Patrícia Roberta de Almeida Castro Machado
patriciaracm@ufg.br

Atuação Docente Durante Período de Isolamento Social

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Resumo: Este artigo busca refletir sobre os processos de ensino e aprendizagem, durante o período pandêmico e a necessidade de isolamento social, que exigiu a reformulação, a reestruturação e o repensar das práticas docentes. Tais práticas tiveram que ser realizadas exclusivamente por meio de recursos tecnológicos, principalmente on-line. Para isso, aplicamos um questionário, com perguntas fechadas e espaço para comentários livres, entre docentes de diferentes níveis educacionais (da educação infantil ao ensino superior), a fim de tentar compreender o contexto educacional brasileiro nesse período, refletindo sobre as formas e as condições de trabalho docente. O estudo realizado indica e ressalta a importância de repensar, constantemente, as nossas práticas para que possamos saber lidar com as adversidades.

Palavras-chavedocentes, contexto on-line, isolamento social

Considerações iniciais

O atual cenário de isolamento social que estamos vivenciando, desde março de 2020, quando foi decretada a pandemia no Brasil, afetou todas as instâncias e contextos sociais e nos conduziu a um repensar constante das nossas práticas, valores e necessidades. Em âmbito educacional, bem como em outras instâncias, reforçou-se a utilização de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) para a manutenção dos processos educacionais e do vínculo entre discentes e docentes, promovendo uma intensa socialização digital para a qual nem todos estavam preparados. Esta pesquisa pretende apresentar um recorte do contexto educacional brasileiro que estamos vivenciando durante o período pandêmico, a partir da perspectiva docente, buscando compreender suas formas e condições de trabalho. Acredito que o entendimento, com base numa reflexão crítica, do que estamos presenciando nas ações educacionais, seja em relação à atuação docente ou às políticas educacionais impostas neste cenário, pode nos trazer maiores subsídios para saber como caminhar daqui para frente.

Cada vez mais as TDIC estão presentes em nossas atividades diárias, de forma tão comum e natural que, por vezes, sequer percebemos a dependência que desenvolvemos por tais recursos tecnológicos, pois eles passam a integrar as nossas vidas e as nossas formas de organização tanto individual quanto social, incluindo o modo como pensamos e agimos (LALUEZA et al, 2010). Em período de necessidade de isolamento social, essa dependência de recursos tecnológicos se intensifica ainda mais e atinge de forma intensa os processos de ensino e aprendizagem. Para Coll e Monereo (2010, p. 39), “a educação escolar deve servir para dar sentido ao mundo que rodeia os alunos, para ensiná-los a interagir com ele e a resolverem os problemas que lhes são apresentados”. Nesse sentido, julgo imprescindível compreendermos as implicações que os processos de socialização digital, no atual contexto de pandemia, podem exercer no ensino e na aprendizagem e na atuação docente, tanto neste período de isolamento social quanto no momento pós isolamento. No entanto, também cabe ressaltar questões relativas às diferenças sociais, regionais, culturais e socioeconômicas que, em contexto de isolamento social e necessidade de uso das TDIC, podem levar à falta de isonomia nos estudos, pois nem sempre é possível que as instituições educacionais alcancem a todos os seus estudantes, para dar-lhes as mesmas condições de aprendizagem.

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Ao se falar sobre aprendizagem on-line, ressaltamos os papeis que docentes e discentes assumem em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), porque esse contexto se difere significativamente do modelo presencial, não podendo ser concebido como uma simples transposição do presencial ao virtual. A socialização digital, às vezes, pode inclusive influenciar na postura e nas emoções discentes e docentes, permitindo, por exemplo, que uma pessoa tímida em ambientes presenciais se sinta mais à vontade para expressar suas opiniões em contexto virtual (PALLOF e PRATT, 2004). Também, devemos considerar que há diferentes modelos pedagógicos de cursos a distância (BEHAR, 2009). Alguns se utilizam da interação entre diferentes recursos midiáticos, como materiais impressos, televisão e computador; outros optam por realizar seus momentos de socialização digital privilegiando ambientes virtuais e a internet. Contudo, como a pandemia exigiu ações repentinas e rápidas das instituições de ensino e dos docentes, não houve tempo necessário para que docentes e discentes fossem devidamente preparados para esse contexto educacional, mediado pelas TDIC. Assim, muitas práticas docentes atuais estão sendo marcadas por esforços pessoais e tentativas de fazer o melhor dentro de condições extremamente desfavoráveis, devido à falta de conhecimento sobre possibilidades para que se ocorram os processos de ensino e aprendizagem, na modalidade de Educação a Distância (EaD). Na verdade, o que se implementou não foi um modelo de EaD, mas sim atividades remotas de ensino e aprendizagem e, atualmente, fala-se na implementação de um ensino denominado híbrido.

Compreendendo algumas definições

Na emergência em se implementar algo para que os processos de ensino e aprendizagem pudessem ter continuidade, durante o período pandêmico, muitos conceitos relativos ao contexto de aprendizagem, ensino e educação on-line foram sendo confundidos e mal entendidos. Por isso, considero importante resgatar algumas dessas definições, conceituando Educação a Distância (EaD), Ensino Remoto (ER) e Ensino Híbrido (EH), a fim de que possamos compreender o que, de fato, está acontecendo atualmente em diferentes instituições de ensino.

A EaD é uma modalidade de ensino legalmente reconhecida no Brasil que segue concepções de ensino e aprendizagem diferentes do ensino presencial, exigindo maior autonomia discente, interatividade e colaboração em ambientes virtuais de aprendizagem. Conforme Moreira e Schlemmer (2020, p. 14), essa modalidade educacional

consiste então, num processo que enfatiza a construção e a socialização do conhecimento; a operacionalização dos princípios e fins da educação, de forma que qualquer pessoa, independentemente do tempo e do espaço, possa tornar-se agente de sua aprendizagem, devido ao uso de materiais diferenciados e meios de comunicação, que permitam a interatividade (síncrona ou assíncrona) e o trabalho colaborativo/cooperativo.

Já o ER não é considerado uma modalidade de ensino, mas sim uma forma de ensino emergencial que está sendo possível atualmente para o enfrentamento da pandemia. Ainda, de acordo com Moreira e Schlemmer (2020, p. 09), no ensino remoto,

o ensino presencial físico (mesmos cursos, currículo, metodologias e práticas pedagógicas) é transposto para os meios digitais, em rede. O processo é centrado no conteúdo, que é ministrado pelo mesmo professor da aula presencial física. Embora haja um distanciamento geográfico, privilegia-se o compartilhamento de um mesmo tempo, ou seja, a aula ocorre num tempo síncrono, seguindo princípios do ensino presencial.

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Nesse tipo de ensino, observa-se uma relação mais unilateral e centrada nos conteúdos, buscando reproduzir a aula presencial em contextos mediados por TDIC que, por sua vez, privilegiam interações síncronas, para simularem a sala de aula presencial, substituindo-a por uma sala de aula virtual e conectando pessoas simultaneamente em espaços geográficos distintos.

Por fim, o EH pode ser definido como um tipo de ensino em que

ocorrem atividades presenciais e on-line, de forma integrada e personalizada, com o objetivo de melhorar a construção de conhecimentos sobre o tema em estudo. Nessa proposta, o aluno deve ter alguma oportunidade de fazer escolhas (hora de estudar, tempo gasto no estudo, seleção e adaptação de materiais pesquisados) desenvolvendo assim sua autonomia no processo de ensino e aprendizagem com apoio das Tecnologias Digitais (BARCELOS e BATISTA, 2019, p. 61).

Por meio do EH e com a utilização de metodologias ativas que mesclam elementos das modalidades presencial e a distância, é possível realizar abordagens pedagógicas que busquem o desenvolvimento da autonomia discente, considerando seu próprio ritmo e forma de aprendizagem pessoal, bem como proporcionando atividades que requeiram cooperação e colaboração.

Após compreendermos melhor tais conceitos, podemos visualizar que o contexto atual dos processos remotos de ensino e aprendizagem tendem a indicar um movimento fragilizado que, como consequência, podem direcionar à precarização da EaD, pois em meio à confusão conceitual alguns acreditam equivocadamente que, durante o período pandêmico, o que foi implementado trata-se da modalidade de EaD. Além disso, nesse contexto de ensino remoto, a tendência é também termos rendimentos educacionais precários, como nos indicam alguns dos dados que serão aqui apresentados.

Análise dos dados

Para a análise apresentada neste artigo, foi aplicado um questionário, elaborado no Formulários Google, com perguntas fechadas e espaço disponibilizado para comentários livres. O link de acesso para o questionário é https://forms.gle/R3kBdjhSFz3Coi7U9. Sua aplicação e envio foram feitos por meio de e-mail e de redes sociais, como Watts App e Grupos do Facebook e, entre os meses de abril a dezembro de 2020, obtivemos um total de 396 respostas de docentes de diferentes estados brasileiros que atuam em distintos níveis e tipos de instituição de ensino. A maioria desses docentes que responderam ao questionário, confirmam não terem tido nenhuma preparação anterior para trabalhar com as TDIC em contexto de EaD (61,6%) e, também, nunca tinham trabalhado antes em tal contexto educacional (63,9%), conforme conta na seguinte figura.

Figura 1. Preparação e experiência docente em contexto de EaD (gráficos gerados pelo Formulários Google).
Preparação e experiência docente em contexto de EaD (gráficos gerados pelo Formulários Google)

Isso ressalta o despreparo docente para as atividades educacionais que lhes foram impostas, bem como justifica a necessidade da implementação do ER, em momento emergencial, para que as instituições de ensino possam dar continuidade às suas ações educativas.

Mas, o foco dos processos de ensino e aprendizagem nesse contexto remoto acaba sendo, de fato, o repasse de conteúdo, como indicado na seguinte figura, em que 42,4% dos docentes responderam que o que está sendo priorizado, nos processos de ensino e aprendizagem, é o conteúdo das disciplinas que ministram. Apenas 16,2% ressaltam a manutenção de vínculos socioafetivos, 12,9% a reflexão crítica e 11,1% o desenvolvimento global como elementos também priorizados durante o ER, em suas instituições de ensino.

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Figura 2. Preparação e experiência docente em contexto de EaD (gráfico gerado pelo Formulários Google).
Preparação e experiência docente em contexto de EaD (gráfico gerado pelo Formulários Google)

Essa alteração brusca da rotina das instituições de ensino e do trabalho docente, em específico, trouxe muitas surpresas tanto negativas quanto positivas, seja para o profissional da educação ou mesmo para o indivíduo enquanto sujeito imerso na complexidade de se vivenciar um período pandêmico. Conforme respostas dos docentes, podemos citar os seguintes impactos da pandemia em relação às suas atividades profissionais:

Várias instituições de ensino perderam discentes, o que no setor privado, em especial, foi (e está sendo) extremamente difícil, pois impactou na demissão de profissionais e, em alguns casos, no fechamento da escola, deixando profissionais desempregados e discentes tendo que ir em busca de outras escolas. Por outro lado, onde foi possível seguir com as atividades remotas, de acordo com a avaliação dos docentes participantes desta pesquisa, tais processos de ensino e aprendizagem remotos poderiam ser classificados como algo necessário para que os discentes não ficassem totalmente isolados. Os percentuais que obtivemos sobre essa questão, a partir das respostas previamente disponibilizadas, foram os seguintes:

A partir dessas respostas, podemos perceber que tranquilo esse momento não está sendo para quase ninguém. Tanto que ao tratarmos, no questionário aplicado, sobre a opinião dos docentes em relação ao trabalho que estavam realizando, as respostas mais selecionadas foram: necessário (61,1%), exaustivo (51,8%), importante (42,4%), angustiante (36,9%), inovador (30,6%), solitário (26,8%), satisfatório (18,7%), produtivo (17,2%), ilusório (12,9%), irritante (12,4%) e triste (10,6%). Destaco, aqui, a consciência docente de estar fazendo algo importante e necessário, mesmo que cansativo e angustiante, num momento tão difícil pelo qual mundialmente estamos passando. Também, é importante enfatizar a consciência docente de estar fazendo o que é possível dentro das condições que possui e que isso, nem sempre, gera satisfação em relação às suas ações e em relação ao desenvolvimento discente. É o que nos indica a próxima figura:

Figura 3. Atuação docente e rendimento discente (gráficos gerados pelo Formulários Google).
Atuação docente e rendimento discente (gráficos gerados pelo Formulários Google)

Além disso, a maioria acredita que as experiências desse período nos conduzem a um repensar das práticas docentes que podem influenciar na atuação em sala de aula, com a retomada dos processos de ensino e aprendizagem presenciais.

Figura 4. Influência do período pandêmico nas práticas docentes (gráfico gerado pelo Formulários Google).
Influência do período pandêmico nas práticas docentes (gráfico gerado pelo Formulários Google).
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De fato, novas experiências e vivências nos fazem enxergar as coisas de outras formas. Mas, fico indagando: que contribuições tudo isso pode realmente nos trazer? Como será a organização escolar, incluindo as políticas educacionais, após a pandemia? Sem dúvidas, as tecnologias podem trazer grandes contribuições para os processos de ensino e aprendizagem, em diferentes níveis educacionais. Contudo, não basta inserir tecnologias e permanecer com ações semelhantes ao que já se fazia antes, como ocorre muitas vezes no denominado ensino remoto. O ensino híbrido, que muitas escolas dizem estar implementando neste momento em que podem funcionar presencialmente, com número reduzido de discentes, por exemplo, não é (na maioria das vezes) o ensino híbrido de fato, como conceituado neste artigo, mas sim uma forma de organização logística para que alguns tenham suas aulas na escola e outros em casa. Assim, o que vejo é um desvirtuamento constante das possibilidades reais e factíveis que as tecnologias, e em específico as TDIC, podem trazer como benefícios para o desenvolvimento educacional.

Diálogo entre docentes

Para compreendermos melhor o que foi expresso pelos docentes no espaço para comentários livres do questionário aplicado, vamos classificar suas falas a partir das seguintes categorias: 1. ambiente doméstico; 2. inovação e reinvenção; e 3. instituições de ensino e formação.

Em relação à primeira categoria, o ambiente doméstico para a realização do trabalho docente é relatado, principalmente, como uma invasão da instituição de ensino nos lares docentes e discentes. Além disso, são evidenciadas dificuldades para a realização desse trabalho remoto em casa, como nos indicam as falas docentes a seguir:

“O mais difícil é a exaustão. Estamos lidando com pais raivosos, que culpam professores e escola por não oferecem as aulas presenciais, e querem redução de mensalidades. Nosso salário é historicamente insuficiente para o mínimo, com redução não sabemos como sobrevivemos. (...) A grande questão é que estamos trabalhando uma média de 20 horas diárias carregando a incerteza de receber no final do mês, a crítica constante da sociedade que quer receber um espetáculo digno de superprodução global e estão com ódio por estarem pagando nossos salários e "fazendo nosso trabalho", nas palavras dos pais”.

“As propostas de Educação a Distância, infelizmente não consideram e se esquecem que podemos estar só em casa com filhos pequenos e com muita dificuldade em organizar tarefas domésticas, escolares das crianças e ainda um trabalho totalmente diferente do normal”.

“Acredito que este momento tem sido um desafio para todos nós envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, alunos, professores, pais... Que para o professor tem sido um desafio, pois este teve que se reinventar e levar a sala de aula para dentro da casa do aluno, o que tem gerado aprendizagem, mas também angústia. Para os pais, o sentimento é parecido, pois estes estão tendo que lidar com situações e processos que não estavam acostumados, e que em sua grande maioria, não possuem formação para isto”.

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Os docentes passaram a ter que lidar com todas as suas atividades, pessoais e profissionais, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, sentindo grande dificuldade para alcançar seus discentes, principalmente quando eram hostilizados por seus familiares, e poder acompanhar seus respectivos desenvolvimentos na disciplina ministrada. A última fala docente, destacada nesta categoria, também nos indica a necessidade de se reinventar para dar continuidade aos processos educacionais durante a pandemia.

Outras falas que enfatizamos sobre a segunda categoria, inovação e reinvenção, são:

“O profissional deve manter contato com os alunos, usar da criatividade para inovar sem perder o senso crítico quanto à falta de estrutura gritante exposta neste contexto de pandemia”.

“Tenho me reinventado para ajudar os alunos na tarefa de condução do conhecimento, mas ciente de que uma parte não tem acesso à internet e condições de estudos a distância, por isso me angustia saber que esses estão fora do processo de inclusão”.

“Dou aula de inglês para alunos de 6 e 7 anos e essa tem sido a parte mais desafiadora de todas, pois é difícil fazer com que crianças dessa idade prestem atenção no que está sendo feito. Por isso, tenho gastado muito tempo planejando as aulas, visando trazer atividades lúdicas que levem as crianças a se movimentarem, se expressarem e se divertirem enquanto aprendem inglês por meio da internet. Sinto que estou trabalhando duas vezes mais e que estou aprendendo tudo novamente, pois as técnicas de domínio de sala, por exemplo, que antes eu utilizava com os mesmos alunos, agora não são tão eficazes. Estou estudando e testando tecnologias novas, utilizando novos sites (principalmente de jogos) e reinventando toda a prática docente que tive até hoje”.

Além de evidenciarem a necessidade de se reinventarem para inovar, os docentes também ressaltam os desafios impostos pela desigualdade social e, portanto, pela desigualdade de acesso à educação via tecnologias e, em especial, via TDIC.

Na última fala, ainda podemos perceber que a angústia docente e a vontade de realizar um bom trabalho, nesse contexto que nos foi imposto, levou muitos professores a procurarem estudar mais e buscar formas para que os processos de ensino e aprendizagem pudessem acontecer da melhor forma possível. Assim, chegamos à nossa terceira e última categoria que ressalta o papel das instituições de ensino e a importância da formação docente para o contexto educacional mediado por tecnologias. As falas aqui destacadas são as que se seguem:

“Passado o período de resistência de ambos os lados professores e alunos estão conseguindo aprender muito diante de uma realidade antes nunca vivida e pandemia, quarentena e questões científicas ainda desconhecidas. A produção acadêmica tem sido rica e o suporte emocional entre os professores tem sido muito proveitoso.

“Faz-se necessário o uso de novas tecnologias, a fim de não comprometer a aprendizagem dos estudantes. Contudo, as instituições devem comprometer-se a dar o suporte necessário como treinamentos e elaboração de teleaulas. E atentar-se às necessidades específicas da comunidade escolar onde atua”.

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“O isolamento social e o ensino a distância, principalmente, a partir dos sistemas de ensinos privados está gerando uma sobre carga de trabalho (não pago), um amento de cobrança e, por consequência, estresse, enfim, uma precarização do trabalho docente”.

Destaco dessas falas duas questões: o apoio entre docentes e o papel das instituições de ensino. Para conseguirem dar sequência às suas atividades, vários docentes formaram grupos de apoio e ajuda, utilizando-se de redes sociais. Algumas instituições de ensino, por sua vez, ofereceram suporte necessário, com equipamentos e oferta de cursos de formação, por exemplo, mas nem todas atuaram dessa forma e, ainda, geraram muita pressão, atribuindo diversas responsabilidades aos docentes.

Considerações finais

Os resultados possibilitam uma compreensão do contexto atual dos processos educacionais, levando a um repensar e ressignificar das práticas docentes, bem como das políticas educacionais atuais, impostos pelo período de isolamento social, em que professores tiveram que se reinventar para tentar promover um trabalho de qualidade e para que seus discentes pudessem dar continuidade aos seus estudos mesmo num cenário tão adverso.

Com base na compreensão do contexto educacional atual e nas transformações que estamos vivenciando nos processos educacionais, acredito que esta pesquisa poderá auxiliar no desenvolvimento das atividades docentes, bem como na formação de professores, pós período de isolamento social, possibilitando novas perspectivas e questionando práticas tradicionais.

E, pensando no momento atual do período pandêmico e na restrição de 30% da capacidade das escolas para o recebimento presencial de discentes, a proposta vigente em muitas escolas é a de realização de um ensino híbrido que possa contemplar discentes tanto em contexto presencial quanto em contexto de distanciamento físico da escola. No entanto, o que se percebe na organização das escolas que dizem oferecer esse ensino híbrido, não é necessariamente o ensino híbrido sendo implementado, mas uma organização logística para dar sequência aos processos de ensino e aprendizagem de modo que os discentes possam frequentar presencialmente a escola por um período e, em outros momentos, acompanhar as atividades em espaço físico distante do contexto físico escolar. As metodologias e atividades do ensino híbrido nem sempre são trabalhadas e o que impera é a manutenção do ensino remoto, com possibilidades de convivência presencial na escola.

Enfim, precisamos repensar nossas práticas para que possamos saber lidar com as adversidades, de modo que alcancemos maior qualidade e abrangência dos processos educacionais, seja em contexto remoto, na EaD ou mesmo no ensino híbrido.

Referências

BARCELOS, G. T. e BATISTA, S. C. F. Ensino Híbrido: aspectos teóricos e análise de duas experiências pedagógicas com Sala de Aula Invertida. Porto Alegre: RENOTE - Revista Novas Tecnologias na Educação – UFRGS, 2019, V. 17, n. 2.

BEHAR, P. A. (orgs.). Modelos pedagógicos em educação à distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.

COLL, C.; MONEREO, C. (Orgs.). Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed.

MOREIRA, J. A.; SCHLEMMER, E. Por um novo conceito e paradigma de educação digital onlife. Goiânia: Revista UFG, 2020, V.20.

PALLOF, R; PRATT, K. O aluno virtual: um guia para trabalhar com estudantes online. Porto alegre: Artmed, 2004.