Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Propostas, Práticas e Ações Dialógicas

Programa Trampolim: jovens artistas no Museu de Arte Contemporânea de Goiás, democratização exibitiva, estímulo e produção em artes visuais

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Resumo

Este relatório técnico apresenta as etapas de execução e alguns resultados do projeto intitulado: “Programa Trampolim: mergulho para jovens artistas”, sendo este realizado por meio de financiamento público do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás, contemplado pelo Edital de fomento às Artes Visuais nº 13/2016, sendo, ainda, executado em parceria com o Museu de Arte Contemporânea de Goiás – MAC. Neste trabalho serão apresentados os resultados parciais do projeto de ação que, até o momento de escrita do presente relatório, ainda se encontrava em realização. Serão analisadas as contribuições do programa em suas duas primeiras fases de execução. A primeira fase se refere à visita aos ateliês dos artistas selecionados para as primeiras orientações, a segunda fase diz respeito ao seminário de apresentação das pesquisas visuais e, a terceira, a realização de uma exposição. Para tanto, a metodologia empregada foi em diálogo com a crítica do processo de criação; entre os resultados obtidos damos destaque para ampliação do circuito artístico na cidade de Goiânia e a democratização e acesso aos bens culturais. Concluindo, assim, que é necessário efetivar outras políticas culturais que garantam a ampliação da economia criativa na cidade.

Palavras-chave: Jovens Artistas. Arte Contemporânea. Educação. Museu.

Introdução

Foi o projeto de ação da Especialização Interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania - EIPDCC, vinculada ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos - NDH, da Universidade Federal de Goiás – UFG, que nos possibilitou olhar de uma forma diferenciada para a execução do programa de exposições do Museu de Arte Contemporânea – MAC, do Estado de Goiás, entidade institucional da qual integro a equipe há quatro anos.

O tempo de exercício no Museu e o estímulo da especialização, nos possibilitaram um olhar mais atento para a programação do MAC e perceber quais eram os perfis de artistas que integravam a pauta de exposições do museu. A princípio, era perceptível a tendência institucional por exibir artistas com carreiras consolidadas e já com notória credibilidade do circuito artístico e\ou inseridos nos setores de mercado de arte. Nossos questionamentos estavam justamente em acreditar que outra categoria de “jovens artistas” deveria, de algum modo, também ser uma preocupação da instituição.

Como qualquer outra instituição cultural pública que deve se preocupar com seus processos de democratização e rever suas histórias a fim de manter sua função cultural e educacional diante dos diversos públicos, almejamos a criação de um programa que atendesse em parte estas e outras demandas do Museu de Arte Contemporânea. A partir disso, foi pensado e redigido o “Programa Trampolim: mergulho para jovens artistas”, cujo objetivo geral seria criar um programa cultural que partisse do Setor Educativo do Museu e que pensasse nos desafios e nas políticas do museu, por meio de ações culturais e educativas.

Deste modo, apoiado no referido programa, pretendeu-se com as ações desenvolvidas proporcionar a criação de um lugar de diálogos e troca de experiências sobre a produção em artes visuais contemporâneas de jovens artistas na Região Metropolitana de Goiânia. Por meio de uma convocatória de artistas que já possuem uma trajetória e produção, foram realizados três encontros nas dependências do Museu de Arte contemporânea de Goiás, onde foram feitas leituras de portfólio dos artistas selecionados. Sob a orientação de um curador convidado Raphael Fonseca e da participação da equipe educativa do MAC, além da contribuição dos demais participantes, o artista teve a possibilidade de apresentar sua pesquisa poética e sua produção, possibilitando assim momentos de discussão e visualização de novos desdobramentos.

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Até o momento de elaboração deste relatório o programa encontrava-se em execução, sendo que já haviam sido concluídas as seguintes fases: Elaboração do Projeto; Captação de recursos; Divulgação e Comunicação; Seleção de Artistas; A primeira fase do programa “Ateliês” que consiste em compreender o universo dos artistas, por meio de visitas individualizadas para apreciação das obras.; A segunda fase do programa “Mergulho”, que tem como proposta um seminário que reúna todos os artistas selecionados para juntos compartilharem suas pesquisas; e, por fim, ainda serão executadas a última fase “Exposição”, prevista para o mês de dezembro de 2018 e a prestação de contas e difusão dos relatórios finais, bem como a produção e distribuição dos catálogos da exposição.

Logo, para o desenvolvimento do relatório técnico-científico em questão serão apresentados dados e análises a partir da execução e das contribuições do programa em suas duas primeiras fases de execução, a primeira e a segunda fase já mencionadas acima. Na próxima parte do trabalho apresentaremos um pouco do processo de pesquisa desenvolvido a partir da documentação e registro de exposições do Museu de Arte Contemporânea de Goiás para a fundamentação do projeto.

1. Desenvolvimento

A. O processo de pesquisa e escuta sobre o histórico exibitivo do Museu de Arte Contemporânea de Goiás

O processo de pensar ações para um dado lugar nunca deve partir de uma vivência externa e sem envolvimento com a história do lugar, pois é preciso conhecer as trajetórias e estar atento às possibilidades reais de articulação com o meio, principalmente, vislumbrar de modo atento as potências e articulações que podem ser desenvolvidas. Como já informado na Introdução, a pesquisa para esta ação emergiu, também, da minha vivência no Museu de Arte Contemporânea de Goiás – MAC, instituição dedicada à educação, difusão, preservação, colecionismo e exibição de obras de arte de caráter contemporâneo.

Logo, vale neste princípio, compreender os caminhos históricos deste museu. O MAC foi criado em 1987, fundado como uma unidade da então Secretaria de Estado da Cultura e vinculado à antiga Superintendência de Memória e Patrimônio Cultural do Estado de Goiás. Neste período, o acervo inicial, de aproximadamente 300 peças, advindo de aquisições e doações ao Governo do Estado de Goiás estava acondicionado em uma sala do Centro Cultural Marieta Telles Machado, na Praça Cívica.

A partir de 1989, o MAC passou a funcionar no mezanino do Edifício Parthenon Center, no Centro de Goiânia, e começou suas atividades exibitivas realizando salões de arte e mapeamento da produção artística local e nacional, além de iniciar a catalogação do seu acervo. Durante a década de 90 os esforços do museu estavam relacionados à realização de alguns salões e, principalmente, a concessão do espaço para a realização de exposições de artistas locais. Em 1999, o espaço do museu, ainda no Edifício Parthenon Center, passou por uma profunda readequação arquitetônica. Neste período, o museu passou a exibir artistas nacionais já com ampla circulação, tais como: Arthur Bispo do Rosário, Ana Maria Pacheco, Siron Franco, Chuck Sans, Marcos Paulo Rola, entre outros.

Foi neste momento, também, que começou um novo ciclo de salão intitulado “Salão Flamboyant” de caráter anual, com objetivo de apresentar “os novos talentos da arte brasileira”. Perdurando seis edições, tal prêmio tinha como objetivo a formação de uma coleção em arte contemporânea para o MAC, intitulada “Lourival Lousa”, além das questões exibitivas. Esta coleção configura um importante repertório de obras e artistas do período, servindo de base para inúmeras pesquisas.

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Em 2006, a sede administrativa e os espaços expositivos do museu foram inaugurados no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, permanecendo o acervo na antiga sede. Em junho de 2014, com a instalação da nova Reserva Técnica no Centro Cultural Oscar Niemeyer, o acervo, de aproximadamente 1200 obras, foi transferido. A partir de então, a salvaguarda e a conservação das obras ficaram sob a responsabilidade do Gabinete Gestor do Centro Cultural Oscar Niemeyer.

O acervo de obras de arte do MAC é constituído por esculturas, desenhos, pinturas, gravuras, objetos, fotografias, instalações e mídias contemporâneas de vários artistas nacionais e internacionais. Deste conjunto, é predominante a existência de obras em papel como: gravuras, desenhos, pinturas, fotografias, entre outros. A maioria das obras do acervo provém de salões de arte e prêmios realizados no Estado de Goiás, frutos de seleções realizadas por curadores, críticos de arte e professores de todo o país, além de artistas que doaram suas obras para a constituição do acervo.

No entanto, é preciso mencionar que o último programa de aquisição do museu data de 2006, criando uma lacuna de 12 anos sem que haja uma política aquisitiva para a coleção do MAC. A partir, também, desse desafio, construímos o “Programa Trampolim”, com o intuito de confrontar alguns pontos relacionados às práticas exibitivas da instituição, demarcar o compromisso educativo e formativo do museu, além de colocar novas questões a respeito da produção recente em artes visuais no Estado de Goiás. Como pensava Gilberto Freire sobre a proximidade dos museus e as escolas:

O museu organizado com critério científico e com sentido didático está longe de ser uma coleção de curiosidades. É uma escola. É um laboratório. É um lugar que favorece o estudo vivo e concreto de vários assuntos de interesse cultural e de importância social. (FREIRE, p.38. 1962).

No próximo tópico, sobre a criação do programa, apresentaremos os elementos que foram norteadores para a criação e desenvolvimento do projeto em suas dimensões pedagógicas e do planejamento para a produção das ações.

B. O desenvolvimento do Programa Trampolim: mergulho para jovens artistas

Como já previamente exposto, o programa foi criado com o intuito de constituir um lugar de convergência e troca de experiências sobre a produção em artes visuais contemporâneas de jovens artistas na Região Metropolitana de Goiânia e região. Por meio de um programa intitulado “Trampolim”, nome criado a partir da imagem do trampolim do Lago das Rosas (ver figura 2), hoje um monumento tombado como representante do estilo Art Déco da cidade de Goiânia. Tomado por seu potencial metafórico de representar um salto rumo ao mergulho no campo das artes visuais, nos permitindo um aprofundamento na cena local e, consequente, contato com artistas e produções não inseridos nas superfícies dos circuitos já instituídos.

A convocatória para esta ação foi destinada a artistas que já possuíam uma trajetória e produção, dispostos a participar do programa em três fases: 1ª) Uma visita aos ateliês dos artistas; 2ª) Seminário para compartilhamento poético realizado no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás - UFG; 3ª) Exposição no salão principal do MAC. Sob a orientação do curador Raphael Fonseca e da equipe do programa, o artista teve a possibilidade de apresentar sua pesquisa poética e sua produção, possibilitado por meio das discussões e questionamentos.

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Orientado por um pensamento metodológico que reforça o valor artístico do processo, na tentativa de pensar de modo integrado todas as etapas da pesquisa em artes visuais, planejamos ações durante o programa que dessem suporte ao artista, avaliando e contribuindo com sua formação em diferentes momentos do processo criativo. A pesquisadora em processo criativo Edna Goya, em sua pesquisa sobre “Estudo de Processo de Criação”, enfatiza a importância de se olhar o processo artístico em vários momentos para compreender o objeto artístico.

A crítica de Arte, pelo Estudo do Processo de Criação, age em duas direções: a) analisando os vestígios, historicamente armazenados pelo artista, denominado Crítica Genética, e b) pelo acompanhando do artista no decorrer da produção (in loco), denominada Crítica de Processo. Na Crítica Genética a metodologia adotada, como filtro para se ler os documentos de artistas, é o Estudo de Documentos de Processo de Criação, que tem como foco os vestígios criadores que antecedem à obra, tendo a mesma como referência para a análise. Investigar não o sujeito, mas as suas ações. Estuda os diferentes movimentos criadores para produzir o “objeto” de arte. Na segunda forma de leitura o crítico faz o acompanhamento das ações do artista in loco. (GOYA, p 02. 2009)

Logo, observamos que o Programa Trampolim se propõe a estimular o desenvolvimento poético e visual por meio do acompanhamento curatorial dos artistas selecionados pelo programa, a partir de uma convocatória/edital, onde, ao fim do programa, pretende-se produzir uma publicação/catálogo apresentando a produção de cada artista e a montagem de uma exposição onde serão apresentados os trabalhos desenvolvidos durante o Programa Trampolim.

Em todas as etapas do programa, percebemos o quanto ações como estas são importantes para a formação de um setor cultural mais dinâmico, conectando várias etapas da produção de artes visuais: seleção, formação, produção de obra, montagem e exposição. Este modo mais estendido do projeto possibilitou a criação de um vínculo maior entre os participantes, fazendo surgir deste encontro outras parcerias e produções. Porém, outros fatores que surgiram ao longo do percurso fizeram com que o cronograma original fosse modificado, principalmente por conta dos atrasos do Fundo de Cultura de Goiás e as obras relacionadas à reforma do Centro Cultural Oscar Niemeyer; estes obstáculos fizeram o projeto se estender por quase 1 ano, em vez de 6 meses como previa o planejamento inicial.

O próximo tópico exemplificará melhor os recursos financeiros e operacionais utilizados para a viabilização do projeto.

C. Fomentos públicos para viabilização do programa

Após a elaboração conceitual e a formatação estrutural do programa, foi necessário viabilizar sua execução por meio de um planejamento financeiro. Muitas ações realizadas em instituições públicas de finalidade cultural e/ou educativa são executadas sem qualquer tipo de financiamento, são várias as motivações que nos fazem acreditar na inviabilidade de criar ações culturais que dependam de recursos financeiros: a falta de planejamento em médio prazo; os entraves burocráticos da máquina pública; ausência de técnicos especializados na captação de recursos; a imprevisibilidade dos editais públicos de financiamento cultural.

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Em meio aos entraves, acreditávamos que era fundamental recorrer a algumas estratégias para viabilizar a execução do programa, deste modo, optamos por dividir as responsabilidades de produção da seguinte forma: a equipe do museu ficaria responsável pelas partes executivas que lhe cabiam e a parte financeira e de gerenciamento dos recursos seria de responsabilidade de uma produtora cultural. O projeto foi submetido ao Edital nº 13/2016 – Fomento as Artes Visuais do Fundo de Cultura do Estado de Goiás e contemplado com o prêmio de 100 mil reais para sua execução.

Devido a alguns contratempos nos repasses do Fundo de Cultura do Estado de Goiás foi necessário que houvesse algumas alterações no calendário de execução do programa. Previsto inicialmente para o ano de 2017, o projeto teve de ser readequado para implementação da programação em 2018. O recurso do prêmio foi utilizado para a contratação do curador convidado; a contratação de equipe de seleção dos artistas; compra de passagens aéreas; ajuda de custo aos artistas selecionados e para a contratação de serviços como: designer gráfico, assessoria de comunicação, impressão de material gráfico, hospedagem, montagem de exposição, entre outros.

Ao tempo que a atual política de fomento a cultura no Estado de Goiás a partir da criação do Fundo de Arte e Cultura foi instituído pela Lei n° 15.633, de 30 de março de 2006 e regulamentado pelo Decreto nº 7.610, em 07 de maio de 2012, possibilitou uma ampliação da cadeia produtiva por parte de outros gestores culturais que não estão ligados à máquina do Estado. Porém, a administração desta política tem passado por inúmeros atrasos quanto ao repasse dos prêmios de 2016, 2017 e 2018, inviabilizando a execução de vários projetos, muitas vezes obrigando a produção a cancelar agendas firmadas com parceiros nacionais e internacionais. O problema dos repasses que se arrastam nos últimos três anos é fruto de uma gestão pública que remaneja os recursos destinados à cultura para outros interesses.

Também devemos pensar que as políticas culturais precisam ser ampliadas, principalmente em relação a gestão institucional pública ligadas a finalidades culturais na cidade de Goiânia. Existem diversos centros culturais na cidade sem uma política de gestão cultural, vinculadas a uma memória de descontinuidade e apagamento de ações que começam e acabam sem se consolidar na história das instituições. Para além da emblemática dotação orçamentária, precisamos avançar na consolidação de políticas culturais institucionais que possam descentralizar a dependência mantenedora do Fundo de Cultura do Estado de Goiás.

D. Plano de comunicação do programa: identidade visual / plataformas / público-alvo

O planejamento de comunicação da ação foi desenvolvido pensando no público-alvo do projeto, bem como a criação de identidade visual, as estratégias para ampliar a informação e produzir conteúdo e o uso dos meios de comunicação tradicional e as redes sociais como veículos comunicacionais.

Nossa preocupação, desde o princípio, foi construir uma comunicação voltada ao público-alvo, ou seja, “jovens artistas”. Vale lembrar que optamos por utilizar a expressão “jovens artistas” não por estar relacionada à perspectiva de idade cronológica, mas, sim, sobre o tempo de produção artística; ou seja, um artista com 50 anos poderia participar do programa, desde que sua produção fosse recente. Porém, precisávamos considerar algum parâmetro para instituir o que seria um “jovem artista”, então optamos por estabelecer um critério que demarcasse esta fronteira. Sendo assim, seriam considerados jovens artistas aqueles que em sua carreira não houvessem feito uma exposição individual.

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Como disposto no item 2 do edital produzido para o programa:

2. Do Artista

2.1 A participação é restrita a artistas brasileiros natos ou naturalizados com idade mínima de 18 anos completos à época da inscrição e residentes em Goiás a no mínimo 2 anos. Os mesmos critérios são válidos para a participação de coletivos.

2.2 Como critério de seleção será considerado “novo artista” aquele que ainda não tiver exibido trabalhos em exposição individual.

2.2.1 A única exceção admitida é no caso de realização de exposição individual como pré-requisito para conclusão de curso acadêmico.

2.2.2 Para fins de comprovação do subitem 2.2, a exigência será limitada até o final do período de inscrição, qual seja, dia 30 de março de 2018.

2.3 O termo “novo artista” se refere mais ao tempo de início da trajetória artística do que à faixa etária. Portanto, não há idade máxima definida.

2.4 Não é necessário que os artistas possuam qualquer formação acadêmica no campo das artes visuais ou das humanidades. (EDITAL DE SELEÇÃO PROGRAMA TRAMPOLIM, p.35, 2018)

Assim, com o intuito de fortalecer a construção de um espaço que fosse mais democrático, evidenciamos a importância das trajetórias de produção em detrimento de uma formação acadêmica formal, com a intenção de também atingir artistas populares e autodidatas.

Outra questão que consideramos importante foi a construção de uma identidade visual que comunicasse a ideia de arte contemporânea, processo criativo e formação do artista. Para isso, usamos duas referências visuais como “gatilho” para a execução do material de comunicação.

Partimos inicialmente de um equipamento esportivo o “trampolim” não apenas como metáfora poética em toda a concepção do projeto, mas, também, de uma materialidade, o trampolim localizado no Lago das Rosas, em Goiânia, patrimônio histórico que faz parte do conjunto arquitetônico de bens tombados pelo IPHAN desde 2002.

E a obra “A Bigger Splash” (1967) do inglês David Hockney, que evidencia o frescor jovial destas paisagens aquáticas, criada a partir de sua estadia enquanto jovem em Los Angeles – Califórnia. Além da ação do mergulho, que nos interessava, buscamos também uma paleta de cor sedutora, brilhante e envolvente.

A partir desta pesquisa e em conversa com o designer gráfico do projeto, Maurício Mota, foram desenvolvidas diversas peças gráficas com principal intuito de circulação online em mídias digitais no período de 19 de fevereiro a 30 de março de 2018, uma pequena cota de cartazes impressos (50 unidades) para locais especializados, como centros culturais e universidades da cidade de Goiânia e outras localidades do Estado.

A identidade visual apresentada acima será utilizada durante todo o percurso do programa, inclusive, para a comunicação visual da exposição, na diagramação dos catálogos e do material educativo do programa. Esta comunicação foi utilizada para diversos materiais em redes sociais e blog como Instagram, Facebook, Wordpress:

O projeto foi acompanhado por uma assessora de imprensa Nádia Junqueira Ribeiro, que orientou o planejamento de divulgação do programa. Desde o início optamos por investir em uma comunicação para as redes sociais com maior ênfase, mas, também, conseguimos pauta em jornais impressos como: o “Jornal Opção”; “Diário da Manhã” e “O Popular”, jornais virtuais como “G1” e outros de menor circulação, jornais de TV, como a PUC TV e rádio, como a CBN.

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Além das mídias públicas, encaminhamos, via mala direta, informações do programa ao mailing do MAC, composto por artistas, produtores, educadores e para as coordenações de curso da Faculdade de Artes Visuais da UFG – FAV.

Acreditamos que pela adesão da imprensa em divulgar o projeto conseguimos publicizar de modo satisfatório as intenções do programa e atingir o público-alvo de jovens artistas. Principalmente estudantes de artes e que de certo modo já possuem uma pesquisa artística em andamento. O circuito que obtivemos maior adesão foram estudantes advindos da Faculdade de Artes Visuais, mas, também, artistas vindos de outras faculdades. Acreditamos que este perfil realmente estivesse em maior peso por conta de sua familiaridade com a pesquisa em artes visuais.

No próximo tópico falaremos com mais cuidado sobre os critérios utilizados para a escolha destes artistas, na tentativa de construção de um grupo diverso e plural em suas linguagens e pesquisas.

E. Seleção de jovens artistas, atenção contemporânea.

Após o período de divulgação, obtivemos 40 inscrições para um total de 10 vagas prevista para o programa. Foram inscrições de artistas que produzem em diferentes suportes, com pesquisas visuais diversas. Para a seleção deste grupo constituímos uma comissão formada por: Gilmar Camilo - Curador do MAC - GO; eu, Gilson Andrade - Educador do MAC - GO; Raphael Fonseca - Curador do MAC - Niterói e professor do Colégio Pedro II; Selma Parreira - Artista Visual e ex-professora da FAV.

A composição deste grupo de examinadores predispunha dois eixos centrais, o primeiro voltado às questões técnicas e conceituais relacionadas à pesquisa artística desenvolvida pelos inscritos e a segunda a respeito de um olhar educacional que enfatize o estágio de formação do artista como relevante, pois para a realização e concepção do programa a perspectiva da formação educativa do artista para o desenvolvimento do processo criativo é tão primordial quanto a concepção em si do trabalho de arte. Neste sentido, os percursos tradicionais do modo como se constitui o processo de composição destes poderes artísticos nos orienta pela crítica e como mote para os artistas se habituarem a este universo:

De tal modo, de um lado, tem-se os críticos de arte que são, em geral, tomados como os antigos detentores dos poderes: 1) de escolha e julgamento, em bancas de seleção ou em seus textos críticos, das obras de arte e dos artistas a serem considerados relevantes; e, 2) de interpretação e posterior tradução para o público, das poéticas propostas pelos artistas em suas obras. De outro lado, encontram-se os curadores que, geralmente, são compreendidos como tendo os poderes: 1) de escolher e julgar a relevância das obras de arte e dos artistas, isto quando eles escolhem quem serão os artistas que exporão trabalhos nas mostras por eles propostas, além de escolherem quais e como tais trabalhos serão exibidos; e, 2) de interpretar e traduzir as poéticas propostas pelos artistas ao público, isto através do ato de escrita dos textos que apresentam os trabalhos nas exposições e no momento em que escolhem o tema da mostra em que aqueles trabalhos serão exibidos. (SANTOS, p 49,50. 2015)

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Deste modo, durante o processo de seleção dos artistas, ficamos atentos também a algumas agendas contemporâneas que nos eram importantes como: constituir um grupo que considerasse uma proporcionalidade de gênero razoável; considerar pesquisas artísticas que tratavam de questões relacionadas a uma discussão de gênero, raça e minorias sociais. Este olhar de atenção a tais questões atendia também a um exercício de reavaliação da tradição expositiva do museu quanto aos antigos formatos de salões de arte já realizados na instituição. Orientados por esta pauta, foram selecionados 11 artistas, um a mais do que o previsto pelo edital, sendo estes: Ana Flávia Marú, Benedito Ferreira, Lina Cruvinel, Carlos Monaretta, Carlos Mota Morais, Estêvão Parreiras, Hariel Revignet, Hélio Tafner, Manuela Costa, Thalles Lopes, Wander Filho.

Acreditamos que a seleção fez escolhas para que o projeto tivesse condições de apresentar uma diversidade maior de artistas, a não escolha dos demais inscritos não significou falta de competência ou inconsistência nos projetos enviados. Outro dado importante desta etapa foi reconhecer na cidade inúmeros artistas que não enviaram proposta para a seleção, pois acreditavam previamente que seus trabalhos não estão ao “nível” de serem apresentados no MAC. O que reforça mais ainda a imagem distante que a instituição tem da comunidade local.

No próximo tópico, apresentaremos a primeira fase de encontros com os artistas selecionados, como foram planejados os encontros e as primeiras orientações para o desenvolvimento dos trabalhos artísticos.

F. Primeira fase de execução do programa: encontro nos ateliês

A intenção do programa sempre esteve pautada em uma perspectiva de acompanhamento educacional do artista, neste processo, era importante construir um percurso didático dos selecionados que conduzisse os participantes do seu universo criativo e de pesquisa em uma trajetória de publicizar gradualmente suas produções. Deste modo, o intuito da fase intitulada “Ateliê” se constituiu por meio de um encontro individualizado com cada um dos artistas selecionados, para que fosse alargado o encontro e a escuta sobre o campo de investigação visual de cada um, para que a curadoria compreendesse os repertórios e a profundidade investigativa de cada artista a fim de traçar o caminho e a configuração para o projeto expositivo ao término do programa.

Esta primeira fase foi executada entre 20 e 23 de abril de 2018, nas cidades de Goiânia e Anápolis, conforme tabela abaixo:

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Cronograma de visitas - Trampolim "Ateliês" - Abril 2018 sexta 20 sábado 21 domingo 22 segunda 23 Manhã - 10:00 - 13:00
Hariel 10:00 - 13:00
Carolina 10:00 - 13:00
Wander Tarde 14:00 - 17:00
Marú 15:00 - 18:00
Hélio 15:00 - 18:00
Estevão 15:00 - 18:00
Monareta Noite 20:00 - 22:00
Benedito 19:00 - 22:00
Talles 18:00 - 22:00
Carlos Mota 18:00 - 22:00
Manoela

Em sua maioria os encontros ocorreram nas casas dos artistas, que por inúmeras dificuldades logísticas, não possuem espaços de trabalho independentes. Cada encontro teve a duração de 4 a 5 horas, variando de acordo com a demanda e densidade de cada encontro.

O período dos encontros individualizados foi de fundamental importância para compreender o universo associativo dos artistas, quais caminhos são percorridos por eles para o desenvolvimento de seus trabalhos em arte e, neste sentido, poder colaborar na orientação de possíveis desdobramentos das pesquisas artísticas produzidas por eles, ampliando os horizontes e apresentando outros artistas com trajetórias similares.

Esta primeira fase também serviu para que se criasse um canal de comunicação entre os artistas, a curadoria e a coordenação do projeto. Nos meses subsequentes, à medida que os artistas avançassem em suas pesquisas a curadoria acompanharia e serviria como uma espécie de apoio pedagógico do processo, com foco no trabalho a ser desenvolvido para a exposição, porém não se limitando à unicidade da obra, mas, também, às poéticas de cada artista.

O próximo tópico apresenta o percurso desenvolvido na segunda etapa do projeto, dedicada a construção do seminário para leitura de portfólio dos artistas, planejamento das obras e da exposição.

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G. Segunda fase de execução do programa: Mergulho seminário sobre processo criativo.

Essa atividade foi planejada para acontecer dois meses após o primeiro encontro, compreendendo que este período seria suficiente para o avanço na produção dos trabalhos artísticos, criando maior segurança para uma apresentação mais ampla a respeito das pesquisas em processo.

Esta comunicação foi planejada para acontecer como uma espécie de seminário / leitura de portfólio, onde, organizados por mesas, cada artista teve um tempo determinado para comunicar sua pesquisa. As apresentações aconteceram durante os dois primeiros dias (sábado e domingo), sendo que o último encontro, na segunda pela manhã, seria dedicado a conversar sobre a curadoria e as possibilidades de apresentações dos trabalhos no espaço expositivo do museu.

Cronograma da segunda etapa:

Artista Sábado Vila Cultural -
09/06/18 Domingo Vila Cultural -
10/06/18 segunda-feira
MAC / CCON - 11/06/18 1 - Benedito - Talles
14:00 – 15:40
09:00 – 12:00
2 - Lina – Manuela – Hélio Tafner 15:40 – 18:10
Encontro coletivo para construção da exposição! 3 – Wander – Monareta – Mota Morais
14:00 – 16:30
4 - Marú – Estevão – Hariel 16:30 – 19:00
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Os dois primeiros dias de seminário, abertos para o público convidado, foram realizados no Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás - CCUFG, localizado no Setor Universitário. A proposta didática desta etapa estava pautada em ampliar os olhares para os trabalhos desenvolvidos pelos artistas, deste modo convidamos um grupo de profissionais ligados às artes visuais para acompanhar as apresentações e conferir argumentos a respeito dos trabalhos apresentados. O programa convidou: produtores culturais, curadores, pesquisadores, artistas visuais, educadores, conservadores de museus, gestores de museus, colecionadores, entre outros profissionais. Esta profusão de conhecimentos possibilitou um ambiente diverso e com inúmeras contribuições a respeito dos trabalhos apresentados.

O último momento desta etapa se dedicou a um encontro com o grupo de artistas selecionados, os curadores e a gestão do programa. Este encontro foi realizado nas dependências do Museu de Arte Contemporânea junto ao complexo cultural do Centro Cultural Oscar Niemeyer - CCON, local este onde acontecerá a última etapa do programa, quando será realizada uma exposição coletiva.

Esta etapa foi de fundamental importância para compreensão e elaboração por parte da curadoria, em diálogo com os artistas, iniciar a definição expográfica e dimensionalização espacial das obras. Neste encontro, também outras áreas do museu se apresentaram a respeito das necessidades técnicas, a museologia sobre os laudos técnicos e a conservação material; o setor de documentação apresentou os termos institucionais que regulamentam o uso do espaço; o setor educativo compartilhou o funcionamento dos programas públicos e de mediação que podem ser realizados junto a exposição; os responsáveis pela montagem e expografia explanaram sobre os recursos técnicos existentes no museu e de audiovisuais disponíveis.

Todas estas falas vão ao encontro do objetivo central do programa de capacitar os artistas em início de carreira para lidar com o universo institucional e de mercado nas artes, o que requer certa expertise com a qual só nos deparamos na prática. Deste modo, o Trampolim se torna uma plataforma didática para o exercício da prática artística enquanto profissão.

H. Terceira fase de execução do programa: Exposição

A última etapa do programa está prevista para acontecer nos meses de novembro e dezembro de 2018, compreendendo para este momento a execução do projeto expositivo e programa público. A execução desta etapa compreende uma série de movimentos importantes para a trajetória dos artistas no programa, pois será nesta fase a mobilização de códigos referentes a este universo das instituições de arte e museológicas. Neste sentido, a principal diferença na execução de outra exposição qualquer está justamente no caráter didático, a premissa de um acompanhamento educacional que amplia o diálogo entre artistas e instituição é fundamental.

Desta forma, desde o nome da exposição intitulada: “Tateando o Mundo, as fichas técnicas, laudos de obras, termos de entrada de obra, transporte das obras, montagem, as ações públicas que farão parte da exposição, as notas de imprensa, entre outras atividades que são prerrogativas para a atividade expositiva, estarão sempre acompanhadas de uma contextualização, compreendendo a funcionalidade e aplicação de cada uma destas atividades para a realidade de uma instituição pública de arte.

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É primordial nesta etapa do projeto construir um planejamento de comunicação que reforce sempre o caráter democrático e educacional da exposição, por meio de recursos que possam apresentar a exposição como parte de um circuito pedagógico e de capacitação profissional, evidenciando o processo, ou que possa minimamente sinalizar o empenho da pesquisa que culmina no espaço do museu.

Acreditamos que o projeto para a exposição consolida e marca na história do MAC a entrada não apenas de novos artistas, mas, também, de um novo pensamento sobre a função social dos espaços museológicos, precisamos pensar o compromisso destes aparelhos culturais em fazer uso de suas legitimidades para fortalecer a produção cultural local.

2. Conclusão

Se instalar nesta arquitetura, ocupando este espaço de tantas disputas de poder e de tamanha legitimação, gera, sem dúvida, algumas tensões sob os lugares de controle e autoridade que, durante muito tempo, esteve preservado de qualquer questionamento. No entanto, é necessário neste momento histórico revisitar as memórias institucionais, identificar as ausências e silenciamentos políticos que se mantiveram até agora. Acreditamos que o projeto “Trampolim” nos ajuda a fazer esta pergunta: “de quem e para quem é este museu?”

O exercício de repensar o lugar histórico da arte e das instituições públicas de preservação da memória, deve vir acompanhado de um pensar o futuro destes lugares. 1se hoje nos deparamos com um passado preocupado em manter a hegemonia de uma elite cultural, o nosso dever frente a esta documentação será de construir uma proposta mais democrática para o futuro.

Deste modo, chegamos à etapa final do projeto, concluímos 80% do programa, as fases: pesquisa, elaboração, captação, seleção e as fases de execução I e II executadas. Estamos, neste período, em fase de produção da exposição que encerrará o projeto. Nosso desejo neste momento é também o de protocolar a proposta para a segunda edição do programa, no ímpeto de manter a continuidade desta política institucional.

3. Referências

ART Déco. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: < http://enciclopedia.itaucultural .org.br/termo352/art-deco>. Acesso em: 27 set. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

FREIRE, Gilberto. Museu e escola. [1962e]. Diário de Pernambuco. Recife, 13 de mai. 1962. In: HEITOR, G. K. ; CHAGAS, M. S. (Org.). O pensamento museológico de Gilberto Freyre. 1. ed. Recife: Massangana, 2017. v. 1000. 220p .

GOYA, Edna. Estudo de processo de criação artística. GT 1: História, teoria e crítica da arte e da imagem. In: II SEMINÁRIO DE PESQUISA EM CULTURA VISUAL. Goiânia, 2009. Anais Eletrônicos... Disponível em: https://seminarioculturavisual.fav.ufg.br/up/778/o/2009.GT3a_Edna_Goya.pdf. Acesso em: 20 ago. 2018.

SANTOS, Guilherme Marcondes. Crítica de arte e a curadoria de exposições: disputas por uma autoridade legitimadora. Em Tese, Florianópolis, v. 12, n. 1, jan./jul., 2015. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/emtese/ article/download/1806- 5023.2015v12n1p34/29694. Acesso: 03 set. 2018.

4. Apêndice

Os documentos:

*Exposições – Museu de Arte Contemporânea de Goiás Período de 1989 a 2017 (tabela elaborada com base no arquivo documental do Museu de Arte Contemporânea de Goiás).

*Edital programa trampolim 2017

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