Esporte Educacional

Módulo 1

MÓDULO 1

Módulo 1
1.3 Gestão Participativa da Política de Esporte Educacional

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Os novos paradigmas gerenciais requerem funções descentralizadas, participativas, interdependentes e integradas (SOUZA, 2016, p.02).

Trouxemos durante esse texto alguns princípios da Educação Especial como “Respeito à Diversidade”, “Ensino Colaborativo”, “Nada sobre nós sem nós” e “Desenho Universal da Aprendizagem”. Discutimos também os princípios do Esporte Educacional como desenvolvimento integral, transformação social, formação humana, cidadania e protagonismo. São temas que se relacionam, se completam, e que devem ser considerados nos direcionamentos para gestão dos projetos e programas.

A gestão participativa vai ao encontro de todos esses princípios, favorecendo a gestão, envolvendo a natureza da ação humana de transformação da realidade e a essência da organização cooperativa e horizontal.

PARA PENSAR

Os novos paradigmas gerenciais requerem funções descentralizadas, participativas, interdependentes e integradas (SOUZA, 2016, p.02).

1.3.1 Conceitos Básicos de Gestão Participativa e Inclusiva

Para que os projetos e programas de Esporte Educacional sejam realmente educacionais e inclusivos, a diversidade deve estar presente não apenas na participação das práticas corporais, mas desde sua concepção até a avaliação processual e final.

Ricci, Sotero e Barbosa (2001, p. 18) relatam que o desafio é “formular a reforma democrática da gestão pública” superando “os modelos de gestão burocrático e tradicional, enraizados em nossa cultura política”. Esses autores trazem discussões sobre a história e origem dos caminhos e insatisfações que levaram à busca da gestão participativa. Apresentam a dificuldade de se superar os modelos de gestão burocrático e tradicional, muito presentes na nossa cultura política.

Na visão dos autores, tanto a gestão burocrática quanto a tradicional, dificultam a participação da sociedade na construção coletiva e horizontal, prejudicando e tirando a oportunidade de um maior envolvimento na resolução de problemas e a possibilidade de se atingir suas necessidades, interesses e aderência. A gestão burocrática é realizada com estrutura hierárquica, onde os projetos e programas são geridos por pessoas especializadas, que agem com autonomia e trazem as diretrizes de forma verticalizadas já determinadas com regras definidas, estáveis e imutáveis. A gestão tradicional não avança muito para a participação da sociedade e ainda apresenta problemas sérios como: práticas políticas marcadas pela fidelidade e troca de favor, uma gestão por intuição com ausência de planejamento global de ações, propostas sociais marcadas pelo assistencialismo entre outras características (RICCI; SOTERO; BARBOSA, 2001).


Desta forma, a gestão participativa, além de atender aos princípios do Esporte Educacional e inclusivo, já apresentado nesse texto, proporciona maior envolvimento, possibilitando com isso o sucesso nos projetos e engajamento de toda a comunidade envolvida.

Quando a população participa dos processos de decisão, de planejamento, forma-se uma massa crítica a respeito dos temas, acumulam-se conhecimento e reflexão que geram interesse. E, se a participação é efetiva e não apenas encenação, os movimentos populares se reconhecem nas medidas tomadas e colaboram para seu sucesso. É nesse sentido que a participação pode significar ganhos de eficiência, além da ampliação da Democracia (SALLES, 2014, p.81)
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No caso específico do Esporte Educacional, a participação da comunidade na formação e gestão dos programas e projetos amplia o alcance das atividades, assim “para potencializarmos o uso dos espaços de lazer, devemos buscar o maior envolvimento possível da comunidade interessada. Isto é, procurar administrar não para os envolvidos, e sim em conjunto com eles” (MELO; BRETAS; MONTEIRO, 2009, p.56).

Certamente, a gestão participativa se mostra mais inclusiva e mais trabalhosa, mas diminui a chance de retrabalho e, consequentemente, de gastos de tempo e recursos extras. Ao ouvir os envolvidos nos projetos e programas poderemos entender melhor suas necessidades, interesses e condições de participação, diminuindo assim a possibilidade de erros, e está prevista na legislação.

Levando em consideração o modelo participativo em detrimento aos demais, temos que ter clareza que para se chegar em um nível de construção coletiva, onde todos os atores participam de forma efetiva do projeto, é necessário antes de tudo, oportunizá-los, oferecendo ferramentas para que estes tenham condições e conhecimento necessário para contribuir, pois, caso contrário, a detenção do conhecimento fica para um ou parte pequena do grupo e os demais ficam impossibilitados do debate e assim da construção coletiva.

No Estatuto da Criança e Adolescente a participação da comunidade é garantida em diversos momentos. O artigo 53 traz que é direito da criança, adolescente e sua família a organização e participação na definição de propostas educacionais. O artigo 88 da mesma legislação é previsto nas diretrizes da política de atendimento à participação popular paritária e a mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade.

Clique na imagem acima para acessar o estatuto

1.3.2 Gestão em Eventos Esportivos Escolares e Esporte Educacional

Para além da gestão dos projetos e programas, a gestão dos eventos esportivos dentro desses devem ser organizados atendendo aos mesmos princípios do Esporte Educacional. Os eventos podem ser momentos importantes de confraternização, de troca de experiências, de atividades intergeracionais, de descobertas de parcerias e de muitas outras possibilidades positivas.

Os grandes eventos e a ação da mídia causam encanto e influência na sociedade, principalmente nas crianças e adolescentes, que deve ser considerada de maneira crítica e utilizada de maneira educativa e positiva.

PARA PENSAR

A Copa do Mundo de futebol aí está, mostrando que o drama de alguns, a glória de outros, a fibra de muitos, a superação individual e o duelo constante com os limites são todos ingredientes dignos de qualquer peça shakespeariana e fazem do esporte um fenômeno sociocultural de grandes proporções. Tal fenômeno não é apenas objeto de apreciação por fervorosos seguidores. Ele serve também de modelo para que crianças, jovens, adultos e idosos se engajem em atividades similares, não raro tentando simular os eventos que tanto cultuam. Por se tratar de uma atividade com um fim em si própria e por encerrar significados tão profundos para as pessoas, não é de se espantar que o esporte mantenha uma relação de ambiguidade com outras formas de atividade que têm no movimento um fim em si mesmo (GO TANI; MANOEL, 2004, p.113).

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Para atender aos fundamentos e princípios do Esporte Educacional, os eventos propostos nesses projetos/programas devem também atender ao objetivo de democratizar o acesso de crianças e adolescentes à prática esportiva, buscando o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, considerando-se a diversidade cultural, social, econômica, política, física, sensorial, cognitiva, entre tantas outras possíveis de se encontrar nos diferentes contextos. Eventos festivos com atividades culturais, que valorizem a cultura regional e a troca de conhecimento com a comunidade, podem e devem ser valorizados no contexto educacional, no entanto, as atividades esportivas competitivas podem ser realizadas desde que na medida educativa. A competição saudável é fundamental para a formação das crianças e adolescentes, entender e vivenciar a vitória e derrota, o erro e acerto, a construção em equipe, a presença de objetivos, a resolução de problemas, entre outros, são fatores presentes em vivências competitivas regradas de bom senso e planejamento. Estudos têm mostrado o fator excessivo e competitivo em eventos esportivos escolares e não deve ser repetido nos projetos e programas de Esporte Educacional, considerando que:

Outros autores apontam os efeitos do stress provocado pelo excesso de treinamento e/ou competição inadequada, com cobranças exageradas em relação à capacidade das crianças e jovens atletas. Segundo esses autores, o stress excessivo, associado a situações de cobrança, pode chegar a produzir diferentes reações como: transtornos psicossomáticos, problemas dermatológicos, transtornos gastrointestinais, alterações de apetite, alterações no sono e até insônia, desvios de comportamento, aumento da ansiedade e da agressividade, esgotamento físico e psicológico (burnout), distúrbios cognitivos (falta de atenção e concentração, distrações, esquecimento, bloqueio mental) e síndrome de saturação esportiva (GO TANI; MANOEL, 2004, p.248).




Segundo a Política Nacional do Esporte, para que se materialize a inclusão social pelo esporte nos projetos sociais e educacionais, é importante que se atenda desde a criança até o idoso, oferecendo-lhes atividades diferenciadas e integradas, que abranjam todas as manifestações esportivas, mantendo sempre como preceitos fundamentais a cidadania, a diversidade e a inclusão. Assim, os eventos esportivos e sociais dos projetos e programas do Esporte Educacional podem cumprir esses propósitos e ainda proporcionar a troca de experiências e respeito ao conhecimento familiar e da comunidade.

Outra forma de aproximar é aproveitar as experiências dos pais em relação ao esporte e à cultura corporal, oportunizando-lhes que relatem aos filhos e demais participantes essas vivências. É possível também o desenvolvimento de eventos esportivos com a participação dos pais. Há, ainda, a possibilidade de eventos com a participação dos pais na organização, logística e até mesmo na divulgação. Com a família envolvida, pode-se ter a chance de um avanço social ampliado, pois todos podem aprender coletivamente desde o esporte até as regras básicas de convivência da escola e da comunidade (DARIDO; OLIVEIRA, 2009, p.219).

Os eventos podem facilitar e maximizar as características democráticas e participativas dos projetos/programas educacionais. Podem proporcionar a aproximação com a comunidade, com suas ideias, necessidades, satisfações e insatisfações, favorecer a avaliação do alcance do projeto/programa, dando subsídios para sua reestruturação e a ampliação dos seus benefícios.

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IMPORTANTE

O outro lado das competições

Outros autores apontam os efeitos do stress provocado pelo excesso de treinamento e/ou competição inadequada, com cobranças exageradas em relação à capacidade das crianças e jovens atletas. Segundo esses autores, o stress excessivo, associado a situações de cobrança, pode chegar a produzir diferentes reações como: transtornos psicossomáticos, problemas dermatológicos, transtornos gastrointestinais, alterações de apetite, alterações no sono e até insônia, desvios de comportamento, aumento da ansiedade e da agressividade, esgotamento físico e psicológico (burnout), distúrbios cognitivos (falta de atenção e concentração, distrações, esquecimento, bloqueio mental) e síndrome de saturação esportiva (GO TANI; MANOEL, 2004, p.248).

Chegamos ao final deste capítulo, os conteúdos aqui tratados trazem caminhos diversos para que o Esporte Educacional seja mais consciente e inclusivo, esperamos que tenhamos atingido os objetivos propostos, e para além disso, que os leitores tenham se sentido motivados a ampliar a práxis e buscar um espaço mais prazeroso, convidativo, cooperativo e inspirador. Aguardamos vocês no próximo capítulo!