Resumo
Entende-se por Patrimônio Cultural, o conjunto de bens materiais e imateriais que fazem parte da cultura de determinado povo, processo esse que se destaca como referência à identidade e memória de diferentes grupos sociais. Mediante este contexto, buscaremos por meio deste trabalho identificar as visibilidades culturais no espaço urbano da cidade de Mineiros/Goiás através das obras do artista Mineirense Sinval de Carvalho, obras estas que procuram manter em destaque a importância dos animais do nosso cerrado goiano como memória viva intelectual e cultural para nossa sociedade. Para tal, tivemos como objetivo construir significados sobre o patrimônio cultural existente no município de Mineiros através do registro de imagens, valorizando o trabalho do nosso artista, que está em destaque nos vários pontos de nossa cidade, para que suas obras não se tornem ocultas aos olhos da sociedade. Na contemporaneidade, o patrimônio cultural desempenha, além de sua função didática, memorial e identitária, uma importante estratégia urbanística que foi inserida em nosso contexto turístico. Ressignificar o cotidiano da cidade de Mineiros por meio de exposições das imagens fotográficas do artista Sinval de Carvalho é tecer um diálogo constante de interpretação e conhecimento, no comportamento das pessoas e na formação da memória e identidade que se relacionam com a cidade, numa função cultural e educativa. Os registros de imagens das esculturas de Sinval de Carvalho que se referem ao cerrado, e demais obras, buscam assegurar não somente os registros de memórias tecnológicas, mas também a preservação do patrimônio como garantia de nossa história, para que sociedade e os governantes a preservem e valorizem para as gerações futuras.
Palavras-chave: Cultura; Patrimônio público; imagem.
Introdução
A linguagem cultural está presente nos mais diversos lugares e, com isto, vem ganhando espaços tanto nas mídias quanto no meio social. Entretanto, muitos espaços denominados “patrimônio público” ainda não se tornaram conhecidos por nossa sociedade. Pouco se fala de cultura nas escolas, nas faculdades, e até mesmo no meio social. Muitas abordagens, quando acontecem, são referentes a projetos escolares e ficam presos a datas comemorativas, sendo encerrados após as apresentações dos temas abordados; momentos estes que a maioria das famílias não sabem ou não procuram conhecer o real significado.
Tal realidade também ocorre em relação às obras artísticas, no caso, as do artista Sinval de Carvalho, tema deste trabalho. Muitas vezes as pessoas reagem com admiração ao se deparar com suas obras, no entanto, não buscam compreender o real significado do contexto histórico e, em várias situações, destroem as mesmas por puro vandalismo ou por falta de respeito ao registrar fotografias sentando-se nas obras.
As ações e abordagens desta intervenção cultural foram realizadas por meio de registros fotográficos, vídeos e entrevistas com o artista Sinval de Carvalho, em seu próprio ateliê, assim como no espaço do trevo de Mineiros, onde o artista estava restaurando algumas obras danificadas pela sociedade. Todas as suas obras abrangem pontos específicos de Mineiros, destacando o contexto significativo e histórico de nossa cidade. Sinval de Carvalho vive de sua arte e o maior de seus anseios é o reconhecimento da sociedade para com a cultura e a arte.
Página 168Foi pensando sobre a importância da cultura e do patrimônio cultural para a sociedade Mineirense e a beleza do nosso cerrado, ligado às esculturas do artista Sinval de Carvalho, que procurei registrar o significado das suas obras, presentes em vários pontos de nossa cidade. Desta forma, poderemos valorizá-lo não somente por seu trabalho como artista, mas também conscientizando nossa sociedade de forma participativa, construtiva e consciente sobre os bens culturais e patrimoniais.
1. Cidade de Mineiros - Goiás
Conforme pesquisa inicial realizada, Mineiros é um município brasileiro do interior do estado de Goiás, Região Centro-Oeste do país, com população estimada em 62.750 habitantes, localizado no sudoeste goiano a 420 km de Goiânia e 650 km de Brasília-DF. Mineiros foi elevado à condição de povoado e em 31 de Outubro de 1938 ocorreu a emancipação da localidade, dando origem ao município de Mineiros.
Em nosso município está localizada a maior área do Parque Nacional das Emas, uma das unidades nacionais de conservação e proteção integral da natureza. Esse parque foi criado pelo Decreto Presidencial número 49.874, de 11 de Janeiro de 1961 (Presidente Juscelino Kubitschek) e sua área de 132.000 hectares foi ratificada pelo Decreto 70.375, de 6 de Abril de 1972. O Parque das Emas atualmente é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O município de Mineiros está geograficamente situado em uma das maiores altitudes goianas, com variação de 700 a 1100 m, na Serra dos Caiapós, onde brotam inúmeras nascentes d´água; algumas subterrâneas, como o aquífero Guarani, formando vários rios, dentre eles o Rio Araguaia, Rio Verde, Formoso e Jacuba. Segundo narra o mestre Martiniano J. Silva, expedições provenientes da região do Triângulo Mineiro, de Minas Gerais, começaram a desbravar a região conhecida como Sudoeste Goiano influenciadas pelo romance “Inocência”, de Visconde de Taunay, que narrava uma aventura nessa região.
Existe também por aqui um conjunto de serras cortadas por rios, além de uma rica variedade de fauna, flora, piscinas naturais, grutas e abrigos, destacando-se o morro da Pedra Aparada. Além de uma riqueza magnífica em relação à cultura de nosso povo; uma delas é a comunidade do Cedro, onde se mantêm tradições do povo negro. Ali existe um laboratório de plantas medicinais do cerrado.
2. Sobre o Artista
Sinval Cipriano de Carvalho, nome artístico Sinval de Carvalho, filho de Sandoval Cipriano de Carvalho e Firmina Rodrigues de Carvalho, nascido em 11 de setembro de 1966 em Bala Boa, hoje município de Caiapônia. Sua paixão pela arte teve início na infância, vendo os pais fazerem trabalhos manuais, tais como peneiras de talo de buriti, esteiras de carros de boi, jacas, tapiti - que é um tipo de prensa - e tantos outros artefatos. Logo percebeu que havia nascido com essa aptidão, começando então a construir seus próprios brinquedos na fazenda, para si mesmo e para os primos, despertando assim seu amor e curiosidade pela arte.
Página 169Partindo de suas curiosidades com brinquedos, trabalhos manuais dos pais e o seu despertar pela arte, foi no ano de 1988, quando completou 30 anos, que Sinval começou a se dedicar exclusivamente às artes, participando da equipe de um filme de longa metragem que estava sendo gravado no alto do Xingu, com nome de Kuarup; entrou como técnico cinematográfico e assistente de cenografia, permanecendo por vários anos. Em seguida, seguiu para Rio de Janeiro trabalhando em dois filmes dos Trapalhões: O Mistério de Robin Hood, com Os Trapalhões e Xuxa Meneghel, e Os Trapalhões e a Árvore da Juventude, com Os Trapalhões e Cristiana Oliveira. Sinval permaneceu no Rio de Janeiro por seis anos, atuando na parte cenográfica, quando trabalhou na montagem de cenários na Rede Globo, em eventos, vídeo clips e programa do Faustão. O trabalho de escultura foi iniciado nos carnavais do Rio de Janeiro, onde produziu as primeiras esculturas gigantes, com diferentes técnicas.
Já em 1993, esteve em alguns países da América do Sul, tais como Colômbia, Peru, Venezuela, deixando neles algumas obras e monumentos públicos. Na Colômbia, deixou instalado na principal praça de Medelin um monumento do Silheterito da Floresta, um arranjo de flores que eles carregam durante um desfile tradicional da cidade, que chega a pesar oitenta kilos, sendo uma referência ao folclore daquele país na modalidade infantil.
Seguindo para a Venezuela, Sinval de Carvalho também instalou algumas obras, um pouco menos significativas. Em 1995, na capital do estado da Colômbia, construiu a obra Llano Colombiano, que retrata a planície colombiana. Ao regressar para o Brasil, de 1999 para 2000 construiu a Indiamérica em Mineiros-Goiás, na Avenida Antônio Carlos Paniago. Trata-se de uma escultura em bronze em comemoração aos quinhentos anos do Brasil. Em seguida, partiu para Florianópolis, onde continuou seu trabalho com alegorias de carnavais, sendo destaque por várias vezes em jornais e revistas como protagonista, além de ganhar por seis anos consecutivos prêmios de melhores alegorias nos carnavais de Florianópolis.
Retornando novamente para Mineiros, para estar perto de sua família, o artista construiu no ano de 2002 o monumento a Dom Erick Jhaymes, em frente à igreja São Bento; Dom Erick foi um padre de grande referência para a cidade de Mineiros no ramo do cooperativismo. Em 2005, Sinval inaugurou o Monumento à Bíblia, na Avenida Antônio Carlos Paniago. Já no ano de 2011 inaugurou um monumento na entrada do Parque Nacional das Emas, em comemoração ao dia do cerrado, de forma que as pessoas pudessem valorizar e conscientizar-se dessa preciosidade que temos em nossos arredores.
Seguindo para o ano de 2012, o artista inaugurou na entrada de Mineiros as esculturas dos animais do cerrado, representando o Parque Nacional das Emas. No ano de 2014 inaugurou, na cidade de Caçu-Goiás, outro monumento à bíblia. Neste ano de 2018 inaugurou, também na Avenida Antônio Carlos Paniago, um monumento ao mesmo, uma vez que o temos como um político de destaque para nossa cidade quando esta foi municipalizada.
Página 170“A arte é do povo e para o povo, resumindo, minha vida se resume na arte, sou artista autodidata que respira arte, vive de arte e para a arte. E, apesar das dificuldades encontradas por mim, tenho conseguido viver há trinta anos da arte, e ainda espero ser reconhecido no país inteiro pelo grande artista que sou”. (Citado por Carvalho 2018)
Além das obras existentes na cidade, Sinval de Carvalho também se destaca pela construção de animais de fazenda, tais como vacas, bois, cavalos e, até mesmo, emas, para colocar nas entradas de fazendas ou nas lojas agropecuárias. A cidade de Mineiros é a única que concentra grande quantidade de obras do artista Sinval de Carvalho. (Informação oral relatada por Sinval de Carvalho).
3. A Metodologia Abordada
De acordo com Santos, vivenciar a experiência envolve a experiência vivida pelo narrador e a experiência do pesquisador de participar do momento de produção da narrativa do entrevistado. Narrando a experiência temos a representação dos eventos organizados pela narrativa. Ao contarem suas experiências, os entrevistados realizam o trabalho de reorganizá-las, conferindo atualidade a eventos ocorridos há algumas horas ou há muitos anos do momento da narração. Ao transcrevê-la se constitui no texto ou na “fixação” da narrativa. Sem esse mecanismo, não poderíamos realizar inferências sobre como as pessoas falam: suas pausas, inflexões, ênfases, como assimilam sistemas de coerência e constroem suas identidades nas relações com o poder (SANTOS, 2013 p 31).
Com base neste trabalho de pesquisa, tive como objetivo realizar momentos significativos que pudessem delimitar os procedimentos metodológicos e interativos no ateliê do artista Sinval de Carvalho, a fim de ouvir seus relatos de experiências e registrar sua fala e ações na prática. Desta forma, ele foi acompanhado em suas ações na construção de obras em miniaturas, acabamentos de duas emas que seriam levadas para um jardim de fazenda, restauração de alguns monumentos no trevo da cidade, além dos registros fotográficos e depoimentos do artista sobre sua vivência artística.
Ao acompanhar o trabalho de Sinval de Carvalho pude perceber que o material utilizado para suas obras são: fibras de vidro, aço inoxidável, plumagem, concreto armado, armação de ferro, telas, silicone, tintas, verniz, colas, dentre outros materiais que, na maioria das vezes, só se encontra em Goiânia ou demais capitais. Com relação ao material utilizado nas restaurações de seus monumentos, o artista afirma que é de seu próprio gasto; ou seja, se os vândalos destroem, ele, por conta própria, reconstrói.
Todas as informações obtidas sobre os monumentos construídos por Sinval na cidade de Mineiros foram relatadas por ele mesmo durante as visitas e trocas de ideias realizadas em seu ateliê. Sendo assim, este trabalho de investigação consiste em um estudo qualitativo descritivo sobre os processos de significação, através do registro de imagens.
Para Bogdan e Biklen (1994), a pesquisa qualitativa possibilita maior aprofundamento e compreensão sobre os processos mediante os quais as pessoas constroem sentidos e significados. Partindo desse princípio, ao ser questionado sobre seus monumentos instalados na cidade e a relação com o público, Sinval de Carvalho fez a seguinte afirmação:
Página 171“Eu sei que a grande maioria da população não conhece e não reconhece minhas obras como pertencente ao nosso patrimônio público cultural, no entanto, tenho percebido que várias pessoas realiza o registro de imagens por admirar minhas obras pelo tamanho e pela relação das mesmas com o cerrado e nosso Parque Nacional das Emas. No entanto, ainda percebo que falta valorização da sociedade e do poder público”. (Citado por Sinval de /carvalho em 14/08/2018).
Analisando a fala de Sinval de Carvalho é necessário compreender que toda prática leva ao conhecimento do meio. Portanto, cabe às pessoas interpretar e conhecer sobre a importância do patrimônio público para a cidade. Somente assim haverá uma compressão da realidade. Fato que pôde ser observado durante os registros de imagens no monumento Indiamérica, quando solicitei auxílio de uma pessoa para fazer o registro de imagem do artista e a adolescente, de 17 anos, interessou-se por saber sobre o artista e o significado da obra para a cidade; ou seja, podemos perceber que se houver mais divulgação, participação e interação do artista com a sociedade, teremos mais momentos significativos com os monumentos que representam nossa cultura patrimonial.
Mediante esse processo de significados e significâncias é que este trabalho aborda, por meio da fotografia, a importância das narrativas visuais que os monumentos do cerrado representam para nossa cidade, assim como as demais obras do artista.
3.1 Fotografia e espaço cultural
Oficialmente registrada como uma invenção de Daguerre, em 1839, a fotografia representa o advento do primeiro meio de produção automática da imagem, que assume gradativamente o papel de instrumento de mediação, registro e arquivamento (ANDRADE, 2008).
No que se refere à imagem, é sabido que toda representação visual (aqui também compreendida a fotografia) possui componentes formais. Esses elementos tanto decorrem das tecnologias empregadas para fazer, reproduzir ou mostrar a imagem, como também dependem das práticas sociais associadas à compreensão prévia do objeto fotografado. Entretanto, o olhar poético e visual nem sempre está presente nos bens culturais denominados patrimônio público. Percepção que, na maioria das vezes, refere-se às práticas educativas, não havendo um despertar necessário capaz de promover o cultivo de olhares e práticas de apropriação da cidade pensada e experimentada como patrimônio.
As fotografias produzidas, mais do que instrumentos de trabalho, articulavam-se às concepções patrimoniais existentes e, assim, constituíam um olhar específico sobre objetos artísticos, edificações, cidades e paisagens. São, portanto, consideradas parte integrante do patrimônio cultural brasileiro (Fonseca; Cerqueira, 2013, p. 9-10).
Historicamente, sabemos que a fotografia tem sido um artefato utilizado nas mais diferentes situações, que nos permitem socializar com os registros de nosso meio. Segundo Sinval de Carvalho, o registro de imagens contribui para a expansão e conhecimento de suas obras país afora. A todo momento pessoas passam pelo trevo da cidade de Mineiros e fazem questão de parar os carros e fazer o registro destas. O artista compreende que as vezes é somente para demarcar caminhos por onde passam, porém, por outro lado, algumas já possuem conhecimento sobre a significância cultural de suas obras.
A fotografia, ao ser usada como registro dos bens culturais, torna-se uma construção das visualidades de forma que possamos explorar certas implicações estéticas, cognitivas e tecnológicas da relação entre imagem e interatividade na cultura. Informações que abrangem a poética e o olhar investigativo sobre o uso da comunicação da imagem em várias facetas. De acordo com Martins (2005, p. 135), “é importante mencionar que a cultura visual se configura como um campo amplo, múltiplo, em que se abordam espaços e maneiras como a cultura se torna visível e o visível se torna cultura”. Desta forma, a fotografia é um meio de dar visibilidade ao que parece invisível aos olhos dos que se encontram reféns do seu próprio tempo, vivenciando e dialogando com as ideias da cultura visual.
Página 172Para o artista Sinval de Carvalho o espaço de seus monumentos tornou-se um lugar de perguntas e respostas, despertando curiosidades nas pessoas sobre o significado de suas obras, principalmente as que estão localizadas no trevo. Os viajantes que passam por ali fazem seus registros e tecem um diálogo visual entre o conhecimento da obra e as de imagens realizadas, enriquecendo assim as visibilidades culturais existentes em nossa cidade.
Em relação aos moradores da cidade de Mineiros, dificilmente os registros acontecem; no entanto, quando isso ocorre, pessoas abusam subindo em cima dos monumentos para registrá-los, causando danos materiais e havendo a necessidade do artista realizar as restaurações com benefícios próprios. Mediante essa realidade, compreendemos que as pessoas apreciam o contexto das obras, porém não compreendem a real necessidade dos cuidados e proteção. Para muitos, os monumentos não fazem parte do nosso patrimônio público cultural, sendo considerados apenas como cartão postal da cidade. Desta forma, podemos concluir que falta interesse não somente do poder público, mas também da população como um todo, na busca de conhecimentos e valores sobre o contexto patrimonial.
3.2 Conceituando Obras e Monumentos
A palavra monumento nos leva a pensar sobre várias concepções e interpretações, que vão desde a noção de uma grande obra arquitetônica, em destaque por suas dimensões ou antiguidade e, até mesmo, a uma escultura ou estátua fixada em local de acesso público. Monumentos são obras que possuem função memorizadora, no sentido de eternizar na memória coletiva alguns atos ou acontecimentos de valor intencional e rememorável.
Sobre a definição de monumento temos a seguinte afirmação:
Por monumento, no sentido mais antigo e verdadeiramente original do termo, entende se uma obra criada pela mão do homem e edificada com o objetivo preciso de conservar sempre presente e viva na consciência das gerações futuras a lembrança de um ato ou de um destino (RIEGL, 1984 p. 35).
Analisando a referida citação, compreendemos que monumentos tem por finalidade identificar as características e marcas do conhecimento, conservando-as sempre vivas na consciência das pessoas, independentemente de seu grau de significância. Existem monumentos históricos e artísticos que se referem à sociedade, sendo reconhecidos pela arte e pela história. Com base nos conceitos, compreendemos que monumentos são obras que possuem conectividade com as pessoas, fazendo parte da história de um povo, devendo ser conservadas para que gerações futuras as reconheçam como um contexto artístico ou histórico do meio onde se vive.
3.3 Diálogos e opiniões do público sobre monumentos de Sinval de Carvalho
Para que pudéssemos saber a opinião do público sobre o valor do trabalho do Artista Sinval de Carvalho e o contato deste com os monumentos, foi realizado um diálogo com algumas pessoas pertencentes a Mineiros e outras cidades. A intenção era compreendermos qual o real significado das obras existentes em nossa cidade e seus valores para a sociedade. Com base nos questionamentos a seguir, tivemos compreensão sobre a ideia do público em geral:
Página 173a) Sobre as obras que se encontram no trevo da cidade, o que elas representam para você? E as demais obras existentes em cantos diferentes da cidade?
Sobres os monumentos relacionados ao Parque Nacional das Emas, que se encontram no trevo da cidade, a grande maioria respondeu que eles vêm ao encontro do contexto vivenciado por nós, sendo uma forma de representar a região onde vivemos; ou seja, uma referência figurativa do nosso cerrado goiano sendo destaque em um espaço urbanizado. São monumentos significativos que devemos aprender a preservar e apreciar não somente por ser um artista de nossa cidade, mas, por fazer parte do contexto onde vivemos, sendo um destaque para o ecoturismo, a fauna, e a flora; criando, assim, significados para a cidade, que possui em seu contexto uma riqueza patrimonial que é o Parque Nacional das Emas.
Com relação ao monumento da índia, algumas afirmações disseram não entender o porquê de existir um monumento no meio da avenida principal com essa referência, uma vez que temos em destaque em nossa cidade uma comunidade quilombola. Sobre os índios em nossa região, segundo nosso escritor, pesquisador e historiador, doutor Martiniano J. Silva, eles aparecem no ano de 1886 na Fazenda São Domingos, no Município de Mineiros Goiás, ocasião em que mataram o Coronel Francisco Joaquim Vilela, apelidado de “vilela brabo”. Sobre a mesma obra destaco ainda que ouve um relato dizendo que ela possui busto parecido com a abertura da novela Tieta. Já a sua expressão - acidentada e amamentando e gritando por liberdade ou algo de expressão histórica - considera deprimente e carregado de tristeza.
Com relação às demais obras, tais como a bíblia e monumentos como o do Padre Dom Erick e do político Antônio Carlos Paniago, alguns relatos afirmam que ficaram boas, com ótimo acabamento. Em outros casos, já relatam desproporcionalidade e falta de estética, assim como ligações partidárias, e não uma realização cultural. Consideram necessário haver mais estética nas obras e voltar os olhares para a cultura local, fazendo uma retratação histórica da cidade com maior participação da comunidade.
b) Os monumentos expostos no trevo possuem alguma relação com a cultura da cidade?
Segundo as opiniões do público, possuem relação com a cidade e a região Centro-oeste, devido as obras do trevo estarem relacionadas com o cerrado goiano, destacando novamente a fauna, flora e bacia hidrográfica. No entanto, foi perceptível que a grande maioria não associou os monumentos como pertencentes à cultura e ao patrimônio público da cidade, desconhecendo essa relação. Muitas opiniões enfatizaram como algo diferente e belo, sendo um ponto de referência para a cidade de Mineiros, que destaca o Parque Nacional das Emas.
Página 174c) Como aconteceu sua relação com as obras e qual seria sua sugestão para uma melhor relação com elas?
As opiniões do público pertencente à cidade de Mineiros são as mais diversas possíveis. As pessoas que possuem um conhecimento maior sobre cultura relatam que ao se depararem com os monumentos tiveram sensação de alegria ao perceber que o artista destaca nossa cultura em suas obras; desta forma, não poderia ter riqueza maior. E, para quem conhece Sinval de Carvalho, a expressão das pessoas se modifica ao relatar sobre o trabalho do artista na cidade de Mineiros. Para os poucos conhecedores, os monumentos são apenas um ponto de referência da cidade, que demarca a entrada do trevo da avenida principal. O relato de pessoas de fora, que já fizeram registros no espaço dos monumentos, é de que se encantaram com a produção do artista ao criar a representação do cerrado. Houve relatos que disseram passar e observar, mas não registrarem por falta de tempo. Mas, acrescentaram que ainda pretendem fazer registros de imagens. Outros disseram que registraram para marcar pontos da viagem e postar nas redes sociais. No entanto, houve relatos de pessoas que já passaram duas vezes no ano no trevo, para visitar Mineiros e o Mato Grosso, porém não observaram os monumentos. A grande maioria conclui que é um belo cartão postal.
Sobre como poderíamos nos relacionar melhor com os monumentos de Sinval de Carvalho, a grande maioria relata que é imprescindível que o artista seja mais bem visto pela sociedade, assim como pelo poder público, para que, assim, seu trabalho tenha mais ênfase, uma vez que muitos mineirenses ainda não o conhecem, E, como estamos vivendo uma expansão de crescimento urbano, com a chegada de pessoas de outros estados, torna-se necessário valorizar e destacar quem é o artista Sinval de Carvalho.
d) É comum nos depararmos com as obras danificadas, uma vez que as pessoas ao registrá-las acabam danificando-as devido ao fato de realizar seus registros em cima dos monumentos. Qual a sua sugestão para conscientizarmos a sociedade sobre a importância dos cuidados e preservação do espaço pertencente aos monumentos?
De acordo com as respostas, os brasileiros, em sua grande maioria, não tem conhecimento e respeito por cultura e arte, é preciso conscientizar o meio educacional criando um projeto desde a educação infantil até o ensino médio, com participação do poder público, acrescentando na grade curricular do município estudos sobre os artistas pertencentes à cidade. Sobre a sociedade, todas as pessoas opinaram que para preservar é preciso colocar placas de orientações e cuidados no local. Foi sugerido também pedir contribuição local para os cuidados com obras danificadas. No entanto, ao mesmo tempo que foi sugestão acreditam não ter êxito, por falta de compressão e valor cultural por parte das pessoas.
Segundo alguns entrevistados, o ato de vandalismo em si é por descuido e por falta de conhecimento sobre arte e cultura. Foi sugerida a criação de mais obras, em especial contemporâneas, com a participação das escolas. Uma vez que os adolescentes estariam criando e desenvolvendo habilidades voltadas para a cultura local e, aos poucos, iriam se conscientizar sobre a importância do processo de criar, construir e valorizar a cultura e a arte no espaço onde vivem.
Página 175Para alguns, falta o desejo e interesse dos políticos, visto que uma sociedade sem conhecimento produz seres manipulados. Desta forma, alguns afirmam que é preciso partir da sociedade esse interesse por conhecer e preservar para poder cobrar das autoridades maiores investimentos. É preciso também mais investimento e divulgação do turismo da cidade, uma vez que o descaso é muito grande e Mineiros é uma região com belos lugares, porém, pouco conhecidos. Consideram ainda que, para maior sensibilização de nossa gente com a arte de Sinval e demais artes, é necessário falar sobre elas e sobre o autor, promover palestras, encontros e debates sobre o valor dessa produção.
Só amamos e preservamos aquilo que conhecemos, por isso a grande necessidade de conhecer para amar. Conhecimento gera amor e cuidado. Precisamos pensar em formar nosso público cultural e sensibilizar, a começar pelas escolas. As pessoas vão numa exposição de artes plásticas e querem tocar, colocar a mão, não sabem do trabalho e do valor da obra. É preciso realizar mais eventos e exposições, encontros e debates para transformar nossos expectadores em celebradores.
3.3.1 Dialogando com Sinval de Carvalho
Os encontros com Sinval de Carvalho aconteceram em vários lugares: no ateliê onde o artista trabalha e mora; no trevo da cidade, local onde se encontram os monumentos com animais do cerrado; e registro fotográfico na Avenida Antônio Carlos Paniago, ao registrarmos juntos a obra Índiamérica, monumento inaugurado dia 22 de abril do ano 2000 em comemoração aos 500 anos do Brasil.
Para Sinval, o sentido de suas obras é sensibilizar as pessoas em relação não somente à arte, mas no cuidado com a natureza em um todo; a fauna a flora e, mais precisamente, os animais, conscientizando as pessoas que estes precisam ser olhados pelos olhos da alma. O artista ressalta o cuidar da natureza voltado para os animais na linguagem da arte, “eu consigo fazer essa sensibilização artística através dos monumentos. Essas obras podem ser amadas, observadas, criticadas, contornadas, de forma que possam fazer as pessoas refletirem profundamente sobre os cuidados, manuseio e expressividade”.
Sinval de Carvalho afirma que suas obras, com relação à cultura goiana e Mineirense, não se limita somente a Mineiros e o estado de Goiás, mas possui uma relação mundial. Eu não posso limitá-las pois elas são universais; ou seja, vejo-as como primordiais e indispensáveis para a sensibilização do ser humano com a cultura, não somente com os animais, mas com toda forma criada por Deus. Essa seria a palavra, sensibilizar e promover um diálogo com o público e a obra.
Ao relatar sobre o processo de instalação das obras, Sinval disse que foi árduo, complexo e burocrático. Houve a intervenção do DNIT devido à questão da segurança para que as obras fossem instaladas no trevo. Elas chegaram a ser instaladas e foi preciso sua remoção, por estarem próximas à BR (rodovia), necessitando então assentá-las mais no centro do espaço. Foi necessário um ano para adquirir a liberação do local, entre idas e vindas a Goiânia e Jatai, destaca, eu consegui a liberação com a exigência de serem colocadas barras de ferro para proteção do espaço e segurança das pessoas.
Página 176De acordo com Sinval de Carvalho, existe uma diferença entre valorização e reconhecimento, acreditando que as pessoas reconhecem o valor da obra mas não a valorizam. Conforme o seu pensamento, a questão é mais política, devido ao fato do poder público não reconhecer essa necessidade, mais precisamente por questões partidárias.
Com relação ao processo de escolha sobre as obras, as decisões foram tomadas pelo próprio artista. A ele foi sugerido construir algo que tivesse relação com os 500 anos do Brasil, o qual concluiu que não poderíamos relembrar uma data tão importante para o Brasil sem falar dos índios. Desta forma, a Indiamérica, com toda sua simbologia, representa um contexto de liberdade. Já o ponto de instalação da obra foi decidido pelo poder público. Quanto aos animais do cerrado, que estão instalados na entrada do Parque Nacional das Emas e na entrada do trevo de Mineiros, todas as escolhas foram do próprio artista, inclusive o espaço onde estas obras estão localizadas. Vale salientar que a verba destinada à construção dos monumentos foi do governo do estado, não havendo nenhuma ligação com o poder público municipal.
De acordo com Sinval de Carvalho, ao artista cabe produzir a obra, mas a valorização é dever do poder público, tomando a iniciativa de divulgar nas mídias orientações para conscientizar a sociedade sobre os cuidados e o respeito referentes às obras, já que elas são patrimônio público municipal. As escolas também são espaços importantes para orientações sobre os cuidados com os monumentos. Sabemos que algumas escolas já fazem isso, mas ainda faltam maiores interesses do poder público municipal.
3.4 Compreendendo o significado de patrimônio cultural
Ao falarmos sobre patrimônio cultural geralmente o entendemos como algo antigo, casas históricas, museus, prédios que fizeram parte das descobertas do país, dentre outros. No entanto, essa forma de pensarmos é restritiva, pois podemos considerar patrimônio cultural paisagismos, utensílios antigos, monumentos, casas, cidades etc.
Para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o significado de patrimônio cultural é:
O conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo. Ele está presente em todos os lugares e atividades, nas ruas, em nossas casas, em nossas danças e músicas, nas artes, nos museus, nas escolas, igrejas e praças. Nos nossos modos de fazer, criar e trabalhar. Nos livros que escrevemos, nas poesias que declamamos, nas brincadeiras que fazemos, nos cultos que professamos. Ele faz parte de nosso cotidiano, formas as identidades e determina os valores de uma sociedade. É ele que nos faz ser o que somos (IPHAN, 2013.p 3).
De acordo com o Art. 216 da Constituição Federal Brasileira, constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. São eles:
- As formas de expressão;
- Os modos de criar, fazer e viver;
- As criações científicas, artísticas e tecnológicas;
- As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
- Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Com base nas afirmações do IPHAN e da Constituição Brasileira, podemos afirmar que o Patrimônio Público se constitui na vivência das pessoas e ele está presente em todas as nossas ações cotidianas, assim como no espaço que habitamos. Desta forma, é de suma importância nossa sociedade estar pautada no conhecimento e preservação do patrimônio cultural existente em nosso meio.
3.5 O patrimônio cultural no Brasil
De acordo com a constituição brasileira de 1988, Art. 215., O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Seguindo para o Art. 24., Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IX – educação, cultura, ensino e desporto;
E, ainda, conforme o Art. 30., Compete aos Municípios:
IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
Com base nos princípios da Constituição Brasileira de 1988, é visto que o estado tem por obrigação garantir o direito a cultura, havendo uma união com o município para que esses valores não se percam no tempo. Desta forma, vejo que se torna necessário haver mais participação da sociedade, cobrando do poder público mais incentivo e investimentos para o setor cultural.
3.5.1 A cultura e seus valores na cidade de Mineiros
Conforme as informações pesquisadas, na cidade de Mineiros existe a Lei 1705/15, que destina verba para a cultura e o esporte. Portanto, seria obrigação do município abrir edital para receber os projetos, o que não é feito. Geralmente o interessado procura a prefeitura e cabe a eles aceitar ou não, dependendo do interesse em atender à solicitação, sendo que esta Lei não passa pelo Conselho Estadual de Cultura e sim pela Secretaria da Fazenda. Seus integrantes avaliam e decidem se liberam o recurso ou não.
Neste ano de 2018 foi votado o sistema municipal de cultura e turismo, mas, também, não possui verba específica; ou seja, depende da apresentação do projeto e eles avaliam e decidem se irão aprovar ou não. Mediante essas dificuldades encontradas, houve afirmações de que existe certa contestação relacionada à política; ou seja, se o artista foi beneficiado ou apoiou outros partidos políticos ele não consegue benefícios, assim como acontece com outras pessoas da sociedade e até mesmo com os vereadores que apoiam e incentivam a cultura.
Com relação aos benefícios em favor da cultura, poucas pessoas conseguiram, mesmo através de projetos. O artista Sinval de Carvalho, por exemplo, teve as obras Indiamérica e Bíblia construídas em outro mandato, já os animais do trevo foram com verba do governo estadual, devido às relações de amizade de seu pai. Em virtude dessa divergência partidária, a atual administração não contribui com verbas para manutenção das obras já existentes, por questão política, infelizmente. Faltam incentivos por parte do poder público, o que desencadeia uma certa desvalorização da sociedade. Neste ano de 2018 tivemos nosso Centro Cultural todo reformado através de parceria entre a empresa BRF (Perdigão) e a Prefeitura Municipal, mas apesar de pronto as portas ainda não foram abertas para a sociedade, uma vez que o órgão municipal afirma não ter verba para equipar o espaço atendendo às devidas necessidades.
Página 178A Constituição Brasileira de 1988 destaca o seguinte em seus incisos:
§ 1º – O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º – Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
§ 3º – A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.
§ 4º – Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º – Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
§ 6 º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
Sabemos que as leis existem, mas, infelizmente, nossa cidade de Mineiros/Goiás necessita ampliar sua visão com relação à cultura, possibilitando novas formas de ver, analisar e compreender os valores culturais de um povo, que precisam ser preservados. É sabido ainda que não temos o Conselho de Políticas Culturais para defender o setor da cultura, o qual foi montado, mas a atual gestão não chegou a estruturá-lo; ou seja, está em defasagem. Haja vista que nosso secretário da cultura é professor de educação física e, conforme as dificuldades que o mesmo demonstrou em um debate realizado pela turma do curso de Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania, compreendemos que somos uma cidade que está atrasada em relação à cultura, deixando de valorizar os trabalhos dos artistas aqui existentes.
Sobre os projetos culturais e suas representações temos a seguinte afirmação:
O componente cultural simbólico se manifesta também em práticas efetivas assim como se expressa nas representações que o projeto cria. Não são representações imaginárias, mas representações advindas de seus fundamentos, de seus valores fundantes. Como tal essas representações criam a identidade do projeto. Os princípios e os valores constituem o núcleo de um projeto político e são eles que dão elementos para a polêmica e para o debate social. Com isso, o projeto político desempenha um papel pedagógico na construção de uma nova cultura política de uma nação (Gohn, 2005, p. 17).
Conforme a análise de Gohn, o projeto político é se suma importância para a cultura de um povo, uma vez que este representa e cria a identidade de uma nação. Conceito que está faltando para a nossa cidade; ou seja, precisamos esquecer as ideologias políticas para darmos mais ênfase às relações culturais, uma vez que, seguindo por essa perspectiva, as questões políticas empobrecem o pensamento das pessoas, deixando a desejar questões importantes como a cultura que, por sinal, possui grande representatividade em nossa cidade, em virtude de uma diversidade cultural riquíssima.
Página 1794. Conclusão
Considerando que nossa cidade de Mineiros é um espaço rico em monumentos culturais e artísticos, às vezes estes passam despercebidos aos olhos da população por falta de conhecimento sobre patrimônio público. Este trabalho teve como objetivo despertar na população o interesse pelos bens culturais materiais e imateriais, de forma que as pessoas da comunidade possam perceber a riqueza que possuímos em nosso meio.
O problema desta investigação, bem como os objetivos gerais e específicos, determinaram a relevância do tema, tendo como justificativa o registro de imagens das obras do artista Sinval de Carvalho, presentes em vários pontos específicos da cidade, de forma que pudessem criar um diálogo entre a cultura visual e as visibilidades de nosso meio.
Ao destacarmos o pressuposto da não valorização do patrimônio cultural existente na cidade de Mineiros, descobrimos que é necessário criarmos mecanismos sociais que venham a possibilitar o destaque do trabalho do artista Sinval de Carvalho, reconhecendo-o como patrimônio público cultural do município. Ao referirmos sobre patrimônio público e conhecimento do meio, é imprescindível a valorização de nossa cultura por parte da sociedade e do poder público, considerando que a participação de ambos pode refletir em melhorias. Uma vez que a constituição de 1988 garante o pleno exercício dos direitos culturais e cidadania ligado às políticas públicas e tendo em vista que a nossa cidade é dotada de um cenário rico de cultura, belezas naturais e contextos históricos importantes. Desta forma, registrar as particularidades aqui existentes, destacando nossa cultura, justifica a valorização das narrativas visuais e visibilidades culturais.
A preocupação deste trabalho em relação à exposição das esculturas do artista Sinval de Carvalho em lugares específicos de Mineiros, foi a de tornar público não somente a linguagem visual de suas esculturas, mas, também, vislumbrá-las a partir de uma concepção político-cultural, patrimonial e histórico-social, uma vez que a linguagem exposta em suas obras chama a atenção devido ao fato de estar relacionada com outro bem de grande riqueza e valor que é o nosso cerrado.
Ao analisarmos o comportamento e a compressão das pessoas sobre obras artísticas, espaços urbanos e manifestações culturais e patrimoniais, compreendemos que a cidade de Mineiros possui riquezas sem igual, como o Parque Nacional da Emas, patrimônio público tombado pela UNESCO, assim como outros bens culturais que não podemos deixar empobrecer.
Mediante este contexto investigativo, podemos dizer que a cidade de Mineiros é um espaço rico em seu desenvolvimento social. Necessita, entretanto, deixar de lado as demandas politicas partidárias e perseguidoras para vivenciar mais os diversos perfis socioeconômicos e étnico-raciais que compõem o fluxo migratório que se estabelece, configurando as mais diferentes composições de idades, gêneros, grupos, classes sociais, manifestações religiosas, expressões culturais, dentre outras determinantes que são pontos fundamentais para convivência entre as pessoas.
Referências
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