Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Propostas, Práticas e Ações Dialógicas

Intervir para preservar – Preservação de uma cultura tradicional – Fiandeiras do Museu da Associação dos Idosos do Brasil

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Resumo

Este relatório trata de Intervenção Cultural no Museu da Associação dos Idosos do Brasil, localizado no Setor Aeroporto, Goiânia, Goiás. Após estudos e pesquisas com seus associados, observou-se a necessidade de se preservar e difundir o Saber Fazer de suas fiandeiras, ofício que atualmente passa por um processo de esquecimento da sociedade atual, devido à mecanização e industrialização do processo de tecelagem. A intervenção consistiu na realização de Oficinas de Tecelagem para seus associados e a comunidade, como ação de salvaguarda desse importante patrimônio. Ocorreu nas dependências do museu, na sala das fiandeiras, com aulas ministradas pelas mestras tecelãs do museu, portadoras do saber, que transmitiram as diversas etapas do processo de fabricação do tecido artesanal. Esta ação também possibilitou a ampliação e reforma do espaço onde ocorrem os encontros semanais do grupo, pois com a aquisição de novos equipamentos para as oficinas e a integração de novos componentes interessados em aprender o ofício de tecer, foram necessários novos ajustes na sala. Todo o processo ocorrido no Museu da Associação dos Idosos do Brasil propiciou melhores condições no atendimento aos seus associados, à comunidade do entorno, visitantes, pesquisadores, estudantes e ao público em geral. A continuidade deste projeto possibilitará também oportunidades de qualificação profissional, criando geração de renda que auxiliará na manutenção do Museu e na formação de novos mestres(as) na área destinada, melhorando sua qualidade de vida, sua interação social, a autoestima e autonomia; enfim, um envelhecimento feliz e saudável através do trabalho com uma geração mais jovem, fazendo se sentirem novamente produtíveis. Em sua continuidade estão previstas oficinas semanais, onde os(as) alunos(as) serão levados (as) a conhecer todas as etapas da tecelagem, que continuarão a ser ministradas pelas próprias mestras tecelãs da Associação e por novas tecelãs formadas que se sentirem capazes de auxiliar nas oficinas. A realização deste projeto foi possível através de nossa participação no Edital promovido pela empresa de energia elétrica ENEL, em Goiás, onde fomos contemplados

Palavras-chave: Museu da Associação dos Idosos do Brasil. Patrimônio Imaterial. Fiandeiras. Oficina. Idosos.

Introdução

Este relatório trata da intervenção cultural realizada no Museu da Associação dos Idosos do Brasil: Oficinas de Tecelagem para seus associados e a comunidade. Essa intervenção surgiu da necessidade vivenciada pela administração da Associação dos Idosos do Brasil (AIB) de manter o funcionamento da instituição, que já atua há 29 anos na assistência à pessoa idosa, haja vista que os recursos estão cada dia menores e mais difíceis de serem obtidos. Considera-se, principalmente, ser imprescindível a preservação de um de seus Saberes: a arte da tecelagem e suas cantigas de trabalho, saber este que caminha para o esquecimento.

A AIB - estando entre as pioneiras no trabalho de assistência a pessoas idosas no Brasil -, foi fundada em 1989, pioneirismo que justifica a sua denominação. Em sua trajetória inicial, chegou a atender cerca de 3.000 idosos. Com as mudanças nas políticas públicas ocorridas devido ao crescimento populacional, ajustes para melhoria na assistência social, entre outros, esta realidade sofreu alterações.

Grupos e associações de atendimentos aos idosos multiplicaram-se em diferentes locais da cidade, e os recursos repassados também; porém, apesar das mudanças citadas, a AIB permanece como referência em sua atuação. Vem se tornando um campo de pesquisa muito explorado. Diversos estudos e projetos já ocorreram em suas dependências, sobre seu trabalho destinado ao acolhimento, assistência, vivência, experiência, enfim, neste processo de transição nesta etapa da vida do ser humano, o envelhecer.

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Um dos projetos da AIB foi a criação do Museu da Associação dos Idosos do Brasil, cuja instituição já está incluída no mapa da Cultura, uma plataforma do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) - que responde pela Política Nacional de Museus - relacionada aos direitos, deveres e obrigações dos museus brasileiros.

A Portaria Nº 6, de 9 de janeiro de 2017, instituiu a plataforma Museusbr, destinada ao mapeamento colaborativo, gestão e compartilhamento de informações sobre os museus brasileiros. Compõe a plataforma Museusbr, o Mapa da Cultura, plataforma do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC/MinC). O Mapa da Cultura foi desenvolvido com o objetivo de divulgar as instituições culturais, como os museus, centros culturais, entre outros, e promover a interação e cooperação entre seus componentes para um melhor desenvolvimento no âmbito dos museus. Esta plataforma foi possível devido à publicação da Portaria Nº 7, de 9 de janeiro de 2017, que define:

Art. 1º Fica instituída a Rede Nacional de Identificação de Museus - RENIM, como forma de arranjo de governança pública colaborativa, voltada à interação e cooperação entre os seus componentes para o desenvolvimento do setor de museus brasileiro.

Art. 2º A RENIM tem por finalidade estimular a articulação entre as instâncias responsáveis pela criação, desenvolvimento, acompanhamento, monitoramento e fiscalização das políticas públicas voltadas ao setor de museus nos âmbitos estadual, distrital e municipal.

Constituem a RENIM, no âmbito nacional, o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e o Comitê Gestor do Sistema Brasileiro de Museus (SBM) e, no âmbito local, os Sistemas de Museus estaduais, distrital e municipais, e outros Órgãos públicos estaduais, distrital ou municipais competentes, responsáveis por políticas setoriais de museus. Com estas ferramentas, será possível uma maior articulação e produção de conhecimentos sobre os museus brasileiros.

O curso de Museologia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) já indica e envia à Associação seus graduandos, sendo que estes alunos foram os responsáveis por parte do desenvolvimento da documentação necessária para dar continuidade ao processo de registro do Museu, como Plano Museológico, inventário, entre outros. A UFG fornece o algodão utilizado nos processos de fiação e tecelagem das fiandeiras e conta com sua participação em eventos realizados nas dependências da Universidade. O Museu da AIB também se modernizou e ingressou nas novas tecnologias através das redes sociais, possuindo Facebook, E-mail e Instagram, em seus respectivos endereços eletrônicos.

Contando com seus associados, em sua maioria oriundos do meio rural, conjuntamente são oferecidas diversas atividades: ginástica, yoga, pilates, hidroginástica, alfabetização, canto, arte terapia, crochê, colchas de retalhos, danças, fiandeiras, reuniões de orações nas diferentes religiões, palestras, festas comemorativas, entre outros. É um espaço de convivência cuja missão é o acolhimento onde eles e elas passam o dia nas diferentes atividades, incluindo lanche e almoço. Para que estas atividades ocorram é necessário, além do espaço físico, funcionários, materiais para o desenvolvimento das mesmas, pagamento de impostos, enfim, gerir a instituição. Parte do orçamento para seu funcionamento é repassado pelo Governo Federal, mas não corresponde à necessidade total. Faz-se necessário buscar outros meios.

Com a necessidade de maiores recursos, a Associação voltou a participar de editais, fato que já havia acontecido, e conseguiu, em 2004, através de um edital do Governo Japonês, a cápsula de elevador, os banheiros e vestiários para piscina. Participou, então, no ano de 2017, do edital lançado pela Empresa Multinacional de Energia (ENEL), com o projeto de intervenção na sala das fiandeiras da Associação.

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A finalidade da intervenção supracitada consistiu em adquirir novos equipamentos de tecelagem, reformar a sala onde elas se reúnem e promover oficinas para transmitir o saber fazer das fiandeiras para as idosas que ainda não detém todo o conhecimento e para as novas gerações, visando salvaguardar o patrimônio imaterial do saber fazer das fiandeiras e das suas cantigas de trabalho. Acredita-se que tais atividades possam, também, gerar rendimentos financeiros para auxiliar na manutenção das atividades do Museu.

1. As instituiçôes culturais e seu campo de atuação

A sociedade é formada por diferentes instituições sociais e administrativas. Primeiramente a família, escola, igrejas, associações, o trabalho, são ambientes onde construímos nossos conceitos e valores, formadores de nossa identidade.

As instituições correspondem aos critérios adotados por um grupo, uma sociedade, o Estado como forma de organização social. Por consenso, uma instituição está diretamente relacionada ao conjunto de valores, práticas comuns de indivíduos ou grupos, cujos papéis são semelhantes. A família, a escola e a igreja são instituições sociais que mais influenciam e determinam estes valores aos indivíduos, e os grupos, os maiores responsáveis na distribuição dos papéis sociais desta sociedade.

Estas instituições podem ser de caráter público ou privado, sendo que cada uma delas exerce um papel a ser obedecido, podendo ser cultural, social, econômico, religioso, familiar, entre outros. Na família é onde se inicia a formação do indivíduo, depois na escola, no trabalho, na sociedade. Existem instituições e organizações, sendo que estas englobam diferentes atuações. De acordo com Castells:

A diferença entre organizações e instituições está na sua abrangência. Enquanto organizações são “sistemas específicos de meios voltados para a execução de objetivos específicos”, as instituições são essas “organizações investidas de autoridade necessária para desempenhar tarefas específicas em nome da sociedade como um todo” (CASTELLS, 1999, p. 173 e 188 apud OLIVEIRA e KUNZLER, 2014, p. 09).

A Associação dos Idosos do Brasil é uma organização investida de autoridade no atendimento a pessoas idosas, cujo objetivo fundamental é assistir seus associados na defesa e garantia de seus direitos, assegurados no Estatuto da Pessoa Idosa -Lei nº10.741, De 1º de Outubro de 2003.

Art. 1o É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

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1.1 Instituições Culturais

A palavra Cultura difere em significados. Alguns relacionam a ser erudito, outros a ser educado, pode também se relacionar ao plantio, vegetação. Segundo Peter Burke (2010), cultura é uma palavra imprecisa, com muitas definições concorrentes. Em sua definição, o autor considera a cultura como “[...] um sistema de significados, atitudes e valores partilhados e as formas simbólicas (apresentações, objetos artesanais) em que eles são expressos ou encarnados” (BURKE,1989, p.10). Os antropólogos e historiadores atualmente utilizam o termo cultura de forma mais abrangente, referindo-se a tudo o que ocorre no cotidiano da sociedade, como andar, comer, vestir.

As instituições culturais são órgãos responsáveis também pela difusão e desenvolvimento das manifestações culturais (artes, música, cinema, literatura entre outros) de um povo, Estado, nação, possuindo importante papel na construção da identidade dos grupos sociais nas comunidades, associações, bairros, cidades, colaborando na sua educação não formal.

O processo educacional ocorre desde o nascimento e nos acompanha ao longo de nossas vidas. Este processo pode ocorrer de maneira formal, não formal e informal. A educação informal é aquela que adquirimos no ambiente familiar, na religião, na cidade onde moramos, na rua onde vivemos, na interação e comunicação com o outro. Esta educação é importante para a socialização do indivíduo, seus modos de pensar e expressar nos locais onde convive.

A educação formal está diretamente relacionada ao Estado, que orienta e cria diretrizes a serem seguidas nas escolas e universidades. Existe uma grade curricular com conteúdos específicos, horários, testes para avaliação, entre outros.

A educação não formal acontece em instituições públicas ou privadas, que atuam como auxiliares e complementares nesta formação. Os museus, os centros culturais, bibliotecas são alguns exemplos destas instituições. Assim, pode-se entender que na educação não-formal a aprendizagem acontece por meio da prática social, uma vez que um de seus pressupostos básicos “é a experiência das pessoas em trabalhos coletivos que gera um aprendizado” (GOHN, 2006, p. 6). Observa-se que nesta modalidade de educação encontram-se as atividades ou programas organizados fora do sistema regular de ensino. Seu conceito é bem mais abrangente do que o de educação informal.

Para Gohn (2006), através da educação não formal pode-se gerar recursos que venham auxiliar o acesso ao direito de cidadania e inclusão social, e aponta algumas diferenças entre a educação formal e a educação não formal.

Entendemos a educação não - formal como aquela voltada para o ser humano como um todo, cidadão do mundo, homens e mulheres. Em hipótese alguma ela substitui ou compete com a Educação Formal, escolar. Poderá ajudar na complementação dessa última, via programações específicas, articulando escola e comunidade educativa localizada no território de entorno da escola. A educação não- formal tem alguns de seus objetivos próximos da educação formal, como a formação de um cidadão pleno, mas ela tem também a possibilidade de desenvolver alguns objetivos que lhes são específicos, via a forma e espaços onde se desenvolvem suas práticas, a exemplo de um conselho ou a participação em uma luta social, contra as discriminações, por exemplo, a favor das diferenças culturais etc. (GOHN, 2006, p. 6).

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Dentre as instituições culturais que mais tem atuado na formação e difusão da cultura na atualidade podemos citar os museus, casas de memórias, centros culturais, cinema, teatro, bibliotecas, entre outros. Estas instituições representam um papel fundamental na formação de cada cidadão, em suas diferentes etapas e formas de conhecimentos, quer sejam conhecimentos científicos, quer sejam conhecimentos adquiridos nas atividades cotidianas. A Constituição Federal de 1988 garante este acesso a ambas as formações como consta em seu artigo 205, Título VIII da Ordem Social. Capítulo III Da Educação, da Cultura e do Desporto:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

1.1.1 A Associação dos idosos do Brasil – Atuando em prol da pessoa idosa

Colaborar para que os idosos possam adquirir conhecimentos é atender aos seus direitos como cidadãos, sendo para as instituições um dever a ser executado. Estes direitos e deveres encontram-se previstos na Constituição Federal de 1988, na Declaração dos Direitos Humanos e, também, no Estatuto da Pessoa Idosa em seu artigo terceiro, acima citado.

O Museu da AIB, como toda instituição cultural, participa na educação formal e não formal, oferecendo diversas atividades. Alfabetização é uma delas, oportunizando à pessoa idosa o acesso à educação formal, atividade esta que alguns não tiveram acesso devido às dificuldades da vida no campo, à falta de escolas nos municípios onde residiam, às restrições de transporte. Estas aulas ocorrem diariamente em uma das salas ali existentes, obedecendo a grade curricular do Estado para alfabetização de adultos. Para que esta atividade ocorra, o município cede uma professora para ministrar as aulas. Possuímos, então, a educação formal.

O saber informal também está presente, nas trocas de conhecimentos de seus associados, transmitidos entre gerações, e este é seu maior patrimônio, de natureza imaterial. Dentre os saberes que podemos incluir na educação não formal a tecelagem é o objeto desta intervenção, cuja execução proporcionará aos seus participantes o acesso às diversas etapas deste conhecimento.

[...] A educação não-formal designa um processo com várias dimensões, tais como: a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e o exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor (GOHN, 2006, p. 28).

Este saber existe no Museu dos idosos desde sua fundação, quando ainda era somente a AIB, e já se vão 29 anos. Suas/seus associadas(os) se reúnem todas as segundas feiras para tecer, fiar, cardar, cantar. Sim, cantar, afinal, a tecelagem no meio rural era acompanhada das cantigas de trabalho. Cantigas estas que serviam para amenizar as lutas diárias do trabalhador rural. Suas atividades se estendem também às apresentações que fazem nas instituições que as convidam, nos encontros de fiandeiras, nas praças, nos clubes, nas festas do Museu; enfim, onde solicitam a presença do grupo eles estão presentes, com suas performances na música e na tecelagem.

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2. Memória, guardiã de nossas lembranças

Os idosos apreciam contar suas experiências, suas histórias, suas memórias. Estas lembranças ocorrem todos os dias, em cada gesto, em cada palavra, em cada passo. Eles estão sempre dispostos a nos relatar fatos ocorridos, quer sejam alegres ou tristes. O bom para esta população “jovem há mais tempo”, é ter com quem falar, é ter quem os ouça, quem se importe com eles. “A lembrança é a história da pessoa e seu mundo, enquanto vivenciada” (BOSI, 1979, p. 68).

Estas memórias estão carregadas de saberes, de fazeres. São patrimônios imateriais que se perdem, caso não passem pelo processo de salvaguarda, isto é, documentar, registrar, guardar. Salvaguardar este saber é de primordial importância. Estas memórias são recordações de momentos vividos e experienciados por cada um com o passar dos anos. Cada pessoa possui suas lembranças, e estas são vivenciadas individualmente ou coletivamente. No coletivo, esta memória é revisitada através da memória individual dos atores que participaram de sua construção. São fatos ocorridos, nascimentos, casamentos, aniversários, passeios, ofícios, enfim são registros. As memórias, as lembranças quando acontecem, podem ter ocorrido na presença de outros, tornando-se, desta forma, uma lembrança coletiva, apesar da individualidade na forma de rememorar. “Para confirmar ou recordar uma lembrança, não são necessários testemunhos no sentido literal da palavra, ou seja, indivíduos presentes sob uma forma material e sensível” (HALBWACHS,2013, p.31).

Ecléa Bossi, em seu livro Memória e sociedade: lembranças de velhos, também narra a lembrança, a memória, do ponto de vista do pesquisador “[...] fomos ao mesmo tempo sujeito e objeto. Sujeito enquanto indagávamos, procurávamos saber. Objeto enquanto ouvíamos, registrávamos, sendo como que um instrumento de receber e transmitir suas lembranças” (1979, p. 38).

Nesta intervenção cultural, nosso objeto de memória está no saber fazer dos idosos e idosas do MAIB. Suas experiências vivenciadas com o passar dos anos, seus aprendizados acumulados e recebidos de seus antepassados, serão nossos registros, nosso acervo. A arte de tecer a ser preservada como memória, narrativas de suas lembranças, suas histórias de vida e trabalho em um tempo narrado por Dona Gerarcina, fiandeira que, em sua entrevista, responde ao repórter que “aprendeu a tecer desde criancinha” (informação verbal). Passar, transmitir este saber é guardar lembranças que o tempo insiste em apagar.

2.1 Patrimônio imaterial. Salvaguardar o saber, o fazer e o viver na arte de tecer

Patrimônios são bens que representam histórias, fatos, acontecimentos, narrativas. Estes patrimônios podem ser denominados Patrimônios Materiais encontrados em edificações, ruas, monumentos. Os Patrimônios Imateriais estão presentes no saber fazer de algumas comunidades, grupos, pessoas. Historicamente, patrimônios estavam relacionados a edifícios, objetos, artefatos, pinturas, entre outros. Porém, Mario de Andrade percebeu a necessidade de ampliação destes bens, no momento em que se iniciava a construção da identidade brasileira.

Como preservar os costumes, o saber fazer tão presente em nossa sociedade? Foram necessárias diversas discussões a respeito, para que finalmente, no ano 2000, houvesse a regulamentação através do Decreto no. 3.551, de 4 de agosto de 2000 que instituiu “[...] o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o programa nacional do patrimônio imaterial e dá outras providências", conforme consta dos Livros de Registro do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

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Artigo 1º - Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro.

§ 1º Esse registro se fará em um dos seguintes livros:

I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;

II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;

III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;

IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.

Algumas diferenças existem quanto à definição de Patrimônio Imaterial, nacional e internacionalmente. Algumas expressões como “patrimônio cultural intangível”, “patrimônio cultural imaterial”, “cultura tradicional e popular”, “patrimônio oral”, “patrimônio vivo”, etc. No Brasil, o IPHAN e o Ministério da Cultura elegeram utilizar a terminologia convencionada no artigo 216 da Constituição Federal de 1988, mas com a ressalva de que:

Não há dúvida de que as expressões patrimônio imaterial e bem cultural de natureza imaterial reforçam uma falsa dicotomia entre esses bens culturais vivos e o chamado patrimônio material. Por outro lado, contudo, com essa definição, delimita-se um conjunto de bens culturais que, apesar de estar intrinsecamente vinculado a uma cultura material, não vinha sendo reconhecido oficialmente como patrimônio nacional (BRASIL, 2010, p. 18).

Os bens de natureza imaterial possuem processos dinâmicos, cuja essência está contida nas ações humanas, e sua sobrevivência depende da intervenção de atores cujo intuito seja preservar, reproduzir, dar continuidade a este saber. O processo de salvaguarda é um dos instrumentos que possibilitam a preservação desses bens. Uma das etapas do processo, consiste em documentar o bem, visando preservar sua memória, a transmissão do saber, a matéria prima utilizada, a difusão junto à sociedade e, principalmente, o esforço para que os detentores deste saber sejam seus principais atores, representantes do seu patrimônio cultural.

O IPHAN indica alguns princípios no processo de salvaguarda, tais como compreender a noção de patrimônio cultural, em suas diversidades, adequar os instrumentos às especificidades do bem, a participação da sociedade e dos grupos interessados na implementação das ações de salvaguarda do patrimônio imaterial, o reconhecimento e a defesa de direitos da imagem de propriedade intelectual, a transmissão dos bens culturais imateriais assegurados.

Os instrumentos de salvaguarda se dividem em três: mapeamentos e inventários de referências culturais; registro; e planos e ações de salvaguarda. A Salvaguarda geralmente envolve: apoio à transmissão dos saberes e habilidades relacionadas ao bem cultural; promoção e divulgação do bem cultural; valorização de mestres e executantes.

Segundo a autora Luciene de Menezes Simão (2015), entende-se por salvaguarda:

[...] as medidas que visam garantir a viabilidade do patrimônio cultural imaterial, tais como a identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a transmissão – essencialmente por meio da educação formal e não formal – e revitalização deste patrimônio em seus diversos aspectos. (SIMÃO, 2015, p. 05).

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O Decreto 3.551/2000 - acima mencionado - e que instituiu a figura do Registro do Patrimônio Imaterial, instrumento jurídico análogo ao Tombamento, cria também o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, que articula as ações de reconhecimento, promoção, difusão e fomento dos bens culturais de natureza imaterial. Com a criação deste departamento, inicia-se uma série de políticas para o processo de salvaguarda, com inventário de bens culturais e o registro, visando a preservação e a transmissão do saber.

Em 2006 foi lançada a primeira edição da obra, que contém os princípios, ações e resultados das ações de salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial: “Os Sambas, as Rodas, os Bumbas, os Meus e os Bois - princípios, ações e resultados da política de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial no Brasil”, publicação esta decorrente da implantação de uma política de salvaguarda e da criação do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI), no âmbito do IPHAN.

O saber fazer das fiandeiras do Museu da Associação dos Idosos do Brasil é um dos seus patrimônios de natureza imaterial. Salvaguardar este saber é valorizar, promover, proteger este bem. A salvaguarda do Saber Fazer das fiandeiras do Museu da AIB é o desejo de suas detentoras, visto que, atualmente, este saber está sendo deixado esquecido, apagado. Salvaguardar é também transmitir o saber para que o mesmo não se perca, não se apague. Embora não esteja registrado nos livros do IPHAN, para que esta salvaguarda ocorra é necessário passar por medidas que visem garantir esta proteção: envolver os integrantes, articular e mobilizar, planejar e executar ações que viabilizem a continuidade da prática, objeto de registro ou não. Este é o caso do Saber Fazer das Fiandeiras, objeto desta intervenção, como o próprio título já diz: Preservação de uma Cultura Tradicional- Fiandeiras.

2.2 A arte de Tecer no Museu da Associação dos Idosos do Brasil

A arte de tecer no Museu da AIB, atualmente um patrimônio de natureza imaterial incorporado ao seu Saber, Fazer e Criar, não foi algo imposto nem institucionalizado, mas nasceu ali e ali permanece. O patrimônio, assim como "as memórias são construções dos grupos sociais, são eles que determinam o que é memorável e patrimonializável e os lugares onde essa memória será preservada” (HALBWACHS, 2006). Em diversas situações este saber é a âncora que não permite o barco afundar. Por onde elas passam com suas apresentações, a curiosidade das pessoas é algo grandioso, os depoimentos e relatos de pessoas que já conviveram com este saber sempre acontece.

A arte de tecer é um ofício que remonta ao início da civilização, pela necessidade de aquecer o corpo devido às baixas temperaturas, proteger o corpo do sol, adornar o corpo, ornamentar a casa. Este processo pode ter se baseado nas teias de aranha e nos cipós das árvores, com suas entranhas. O homem, desde então, aprendeu a cruzar os fios e gerar um objeto, nas tramas de uma cestaria onde armazenava alimentos, em um vestuário, uma cobertura para se proteger.

Os livros, a música, o cinema, representam esta arte em seus filmes, suas indumentárias, suas histórias. Desde o início as mulheres são mais frequentes nesta prática, provavelmente pela necessidade de vestir os filhos e pela sobrevivência. Na medida em que foram adquirindo maior domínio da técnica passaram a produzir peças mais sofisticadas, com desenhos elaborados, conhecidos como repasse, bordados, paisagens, expressões culturais registradas em tapetes, peças decorativas.

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Às mulheres não foi dado durante séculos escrever. Elas traçavam sinais de criação usando linhas enfiadas em finos orifícios, em teares, manipulando pequenos instrumentos de fabricação caseira. Com isso, transfiguravam o mundo, escrevendo signos que substituíam as palavras (JARDIM, 1984,p.88).

Em cada peça tecida, bordada, cada repasse; isto é, cada gráfico, funciona como bordados que são histórias narradas em suas tramas, servindo como registro de acontecimentos sociais, políticos, urbanos. Este saber fazer, além de ser um bem cultural a ser preservado, funciona atualmente para seus atores - isto é, as fiandeiras do Museu da Associação dos Idosos do Brasil, os detentores deste saber - como terapia, como forma de se sentirem novamente inseridos nesta atual sociedade excludente.

O grupo das fiandeiras do Museus da Associação dos Idosos do Brasil se reúne semanalmente para praticar e ensinar seu saber entre eles e para a comunidade. Além de se reunirem, levam seu saber a diversas instituições onde são convidados, formando parcerias com alguns, como é o caso da Universidade Federal de Goiás (UFG) em seus eventos, o Memorial do Cerrado, A festa da Pecuária, entre outros. Nos eventos e em suas reuniões semanais, a alegria contagia os presentes e os visitantes.

A música acompanha a tecelagem, com suas sanfonas, violas, violões, pandeiros, tambores e a dança; afinal, são idosos, mas o saber não é esquecido. Os passos são lentos, os cabelos cor de nuvem; escutar? cada dia mais difícil, mas nada impede de continuar a alegrar e transmitir seus conhecimentos, suas experiências, seu lazer. Afinal o tempo passa... “Bordar e narrar têm um caráter curativo, ordenador. Ao bordar, ao contar e reinventar um novo traçado para a sua própria história é possível mudar esta história, reinventar um novo desenho” (JARDIM, 1984, p. 88 ).

3. Justificativa

Ao presenciarmos o trabalho das tecelãs não imaginamos a grandeza e as diferentes formas utilizadas para exercer tão nobre ofício. O saber fazer de uma tecelã advém de várias gerações, hoje esquecidas e marginalizadas. Este saber fazer está nas mãos de pessoas idosas em sua grande maioria, que fizeram do mesmo o sustento de seus lares ou presenciaram este ofício com seus antepassados.

Resgatar e ressignificar este saber nas comunidades de fiandeiras, trazendo o mesmo para novas comunidades, ensinar aos jovens o processo da tecelagem desde a colheita e seleção do algodão, o descaroçar, bater, cardar, fiar e tecer; isto é, produzir uma peça no tear, trazendo para esta geração a continuidade da prática artesanal na fabricação de tecidos, é o que justifica a intervenção proposta.

Além disso, esta prática se encontra em um processo de esquecimento pela atual sociedade contemporânea, onde as tecnologias sobrepõem as tradições. Atualmente a velocidade de conhecimentos vai na direção oposta aos saberes oriundos de gerações, que foram a base da sociedade atual.

4. Objetivos do projeto de intervenção

4.1 Objetivo Geral

Desenvolver um projeto de Intervenção Cultural no Museu da Associação dos Idosos do Brasil: Oficinas de Tecelagem para seus associados e a comunidade, visando salvaguardar o patrimônio imaterial das fiandeiras e suas cantigas de trabalho, contribuindo para a preservação do saber fazer das mestras fiandeiras do museu, através de oficinas para os associados que ainda não detém o saber.

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4.2 Objetivos Específicos

5. Metodologia

Através da participação no Edital da Enel, no qual o Museu foi contemplado com o Projeto “Preservação de Uma Cultura Tradicional- Fiandeiras”, foi possível a aquisição de novos teares, novos acessórios para tecelagem, a reforma e ampliação da sala para a realização de oficinas de tecelagem. Estas oficinas inicialmente foram oferecidas para seus associados, para que estes sejam os mestres na transmissão de seus conhecimentos. Posteriormente as oficinas serão abertas a comunidades e principalmente ao público jovem, para que possa haver o resgate e a preservação deste patrimônio imaterial.

As oficinas aconteceram na sala das fiandeiras, com duas aulas semanais com três horas de duração, onde foram atendidos quinze alunos por turma. O conteúdo ministrado constou das etapas de produção de um tecido produzido artesanalmente. São cinco as etapas: descaroçar o algodão, bater, cardar, fiar e tecer, descritas a seguir.

Algodão in natura

O algodão é recebido in natura, isto é, como colhido das árvores, com suas sementes.

Descaroçador do algodão

Após o algodão ser colhido da árvore, ele passa pelo descaroçador: uma peça onde duas pessoas sentadas rodam a manivela, empurrando o algodão por entre as roldanas de madeira. Através deste manuseio do descaroçador o algodão é moído, com isto a semente ou o caroço é expelido do pedaço do algodão.

Batedor do algodão

Após o algodão ser descaroçado, ele vai para o batedor, onde este retirará os resíduos que restam do algodão descaroçado, e irá também soltar, amaciar este algodão, para que o mesmo possa passar para a próxima etapa denominada cardar.

Cardar o algodão

Após o procedimento de bater o algodão, a próxima etapa é cardar. Este processo é feito através de duas ferramentas com pequenos pregos sem ponta, onde o algodão é espalhado em uma das cardas. E o mesmo é repassado de uma peça para outra, formando pequenos rolinhos.

Fiando o Algodão

Este é um dos processos que requer maior habilidade e coordenação motora. Após o algodão passar pelas cardas a fiandeira, pedalando a roda de fiar, vai segurando o algodão entre os dedos e com habilidade incomparável vai rodando o algodão entre os dedos e a linha vai surgindo, crescendo e sendo enrolada na carretilha inserida na roda de fiar.

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Tear de Pedal. Finalmente nasce o tecido artesanal.

A linha produzida na roda de fiar é enrolada na canelinha e inserida em um acessório chamada navete ou lançadeira. Primeiramente procede a urdidura, isto é, preparar a linha para enrolar no tear. Após este processo, a linha é passada nos liços e no pente, depois presa na parte da frente do tear. Isto é feito fio por fio. Após esta etapa, é iniciada a confecção do tecido, cruzando as linhas e os pedais, formando os repasses, isto é, os desenhos nos tecidos. Todo este processo resulta na produção artesanal de tapetes, xales, colchas, lenços, tecidos para roupas, entre outros. E, também, tecido totalmente natural e orgânico.

Ao final da oficina, que teve duração de dois meses, as tecelãs passaram pelas diferentes fases do processo de tecelagem. Cada uma foi capaz, também, de iniciar a produção de uma peça escolhida por elas, como tecido, xale, jogo americano e tapete. Os produtos fabricados nas oficinas são de propriedade do Museu, o qual comercializará este material posteriormente, em uma exposição, com o propósito de venda e divulgação das oficinas. O resultado será partilhado entre o museu e o(a) artesão(ã), auxiliando nas despesas da instituição e estimulando-os a executar novos trabalhos. O Museu é responsável por fornecer todo o material a ser utilizado durante as aulas.

6. Cronograma

Iniciamos o desenvolvimento do nosso projeto com a participação no Edital Luz Solidária, para SELEÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS DE GERAÇÃO DE RENDA, QUALIFICAÇÃO, DIREITOS HUMANOS OU MEIO AMBIENTE, através do Programa Luz Solidária CELG. As inscrições ocorreram no período de 14 de agosto a 10 de setembro de 2017 e o resultado final foi publicado em 19 de setembro de 2017.
Etapa Início Término
Inscrições pelo site 14/08/2017 10/09/2017
Divulgação do resultado 19/09/2017 19/09/2017
Convocação dos aprovados e envio de documentos 19/09/2017 21/09/2017
Assinatura do convênio 21/09/2017 25/09/2017
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Os projetos, conforme o edital, somente tiveram início em janeiro de 2018, quando os recursos foram repassados para as entidades. Nossa Associação recebeu os recursos em fevereiro, quando iniciamos a aquisição dos equipamentos e a reforma da sala. Durante a reforma, o grupo se reunia no salão do Museu. Foram dias de muita expectativa, até a finalização e a chegada dos equipamentos, que ocorreu no mês de maio.

Organizamos a sala e preparamos a festa de inauguração marcada para o dia 17 de maio de 2018. Nesta festa, a alegria foi contagiante. Diversos convidados estavam presentes, entre estes, familiares das tecelãs, afinal a festa era para elas e com elas. Inúmeras atividades aconteceram ao longo do dia. A TV PUC, canal de televisão da Pontifícia Universidade Católica da Goiás fez uma reportagem que foi ao ar em jornal vespertino. Oferecemos um almoço para animar os convidados, houve troca de lâmpadas, pois um dos objetivos do Luz Solidária consiste em ensinar e incentivar práticas de menor gasto energético, e a troca de lâmpadas é uma forma de economizar energia. Os idosos levam a lâmpada usada e recebem uma lâmpada Led, lâmpada econômica.

As oficinas iniciaram-se no dia 04 de junho, sendo que estas foram ministradas pelas próprias tecelãs do Museu. Contamos com oito novas alunas, e com associadas que estão aprendendo a tecer. Cada oficina foi desenvolvida durante três horas, com capacidade para atender dez alunas, uma vez que a instituição dispõe de dez teares para iniciação. Seu término ocorreu em setembro, lembrando que em julho as atividades no Museu são reduzidas devido alguns associados viajarem. Em setembro tiveram início novas oficinas, com novos inscritos e, também, o aperfeiçoamento das novas tecelãs.

Ao final de cada curso elas deverão ter fabricado uma peça, passando por todas as etapas do processo de tecelagem. As peças poderão ser comercializadas e o lucro será dividido entre as tecelãs e o Museu, para aquisição de novos materiais e manutenção da instituição.

7. Considerações finais

Considerando os fatos relatados, podemos observar que os resultados obtidos até agora com o projeto de intervenção foram positivos. A integração e a participação do grupo foram de grande importância. Presenciamos o interesse das tecelãs em transmitir seus conhecimentos na arte de tecer e suas histórias, onde narram como aprenderam o ofício.

O aumento da participação da comunidade do entorno e da cidade de Goiânia também foi conseguido. O Museu tem sido procurado em uma escala bem maior por pessoas interessadas em aprender tecer e, também, novos associados foram agregados ao grupo. Recebemos diversos convites para participação em eventos. Festas, exposições já aconteciam, porém, novos interessados surgiram. A Associação de Tecelãs de Bela Vista de Goiás nos procurou, solicitando nossa consultoria para conseguirem ampliar, adquirir novos equipamentos e oferecer oficinas da tecelagem em sua cidade. Participamos do projeto novamente patrocinado pela ENEL e fomos contemplados. “Mãos que Fazem” foi o nome escolhido pelas mestras de Bela Vista de Goiás. Potencial multiplicador do projeto!

Pretendemos dar continuidade ao trabalho iniciado, com a colaboração e participação do grupo de fiandeiras do Museu e divulgar cada dia mais o Saber, o Fazer e o Criar dos idosos do Museu, para que o patrimônio das fiandeiras seja preservado.

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Referências

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