Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania Propostas, Práticas e Ações Dialógicas

Formação para a diversidade cultural: Proteção e salvaguarda do direito à memória e identidade no município de Paranaiguara-Goiás a partir das práticas escolares

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Resumo

Este trabalho de intervenção cultural visou promover ações com os alunos da Escola Estadual Presidente Costa e Silva, no município de Paranaiguara-Goiás, com o intuito de que pudessem refletir acerca de questões sobre cultura, patrimônio e identidade cultural dentro de seu próprio município. Por isso, o objetivo do trabalho foi entender como a educação cultural e patrimonial pode ser usada para contribuir na construção identitária de nossos jovens em nosso município. A metodologia utilizada foi a da pesquisa-ação e pesquisa-participante, embasei-me em Brandão (1983) e Thiollent (2007) para construção do projeto de intervenção e seleção das ações a serem executadas. Todas as ações foram pensadas com intuito de promover reflexão sobre formação da identidade cultural e criar então um sentimento de pertencimento e de respeito a essa cultura. Como método de intervenção foram realizadas ações diversificadas, que partiram desde discussões, reflexões, atividades práticas, visitações, entre outras. O resultado foi satisfatório, os alunos participaram bastante, se envolveram e puderam refletir sobre todos os temas abordados. Concluo que a realização do trabalho foi somente uma fagulha, e que estes jovens precisam de mais trabalhos constantes sobre esse tema, sejam eles nos espaços escolares como no próprio município.

Palavras-chave: Cultura. Identidade Cultural. Valorização Cultural.

1. Introdução

Esse projeto de intervenção procurou incentivar alunos de uma escola pública a olhar de um modo diferente para a cultura de sua cidade e, acima de tudo, promover reflexões sobre a formação de nossos cidadãos no que concerne à diversidade, e, de certa forma, como poderiam ser construídos mecanismos de valorização e resgate da cultura e identidade cultural do município de Paranaiguara (GO). O interesse pela realização deste projeto de intervenção foi reforçado pelo fato de ser professor atuante na área da educação básica. Nesse sentido, o meu trabalho me propicia campo para reflexão, possibilitando a percepção da demanda que poderia ser minimizada com a realização de projetos como este.

Sou professor há exatamente 11 anos e, neste período, trabalhei diversos projetos, com temas variados, com os quais aprendi bastante e que me fizeram crescer como profissional. Porém, a partir do meu lugar de fala enquanto professor da educação básica, havia algum tempo que me sentia inquieto por perceber que temáticas como estas não são discutidas nem difundidas no ambiente escolar. Portanto, essa inquietação serviu-me de motor impulsionador para que pudesse pensar em um projeto de intervenção que abarcasse toda essa discussão e pudesse ao mesmo tempo interagir com as crianças e com o processo educacional, procurando promover mudanças de um modo geral.

Paranaiguara surgiu espontaneamente às margens do Ribeirão Mateira e, depois, foi devidamente planejada e reconstruída em um lugar fora da área de inundação da represa de São Simão. Construída pela necessidade de mudança, mas, acima de tudo, pela vontade e garra de seu povo.

É importante lembrar da necessidade social que era a fomentação em Paranaiguara de um processo de ensino aprendizagem nas escolas que procurasse salientar a diversidade social, e visasse a formação de cidadãos conscientes, construindo neles a maturidade social para que pudessem servir como instrumentos de proteção à memória e identidade de seu município. Com isso, percebemos que essa construção se deu através de um processo, onde Thiollent (2007, p. 21) apresenta a sequência de passos a ser tomada: “A ênfase pode ser dada a um dos três aspectos: resolução de problemas, tomada de consciência ou produção de conhecimento.”

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Assim sendo, para discutir conceitos como cultura, diversidade cultural, identidade cultural, valorização e resgate da cultura, nada melhor que a escola, que é o meio onde o processo educacional se efetiva. Todas as ações do projeto de intervenção foram realizadas com os alunos da Escola Estadual Costa e Silva, situada na Rua Almério Virgilio Bárbara, Qd. 59, no município de Paranaiguara – Goiás. Sendo assim, as ações visavam sempre a construção em nossos jovens de um conceito sobre cultura mais amplo, pois precisamos incentivá-los a se tornarem ferramentas de transformação em seu próprio município. Como Laraia diz: “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” (LARAIA, 2007, p.67), e esse conceito sobre cultura precisa ser ampliado.

As etapas deste projeto de intervenção foram traçadas da seguinte forma:

A partir do momento em que esses jovens estão alicerçados de conhecimento, conhecedores da própria realidade, tornam-se então “ferramentas de transformação”, podendo então ter a oportunidade de transformar a sua história como, também, a história da sua comunidade.

Conhecer a sua própria realidade. Participar da produção deste conhecimento e tomar posse dele. Aprender a escrever a sua história de classe. Aprender a reescrever a História através da sua história. Ter no agente que pesquisa uma espécie de gente que serve. (BRANDÃO, 1983. p.11).

Tendo em vista que a sociedade contemporânea passa e vem passando por constantes transformações, pode ser percebido que a memória e a identidade também passam por estas mesmas mudanças, e que estão estritamente ligadas ao modo como o sujeito é visto, representado. Hall aborda bem essa fala quando diz que:

Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida. Ela se tornou politizada. Esse processo é, às vezes, descrito como constituindo uma mudança de uma política de identidade (de classe) para uma política de diferença. (HALL, 2003, p.21).

Paranaiguara é uma cidade do interior, relativamente pequena, construída por ribeirinhos e com uma população interiorana, rica em valores, histórias, memórias e com uma identidade bem particular. Toda essa riqueza cultural serviu-me de campo para que pudesse traçar ações que buscavam discutir e difundir todos os temas que pretendia trabalhar. As ações foram diversificadas, utilizei-me de discussões, dinâmicas, processo criativo, visitações, apresentações culturais, pesquisas, produção de painéis, culminância com toda a produção, entre outras atividades que de um modo geral procuraram traçar uma dialogia entre a prática educativa e ações culturais.

Seria ficar parado no tempo pensar que nossa cidade e nosso povo não se modificam e que esses valores culturais e sociais não vão se perdendo e se transformando conforme a mudanças são aderidas. Refletir sobre esse conceito de mudanças faz com que a produção de conhecimento e a participação ativa na sociedade evidencie-se necessária. E, nada melhor que o processo de pesquisa-ação para despertar nos jovens esse desejo; vislumbramos isso quando Thiollent diz:

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Consideramos que a pesquisa-ação não é constituída apenas pela ação ou pela participação. Com ela é necessário produzir conhecimentos, adquirir experiência, contribuir para a discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas (THIOLLENT, 2007, p. 24)

Portanto, com a execução das ações e a reflexão por elas incentivada, levamos nossos jovens a pensar sobre todo esse processo de transformação tornando-os pessoas mais preparadas para respeitar o passado, entender o presente e, acima de tudo, estarem conscientemente formados para construírem um futuro melhor. E essa tomada de consciência, como a execução de ações por meio da pesquisa-ação, dá suporte para que os próprios jovens se tornem protagonistas dessas transformações, vemos isso quando Thiollent diz que:

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2007, p. 16).

Portanto, fez-se necessária a realização desse projeto de intervenção, nos utilizando de recursos metodológicos da pesquisa-ação, pois, a partir dele, conseguimos possibilidades de modificação social, construindo pontes entre os vários saberes, protegendo a memória do município e refletindo acerca da identidade de nosso povo e qual é nosso papel dentro desse processo.

2. Desenvolvimento

O local de realização das ações foi a Escola Estadual Presidente Costa e Silva, no município de Paranaiguara. A escolha da instituição se deu porque a escola sempre teve um caráter igualitário e sempre procurou trabalhar em seus projetos ações que desenvolvessem o senso crítico em seus jovens. E a escola, enquanto ambiente de educação formal, tem o seu papel nesse processo, Gadotti afirma que “O grande desafio da escola numa cidade educativa é traduzir esses princípios em experiências práticas inovadoras, em projetos para a capacitação cidadã da população, para que ela possa tomar em suas mãos os destinos da sua cidade.” (GADOTTI, 2006, p. 138).

Procurou-se envolver todos os alunos da escola, não sendo feita nenhuma distinção. Os participantes/alunos estudam no turno matutino e vespertino, participando assim das ações em alguns horários de aula destinados e, também, no contraturno.

2.1 Objetivo geral

Na construção do projeto de intervenção o maior objetivo sempre foi despertar e/ou ampliar os conhecimentos dos nossos jovens acerca da história e cultura da cidade de Paranaiguara e, com isso, poder visibilizar um pouco da cultura do município, o entendimento da construção da sua identidade, estimulando sempre o aprendizado e o compartilhamento de informações e conhecimento.

2.2 Objetivos específicos

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2.3 Metodologia

Precisávamos despertar o interesse dos alunos para os temas que seriam trabalhados, procurou-se trabalhar então os conceitos de cultura, identidade cultural, diversidade cultural, patrimônio, instituições culturais, entre outros, das formas mais lúdicas possíveis para que eles pudessem interagir ao máximo com as atividades. Entender a história foi o primeiro passo para a valorização da memória e compreensão de como foi construída a identidade de seu povo. Dentro desse processo de reflexão que foi a própria construção deste projeto de intervenção, percebeu-se que a educação patrimonial é fundamental para que todos esses conceitos sejam difundidos e que nossos jovens entendam que o patrimônio faz parte da sociedade e que a criação de mecanismos de preservação e valorização de tais os tornam cidadãos mais conscientes e responsáveis de seus atos.

A educação patrimonial foi um eixo fundamental na seleção das ações que seriam executadas com os alunos da Escola Estadual Presidente Costa e Silva, e com a metodologia voltada para esse eixo, penso que a reflexão sobre o que é patrimônio e o quanto devemos preservá-lo fica coerente com tudo que discutimos de antemão. Compreendemos, então, que a escola contribui e muito para esse processo de reflexão, sendo ela uma escola (cidadã) acaba oportunizando aos jovens o momento de exercerem sua cidadania. Gadotti descreve bem esse papel:

O papel da escola (cidadã), nesse contexto, é contribuir para criar as condições que viabilizem a cidadania, por meio da socialização da informação, da discussão, da transparência, gerando uma nova mentalidade, uma nova cultura, em relação ao caráter público do espaço da cidade. (GADOTTI, 2006, p. 136).

As ações tiveram início no dia 09/03/2018, neste dia foi realizado com os alunos do 6º ano B um debate que procurava analisar e refletir o conceito de cultura, identidade cultural, meios de valorizar e resgatar a cultura local, e, acima de tudo, construir nos alunos o gosto do reconhecimento e o senso de pertencimento à cultura local.

Nesta primeira ação refletimos questões como estas:

Essas indagações impulsionaram os nossos alunos a refletir ainda sobre questões mais amplas como: até onde essas mudanças são benéficas para a formação de nossos cidadãos? Até onde essas transformações valorizam o direito à memória e identidade de nosso povo?

No mesmo dia foi feita também a dinâmica árvore cultural, onde os alunos criaram uma “árvore” com suas mãos pintadas de cores diferentes. O intuito desta atividade foi mostrar que a cultura é diferente, plural, porém pertencente a todos, e que, acima de tudo, deve ser valorizada e respeitada. Essa ação estimulou os alunos a compreender melhor o que vem a ser memória coletiva e o quanto a participação de cada um nesse processo é importante para a sua preservação, mostrando para eles que cada indivíduo que age coletivamente dentro de um grupo dá força para sua duração e perpetuação da memória coletiva. Halbwachs fala bem sobre isso: “se a memória coletiva tira sua força e sua duração por ter como base um conjunto de pessoas, são os indivíduos que se lembram, enquanto integrantes do grupo” (HALBWACHS, 2013, p. 69).

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No dia 16 de março de 2018 foi realizada com os participantes uma visita à pedra fundamental de nosso município, que fica situada em frente à prefeitura municipal. A visita tinha o intuito de concretizar as discussões realizadas com eles anteriormente, e mostrar que a “pedra da praça” é o marco inicial de nosso município, e mostra o processo de transição da nossa cidade para a atual localidade, contando assim um pouco da nossa história e nossas raízes. Na elaboração desta ação visamos que nossos alunos pudessem vislumbrar um pouco da nossa história e da nossa cultura desde a formação do município.

Os diálogos que foram surgindo fizeram com que nós, junto aos alunos, pensássemos em algo mais amplo, será que só a pedra fundamental representa parte da nossa história? Os alunos vendo que não, sugeriam mais alguns pontos de visitação. Foi então realizada uma visita a quatro instituições culturais de nosso município, sendo elas: Escola Técnica, Igreja matriz, Teatro municipal e Antiga Biblioteca pública. Essas visitas subsidiaram meios para que aprofundássemos a construção e o entendimento do que vem a ser instituição cultural e o quanto elas são variadas e importantes para a valorização e o resgate da cultura local. Essa atividade serviu para mostrar aos alunos que a cidade também educa, e que há nela diversos espaços de aprendizado. Gadotti (2006, p. 134) descreve isso muito bem: “A cidade dispõe de inúmeras possibilidades educadoras. A vivência na cidade se constitui num espaço cultural de aprendizagem permanente por si só, “espontaneamente”.

Como nossos alunos são de origem carente e, de certa forma, muitos não teriam a oportunidade de conhecer outros tipos de instituições culturais, tivemos a intenção de incentivar os alunos a aprofundar esse aprendizado e empolgá-los na participação do projeto. Então, no dia 03 de maio de 2018, fizemos uma visita a mais uma instituição cultural, levamos nossos alunos do 6º ao 9º ano para conhecerem o cinema, fomos a Rio Verde, pois este é o município mais perto onde temos um cinema. Essa ação procurou mostrar aos nossos alunos que o cinema pode ser entendido também como uma instituição cultural.

Depois de todo um período de discussão, reflexão e debate acerca dos assuntos já mencionados, percebi que precisávamos fazer com que esses alunos colocassem a “mão na massa” e pudessem se sentir parte da construção dessa história. Foi então que no dia 11 de maio de 2018 demos início à produção/confecção dos painéis, banners, cartazes, sobre diversidade cultural; todos estes materiais foram utilizados na culminância do projeto. Os alunos foram divididos em grupos e as atividades também. Eles confeccionaram as letras do painel, os cartazes e painéis de culturas diversas, e começaram a preparar apresentações culturais, declamação de poemas e apresentações de comidas típicas. Essa ação fez com que eles se sentissem mais agentes e pudessem vislumbrar o resultado de um trabalho feito por eles mesmos, senti-os estimulados e empolgados com todo o processo de produção e confecção; levamos aproximadamente umas seis aulas para que pudessem deixar todo o material pronto.

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A receptividade e a participação só foi aumentando, cada dia mais eles ficavam empolgados e se mostravam atentos a todos os conceitos já estudados. Decidimos em conjunto então, e no dia 15 de junho de 2018 realizamos a exposição dos painéis, banners e cartazes produzidos pelos alunos. Neste momento eles puderam compartilhar com toda escola tudo que foi aprendido durante esse período. Eles fizeram declamações de poemas que envolviam temáticas sobre a variedade e valorização cultural, apresentaram oralmente as características e a história de quatro culturas diferentes, se caracterizando das mesmas, fizeram um coral com a música Asa Branca, do cantor Luiz Gonzaga, trouxeram comidas típicas de cada região trabalhada; vale lembrar que as comidas foram produzidas por eles mesmos em parceria com os pais e responsáveis. Foi muito interessante perceber que através desse contato direto com os outros colegas eles puderam mostrar que a cultura existe e que ela é variada e está presente na vida deles mais do que imaginavam.

Em um último momento, depois de todo um processo de estudo, no dia 27 de junho de 2018 realizou-se a última ação da pesquisa-ação, finalizamos com a ação intitulada “Herança Caipira”, a qual visou culminar todas as discussões produzidas até então e, através desta, mostrar o quanto nossa herança é rica e deve ser valorizada. Todos os alunos foram convidados a irem caracterizados de uma forma típica que representasse nosso povo, e acima de tudo representasse a nossa formação identitária; tivemos brincadeiras tradicionais do município que foram direcionadas pelos professores e demais funcionários da escola, eles dançaram uma quadrilha improvisada, o ambiente foi todo decorado por eles mesmos durante a semana e para o fechamento desta ação foi realizado um lanche com diversas comidas típicas da nossa região, mostrando o quando a culinária municipal e regional é rica e diversificada. Esse momento foi realizado a fim de que todos nós pudéssemos compartilhar de todo o aprendizado.

3. Conclusão

Cada vez mais fica evidente que não há um caminho padrão a se seguir tão quanto um único caminho. O desenvolvimento do projeto de intervenção possibilitou uma análise de como há uma grande lacuna no processo de ensino aprendizagem de nossos jovens no que diz respeito ao conceito de cultura e valorização cultural, levando-nos a refletir estratégias e caminhos que pudessem estimulá-los a querer aprender e, com isso, se tornarem agentes sociais e culturais em seu próprio município.

Além disso, o projeto de intervenção permitiu também a execução de diversas ações dentro da escola, como ações que evadissem o muro escolar, ampliando o campo de reflexão de nossos jovens e possibilitando, assim, momentos de estudo e reflexão destas temáticas. Ficou claro que nossos jovens estavam carentes de ações como essas, e que eles mesmos não entendiam o conceito de cultura, também não conheciam a sua história e a da formação da sua cidade.

Percebemos que nossos alunos de início ficaram meio perdidos, pois até então não tinham trabalhado projetos, discutido assuntos que os levassem a pensar no que vem a ser cultura, como é construída a identidade cultural e muito menos como eles poderiam ser atores sociais de preservação e valorização da sua própria cultura. No desenvolvimento de cada ação surgia uma ideia diferente para que a próxima pudesse ser pensada e executada com os alunos.

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Um dos nossos maiores objetivos foi despertar e/ou ampliar os conhecimentos acerca da história e cultura da cidade de Paranaiguara – Goiás a partir das práticas educacionais, visando criar mecanismos de preservação e salvaguarda da memória e identidade no município. Penso que todos os objetivos propostos tenham sido alcançados, pois no desenvolvimento de cada ação buscamos visibilizar a cultura da nossa cidade e região, estimulando sempre nossos alunos a conhecer mais sobre a sua cultura e sua identidade, refletindo que a educação pode ser um caminho de transformação e que eles, enquanto cidadãos, são peças fundamentais no processo de resgate e valorização da cultura em seu município, creio que muitas contribuições foram deixadas para essa geração.

Esse processo de conscientização não pode acontecer por imposição, foi preciso entender que educação precisa libertar e não aprisionar, pensando dessa maneira observamos a contribuição de Freire no que concerne a visão da educação libertadora na fala de Gadotti: “Para Paulo Freire ninguém liberta ninguém. Todos nos libertamos juntos, em comunhão. Ele, como Karl Marx, sustentava que os trabalhadores precisam libertar-se por eles mesmos.” (GADOTTI, 2017, p. 06). As ações procuraram promover um dinamismo no aprendizado, mostrando que falar sobre cultura pode ser legal e é de suma importância para a construção das pessoas como cidadãos plenos.

No decorrer do projeto e na execução das ações, percebemos que nossos alunos foram se interessando cada dia mais, e se envolvendo de uma forma agora muito mais embasada. Eles se sentiam preparados para dialogar sobre o assunto, pois percebi que cada dia mais eles envolviam as pessoas que fazem parte da escola, sempre trazendo questionamentos novos, trazendo contribuições do seu dia a dia e da sua história, observei que eles começaram a buscar mais informação, a biblioteca começou a ser mais visitada e o uso do laboratório para pesquisas aumentou, eles buscavam novos conhecimentos além da sala de aula e queriam sempre mais e mais.

Tudo isso foi muito importante para que pudéssemos construir seres autônomos e críticos perante uma sociedade manipuladora, e nos fazer entender que educar vai além de usar nossos alunos como “depósitos” de informações, observamos isso neste trecho:

A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem enchidos pelo educador. Quanto mais vai se enchendo os recipientes, com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente encher, tanto melhores educandos serão. (FREIRE, 2011, p. 57).

Partimos do pressuposto que entender a cultura local cria e desenvolve em nossos jovens mecanismos de respeito, valorização e preservação da sua própria cultura e das culturas alheias. Com a realização das ações creio que o projeto de intervenção promoveu implicitamente um dialogismo entre a pesquisa e a ação, e evidenciou como a prática educadora é ferramenta importante no processo de construção de um cidadão consciente, que saiba valorizar e respeitar a sua cultura.

Portanto, após todas as discussões que foram feitas, e depois de todo um conjunto de ações que foi realizado com nossos jovens, percebo que torna-se necessário o desenvolvimento de mais projetos e ações como essas, para que a temática seja cada dia mais discutida e que nossos jovens se preparem gradativamente e se sintam parte de seu meio, só assim serão cidadãos conscientes e mais envolvidos nas ações de preservação e resgate da sua cultura.

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Referências

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Pesquisar - Participar. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1983. (p. 9-16).

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

GADOTTI, Moacir. Extensão universitária: Para quê?. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2017.

HALBWACHS, Maurice. A Memória coletiva. Tradução Beatriz Sidou. 2. ed. São Paulo: Ed. Centauro, 2013.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

IBGE. Cidades: história e fotos. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/ brasil/go/paranaiguara/historico. Acesso em: 28 ago. 2018

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico, 14. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2007. (Capítulo 1).