Esporte Educacional

Módulo 3

MÓDULO 3

Módulo 3
3.1 Orientações sobre Saúde Mental e o Combate ao Uso de Drogas

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Este tópico irá abordar brevemente o tema da saúde mental e do combate ao uso de drogas, partimos da compreensão que são dois temas complexos e multidimensionais e que pressupõem, portanto, um olhar multiprofissional e interdisciplinar, e neste sentido torna-se fundamental serem abordados no campo da saúde em diálogo com a educação.

Enquanto abordagem introdutória deste tema da saúde mental, vale apresentar alguns dados e assim problematizar elementos presentes atualmente em nossa sociedade a respeito deste tema, como:

A saúde mental é uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública. Quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtorno mental, 3 milhões de pessoas morrem todos os anos devido ao uso nocivo do álcool e uma pessoa morre a cada 40 segundos por suicídio. No entanto,relativamente poucas pessoas em todo o mundo têm acesso a serviços de saúde mental de qualidade. Em países de baixa e média renda, mais de 75% das pessoas com transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias não recebem nenhum tratamento para sua condição. Além disso, o estigma, a discriminação, a legislação punitiva e as violações dos direitos humanos ainda são comuns (OPAS/OMS, 2020, p.01).

Assim, é fundamental que os projetos/programas de Esporte Educacional se atentem para questões que podem melhorar a condição de saúde mental dos participantes e da comunidade.

3.1.1 Conceitos de Saúde Mental

Para discutir os conceitos de saúde mental com profundidade precisaríamos de espaço específico e especializado. Não é o objetivo desse material, mas não podemos deixar de discutir um fator tão relevante com dados tão gritantes e emergentes (OPAS/OMS, 2020). Utilizaremos o entendimento de saúde mental como ampliação do olhar sobre o sofrimento e a doença psíquica, apostando em ações humanizadas evitando o estigma e o preconceito, pautada em um novo modelo de assistência à saúde mental, de forma aberta e de base comunitária.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é conceituada como “um estado de bem-estar em que o indivíduo é capaz de perceber suas habilidades, sendo também capaz de lidar com o estresse normal da vida, além de conseguir trabalhar produtivamente e contribuir com sua comunidade” (OMS, 1946, p.01) Considerando a complexidade de fatores que podem ter influência neste estado de bem-estar, para debater propostas de ação e práticas de prevenção precisa-se ter como base comunitária, multiprofissional e interdisciplinar, e o Esporte Educacional pode estar incluído.

IMPORTANTE

“Saúde mental é um estado de bem-estar em que o indivíduo é capaz de perceber suas habilidades, sendo também capaz de lidar com o estresse normal da vida, além de conseguir trabalhar produtivamente e contribuir com sua comunidade”.

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No entanto, por meio dos estudos realizados até o momento, não podemos realizar uma afirmação da relação direta entre esporte e saúde mental. Pensar na prescrição da atividade física como remédio para saúde mental é muito complicado.

É fato que o esporte pode melhorar aspectos da saúde mental de algumas pessoas, vemos isso nas pesquisas e nas nossas vivências. Existem inúmeros estudos que demonstram que a atividade física pode trazer melhora da autoestima, do autoconceito, da imagem corporal, das funções cognitivas e de socialização, na diminuição do estresse e da ansiedade. Um exemplo foi o estudo de doutorado de Dalla Déa (2009) que verificou melhora do autoconceito e nível de depressão dos indivíduos que realizaram atividade física, mas os dados não permitem a generalização dos resultados.

Mas também vivenciamos intervenções esportivas que não trazem modificações nesse estado ou que ainda pioram essas questões de saúde mental. Precisa-se considerar a multifatoriedade da saúde mental e certamente um trabalho interdisciplinar terá mais possibilidades de agir positivamente na saúde mental dos participantes. Considerando todos esses fatores, o Esporte Educacional pode ser mais um agente atuante na detecção precoce e prevenção de casos de suicídio, depressão, ansiedade e outros transtornos.


Foto de Andrea Piacquadio no Pexels

Buscando atingir os objetivos do Esporte Educacional que inclui o bem-estar mental, além de aptidão física, interação, inclusão social e exercício da cidadania (FERREIRA et al, 2009), é fundamental que a gestão participativa seja considerada. Um exemplo de evento esportivo, artístico e cultural com participação efetiva de usuários de serviços de saúde mental e profissionais da saúde mental, é apresentado por Pasquim et al (2020) . Os autores concluem que “é possível afirmar que a opção em fazer um planejamento participativo envolveu os sujeitos da saúde mental (usuários, familiares e trabalhadores) na identificação das suas necessidades, processo educativo e emancipador” (p.08).

Considerando o tema da saúde mental e a ênfase dada neste material no respeito à diversidade, gostaríamos de lembrar de um problema constantemente vivido pelas crianças e adolescentes em idade escolar que é o bullying. Assim:

Também é fundamental ressaltar que não devemos permitir qualquer manifestação de preconceito e discriminação em nossas programações, sejam eles de que natureza for. Todos devem ser contemplados, respeitados e devem ter o direito de participar ativamente em todas as fases dos projetos (preparação, execução, avaliação).(MELO; BRETAS; MONTEIRO, 2009, p. 59)

Foto de Linus Pettersson no Pexels

3.2.2 Ações de Redução da Demanda de Drogas

Não é porque uma pessoa nasce num contexto de desordem social, expresso na marginalidade e no tráfico de drogas, por exemplo, que ela será traficante e/ou usuária de entorpecentes (MELO; DIAS, 2009, p.39).

Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas (UNODC, 2020), o uso de drogas tem aumentado significativamente no mundo, e em maior intensidade em países em desenvolvimento onde o número de jovens é maior. Estima-se que em 2009 4,8% da população mundial de 15 a 64 anos usava drogas. Em 2018 essa porcentagem passou para 5,3%, o que representa 269 milhões de pessoas.

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Ao se planejar e avaliar projetos/programas de Esporte Educacional, durante a elaboração do diagnóstico inicial e contínuo, segundo Oliveira et al (2009, p.246) algumas questões devem ser respondidas, entre elas conhecer a presença de problemas sociais como “falta de segurança, criminalidade, drogas, trabalho infantil, violência doméstica, gravidez na adolescência, dentre outros”. No entanto, é preciso uma análise cautelosa destes dados entendendo-os como fatores de risco e não em “determinismo”, é importante considerar que “os projetos sociais surgem como potencializadores para reconfigurar as realidades extremas, principalmente investindo na educação das pessoas na perspectiva de ampliação das consciências para os problemas que afligem a coletividade” (MELO; DIAS, 2009, p.39).

O entendimento do Esporte Educacional como potencial transformador social “podendo” reduzir a exposição das crianças e adolescentes ao uso de drogas é discutido na literatura.

Programas como o Pintando a Liberdade e Pintando a Cidadania, Esporte e Lazer na Cidade e, principalmente, o Segundo Tempo, mostram as iniciativas governamentais que priorizam o fenômeno esportivo como potencializador de elementos educativos que podem favorecer uma reflexão crítica sobre os diferentes contextos de riscos sociais, bem como minimizar o tempo de exposição de crianças e jovens aos efeitos nocivos da violência, dos desajustes familiares, do tráfico de drogas, das carências alimentares, da falta de afeto, entre outros tantos elementos que convergem para deteriorar a dignidade humana. (MELO; DIAS, 2009, p.21).

Como na discussão de saúde mental, a relação entre atividade física e diminuição do uso de drogas não pode ser considerada como uma relação direta. O esporte pode, como descrito na citação anterior, diminuir a exposição ao risco de drogas e outros riscos sociais, mas a possibilidade do esporte ou do ambiente ou espaço esportivo favorecer o uso de drogas também é real. Assim, quando se trata de crianças e adolescentes o fator educativo consciente e bem direcionado é fundamental.

Para além das drogas ilícitas como a cocaína, a maconha, o crack e a heroína, é fundamental que os educadores se atentem às drogas lícitas e muito utilizadas e valorizadas em alguns grupos sociais como o cigarro e o álcool. Outros tipos de drogas que merecem nossa atenção são os “remédios” usados de forma exacerbada, como os moderadores de apetite, remédios utilizados para reduzir a ansiedade e depressão, e os anabolizantes.

Darido e Oliveira (2009, p.209) relatam que o Esporte Educacional pode trazer elementos importantes para uma visão crítica do uso de drogas e outros elementos negativos:

Outro aspecto bastante importante dessa formação integral é o de que os alunos sejam capazes de reconhecer e repudiar os aspectos negativos que envolvem as práticas corporais na sociedade, como, por exemplo, o uso de anabolizantes no esporte de rendimento, a busca do corpo idealizado pela mídia, a violência entre as torcidas, ou seja, deve-se buscar garantir a autonomia dos alunos para refletir, criticar e usufruir do conhecimento do esporte obtido na escola e no Programa Segundo Tempo.

A educação e conscientização da importância da ética e saúde no esporte, buscando a redução do uso de anabolizantes e outros métodos de dopagens fazem parte das missões da Agência Mundial Antidoping e da Autoridade Brasileira do Controle de Dopagem (ABCD).

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Desde 2011, a ABCD tem realizado campanhas educativas buscando disseminar a cultura antidopagem, reforçando o comportamento ético no esporte e estimulando a assimilação dos valores do esporte no ambiente de competição.

Clique na imagem para assistir ao vídeo

Como exemplo, podemos citar o projeto #SOUMAISEU que em 2014 foi lançado no maior evento escolar competitivo para crianças e adolescentes com deficiência:

O lançamento do conceito aconteceu nas Paralimpíadas Escolares 2014. A ABCD esteve nos três dias de competições (25 a 27/11) com um estande feito em parceria com o Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB. Os atletas, entre 12 e 17 anos, aprenderam a importância de competir livre da dopagem participando de jogos, como cruzadinhas e caça-palavras, vídeos, quiz e o torneio ABCD Sabe Tudo Antidopagem, com direito a troféu e pódio. A ABCD fez, também, palestras para os Atletas estudantes (ABCD, 2021).