Formação Antirracista na Escola:

Possibilidades para o Ensino das Relações Étnico-Raciais na Educação Básica

Prefácio

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Quando pensamos em educação, a primeira imagem que vem à nossa mente é a escola, com suas salas de aula, pátio, muros, alunos(as), professores(as)... Na modernidade, a escola foi ocupando um lugar central no imaginário como um espaço de socialização do saber, disciplinamento, preparação para a vida e para o trabalho, enfim, uma instituição que forma indivíduos para o mundo comum presente e para o futuro. A escola acabou encarnando o ideal iluminista de redenção da humanidade, de construção do novo homem, de uma verdadeira civilização em oposição à barbárie.

De fato, a escola se tornou o lugar privilegiado da formação de crianças, jovens e adultos. A própria palavra educação se transforma em sinônima de educação escolar. Nos discursos, nos documentos, nos debates, parece ser unânime o reconhecimento sobre a importância a ser dada à educação. Toda uma estrutura organizacional é criada em função de um projeto pedagógico: currículo, livros, orçamento, formação e contratação de professores(as), etc. Contudo, muitas vezes, uma pergunta deixa de ser feita: qual é o sentido dado à escola nas sociedades modernas? Ou mesmo: qual é o sentido da escola?

O imaginário moderno de esclarecimento, de libertação dos preconceitos, de constituição de uma autonomia moral e intelectual vai de encontro ao mundo real, com suas contradições internas, com a alienação, com o interesse privado invadindo e se sobrepondo ao mundo público. Pensar o(s) sentido(s) da escola implica pensar o(s) sentido(s) da vida coletiva e que tipo de sociedade queremos construir.

Não nos iludamos, vivemos numa sociedade que encarna o melhor e o pior do imaginário moderno, e a escola não é um ente isolado das ideologias. Ao contrário, ela é, sobretudo, uma criação desse imaginário. Encarna o sonho iluminista de uma vida livre de preconceitos e obscurantismo, mas também, encarna a racionalidade instrumental, do controle, refratária às contradições do real.

Cabe a cada um, em especial aqueles(as) que atuam na educação escolar, assumir esta reflexão, situar a escola neste mundo, nesta história, reconhecendo a relação intrínseca entre as contradições sociais e as contradições reais da escola. Uma atravessa a outra. Uma se constitui na outra. Não é a escola que vai mudar o mundo, mas pode participar lucidamente deste processo histórico, junto com outras instâncias do espaço público (também elas educadoras). Para saber que sociedade queremos, que escola queremos, devemos partir da sociedade e da escola que temos.

Neste livro, encontraremos este tipo de reflexão. Coerente com a proposta de formação do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica (PPGEEB), todos os capítulos partem de um mesmo reconhecimento: a sociedade que temos não foi pensada para todos, a escola que temos não foi construída para todos(as). O espaço público ainda não está aberto à participação de todos(as). A própria ideia de democracia, que implica a igual participação no debate coletivo, se encontra comprometida com este estreitamento da ideia de quem é o(a) cidadão(ã).

Homens e mulheres negros(as), povos tradicionais, comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiência... A lista daqueles(as) que precisam ser reconhecidos(as) como sujeitos de direito é imensa. Não é possível mais pensar a prática pedagógica, pensar a vida coletiva, sem pensar o todo que compõe a vida social. A escola não vai salvar o mundo, mas pode nos ajudar a pensar e agir na busca de formas mais cidadãs de existir com o outro, pelo outro e para o outro.

Prof. Dr. Evandson Paiva Ferreira
PPGEEB/CEPAE/UFG