Resumo
O projeto Patrimônio Cultural do DF: Além das curvas, linhas e elitismo analisa com estudantes de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, como o acesso ao Patrimônio Histórico e Artístico brasiliense afeta a valorização da Identidade Cultural do DF. O bate-papo gira em torno das características do Patrimônio Material e Imaterial da região e da necessidade de preservar e conservar sem impedir o envolvimento do cidadão com os bens culturais. Usando a metodologia crítico-comunicativa, que tem como base o diálogo igualitário, a pesquisa participante, e com o uso do jornalismo como ferramenta pedagógica, a atividade tem como objetivo incentivar a Educação Patrimonial em instituições comunitárias. Foram utilizadas reportagens publicadas no site do jornal Correio Braziliense que abordam Brasília como patrimônio cultural da humanidade, que citam os bens culturais registrados como patrimônio cultural do DF e personalidades que têm sua história de trabalho relacionada à identidade cultural Brasiliense. A ação também uniu características da tertúlia, competências específicas de linguagens e suas tecnologias para o Ensino Médio da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para incentivar a Educação Patrimonial dentro do programa Jovem de Expressão, em Ceilândia (DF).
Palavras-chave: Diálogo. Identidade Cultural. Jornalismo.
Introdução
O Currículo em Movimento da Educação Básica do Ensino Fundamental (anos finais) do DF pontua que o contato e a valorização da pluralidade do patrimônio cultural brasileiro fazem parte da Educação para a diversidade, a cidadania, o acesso aos direitos humanos e a sustentabilidade. No Ensino Médio, a Educação patrimonial e o Patrimônio Cultural, material e imaterial, pertencem ao conteúdo que deve ser trabalhado no 1º ano. O mesmo documento considera importante os gêneros textuais escritos, orais, visuais que desempenham um papel na vida cotidiana e os contextos de uso artístico, musical, literário, jornalístico, publicitário, institucional, esportivo e de entretenimento.
[...] os conteúdos desta dimensão devem submeter-se à convicção de que o movimento não se restringe ao corpo físico, mas que se expande para a relação entre ele, a natureza e a cultura, de modo dialético e recursivo, em articulação com as condições humanas de criatividade, inventividade e capacidade de gerar o novo. (SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO, 2012)
A Carta Magna do país também normatiza como é o funcionamento da educação. No Art. 205. é assegurado que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Também deve ser “promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” No mesmo capítulo da Constituição encontra-se que o Estado deve garantir a todos os direitos culturais e o ‘acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.”
Página 329Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1.º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2.º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
§ 3.º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.
De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Educação Patrimonial reúne todos os processos educativos, formais e não formais, com foco no patrimônio cultural, para incentivar a consciência e compreensão das “referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação.” Os processos educativos devem priorizar a construção coletiva e democrática do conhecimento, através do diálogo.
[...] a Educação Patrimonial é um processo de mediação; o patrimônio cultural é um campo de conflito; os territórios são espaços educativos; as ações educativas devem levar em conta a intersetorialidade das políticas públicas; [...]. (HTTP://PORTAL.IPHAN.GOV.BR)
O jornalismo, apesar da crise, demissões e desvalorização, ainda oferece aos leitores, telespectadores, ouvintes e internautas uma abordagem transversal e dialógica. Como jornalista, acredito que essas características são necessárias para projetos e ações de Educação Patrimonial. Nas redes sociais na internet (Facebook, Twitter, Youtuber, Instagram, etc.) o jornalismo usa ferramentas de interação social online para proporcionar aos leitores uma comunicação instantânea, com informação, entretenimento e participação. Hoje, todos os jornais de credibilidade e rentabilidade também possuem um site.
Analisando a convergência dos conteúdos e o papel do jornalismo para a manutenção da democracia, foi observada a relevância pedagógica da mídia online na Educação Patrimonial. O filósofo canadense Marshall McLuhan usou a expressão aldeia global para demonstrar como as novas tecnologias eletrônicas diminuiriam a distância entre as pessoas e como esse processo tecnológico reduziria o planeta a uma aldeia. McLuhan previu uma sociedade interconectada por mídias eletrônicas.
Percebendo esse cenário de comunicação em mídias digitais, surgiu um questionamento: Como o webjornalismo pode ser usado como ferramenta pedagógica na valorização do patrimônio cultural? Assim, apresento a relevância do jornalismo para a construção, investigação e transformação através da Educação Patrimonial.
1. Desenvolvimento
1.1 Objetivo geral
- Promover a Educação Patrimonial em instituições comunitárias.
1.1.1 Específicos
- Estimular a valorização da identidade cultural brasiliense.
- Avaliar as percepções, análise e interpretação das expressões culturais do DF.
- Motivar a pesquisa de conteúdo online sobre temas relacionados ao Patrimônio Cultural brasiliense.
- Reforçar a compreensão do atual cenário sociocultural de Brasília e sua trajetória histórica.
1.2 Metodologia
No início, esse projeto de intervenção cultural utilizaria apenas a metodologia da pesquisa-ação - tomada por empréstimo das várias vertentes de metodologias da pesquisa e adaptadas a um projeto interventivo - por permitir engajamento sócio-político e o perfil militante, coletivo e cooperativo. Thiollent (2007) aponta que nessa observação o estudioso/pesquisador tem papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados. “Consiste em organizar a investigação em torno da concepção, do desenrolar e da avaliação de uma ação planejada” (p.20). O autor apresenta em sua obra uma definição que distingue a pesquisa-ação da pesquisa participativa:
Página 330Nossa posição consiste em dizer que toda pesquisa-ação é um tipo de participativo: a participação das pessoas implicadas nos problemas investigados é absolutamente necessária. No entanto, tudo o que é chamado pesquisa participativa não é pesquisa-ação. Isso porque pesquisa participante é, em alguns casos, um tipo de pesquisa baseado numa metodologia de observação participante na qual os pesquisadores estabelecem relações comunicativas com pessoas ou grupos da situação investigada com o intuito de serem melhor aceitos. (THIOLLENT, 2007, p. 17)
Assim, foi identificado que a necessidade de interação com um grupo sobre a situação estudada enquadraria o projeto na pesquisa participante. Mas, a pesquisa-ação também requer essa interatividade. Então, a intervenção foi baseada na denominação de Grossi (1981 apud MAGALHÃES, BELTRAME & QUINTO, 2011, p.9), que caracteriza a pesquisa participante como um processo no qual a comunidade ou um grupo de indivíduos participa da análise de sua própria realidade como uma maneira de transformação social.
Brandão (1985) explica que a lógica do pesquisador deve ser a cultura investigada, pois elas “expressam os próprios sujeitos que a vivem.” É necessário participar da história do outro. Conhecer, compreender, para depois explicar. Isso permite que técnicas não convencionais - como o ponto de vista de outras pessoas que também observam o grupo e sua cultura, a observação de outros profissionais (jornalistas, professores, comerciantes, etc.); e questionários - possam ser executadas e colaborem para a pesquisa participante.
Quando o outro se transforma em uma convivência, a relação obriga a que o pesquisador participe de sua vida, de sua cultura. Quando o outro me transforma em um compromisso, a relação obriga a que o pesquisador participe de sua história. (1985, p.12)
As etapas metodológicas da Educação Patrimonial também foram empregadas na construção do roteiro e na realização do projeto.
Etapas | Recursos/atividades | Objetivos |
---|---|---|
Observação | Exercícios de percepção | Função/significado |
Registro | Descrição verbal | Fixação de conhecimento percebido, análise crítica, desenvolvimento da memória |
Exploração | Análise do problema, pesquisa | Julgamento crítico, interpretação |
Apropriação | Releitura, texto | Desenvolvimento da capacidade de auto expressão, apropriação, participação criativa, valorização do bem cultural |
As características da Tertúlia Dialógica também auxiliaram a análise do tema junto com a pesquisa participante e a metodologia da Educação Patrimonial. A Tertúlia surgiu em Barcelona na Escola de Educação de Pessoas Adultas de La Verneda de Sant-Martí, em 1978. É uma atividade cultural, social e educativa desenvolvida a partir da leitura de livros da literatura clássica universal e o diálogo através da escrita e da visão particular de cada pessoa sobre o mundo. Se orienta na metodologia crítico-comunicativa, que tem como base o diálogo igualitário. Pereira e Andrade (2014), apresentam os seguintes significados:
- Tertúlia - vem da língua espanhola e expressa “encontro com amigos”.
- Literária - uma arte que aborda a existência humana, suas reflexões e emoções.
- Dialógica - descolonização da leitura e desconstrução da escola bancária (tradicional e hierárquica). Não há a intenção de “decifrar” o que o autor disse. É o compartilhamento do que foi pensado e sentido, a partir de vivências, durante a leitura.
Flecha (1997 apud PEREIRA & ANDRADE, 2014, p. 24) define que o funcionamento da TLD é reunir em uma sessão por semana um grupo de pessoas que decidem, em conjunto, ler e refletir sobre um texto literário. Um diálogo é construído a partir das contribuições de cada indivíduo. Com base nos princípios da tertúlia e em suas várias possibilidades, que permitem que outras ferramentas – música, filmes, poesias, crônicas, entre outros – possam ser usadas dentro desse processo de promoção de espaços de diálogo igualitário, foi proposta uma roda de conversa norteada por textos jornalísticos. Foram utilizadas dez reportagens publicadas no site do jornal Correio Braziliense que, a partir de 2015, abordaram de alguma forma o tema Patrimônio Cultural.
Educação Patrimonial |
---|
Patrimônio Cultural |
Os títulos culturais concedidos à Brasília |
O Patrimônio Cultural Imaterial do DF |
A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida |
Bumba-Meu-Boi de Seu Teodoro |
Athos Bulcão |
Museu Nacional da República |
Cultura brasiliense |
Diversidade cultural |
Além de utilizar o jornalismo no projeto por motivos profissionais, o uso do webjornalismo também se baseia na área de Linguagens e suas Tecnologias da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que propõe que os estudantes do Ensino Médio possam ter experiências significativas com práticas de linguagem em diferentes mídias (impressa, digital, analógica). Dentro dessa área são priorizados cinco campos de atuação social, como o campo jornalístico-midiático (mídia informativa - impressa, televisiva, radiofônica e digital), que permite trabalhar as Competências específicas de linguagens e suas tecnologias para o Ensino Médio, como a compreensão de fenômenos geográficos, políticos, históricos, sociais, e as demais variáveis que a sociedade possui. Essa prática contribui para o reconhecimento e respeito da diversidade.
Trata-se de ampliar as possibilidades de participação dos jovens nas práticas relativas ao trato com a informação e opinião, as quais estão no centro da esfera jornalística/ midiática. Para além de consolidar habilidades envolvidas na escuta, leitura e produção de textos que circulam no campo, o que se pretende é propiciar experiências que mantenham os jovens interessados pelos fatos que acontecem na sua comunidade, na sua cidade e no mundo e que afetam as vidas das pessoas. (BNCC – ENSINO MÉDIO, 2017,p.510)
Além das reportagens também foram utilizados vídeos curtos para agregar mais informação à conversa. Dois vídeos de autoria do Correio Braziliense e que estão disponíveis no canal que o jornal possui no Youtube. O primeiro (4 min e 54 seg) chama-se Fiéis contam sobre devoção que move Festa do Divino, em Planaltina, e conta a relação dos moradores da cidade com a festividade, que é registrada como Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal. O segundo vídeo (1 min e 50 seg) faz parte de uma série que mostra imagens aéreas das principais igrejas do DF e revela como é a Catedral Metropolitana de Brasília vista por cima. Já o Terceiro vídeo (4 min e 44 seg), produzido pelo Ministério da Cultura, mostra o legado do Bumba-Meu-Boi de Seu Teodoro, que tem Sobradinho como cidade-sede.
1.3 Procedimentos
Considerando os princípios e diretrizes conceituais da Educação Patrimonial e a necessidade de inserir os bens culturais na rotina das pessoas, surgiu o projeto Patrimônio Cultural do DF: Além das curvas, linhas e elitismo. A proposta é, através de uma roda de conversas sobre a identidade cultural brasiliense, fortalecer os vínculos com o Patrimônio Cultural e incentivar a preservação dos bens.
Os diferentes contextos culturais em que as pessoas vivem são, também, contextos educativos que formam e moldam os jeitos de ser e estar no mundo. Essa transmissão cultural é importante, porque tudo é aprendido por meio dos pares que convivem nesses contextos. Dessa maneira, não somente práticas sociais e artefatos são apropriados, mas também os problemas e as situações para os quais eles foram criados. Assim, a mediação pode ser entendida como um processo de desenvolvimento e de aprendizagem humana, como incorporação da cultura, como domínio de modos culturais de agir e pensar, de se relacionar com outros e consigo mesmo. (IPHAN, 2014, p. 22)
A política de Educação Patrimonial do IPHAN se divide da seguinte forma:
Página 333A | Inserção do tema Patrimônio Cultural na educação formal | A reflexão sobre a preservação do patrimônio cultural na educação básica através de parcerias com o Ministério da Educação. E na educação superior incentivar programas de extensão universitária com foco no Patrimônio Cultural. |
---|---|---|
B | Gestão compartilhada das ações educativas | Incentivar a Rede Casas do Patrimônio e a criação e manutenção de políticas públicas para a Educação Patrimonial, a partir de uma construção coletiva. |
C | Instituição de marcos programáticos no campo da Educação Patrimonial | Normalização de diretrizes dos seguintes documentos: Carta de Nova Olinda (2009), I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural (2009) e Documento do II Encontro Nacional de Educação Patrimonial (2011) |
A Carta de Nova Olinda possui em suas premissas básicas a fomentação do reconhecimento da importância da preservação do patrimônio cultural. Um dos objetivos do documento é “Identificar e fortalecer os vínculos das comunidades com o seu patrimônio cultural”. O projeto não tinha tempo hábil para identificar os vínculos que uma região administrativa do DF possui com o patrimônio cultural brasiliense. Assim, surgiu o objetivo de promover a Educação Patrimonial em instituições comunitárias.
Página 3341.3.1 Jovem de Expressão
Inicialmente, o projeto seria executado em uma escola pública de ensino médio. Mas a burocracia fez com que o plano inicial fosse mudado e a atividade foi reorganizada para ser realizada em um espaço cultural e comunitário.
Em 2017, o Instituto Caixa Seguradora criou o programa Jovem de Expressão. A iniciativa tem como objetivo promover a valorização da juventude do Distrito Federal no mercado de trabalho e diminuir a vulnerabilidade à violência social de jovens entre 18 e 29 anos. A gestão do programa é compartilhada com a organização não governamental Rede Urbana de Ações Socioculturais (R.U.A.S.) e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). O projeto está localizado na Praça do Cidadão em Ceilândia Norte (DF). É dividido em dois eixos:
- Expressão Jovem: oficinas culturais e de comunicação comunitária, com foco no empreendedorismo.
- Fala Jovem: terapia comunitária que promove a saúde mental e emocional dos jovens.
Dentro do programa existe um projeto chamado Pré-Vestibular do Jovem de Expressão. O curso está na sexta edição e tem como objetivo auxiliar jovens que desejam passar no vestibular, com foco no ENEM. Por ser um exemplo de parceria com setor privado, a sociedade civil e o Sistema Nações Unidas e por incentivar a criatividade e senso crítico da juventude, o programa Jovem de Expressão foi o escolhido para a análise de como os bens culturais e o patrimônio cultural do DF estão inseridos na realidade social de quem frequenta o local.
1.3.2 Prática
Após apresentação e instruções para o preenchimento dos termos, os participantes receberam um questionário. As perguntas tinham como base os temas das reportagens que seriam usadas na conversa. Para estimular os participantes, foi criado um método para preencher o questionário usando Memes famosos e hashtags. A ideia é uma referência a professores que têm usado memes para corrigir provas.
Na roda de conversa, a intenção era descontrair durante a tarefa, para que não fosse maçante. O método também foi utilizado por conta da relação dos jovens com as redes sociais na internet e da convergência, que para JENKINS (2009, p.30) não acontece apenas em eletrônicos, mas em nossas atitudes e ações sociais. Cada pessoa constrói sua realidade através da influência dos conteúdos ofertados pela mídia e os usa para interagir socialmente.
Por haver mais informações sobre determinado assunto do que alguém possa guardar na cabeça, há um incentivo extra para que conversemos entre nós sobre a mídia que consumimos. Essas conversas geram um burburinho cada vez mais valorizado pelo mercado das mídias. (JENKINS, 2009, p.30).
Os participantes tiveram que responder:
- Sabe o que é Educação Patrimonial?
- Sabe o que é o Patrimônio Cultural?
- Conhece os títulos culturais que a UNESCO concedeu à Brasília?
- Conhece o Patrimônio Cultural Imaterial do DF?
- Já ouviu falar no Bumba-Meu-Boi de Seu Teodoro?
- Sabe quem é Athos Bulcão?
- Já visitou a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida?
- Segue o jornal Correio Braziliense no Facebook e/ou Instagram?
- Ler as matérias que citam a cultura brasiliense?
- A diversidade é a identidade cultural do DF?
Os participantes não se identificaram no questionário. Esse anonimato foi fundamentado no ponto de vista de Brandão (1985, p. 10), que destaca a boa intenção que existe nessa ação. Apesar do autor avaliar “a insistência do uso do questionário” como “uma máxima desigualdade na relação entre um lado e o outro”, a enquete da roda de conversa não tinha como objetivo identificar quem tinha mais conhecimento sobre o assunto e sim observar qual o espaço do patrimônio cultural no dia a dia das pessoas. Só houve identificação dos participantes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) da intervenção.
Além disso, o questionário foi base para a construção do roteiro do debate e mediação dos assuntos abordados. Esse roteiro foi uma espécie de bússola que guiava a roda de conversa de acordo com as observações e pontos de vistas compartilhados. Dependendo de uma resposta ou um questionamento
Etapa | Conteúdo |
---|---|
Apresentação | Promover a Educação Patrimonial em instituições comunitárias. |
Estimular a valorização da identidade cultural brasiliense; propiciar a produção e geração de novos conhecimentos através da Educação Patrimonial; incentivar a leitura através de textos webjornalísticos. | |
Instruções termos | TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido |
TALE: Termo de Assentimento Livre e Esclarecido | |
Dinâmica | Sobre você | 1 minuto para cada participante. |
- Usar cronometro | |
1. Si: origem, família, onde mora, etc. | |
2. Nós: Rede, comunidade, órgão, coletivo, ativismo, etc. | |
3. Agora: porquê está aqui? O que te trouxe a este lugar? O que sente neste momento? | |
Instruções questionário | Legenda |
Introdução projeto | Método: Serão utilizados reportagens e vídeos do jornal Correio Braziliense para nortear o debate. |
Educação Patrimonial | Conceito |
Patrimônio cultural | Patrimônio Material, Patrimônio Imaterial, Patrimônio Arqueológico e Patrimônio Mundial. |
Títulos culturais de Brasília | - Tombamento do conjunto urbanístico-arquitetônico |
- Cidade Criativa em Design | |
Patrimônio Cultural Imaterial do DF | - Lista de bens registrados como Patrimônio Cultural Imaterial do DF |
- Exemplos | |
Festa do Divino | Planaltina | Vídeo |
Bumba-Meu-Boi de Seu Teodoro | Vídeo |
Athos Bulcão | - Escola Classe 316 Sul |
- Jardim de Infância SQS 316 | |
- Inventário | |
Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida | Vídeo |
Identidade cultural DF | Diversidade |
Memória | Anotar o que ouviu na roda de conversa e considera importante |
2. Resultados
A atual turma do projeto Pré-Vestibular do Jovem de Expressão tem cerca de 20 alunos frequentes. No dia da roda de conversa apenas cinco pessoas participaram. Contudo, o diálogo sobre o assunto foi amplo e rico. A participação em cada tema aconteceu de forma espontânea e curiosa. Credito essa cooperação aos princípios de aprendizagem dialógica da Tertúlia Literária Dialógica que foram usados na ação.
A familiaridade com o conteúdo online também auxiliou o debate. Isso aconteceu graças às Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) que mudam os métodos de interação. Os novos canais fazem parte da cibercultura que “expressa o surgimento de um novo universo, diferente das formas que vieram antes dele no sentido de que ele se constrói sobre a indeterminação de um sentido global qualquer” (LÉVY, 1996, p. 15).
O webjornalismo foi usado por que a convergência revela uma transformação da cultura que é uma consequência do consumo de informações e da necessidade de estar conectado (JENKINS, 2009).
Fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2009, p. 29).
Associar a convergência das mídias ao projeto foi uma tentativa de facilitar a comunicação e o diálogo, pois reconheço a importância das mídias atuais que incentivam maior participação e interação. Esse comportamento contribuiu para que a metodologia fosse exitosa e não ficasse apenas na teoria. As seguintes respostas dos cinco participantes da roda de conversa sobre o patrimônio cultural brasiliense foram registradas:
#TáTranquilo | #NãoSouCapazDeOpinar | #DeuRuim | |
---|---|---|---|
Sabe o que é Educação Patrimonial? | 1 | 2 | 2 |
Sabe o que é o Patrimônio Cultural? | 4 | 1 | |
Conhece os títulos culturais que a UNESCO concedeu à Brasília? | 4 | 1 | |
Conhece o Patrimônio Cultural Imaterial do DF? | 2 | 1 | 2 |
Já ouviu falar no Bumba-Meu-Boi de Seu Teodoro? | 3 | 1 | 1 |
Sabe quem é Athos Bulcão? | 1 | 2 | 2 |
Já visitou a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida? | 2 | 1 | 2 |
Segue o jornal Correio Braziliense no Facebook e/ou Instagram? | 2 | 3 | |
Ler as matérias que citam a cultura brasiliense? | 2 | 2 | 1 |
A diversidade é a identidade cultural do DF? | 5 |
Apesar da maioria não conhecer com certeza o que é a Educação Patrimonial, todos sabiam o que é patrimônio cultural. No entanto, quatro pessoas não tinham certeza se conheciam os títulos culturais concedidos pela UNESCO à Brasília: Patrimônio Cultural da Humanidade e Cidade Criativa em Design. Boa parte estava em dúvida sobre o Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal ou não conhecia. Não houve demonstração de que os bens culturais registrados pela Secretaria de Cultura do DF são reconhecidos ou explorados.
Isso tem relação com a ineficácia ou inexistência de projetos com foco na educação patrimonial dentro da educação básica. Outro exemplo disso é que a metade dos participantes não tem, total ou parcial, conhecimento sobre o trabalho de Athos Bulcão. Desde 2009, a vida e a obra do artista passou a ser conteúdo obrigatório na grade curricular das séries iniciais do Ensino Fundamental do Distrito Federal.
Houve uma dúvida sobre a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, popularmente conhecida apenas como Catedral de Brasília. Apesar do jogo de palavras, quase todos conheciam. Uma participante compartilhou que nunca visitou o local e apenas agora, em 2018, foi ao Centro Cultual do Banco do Brasil em Brasília.
O alcance das páginas do jornal Correio Braziliense no Facebook e/ou Instagram foi mencionado como uma tentativa de avaliar o acesso aos projetos do veículo voltados à Educação Patrimonial e fortalecimento da Identidade do DF. Só em 2018 o jornal publicou dois especiais com base no patrimônio cultural e identidade cultural da região. Em abril, lançou a série “Brasília 58 anos” e em junho o suplemento “Brasília, patrimônio vivo: os protagonistas da história da capital”, ambos disponíveis no site do jornal.
A unanimidade apareceu na última pergunta: A diversidade é a identidade cultural do DF? Todos os envolvidos apontaram que sim. No final do bate-papo tivemos um momento chamado de memória. Todos os participantes escrevem em um papel, sem se identificar, o que sentiram, pensaram e conseguiram absorver da atividade. Após escrever, todos foram convidados a compartilhar seus relatos.
3. Conclusões
Durante a roda de conversa e depois do momento de compartilhamento, ficou nítido que o objetivo da atividade de Promover a Educação Patrimonial em instituições comunitárias foi alcançado. Porém, seria necessário que a atividade fosse realizada mais de uma vez, para garantir que mais pessoas participassem. Além disso, o conteúdo poderia ser abordado com mais detalhe se para cada dia de encontro houvesse um tema dentro do conteúdo apresentado. O projeto também poderia ter sido um curso ou uma oficina com base dialógica e fora dos padrões bancários do atual modelo do que é ação educacional.
Como mediadora, consegui observar o entusiasmo das pessoas que estavam na roda de conversa. Acredito que isso contribuiu para meu otimismo e satisfação, apesar de apenas cinco participantes na atividade. Foi um desafio pessoal, profissional e acadêmico realizar e executar esse projeto. Escrever o relatório seria fácil, mas sugerir para uma instituição um bate-papo sobre um tema importante e ao mesmo tempo propositalmente ignorado, ser a moderadora e referência de conhecimento sobre o tema, exigiu muito controle e autoconfiança.
Página 338Também acredito que a atividade poderia ter se baseado na metodologia da pesquisa-ação e junto com os jovens do programa desenvolver um projeto que incentivasse e divulgasse a reflexão sobre o patrimônio cultural brasiliense em instituições comunitárias. Contudo, concluo que as memórias registradas na roda de conversa apontam que os objetivos específicos (estimular a valorização da identidade cultural brasiliense; avaliar as percepções, análise e interpretação das expressões culturais do DF; propiciar a produção e geração de novos conhecimentos através da Educação Patrimonial; motivar a pesquisa de conteúdo online sobre temas relacionados ao Patrimônio Cultural brasiliense; incentivar a leitura através de textos webjornalísticos e reforçar a compreensão do atual cenário sociocultural de Brasília e sua trajetória histórica) também foram atingidos. Um trecho de um dos relatos comprova isso:
“A diversidade está ligada diretamente à criatividade, logo nós deixa um pouco confuso na identificação sobre quem e o que somos em Brasília. Um olhar mais sensível para as redondesas é fundamental para perceber o quão nossa cultura é grande.”
4. Referências
ARTISTAS do DF criam ações que valorizam a autoestima e a identidade. Correio Braziliense. Brasília-DF. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/ app/noticia/cidades/2018/02/25/interna_cidadesdf,662089/artistas-do-df-criam-acoes-que-valorizam-a-autoestima-e-a-identidadel.shtml. Acesso: 16 de set. 2018.
ANDRADE, Ana Paula Santiago Seixas; PEREIRA, Jane. Tertúlia literária dialógica: teoria e prática a partir de uma experiência de extensão no Programa Nacional Mulheres Mil. Brasília: IFB, 2014
SABE quais são os Patrimônios Culturais do DF? Faça o teste e descubra. Correio Braziliense. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/ app/noticia/ especiais/brasilia-56-anos/2016/04/14/interna-brasilia56anos,527381/sabe-quais-sao-patrimonios-culturais-do-df-faca-o-teste-e-descubra.shtml. Acesso em: 20 de jun. 2018.
BELTRAME, R. A.; MAGALHÃES, I. A. L.; QUINTO, V. M.; Pesquisa participante versus pesquisa ação, 2011. Disponível em: http://files.wendelandrade.webnode. com.br/200000172-392a83a248/Pesquisa%20participante%20versus%20pesquisa% 20a%C3%A7%C3%A3o.trabalho.2011.1.doc. Acesso em: 29 de set. 2018.
BRANDÃO, C. R. Repensando a Pesquisa Participante. São Paulo: Brasiliense,1985.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Ensino Médio. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/ 2018/04/BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site.pdf. Acesso em: 12 jul. 2018.
BRASIL. Título VIII, Capítulo III – Da educação, da cultura e desporto. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Constituicao. Acesso em: 12 jul. 2018.
BRASÍLIA conquista título de cidade criativa em design da Unesco. Correio Braziliense. Brasília-DF Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app /noticia/cidades/2017/10/31/interna_cidadesdf,637847/brasilia-conquista-titulo-de-cidade-criativa-em-design-da-unesco.shtml. Acesso em: 16 de ago. 2018.
BRASÍLIA 58 anos. Correio Braziliense. Brasília-DF Disponível em: http://especiais correiobraziliense.com.br/brasilia-58-anos-cultura. Acesso em: 16 de set. 2018.
BRASÍLIA cria uma identidade própria e derruba estereótipos. Correio Braziliense. Brasília-DF Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/revista /2018/04/22/interna_revista_correio,675062/brasilia-cria-uma-identidade-propria-e-derruba-estereotipos.shtml. Acesso em: 16 de set. 2018. Acesso em: 16 de set. 2018.
CARTA DE NOVA OLINDA. Documento final do I Seminário de Avaliação e Planejamento das Casas do Patrimônio, 1., 2009. Casa do Patrimônio da Chapada do Araripe, Nova Olinda (CE). 14 p.
EXPOSIÇÕES prestam homenagem a Athos Bulcão. Correio Braziliense. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/ 2018/07/03/interna_diversao_arte,692470/exposicoes-prestam-homenagem-a-athos-bulcao.shtml. Acesso em: 16 de set. 2018.
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INSTITUTO do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [IPHAN]. Educação Patrimonial: Histórico, conceitos e processos, Brasília-DF: 2014.
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PLANALTINA recebe Festa do Divino de hoje até o próximo domingo. Correio Braziliense. Brasília-DF. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/ app/noticia/cidades/2018/05/13/interna_cidadesdf,680306/planaltina-recebe-festa-do-divino-de-hoje-ate-o-proximo-domingo.shtml. Acesso em: 25 de ago. 2018.
PROJETO Brasília: Memória & invenção discute a identidade da cidade. Correio Braziliense. Brasília-DF. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/ app/noticia/diversao-e-arte/2018/04/15/interna_diversao_arte,673574/o-que-e-projeto-brasilia-memoria-invencao.shtml. Acesso em: 16 de set. 2018.
SECRETARIA de Estado de Educação. Currículo em Movimento da Educação Básica – Ensino Médio. Brasília: SEDF, 2012. Disponível em: http://www.se.df.gov.br/curriculo-em-movimento-da-educacao-basica-2/. Acesso em: 18 de jul. 2018.
SÉRIE de reportagens detalha a importância da educação patrimonial. Correio Braziiense. Brasília-DF. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/ noticia/cidades/2015/12/28/interna_cidadesdf,512148/serie-de-reportagens-detalha-a-importancia-da-educacao patrimonial.shtml. Acesso em: 16 de ago. 2018.
SOBRADINHO comemora o dia do Buma-meu-boi com eventos culturais. Correio Brasiliense. Brasília-DF. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/ app/noticia/diversao-e-arte/2015/06/23/interna_diversao_arte,487502/sobradinho-comemora-dia-do-bumba-meu-boi-com-eventos-culturais.shtml. Acesso em: 16 de set. 2018.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 15. Ed. São Paulo: Cortez, 2017.