respeito a ações patrimonialistas, uma vez que os bens culturais são preservados em função da relação que mantêm com as identidades culturais”. E para preservar e valorizar é de fundamental importância o conhecimento, pois quem não conhece algo não irá valorizá-lo ou preservá-lo.

A cultura do carro de boi foi trazida de Minas Gerais para Goiás, e hoje ela é perpetuada e aferida como Patrimônio cultural do povo goiano. Há contos que narram que o carro de boi chegou a Goiás na época das bandeiras, através do Diabo Velho (Anhanguera) que o para transportar os metais preciosos encontrados em Goiás:

Conta a lenda que o Estado de Goiás foi conquistado, por volta de 1722, através de um gesto de “heroísmo” de Bartolomeu Bueno da Silva. Durante o ciclo do ouro, encontrando o precioso metal em terras ocupadas pelos índios Araés (pertencentes ao tronco dos jês), o bandeirante enfrentou também, por parte dos antigos habitantes da região, uma resistência natural de defesa de seu território. Para mostrar aos silvícolas os seus poderes sobrenaturais, lançou mão o “destemido” conquistador de um grandioso e espetacular artifício. Com uma bacia de aguardente, aquele que se tornaria mais tarde um dos grandes “heróis” da expansão territorial do Brasil nos rumos da região Centro-Oeste, afirmou aos “ignorantes” selvagens que se eles não se submetessem aos desígnios da coroa portuguesa, ele, o “Anhangüera”, incendiaria todos os rios e lagos. Esta submissão significava indicar a localização das jazidas de ouro do local. Grandioso e espetacular foi também o gesto de espanto dos que assistiam à “fenomenal” representação daquele homem estranho, postando-se de rosto no chão em reverência ao “Anhangüera” (Diabo Velho). (VELOSO, 2010, p.01-02);

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Lendas ou não, o carro de boi era o principal meio de transporte e evasão de divisas. Historicamente não encontramos quase nada de registros apontando o carro de boi no Brasil colônia, mas o contexto nos leva a entender que ele foi muito utilizado pelos bandeirantes e há relatos e tradições que também interligam a chegada do carro de boi através dos mineiros.

Bandeirantes ou mineiros não é o foco, mas sim a cultura que se arraigou através desse veículo de transporte e o quanto ele passou a ser significativo para Goiás desde o primeiro século da conquista do Brasil; essa é a grande temática. Assim como os bois, o carro de boi foi chegando de mansinho em Goiás - pelos bandeirantes ou pelos mineiros, não importa - foi se transformando em um grande e principal meio de transporte do campo para a cidade, tomando forma cultural no coração do goiano. O carro de boi se perpetuou na memória dos carreiros e hoje é tido como patrimônio cultural e muito utilizado em romarias, como a de Trindade, que acontece anualmente no findar de junho e início de julho. Segundo Veloso (2008),

“Na ambiência das tradições goianas, principalmente nas pequenas cidades e no meio rural, ainda é possível se ouvir falar em “gemido” ou “cantiga” do carro de boi, referência ao som produzido pelo atrito do eixo de madeira daquele meio de transporte com as peças dos cocões e dos chumaços”.

Conforme atesta Neves (2002, p.01) em seu acervo de textos pessoais, “quem já conviveu com a mansidão dos bois e ouviu o cantar do carro subindo uma serra não esquece jamais”. Infelizmente é uma cultura que pode desaparecer, pois os sucessores dos carreiros hoje estão mais ligados em tecnologias móveis a serviço do agronegócio, o meio ambiente está com uma política mais acirrada e, até mesmo, cortar a madeira própria para a construção do carro de boi infere grandes responsabilidades e minuciosos passos.

Fabricar um carro de boi carece de uma especialização, pois para cada peça existe uma madeira própria. Por exemplo, a do canzil, que é uma peça da canga, leva o nome de canzileiro. É necessário, acima de tudo, que surja interesse em não deixar essa cultura desaparecer, é preciso que os mestres da fabricação consigam sucessores, pois mais que um meio de transporte transformado em cultura popular, fabricar carros de boi é uma arte.

Algumas peças que compõem o carro de boi:

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Argolão: Grande argola de ferro presa à extremidade posterior do cabeçalho do carro de boi, junto ao requevém. Serve para amarrar os bois de corda na descida das serras e, assim, frear o carro ou para transportar em arrasto troncos de árvores pesados;

Aro da roda: Aro metálico que circula cada roda do carro de boi e tem por função proteger a roda;

Arreia: Suportes que atravessam transversalmente o cabeçalho, sobre os quais se apoiam as tábuas da mesa;

Braçadeira de metal: Peça de metal utilizada para travar as chedas e o cabeçalho, bem na frente da mesa;

Brocha: Tira de couro cru, curtido e torcido, que serve para prender um canzil ao outro, passando por baixo do pescoço do boi;

Cabeçalho: A longa trave que liga o corpo do carro à canga, que se atrela aos bois;

Cambota: Peça semicircular de madeira, cada roda tem duas cambotas e um meião;

Canga: Peça em que se prende o cabeçalho ou o cambão, e que é colocada sobre o pescoço de dois bois, responsável pela transferência de energia mecânica ao cabeçalho;

Cantadeira: Parte do eixo que fica em contato com a parte inferior do chumaço. O contato entre eles produz o som característico do carro;

Canzil: Peças em forma de estacas trabalhadas que atravessam a canga de cima para baixo em quatro pontos, de modo que o pescoço de cada boi fique entre duas dessas estacas;

Chaveta: Alça de ferro na ponta do cabeçalho;

Cheda: Prancha lateral do leito do carro de bois, na qual se metem os fueiros;

Cocão: Cada uma das partes fixadas por baixo das chedas, que servem para fixar, duas de cada lado do carro, cada um dos chumaços;

Eixo: Que liga as duas rodas e sustenta a grande mesa de madeira;

Fueiro: Cada uma das estacas de madeira que servem para prender a carga ao carro;

Meião: Parte central da roda;

Mesa: A superfície onde se coloca a carga;

Óculos ou oca: Orifício situado nos limites entre o meião e a cambota que tem por função amplificar o ringir dos cacões;

Orelha: A orelha é uma haste de madeira atravessada perto da chaveta e também serve para segurar o cabeçalho;

Recavém: Ou requevém, é a parte traseira da mesa.

Roda: Feita de madeira nobre (Jacarandá), constitui-se de três pranchas unidas por travas de madeira (cambota) colocadas internamente nas pranchas por furos retangulares, estas fixadas por grampos e chapas de ferro. A circunferência é coberta com chapa de aço fixada à madeira com grampos de aço cuja forma arredondada deixa um rastro característico.

Tamoeiro: Tira de couro cru, curtido e torcido, que serve para prender o cabeçalho ou o cambão à canga; boi. (Dicionário de Caetitenês, de André Koehne; Museu do Carro de Boi, apud VIEIRA, 2014, p.02).

Hoje não há uma grande diversidade de material escrito sobre carros de bois, mas a cultura tem procurado se perpetuar de diversas maneiras, uma delas por meio da música. Há vários cantores que adquiriram nome artístico ligado ao carro de boi, como por exemplo, Tião Carreiro, e são várias as modas de viola que cantam a tradição e a história do carro de boi. Segundo Neves (2002, p.02) em seus textos de acervo pessoal, “A primeira música sertaneja considerada moderna por romper com os padrões, foi produzida no início da década de sessenta, num festival da Rádio Record”. Tal música é tocada até os dias atuais, se trata da música “Poeira”, de Serafim Colombo Gomes e Luís Bonan, lançada no ano de 1997. Parte dela diz:

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O carro de boi lá vai
Gemendo lá no estradão
Suas grandes rodas fazendo
Profundas marcas no chão
Vai levantando poeira, poeira vermelha
Poeira, poeira do meu sertão
(https://www.letras.mus.br/daniel/92602/, acesso em 23/09/2018)

O carro de boi como patrimônio cultural tem se firmado no coração do povo goiano através da história, das melodias e, hoje, principalmente através das Romarias. Matéria publicada pelo site G1 de notícias traz como manchete: “Carreiro começa caminhada de 300 km com carro de boi até a festa do Divino Pai Eterno, em Trindade” e diz em subtema: “Em cumprimento a promessa após ser curado de doença, ele vai sair de Catalão rumo ao desfile na 'Capital da Fé'; percurso deve durar 20 dias.” (fonte https://g1.globo.com/go/goias/noticia/carreiro-comeca-caminhada-de-300-km-com-carro-de-boi-ate-a-festa-do-divino-pai-eterno-em-trindade.ghtml. Por Sílvio Túlio, G1, GO. Atualizado 14/06/2018 09h58). Diz a reportagem:

Após um período usado para amansar bois, o produtor rural Denis Magalhães, de 54 anos, começou, nesta quinta-feira (14), a caminhada para participar do desfile de carreiros na Festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, Região Metropolitana de Goiânia. Morador de Catalão, no sudeste do estado, ele e os animais, que puxarão os carros, vão percorrer o trajeto de cerca de 300 km em 20 dias.

A Romaria dos Carros de Boi de Trindade (GO) agora é oficialmente patrimônio cultural imaterial do Brasil, reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A tradição do carro de boi vem sendo repassada de geração para geração e, com isso, resistiu ao tempo e se mantém viva em nosso meio. Foi com o carro de boi que se deu o início de tudo no Brasil. A tradição de carros de bois é muito forte em Goiás, é uma cultura que está enraizada no coração do povo goiano.

O carro de boi é um bem que deve ser preservado porque faz parte da identidade de um povo, sendo um patrimônio material/imaterial e natural do povo brasileiro. Material porque é um objeto concreto, ou seja, pode ser tocado; imaterial porque é uma tradição que vem sendo repassada de geração para geração; e natural porque tem grande importância e valor para uma sociedade.

Em Cezarina não é diferente. Como veremos a seguir, a cultura do carro de boi se transformou em patrimônio cultural da região e é mantida no município de Cezarina. Entre outros, quero mencionar o Sr. Artur Franco (Vito), que todos os anos, como de tradição, sai em romaria em carros de boi por 70 km para Trindade na tradicional festa onde acontece o desfile dos carros de bois.

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3. A Tradição e a Cultura do Carro de Boi no Município de Cezarina

A cultura é construída e vai sendo transmitida de pais para filhos, por meio das manifestações culturais. No caso, o carro de boi, que foi muito utilizado como meio de transporte e, com isso, contribuiu para o crescimento da cidade de Cezarina – Goiás. Assim, a cultura permanece até os dias atuais, tendo o seu papel importante no processo de formação da cidade, quando vieram para o local a família dos Turonis (conhecidos como poloneses) e a família Franco, que foram pioneiros no município, como nos relata a historiadora Silvia Maria Pereira: “Os pioneiros (famílias Franco da Costa) estão na região desde o fim do século XIX. Um deles, que é o senhor Geraldo Cézar Franco, disse em entrevista realizada por Sílvia Maria Pereira:

“A família Franco veio em 1879, com 11 carros de boi e setenta escravos, deixaram o sertão de Minas Gerais, mais precisamente a fazenda Baús e dirigiram para Goiás, mais precisamente a fazenda Boa Vista aqui no município de Palmeiras de Goiás. Fazenda esta, que realmente hoje é o município de Cezarina, essa família aqui chegando prosperou, porque as terras férteis com uma fazenda (...) bastante grande, chegando ao ponto de criar base muito forte dentro do município atual de Cezarina. (Geraldo Cézar Franco – Entrevista realizada dia 24/03/2003 em Cezarina/GO por Sílvia Maria Pereira).

Como relata a historiadora em sua monografia, no município de Cezarina uma das atividades econômicas era a cal, extraído da pedra queimada. Esse produto era transportado de carro de boi para a nova capital, Goiânia, com o objetivo de ser utilizado nas construções. Inclusive, o relato de uma senhora pioneira do município diz que a cal que foi para Goiânia era utilizada na construção do Palácio das Esmeraldas (sede oficial do governo do estado). A maior parte foi oriunda do município de Cezarina, transportada com o uso do carro de boi, o meio de transporte utilizado na época.

O carro de boi hoje é patrimônio cultural de Cezarina. Patrimônio cultural porque está interligado às origens do município e permanece até os dias atuais sendo utilizado por muitos, como já descrevi, como ornamentos em centros comerciais, fazendas, desfiles, cavalgadas, entre outros.

O carro de boi foi perdendo espaço com a evolução automobilística, porém, em Cezarina ainda existem pessoas que lutam para que a preservação desse bem cultural permaneça na história do nosso município. Entre elas quero mencionar aqui o Sr. Artur Franco Almeida (Vito Franco), o Sr. Gilberto Martins (Dada), o Sr. Batista Franco, dentre outros que lutam para que essa cultura se perpetue para as gerações vindouras. Durante o ano inteiro as pessoas que amam essa tradição se preparam para a tão esperada festa do Divino Pai Eterno, onde os amantes do carro de boi tem o privilégio de desfilar com os seus carros ornamentados, no maior desfile de carros de bois do mundo, em Trindade-Goiás. Infelizmente, a Câmara dos Vereadores de Cezarina não promulgou nenhuma lei que contribua para que o carro de boi seja reconhecido como patrimônio cultural.

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Em maio deste ano foi realizada uma feira cultural, trazida à cidade pela Associação de catireiros, por meio de um projeto apresentado à Secretaria Estadual de Cultura através do vereador Paulo Roberto. Nesta foi apresentada a rica diversidade cultural do nosso município. O carro de boi foi um objeto cultural exposto na feira para o conhecimento e apreciação de muitos. Como estou estudando sobre esse assunto, estive presente e gravei um vídeo e fiz algumas imagens do evento, mostrando a importância de perpetuar essa tradição no município e incorporá-la a todos os cidadãos, pois ela, independente de fé e religião, é um patrimônio cultural importante para o município de Cezarina.

O mundo hoje acelera rumo às novas tecnologias que vão surgindo, à comodidade e facilidade que elas trazem, contribuindo para que a funcionalidade de muitas coisas se perca e que sejam ultrapassadas. O carro de boi, o grande e famoso gigante do sertão, corre o risco de ser apagado da memória nas próximas gerações. E, com o intuito que essa cultura permaneça viva na memória do povo de Cezarina, escolhi realizar ações que visem à valorização e preservação desta manifestação cultural para o município.

Felizmente, em Cezarina ainda encontramos pessoas sensíveis à cultura, que valorizam a história. Em Linda Vista, por exemplo, distrito de Cezarina onde sou residente, um empresário investiu em um centro comercial “Casarão Goiano” situado na rodovia BR-060, S/N Trevo de Cezarina, um ambiente rústico que resgata o valor cultural e a tradição do carreiro. Ali tive a oportunidade de fazer uma visita com os jovens da Escola Estadual Maria do Carmo Franco, alunos do 7º ano do Ensino Fundamental, e lhes apresentar todas as curiosidades, história e tradição do carro de boi. Existe um espaço cultural rico em antiquários demonstrativos da cultura rural local, e dentre essas peças está o carro de boi. Vale dizer que esse ambiente de clima histórico transborda de clientes todos os dias da semana, mostrando que está no coração não apenas do povo cezarinense, mas do goiano em geral, a paixão pela história e pela tradição do carro de boi.

Metodologia

A metodologia se deu utilizando em primeiro lugar a pesquisa bibliográfica, com a finalidade de conhecermos mais sobre o carro de boi e, posteriormente, adotamos a metodologia de educação patrimonial. Segundo Varine (2012) e Horta (2006), a educação patrimonial é uma ação de caráter global, dirigida a uma população e a seu território, desenvolvida no ensino formal e no ensino não-formal, cujo objetivo é o desenvolvimento local, e não uma mera aquisição de conhecimentos sobre o patrimônio, ou uma animação cultural. Procura-se integrar o maior número de membros das comunidades a "conhecer, a dominar e a utilizar o patrimônio comum" como forma de promover o desenvolvimento do território no qual estão inseridos. Destacam as autoras que não se trata de uma educação "bancária", como classifica Paulo Freire, "mas libertadora, uma vez que participa da emergência, da confiança em si, da capacidade de iniciativa, do reforço da identidade social e cultural, da coesão social pelo compartilhamento do patrimônio comum".

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O método utilizado é o da troca, "compartilhamento de conhecimentos entre tradições orais, os saberes não formalizados, as práticas herdadas de um lado e os conhecimentos e referenciais eruditos, os aportes teóricos de pessoas de fora e mais formadas por outro lado". Por não ser propriedade dos agentes públicos, a educação patrimonial pode ser desenvolvida por diversos atores sociais e deve ser programada para longo prazo, considerando-se os contextos locais.

A educação patrimonial é um meio que nos leva a compreender os acontecimentos no mundo e principalmente no mundo que nos rodeia em todos os aspectos. É muito importante, pois nos leva a entender o universo social e cultural que nos envolve durante a trajetória histórica no decorrer dos tempos. Acontece de várias maneiras no ensino formal e não formal. O Projeto Político Pedagógico é um instrumento que estimula a comunidade escolar a pensar coletivamente e refletir sobre a situação pedagógica da escola e, a partir daí, elaborar uma proposta para intervir na realidade existente e promover hábitos necessários, pois projeto significa lançar para frente, antever um futuro diferente do presente.

Atualmente, percebe-se na Escola um novo paradigma que propicie um processo educativo atuante e democrático, com ideias inovadoras, numa perspectiva que atenda a diversidade cultural sem nenhum tipo de discriminação, contemplando os princípios e características de uma escola de qualidade para todos. Nesse sentido, ressaltamos a importância da educação patrimonial no processo educacional, como estimuladora de práticas para a preservação e valorização do patrimônio cultural. A educação patrimonial se faz necessária no Projeto Político Pedagógico e nos currículos escolares desde as séries iniciais, pois o aluno/sociedade conseguirá assim, contribuir na construção de uma comunidade mais participativa, no que se refere às questões patrimoniais da sociedade em que está inserido, bem como entender que também é um agente produtor da história. Desta forma, com o objetivo de preservar e valorizar a cultura e as manifestações culturais, e sendo o carro de boi um objeto cultural que faz parte da trajetória histórica e cultural no município de Cezarina, espero contribuir através da aplicação da metodologia da educação patrimonial para que esta manifestação cultural no município de Cezarina se perpetue e permaneça viva para as gerações vindouras.


A educação patrimonial é dividida em etapas:


Neste trabalho, essas etapas foram desenvolvidas nas ações da seguinte maneira:

OBSERVAÇÃO: Através de um diagnóstico foi detectada a necessidade de trabalhar este tema cultural em virtude de ser uma prática em Cezarina, com o objetivo de contribuir para a conscientização da importância do tema para o município.

REGISTRO: Através de vídeos, fotos, entrevistas com pessoas da região, réplica de uma miniatura do carro de boi, relato de um carreiro (Batista Franco Filho) contato direto com o objeto etc, visando proporcionar aos alunos uma experiência real da importância da educação patrimonial para a preservação do carro de boi como objeto cultural para o município de Cezarina-GO.

EXPLORAÇÃO: desenvolvemos da seguinte forma: através de vídeos, fotos, leitura e interpretação de texto sobre o tema trabalhado, história da tradição do carro de boi contada por um carreiro (Batista Franco Filho), apresentação de uma música ao som do violão que faz parte da tradição dos carreiros etc, a fim de despertar o prazer pela história e tradição do carro de boi no município de Cezarina-GO.

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Procedimentos

A intervenção cultural aqui relatada foi desenvolvida no mês de março de 2018 em várias etapas: Na primeira semana, aula expositiva apresentação do projeto e suas etapas. Na segunda semana, trabalhamos o conhecimento prévio sobre o tema e texto explicativo sobre o carro de boi; também foi proposto para os alunos que entrevistassem pessoas, como os pais ou moradores da região, perguntando sobre o carro de boi nos tempos primórdios.

Na terceira semana foi aberto um espaço na aula para que os alunos se expressassem sobre as entrevistas realizadas por eles e, ainda na mesma semana, foram apresentados vídeos sobre a preservação do patrimônio cultural. Na quarta e última semana foram exibidos vídeos dos carreiros no desfile em Trindade-Goiás. Também foi trabalhado com os alunos um grupo de imagens e músicas sobre o carro de boi.

E, finalizando, na última semana de março fizemos uma aula de campo, com a ajuda de alguns colegas de trabalho, fomos com os alunos visitar o Casarão Goiano para conhecer seu espaço cultural, onde foi realizada uma palestra com o carreiro Batista Franco Filho, de 39 anos. Houve também um momento para apresentação com música e, em seguida, o carreiro mostrou as técnicas realizadas com os bois para o transporte do carro de boi.

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Na sequência, voltamos para o povoado, onde foi realizada a manifestação cultural na praça central de Linda Vista, onde os alunos assistiram e desfilaram no carro de boi e cada um que estava envolvido no projeto recebeu como lembrança uma miniatura do carro de boi. Voltando ao ambiente escolar os alunos fizeram um relatório sobre o projeto cultural.

Resultados

O resultado da ação cultural foi positivo, notório pelo interesse e participação dos alunos, como nos relataram os alunos Natália Vitória Cordeiro Leite e José Neto Amaral Cândido:

A tia Maria Amélia desenvolveu o projeto sobre o carro de boi e escolheu o 7º ano para ajudá-la. Então, no decorrer dos dias ela foi apresentando esse projeto para nós, ela mostrou vídeos, fotos, música “O carro de boi e a faculdade”, despertando a importância da nossa cultura e nunca deixando que ela morra. Aí veio a ideia de irmos no Casarão, lugar muito bonito que tem várias coisas antigas: Carro de boi, monjolo, roda d’água. Nós fomos, entramos, conhecemos tudo, andamos e depois lanchamos, aí o carreiro Batista Franco contou toda a história do carro de boi pra gente, sobre o desfile de Trindade, que é o maior do mundo. Ele tocou violão e cantou a música “Romaria”, todos agradeceram e a tia Maria Amélia deu uma lembrancinha do Carro de boi para cada um de nós. Depois disso, o carreiro Batista Franco foi mostrar como é encarriar os bois para colocar as cangas e em seguida viemos para a cidade para a Manifestação na praça. Foi muito legal e divertido, andamos em cima do carro de boi, foi muito boa a experiência e muito divertido esse passeio, a “manifestação cultural” vai ficar para sempre em nossas memórias e espero que essa cultura nunca morra e viva para sempre em nossos corações. Obrigada tia Maria Amélia, adoramos ajudá-la. (Natália Vitória Cordeiro Leite. Aluna do 7º ano do E.F da Escola Estadual Maria do Carmo Franco- de Linda Vista Distrito de Cezarina –Go em 09 de abril de 2018).

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Segundo o aluno José Neto Amaral Cândido:

Eu aprendi muito sobre o carro de boi, a cultura do carro de boi é muito querida pela região de Cezarina. Eu aprendi que pra o carro de boi é preciso os bois próprios pra essa cultura, aprendi que o carro de boi era utilizado antigamente para carregar balaio de milho e também para funerais, os funerais aconteciam em silêncio pois o canto do carro de boi é sinal de felicidade, no momento do cortejo o carro de boi não podia cantar pois era um momento triste.(José Neto Amaral Cândido Aluno do 7º ano do E. F. da Escola Estadual Maria do Carmo Franco- de Linda Vista Distrito de Cezarina–GO, em 09 de abril de 2018).

A psicopedagoga, professora Raquel Corcelli de Oliveira Guimarães, que também participou e nos apoiou nesse trabalho relata:

Vejo que foi de muita relevância para a turma do 7º ano da Escola Estadual Maria do Carmo Franco o trabalho desenvolvido pela historiadora Maria Amélia Batista Franco. Este trabalho trouxe conhecimento sobre a história do carro de boi e sua importância para o município. A aula de campo que tivemos ficará para sempre na memória de nossos alunos, principalmente a experiência de andar de carro de boi. Como parte integrante deste grupo, pude ver o quanto envolve sentimento nesta tradição, quando o carreiro cantava e contava sua história envolvendo o carro de boi. Parabenizo a professora Maria Amélia pelo importante trabalho desenvolvido na escola. (Raquel Corcelli de Oliveira Guimarães em 05 de setembro de 2018).

Após esse trabalho, espero poder continuar desenvolvendo outros relacionados ao patrimônio cultural nos anos vindouros, podendo, assim, contribuir com uma parcela, mesmo que pequena. Acredito que ficará registrado na memória dos jovens a importância da cultura e do carro de boi como uma das manifestações da cultura cezarinese.

Conclusão

Com a realização do projeto podemos concluir que o resultado obtido foi positivo, tendo em vista o interesse e a participação dos alunos. Entretanto, esse bem cultural está fadado a desaparecer ao longo dos tempos, devido as novas tecnologias. Dessa maneira almeja-se que nos anos vindouros outros projetos sejam elaborados e executados visando ações como estas, no sentido de buscar e preservar o carro de boi como um bem cultural para o município de Cezarina GO. Embora a sociedade tenha sido invadida pela tecnologia, da qual hoje somos dependentes, não podemos deixar morrer as nossas raízes culturais, tão importantes no desenvolvimento da nossa história.

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