Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Propostas, Práticas e Ações Dialógicas

Museus para o ensino de história: reflexões e apontamentos sobre os museus goianos e a ditadura militar no Brasil

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Resumo

O presente trabalho consiste em apresentar o relatório da Intervenção Cultural realizada no Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG), a partir de duas atividades desenvolvidas: montagem de exposição colaborativa junto ao curso de Museologia da UFG, na disciplina de Expografia, e realização do seminário “Memória da Luta dos Direitos Humanos no Brasil: da Ditadura a Democracia”, que foi realizado de 29 a 31 de agosto de 2018. O relatório se divide em uma análise de três partes e breves apontamentos sobre as intervenções realizadas na Instituição Museológica; inicialmente apresenta-se uma breve cronologia sobre os museus e a museologia, apontando algumas características que são importantes para compreender o caráter dos museus e da museologia no Brasil, caracterizando assim a museologia social e seu papel como desenvolvedor de um espaço de debates. Na segunda parte, uma tentativa breve de relatar e analisar a experiência da montagem da exposição conjunta, seguida, portanto, como terceira parte, dos relatos da construção e das experiências advindas do seminário.

Palavras-chave: Museus, Ditadura Militar, Direitos Humanos.

Introdução

O presente trabalho apresenta os resultados do Projeto de Intervenção na Instituição Cultural: Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás. No primeiro momento, foi feita a pesquisa in loco sobre os museus goianos que dispõem em suas exposições acervos ou itens que tratem da temática de ditadura militar brasileira. A partir desse diagnóstico foi feita a primeira etapa da Intervenção, que consistiu na elaboração de uma exposição museal, de formato colaborativo, na qual desenvolvi a pesquisa a respeito das violações dos Direitos Humanos nos casos de Vladimir Herzog e de Marielle Franco, a elaboração de texto, o pensar os recursos expográficos e a comunicação museal – conteúdo e público, e a elaboração de texto sobre o Módulo Direitos Humanos da exposição.

Encerrados os dois primeiros processos, deu-se início à etapa de construção do seminário que fecha a exposição, intitulado: “Memória da Luta dos Direitos Humanos no Brasil: Da Ditadura a Democracia”, que foi realizado de 29 a 31 de agosto de 2018 no Museu Antropológico e no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás - UFG, e contou com a seguinte programação: 3 Cine debates. Mesa 1 - Ditadura Militar Brasileira e Direitos Humanos: Memória e Esquecimento. Mesa 2 - Um Brasil de Desigualdades: Memórias de um Passado Recente. Mesa 3 - Memória, Esquecimento e Direitos Humanos: Um Olhar sobre o Patrimônio Cultural.

Desenvolvimento

Concepção de Museus

Os museus são por excelência ringues de disputas de memórias e de narrativas, historicamente são originários das práticas colecionistas e dos gabinetes de curiosidades, foram vistos, durante muito tempo, como depósitos de coisas velhas e relíquias de um passado remoto. Os museus, entre outras instituições relacionadas com a cultura, têm como principal tarefa preservar toda a herança histórica, artística, científica e arquitetônica para as gerações futuras. (SANTOS. 2015, p. 16)

Consagrou-se pela ótica do senso comum e pela máxima de que “quem gosta de passado é museu!”, e que é do passado que se sustentariam. Os museus são historicamente originários das práticas colecionistas e dos gabinetes de curiosidades, foram vistos, durante muito tempo, como depósitos de coisas velhas e relíquias de um passado remoto. Somente a partir do século XIX é que os museus passaram a se constituir em importantes elementos para finalidade de afirmação de uma identidade nacional. No contexto do ideário civilizatório oitocentista, não havia país que não tivesse seu museu histórico, que “contasse a história da nação”, numa perspectiva de educação cívica para a população.

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No Brasil, exemplo paradigmático deste modelo foi o Museu Histórico Nacional, criado em 1922 no contexto das comemorações do Centenário da Independência do Brasil e que pretendia, segundo seu diretor Gustavo Barroso, estabelecer a genealogia da nação.

Na segunda metade do século XX, ou, de modo mais preciso, depois dos anos setenta, a museologia e os museus no Brasil passaram por um grande processo de transformação e amadurecimento. Nesse período, o objeto de estudo da museologia foi construído, desconstruído e reconstruído inúmeras vezes; a categoria museu foi ressignificada e a diversidade tipológica dos museus foi ampliada de uma maneira sem precedentes. Os museus passaram a ser tratados como processos e práticas culturais de relevância nacional. [...]

Essas considerações são relevantes quando se trata de pensar e colocar em prática uma política pública específica para museus. Em outras palavras: a construção, na contemporaneidade, de uma política museal democrática e de interesse público precisa considerar a museodiversidade brasileira, bem como as reflexões, os debates, as práticas e as poéticas características desse universo em expansão. (NASCIMENTO JÚNIOR; CHAGAS, 2006, p.14).

O Museu Nacional foi, portanto, o espaço que serviu, sobretudo, para a legitimação e veiculação da história oficial, através de acervos oriundos das elites nacionais (JULIÃO, 2006).

No campo museológico, as principais diretrizes foram dadas pela IX Conferência do ICOM, em 1971, realizada em Paris, e pela Mesa Redonda de Santiago do Chile, em 1972, organizada pela Unesco. Na primeira, houve a orientação que o museu deveria estar a serviço do homem e na segunda, que o museu deveria se aproximar das comunidades e dos povos priorizando a função social da instituição. (AMAZONAS. 2010 p.3)

Só mais tarde, com os aportes teóricos da Nova Museologia, passou-se da concepção de museu como elemento de constituição da identidade nacional, que se pretendia única, homogênea e unívoca, para o museu como espaço de afirmação de outros segmentos sociais. Hoje, com a Nova Museologia e o avanço epistemológico das ciências sociais, os museus passam a ser considerados importantes suportes da memória e elementos de afirmação da identidade cultural de uma dada coletividade. Assim, os museus, sobretudo os de natureza histórica, buscam, através de suas exposições, não mais a afirmação de uma dada identidade nacional, mas sim o reconhecimento, a promoção e a valorização da diversidade cultural.

Não há quem possa negar que, no mundo contemporâneo, os museus são instituições culturais relevantes, instrumentos de preservação do patrimônio histórico, indutores do desenvolvimento do turismo e ícones para a revitalização de áreas urbanas anteriormente degradadas.

Segundo o antropólogo alemão Andreas Huyssen, assistimos hoje a um processo de musealização da sociedade. Para ele, estamos todos “seduzidos pela memória”, na medida em que:

Um dos fenômenos culturais e políticos mais surpreendentes dos anos recentes é a emergência da memória como uma das preocupações culturais e políticas das sociedades ocidentais. (...) a memória se tornou uma obsessão cultural de proporções monumentais em todos os pontos do planeta. (HUYSSEN, 2000, p. 9-16).

No Brasil, desde o final do século passado, presenciamos a crescente reivindicação da constituição de museus próprios por parte de diferentes grupos étnicos e movimentos sociais. Eles veem a criação de instituições museológicas como um direito à memória, que possibilita a afirmação de sua identidade, o “resgate” de sua autoestima e o fortalecimento da ideia de pertencimento a uma determinada coletividade.

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Assiste-se, assim, a um crescimento dos museus comunitários, museus populares, museus étnicos, ecomuseus e museus temáticos em detrimento de museus nacionais em várias partes do mundo. No Brasil, exemplo mais contundente desse novo processo museológico se deu com a criação do Museu da Favela, na favela da Maré, cidade do Rio de Janeiro, fruto da reivindicação dos próprios moradores locais.

... constitui uma indicação clara de que o mundo museal no Brasil está em transformação. Já não são apenas os palácios de reis, príncipes, princesas e nobres; as casas de presidentes, ministros e políticos poderosos; as moradias de empresários e artistas bem sucedidos economicamente ou as residências de colecionadores abastados que produzem museus e conquistam um lugar entre os lugares de memória que constituem a memória social. Observa-se a valorização dos direitos à cultura, à memória, ao patrimônio e ao museu como direitos de todos, como direitos de todas as camadas sociais, de todos os grupos étnicos. (CHAGAS, 2002, p. 6.)

Outro exemplo que cabe aqui o registro, que revela a importância da necessidade de preservar nossa diversidade étnica e cultural no contexto de uma política museológica, é a criação de diversos museus em comunidades indígenas. Por intermédio desses “novos museus”, desmistifica-se a ideia de que, em algumas partes do território nacional, não existem mais índios, e revela-se um novo Brasil até então escondido. É o museu, com uma nova prática de memória cidadã, dando visibilidade a grupos étnicos e comunidades tradicionais (GOMES; Vieira Neto, 2009).

Constituem exemplos de exercícios de direito à memória que valorizam não as vozes dominantes ou os vestígios culturais das oligarquias e aristocracias todo poderosas, mas sim as vozes que normalmente são silenciadas, o saber-fazer e a luta de indivíduos que a partir dos seus sonhos contribuem para o sonho do coletivo, sonhando justiça, trabalho, dignidade social e poesia. (CHAGAS, 2002, p. 13-14.).

Museus goianos e seus acervos

É partindo dessas questões que apresentamos, sobre o que devem ser os museus e quais são as necessidades que a sociedade de uma forma geral deve demandar e solicitar desses espaços, que nos lançamos no campo da pesquisa, na busca de um levantamento dos acervos dos museus goianos, a primeira grande dificuldade foi essa.

Levantamos o total de 12 instituições que cumprem a cadeia operatória Museológica: conservação, comunicação e exposição museal, sendo elas as seguintes: Museu Pedro Ludovico, Museu Zoroastro Artiaga, Museu de Artes de Goiânia, Museu da Imagem e do Som - MIS, Museu de Arte Contemporânea, Museu Antropológico da UFG, Museu de Esculturas ao Ar Livre, Memorial do Cerrado, Museu de Taxidermia, Museu de Ciências da UFG, Museu PUC, Museu do Índio. Dentro desse quadro conseguimos identificar algumas questões pertinentes e que moldaram o projeto de intervenção.

Dos acervos que dispõem material sobre Ditadura Militar Brasileira, foi identificado no Museu da Imagem e do Som – MIS somente o Acervo fonográfico – discos - que poderia ser abordado. Porém, o acervo fonográfico é destinado somente à pesquisa, não dispondo a abertura da reserva para exposição. Foi pensado e questionado se uma ação pontual pra esse espaço seria o ideal e chegamos à conclusão que: Os museus devem refletir novas práticas, e suscitar novas questões; a ausência de um tema tão relevante não ser abordado e tratado em uma exposição de longa duração ou uma exposição de curta duração poderia abrir possibilidades interessantes para o desenvolvimento de uma atividade de maior impacto.

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Identificamos, também, na história de Pedro Ludovico, a possibilidade de uma abordagem. Porém, como o tema é apagado dentro da própria concepção do Espaço Museal destinado à Memória, nos deparamos com o mesmo questionamento suscitado a partir do diagnóstico do MIS.

Desenhamos, então, alguns cenários possíveis a partir desse diagnóstico. De que seria interessante pensar uma exposição ou proposta de exposição que pensasse de uma forma impactante uma abordagem sobre o tema.

Entendemos que um projeto de intervenção é uma proposta de ação construída, onde se intervém na prática concreta da instituição, realizando uma atividade que possa gerar um impacto positivo para a mesma. Ele se diferencia de outros projetos, pois, para além da elaboração técnica, ele requer um desenvolvimento real do que se propõe e do que se elabora a partir da construção do conhecimento empírico,

A intervenção cultural vem a ser, portanto, o desenvolvimento de ações em uma instituição cultural. No nosso caso, trabalhamos a Instituição Museal: Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás – MA/UFG, a partir da identificação de um problema: a falta de acervos e exposições que discutam ditaduras brasileiras. Desta forma, propusemos o desenvolvimento prático na instituição de uma exposição e um seminário temático, a fim de discutir a problemática e diminuir o déficit no problema identificado; ou seja, houve a prática uma intervenção cultural a fim de desenvolver conhecimento e propiciar acesso de diferentes pessoas - lê se aqui faixas etárias - o convite ao espaço museal reflexivo.

A museologia comunitária preocupa-se em libertar as próprias pessoas da alienação cultural, ou liberar sua capacidade de imaginação ou iniciativa, ou liberar a consciência dos seus direitos de propriedade sobre seu patrimônio, tanto material quanto imaterial. (VARINE. 1995, p. 32).

A partir dos conceitos da Nova Museologia desenvolvemos as propostas de concepção e formulações de espaços que constituem nossa intervenção.

Metodologia e procedimentos

Montagem da exposição

Foi uma experiência bastante enriquecedora a elaboração da exposição. Um dos principais problemas foi a questão do tempo para montagem e desenvolvimento, pois como foi se desdobrando ao longo de uma disciplina da estrutura curricular do curso de graduação em Museologia, o tempo semanal era de 4 horas. Os encontros foram realizados todas as quartas-feiras, com alguns encontros extras na sexta-feira à tarde e, na semana antes da abertura, com uma dedicação diária à montagem.

A Exposição Intitulada “É Verdade? Uma Expo Reflexão Sobre Fake News” ficou instalada na sala de Exposições Temporárias do Museu Antropológico da UFG no período de 04 de junho a 31 de agosto de 2018. Esteve aberta ao público para visitações de terça a sexta-feira, das 9 às 18 horas e contou com visitações de grupos agendados e de visitação espontânea.

A escolha do tema se deu no terceiro encontro da turma de Museologia, que contou com a participação de 10 acadêmicos e com orientação da Professora Gleyce Kelly Heitor. Nos primeiros encontros foram debatidos e aprofundados os estudos sobre o que é uma exposição e seus conceitos teóricos e sobre os anseios e o que cada pessoa ali poderia trazer para a montagem e finalização do projeto. Após intensos debates e conversas, decidiu-se que queríamos tratar de um tema que fosse atual, que pensasse as polêmicas do cotidiano e que problematizasse a conjuntura em que vivemos, que nos assombra e que aterrorizava, mas que, também, tratasse de esperança.

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Foi então que decidimos que poderíamos refletir sobre as Fake News, nos debruçar sobre o que é o fenômeno e pensarmos a partir dali o que entraria na exposição nos critérios de seleção. No quarto e quinto encontros, discutiu-se e dividiu-se as equipes de trabalho para pensar quatro módulos expositivos, que assim desenharam-se:

O 4º Módulo foi o que eu fiquei responsável, junto com Milena Souza e Clecia Santana. Desenvolvemos uma intensa pesquisa em sites, jornais e vídeos sobre as violações do ser humano frente aos tribunais de internet a partir de uma fake news. Já tínhamos em mente que abordaríamos a ditadura militar e foi selecionado o caso de Vladimir Herzog, que abre a exposição, e é o arquivo de atestado de óbito de sua morte que inspirou a arte e estética de toda exposição.

Foi a partir dessa escolha que pensamos em casos de violência seguidos de difamação e de violação de dignidade, mas que decorreram em movimento social na luta pelo esclarecimento da verdade de uma forma quase que imediata. Selecionamos, nesse momento, alguns casos de repercussão nacional: caso Amarildo, Cláudia, Sabotinha, e caso Rafael Braga e caso Marielle. Portanto, dentro da exposição, o assunto que abre é o Caso Herzog e o que fecha é o Caso Marielle, entre uma infinidade de pesquisas, notícias, recortes de jornais, revistas e vídeos; um filtro de tudo que fora pensado em entrar nesse módulo. Selecionamos, filtramos, redesenhamos os layouts e a estética final ficou da seguinte forma:

Todos os casos anteriormente pensados foram retirados e permaneceu somente o caso de Marielle, porque nos deparamos com o fato de que havia contradições de depoimentos policiais e, embora fossem inverdades, não podíamos generalizar ao ponto de dizer que era fake news, pronto e acabado. Afinal, muito embora não estivéssemos ali para dizer que é verdade ou mentira, não podíamos ser irresponsáveis a ponto de trazer o debate de que todo caso policial é uma fake news, que é o que pareceria.

O motivo da escolha pelo caso de Marielle fica claro, pois, para além da dor, queríamos tratar de esperança, mas, também, de questões que estão latentes hoje em nossa sociedade, como a intervenção militar no Rio de Janeiro, o assassinato político da única mulher negra que ocupava a Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro e que questionava as violências dessa intervenção e da ação do braço armado do Estado e que, logo após a sua morte, criou-se fake news em seu nome, seguida da criação de uma rede de proteção pela memória do que foi e do que representou e ainda representa Marielle. Seria, portanto, impossível deixar Marielle de fora do eixo expográfico, embora tenha sido um processo doloroso.

Uma função que também me coube dentro da montagem da exposição foi a de captação de recursos. Para tal, foi desenvolvida a venda de uma rifa e coleta de doações espontâneas junto a professores da UFG e Movimentos Sociais de Direitos Humanos na Cidade de Goiânia. Foi com esse orçamento e com mais uma cifra disponibilizada pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG que conseguimos custear um designer gráfico, fazer os adesivos da logo de abertura da exposição, do texto introdutório e do expediente, bem como a compra de tinta para pintura da sala, pagamento dos lambes feitos e compra dos paspatur (ou Passe-partout), quadros, imãs e cola.

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Oficialmente, pelo livro de Ata da Exposição, contamos com o total de 301 visitantes, durante o período de 04 de julho a 31 de agosto de 2018. Porém, o número é maior, pois algumas assinaturas foram feitas somente no livro geral de registro de visitação do Museu Antropológico. A Exposição atraiu crianças e adultos das mais diversas localidades da cidade de Goiânia e de outras localidades, visitas de acadêmicos dos cursos de comunicação tanto da UFG como de outras instituições, assim como de História e de Sociologia e Relações Internacionais; também contou com visitas de estudantes do ensino médio.

Entre as anotações encontradas no caderno de observações pelos visitantes é de que a exposição tratou de forma dinâmica e bem atual o tema, de forma geral. Isso nos leva a refletir que a exposição cumpriu o seu papel de ser um espaço que aglutinasse o conhecimento e a formação museológica e que propiciasse, a partir da comunicação expográfica, o debate e formação de conhecimento crítico.

Seminário de direitos humanos

O seminário foi a proposta que apresentamos ao conjunto da exposição e ao museu como atividade de encerramento da exposição. Ele aconteceu durante os dias 29, 30 e 31 de agosto de 2018, com atividades desenvolvidas na Faculdade de Direito, no salão Nobre, e no miniauditório do Museu Antropológico, contou com atividades de cine-debate e palestras e com visitas mediadas à exposição.

O seminário teve por objetivo fomentar discussões e debates acerca da Memória dos Direitos Humanos no Brasil a partir do ano de 1964 até a atualidade, trazendo espaços de visitação à exposição temporária É Verdade? Expo-Reflexão sobre Fake-News, e pensando em espaços propostos como atividades educativas a partir do recorte de direitos humanos da Exposição.

Teve em seu total 50 inscrições, recebidas via internet, que foram feitas de forma gratuita e divulgadas por meio de redes sociais, além de mais 10 inscrições feitas durante a realização do evento. Estava prevista a participação das turmas de terceiro ano do Colégio Estadual Pré-Universitário CEPI PreVEST, escola de ensino integral, da rede estadual de ensino, localizada na Rua 240, s/n - Setor Leste Universitário, Goiânia - GO, 74440-460.

Foram realizadas três conversas com a coordenação pedagógica da referida escola para liberação das turmas do terceiro ano para participarem das atividades do período vespertino. Foram confirmados e designados professores que fariam o acompanhamento a visita à exposição, seguida do cine-debate. Porém, no dia do evento, a coordenação entrou em contato desmarcando a atividade, alegando não ser possível os professores acompanharem, pois a mudança na reforma curricular desenvolvida pela Secretaria de Educação estava em fase de aperfeiçoamento e de reuniões importantes, que demandariam a presença dos professores anteriormente designados para a atividade.

É importante salientar que o contato da escola foi revisto após a coordenação solicitar a imagem de divulgação do evento que consta logo abaixo:

O seminário teve, em sua maioria, a participação de um público universitário, mas contou com a presença de mestrandos e estudantes do ensino médio. Os dados quantificados foram os apresentados abaixo, das inscrições feitas a partir do link da internet.

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Destacou-se, nos interesses pelo seminário, a importância pelo tema, a busca de conhecimento e aprendizado e a busca por se vivenciar e partilhar ideias sobre os direitos humanos, e ter uma noção de como as pessoas veem e lidam, no decorrer das décadas e tempo, com um assunto tão delicado e de suma importância para a manutenção do bem-estar da sociedade como um todo, e o respeito pelas pessoas.

Cada participante recebeu um kit com pasta, caneta, bloco de anotação, programação e um kit de materiais disponibilizado pela ONU: cartilha sobre direitos Humanos e mediação de conflitos, Declaração Universal de Direitos Humanos e Carta das Nações Unidas. O material foi solicitado junto a ONU Brasil.

Conclusões

Desde quando cheguei a terras goianas, me espantava perceber um apagamento e um silenciamento a respeito da ditadura nesse território. Isso se dá porque, se por parte do Estado faz bem esquecer, para quem viveu em tempos tenebrosos é doloroso relembrar. Porém, com as latentes ameaças se sobressaindo a todo o momento, onde vozes do presente evocam um discurso de exultação e louvor de um passado sombrio e de aclamação da ditadura militar como algo bom, é mais do que preciso, é necessário, trazer à tona esse debate e fazer com que a sociedade discuta.

Os museus devem servir para lançar luz aos problemas evocados pela sociedade no qual estão inseridos e fazer com que a sociedade reflita e pense de forma que o conhecimento possa ser formulado e debatido dentro dos seus espaços. Não como um espaço de evocação e cristalização de uma verdade, mas como um espaço em que seja possível fazer com que seus visitantes reflitam as práticas cotidianas e gerem conhecimento e formação de cidadania.

Entendemos que a partir da definição do Museu como espaço de educação, as propostas de intervenção ganham um grande destaque. A relação do museu com a educação é permanente: o museu é, portanto, um agente incomparável da educação permanente da comunidade. Deve, acima de tudo, desempenhar o papel que lhe cabe, tudo isso de uma forma horizontal, na qual essas ferramentas de produções culturais sigam seus critérios locais e partam da realidade concreta do seu entorno. A temática se coloca como um centro de fundamental importância aos sujeitos, sobretudo os sujeitos sobre os quais a ferramenta cultural está sendo desenvolvida. Um museu deve servir para a comunidade de seu entorno, e deve fazer sentido e gerar, sobretudo, meios para acesso às práticas culturais.

Como historiador de formação acadêmica e sendo graduando em museologia, gostaria de reafirmar minha crença na importância da função social que os museus exercem no mundo globalizado em que vivemos. Remontando às origens gregas da palavra museu, penso essa instituição cultural como uma grande Ágora, ou seja, um espaço múltiplo que propicia o encontro das diversidades. Afinal de contas, pouco importa que o museu seja um local onde se guardam coisas velhas ou novas. o importante é que ele seja um espaço que dialogue com a vida cotidiana das pessoas, estimule a reflexão crítica e proponha ações que as ajudem a construir seus próprios sonhos.

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O museu precisa ser um elo integrador, onde pode se buscar reatar laços, diminuir diferenças e atenuar divergências de conflitos passados, deve ser uma instituição socialmente necessária e que promova diálogos, que tenha como pilar fundamental o respeito às diferenças e à diversidade e que enfrente as contradições inerentes aos processos sociais. Deve ser um organismo representativo, de integração e de intercâmbio, que estabelece pontes e “extermina” fronteiras culturais.

Os dois processos marcados por esta proposta, e a concretização real das intervenções, conforme foram relatadas neste trabalho, é motivo de grande alegria, pois conseguimos de uma forma única trazer à tona debates importantes e atuar junto à sociedade e à instituição cultural na formação de conhecimento. E, mais que isso, fazer com que o exercício da reflexão fosse feito, gerando assim cidadania e acesso a espaços culturais.

Isso se deu a partir da elaboração de uma exposição museal, de formato colaborativo, na qual desenvolvi a pesquisa a respeito das violações dos Direitos Humanos nos casos de Vladimir Herzog e de Marielle Franco, a elaboração de texto, bem como pensamos recursos expográficos e a comunicação museal – conteúdo e público, além da elaboração de texto sobre o Módulo Direitos Humanos da exposição.

Por meio da proposta de seminário para o encerramento da “É Verdade? Expo Reflexão sobre Fake News” Procuramos agregar pessoas e promover a troca de experiências entre os participantes. Pautamos novos e velhos debates na construção da história e construção social, através de espaços de discussão democrática e onde haja diversidade de diferentes conceitos e práticas do Regime Militar e a Democracia, em crise na atualidade.

O seminário foi pensado para que atingisse toda a sociedade goiana, a fim de despertar a consciência crítica, para introdução, fortalecimento e aprofundamento de debates sobre o papel do cidadão como agente questionador e transformador da realidade. Articular o diálogo do Museu Antropológico com a sociedade goiana em geral e estreitar laços com a comunidade estudantil da região do Setor Universitário, ao mesmo tempo, é um importante espaço de exposição e de formação em direitos humanos e propiciação de acesso à cidadania e aos bens culturais

O seminário de Intervenção foi composto por uma série de debates, palestras, comunicações, mostras de artes visuais, visita à exposição temporária do Museu Antropológico, permitindo aos estudantes um espaço de diálogo e troca de experiências. Constituiu-se em um espaço de formação de conhecimento, que visa à integração entre a sociedade goiana em geral e os profissionais de diferentes áreas de pesquisas. Esse espaço visa se consolidar como uma grande oportunidade para o fortalecimento de um movimento cultural e também de divulgação da Instituição Museal.

Concluímos, portanto, que a montagem da exposição e do seminário, constituiu-se em uma rica e importante prática de Intervenção – ação Cultural, que envolveu importantes pilares do conhecimento acadêmico e contribuiu para que as intervenções fossem algo positivo para gerar criticidade e conhecimento sobre um importante período da história do Brasil, e de importantes debates sobre violações dos direitos e das dignidades dos indivíduos propiciando, também, acesso a uma ferramenta cultural importante que são os Museus.

São tempos sombrios aos que sonham, mas é necessário sermos sementes, construirmos práticas que façam a sociedade refletir e subverter a ordem que está imposta de cima para baixo.

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Referências

AMAZONAS, Archimedes Ribas. Políticas de museus do governo Lula da Silva. In: VI ENCONTRO DE ESTUDOS MULTIDISCIPLINARES EM CULTURA. Anais... Salvador, Bahia, 2010.

ARAUJO, Marcelo Mattos e BRUNO, Cristina (Orgs). A memória do pensamento museológico contemporâneo: documentos e depoimentos. São Paulo: ICOM Brasil, 1995.

CERAVOLO, Suely Moraes. Delineamentos para uma teoria da Museologia. In: Anais do Museu Paulista. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004. v.12. p.237-268.

CHAGAS, Mário; SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. A vida social e política dos objetos de um museu. In: Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v.34, p. 195-220, 2002.

DE VARINE, Hugues. O museu comunitário como processo continuado. Texto publicado em 1995, num volume de coletânea dedicado a Erik Hofrén. Cadernos do CEOM, Santa Catarina, Chapecó: UnoChapecó, Ano 27, n. 41 - Museologia Social

JULIÃO, L. Apontamentos sobre a história do museu. Caderno de Diretrizes Museológicas. 2. ed. Brasília: Ministério da Cultura/IPHAN/DEMU; Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura/ Superintendência de Museus, 2006.

NASCIMENTO JR., José do; CHAGAS, Mário; Museus e política: apontamentos de uma cartografia. Caderno de diretrizes museológicas. Brasília: Iphan, 2006. p.13-17

SANTOS, ANDRÉA ZABRIESZACH. Curso de capacitação conservação preventiva. São Paulo, Campinas: COREM. 2015, 139. I.

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