O VERDE DE MINHA ROÇA VEM DE MARTE • ISBN: 978-65-86422-43-6
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Apresentação

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Alexandre Araújo é um desses historiadores que não se encaixa com facilidade nos rótulos e amarras catedráticas que muitas vezes a academia impõe sobre os seus membros. A sua trajetória acadêmica expressa responsabilidade e coerência, mas com uma pitada de discordância e inconformidade aos modelos tradicionais de divulgação e alcance do conhecimento científico. Araújo tem trilhado o caminho de uma “autonomia controlada”, com fidelidade e integridade aos seus princípios de valorização à diversidade, no mais amplo sentido desta palavra. Isso se expressa no seu engajamento em questões relacionadas à valorização das comunidades tradicionais e aos saberes por elas produzidos. As questões ambientais representam, nessa trajetória, o eixo articulador do seu engajamento, no qual procura associar o conhecimento científico com formas alternativas de saberes. O seu livro “O giro de Bolon: história ambiental para grandes crianças e pequenos adultos”, o qual compõe o volume I desta coleção, reflete esse tipo de engajamento e autonomia. E em seu mais novo trabalho, “O Verde de Minha Roça Vem de Marte: aventura socioambiental no lado mais escuro da terra”, Araújo repete a fórmula, ou seja, o caminho ficcional foi o modelo narrativo encontrado para se comunicar com os seus principais interlocutores, “grandes crianças e pequenos adultos”. O enredo explora um projeto de colonização espacial (Projeto Nova Marte), em uma missão sem volta envolvendo um grupo de voluntários bastante heterogêneo. Os desafios adaptativos enfrentados como processo de seleção à nova colônia espacial colocam as personagens centrais do livro em contato com diferentes ambientes e ecossistemas. E nessa trajetória muitos questionamentos e perplexidades afloram, por exemplo, a noção histórica de não pertencer aos processos adaptativos do lugar. Estranhamentos e perplexidades que nos fazem lembrar a emergência da natureza como ciência em Alexander Von Humboldt e suas viagens pelo planeta. A perplexidade, noção cara de Boaventura de Sousa Santos, aparece no texto nas reflexões envolvendo as ideias de "pensamento abissal" e "arraigamento ecológico", esta última foi criada pelo autor para se referir a “um conjunto de estratégias adaptativas, historicamente construídas em situações de enfrentamentos recorrentes às perturbações do meio”. Perplexidades e reflexões sobre o mundo natural e os intercâmbios culturais adaptativos no planeta. O livro traz uma importante reflexão sobre as savanas, em especial sobre a savana tropical brasileira. O Cerrado, tão ameaçado pela expansão da fronteira agrícola, é abordado de forma sutil pelas relações com uma comunidade tradicional. Destaco, ainda, os traços criativos das ilustrações de Sabrina Costa Braga.

A obra é uma divertida aventura e um convite para reflexões socioambientais, além de ser um material rico para a educação ambiental e o diálogo intercultural sobre os saberes ambientais.

Sandro Dutra e Silva
Professor da Universidade Estadual de Goiás e autor do livro “No Oeste a terra e o céu: a expansão da fronteira agrícola no Brasil Central” (Rio de Janeiro: Mauad X, 2017)