Esporte Educacional

Módulo 1

MÓDULO 1

Módulo 1
Introdução

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Para darmos início a nossa discussão sobre Esporte Educacional e a ênfase que queremos dar na inclusão social e educacional dos indivíduos, independentemente de suas características, como classe social, deficiência, orientações sexuais e identidade de gênero, raça, entre outras, gostaríamos de lembrar de onde partimos.

A Educação Física e o Esporte, mesmo o educacional, enfrentam até hoje dificuldades de se apresentarem de forma inclusiva no contexto da escola e também fora dela. E essa dificuldade social bem como na Educação Física, de ser inclusiva, se reflete nas práticas realizadas nos programas de Esporte Educacional.

Estudos mostram que projetos de Esporte Educacional são de fundamental importância e têm conseguido atingir seus objetivos de democratizar o acesso de crianças e adolescentes à prática esportiva, em especial aqueles expostos à vulnerabilidade social, mas que a forma com que a mídia trata o esporte está presente na ideia desses participantes e dificulta ainda mais uma relação educacional com um público que já traz agravantes e dificultadores sociais, comportamentais, emocionais, econômicos, entre outros que são obstáculos para uma atuação democrática e verdadeiramente inclusiva (MONTEIRO, 2010).

A forma como o Esporte e a Educação Física foram direcionados durante os tempos dificultaram sua abordagem educacional. O modelo mecanicista pautado na parte física/motora e nos aspectos biológicos, ainda bastante presentes na Educação Física, inclusive na escola, é resultado de momentos em que o corpo foi utilizado e valorizado exclusivamente como força de trabalho, onde o esporte assumiu papel de construir um corpo saudável, robusto e produtivo.

TOME NOTA

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados:

  1. a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento;
  2. a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;
  3. o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional;
  4. a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.

O Esporte e a Educação Física também carregam traços da Revolução Industrial que trouxe a divisão das classes, precarização e surgimento de epidemias. Esse movimento deu origem à reorganização sanitária e ao modelo higienista com a Educação Física assumindo o papel de buscar hábitos mais saudáveis, assepsia e a formação de uma ordem social fincada nas questões morais.

Outro fator que influenciou a Educação Física na época foi o estudo da eugenia, ciência que explicava a humanidade biologicamente. Prevalecendo o doutrinamento físico como forma de promover a produção de capital por meio do trabalho, sendo que este corpo deve ser dócil para não causar estranhamento ao modo de produção e forte o suficiente para suportar o ardor laboral.

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Os métodos ginásticos também foram utilizados na Educação Física com objetivo de regenerar a raça e promover a saúde a fim de constituir uma sociedade servil e forte para servir à pátria na guerra e fortalecer a indústria.

Na Educação Física escolar, em meados de 1.850 no Brasil, o que imperava era a moralidade sanitária, influenciada pelo modelo higienista, eugênico e moral.

Nessa época, fora do ambiente escolar, surgem centros de atendimentos e reabilitação que incluem em suas práticas o esporte adaptado, que apesar de carregar essa mesma história, exigem um novo olhar com a presença de um grande número de soldados com alguma deficiência decorrente da Segunda Guerra Mundial, que precisavam ser atendidos. Dando origem à Educação Física Adaptada como uma área de conhecimento que teve e tem repercussão no Esporte Educacional.

Já na década de 80 no Brasil, o modelo ginástico, ora eugenista, ora militar e esportivizado, passa a ser questionado pelos adeptos das abordagens críticas da Educação Física, buscando uma atuação mais inclusiva e educacional, que considerasse a realidade social dos participantes.

Para contrapor o modelo existente surgem algumas novas teorias de ensino na Educação Física, como a Teoria do Ensino Aberto, com a obra “Concepções abertas no ensino de educação física” (HILDEBRANDT; LAGING, 1986), a Crítico-superadora apresentada na obra “Metodologia no Ensino da Educação Física”, pelo Coletivo de Autores (SOARES et al, 1992), além da abordagem Crítico-emancipatória, que tem como autor Kunz (1994).

Cada uma dessas abordagem possuem suas particularidades (DALLA DÉA; DALLA DEA, 2020) com princípios pertinentes ao Esporte Educacional, como o diálogo e estímulo ao sujeito em se colocar no lugar do outro, considerar os determinantes sociais incentivando a construção da democracia, contemplar a totalidade humana e social, em uma práxis reflexiva e crítica, da necessidade de transformação da realidade, entre outros princípios que buscam transformar a Educação Física puramente tecnicista, esportivizada e biologista.

Ainda hoje esses traços estão presentes:

Em linhas gerais, a Educação Física e o esporte aparecem alicerçados na seletividade e na eficiência esportiva, nas quais os mais aptos, os mais habilidosos e os mais performáticos são suas expressões (OLIVEIRA; PERIM, 2009, p.23).

Acreditamos que essa discussão seja fundamental quando se fundamenta o Esporte Educacional buscando construções teórico-práticas para além do esporte atrelado ao alto rendimento, por meio de uma educação efetivamente emancipatória e inclusiva.