“Tô Ligado! Produção de Mídia em Direitos Humanos” e “Direitos Humanos nas Ondas do Rádio”: Relato de Experiências Integradas de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura na Regional Cidade de Goiás da Universidade Federal de Goiás
103Resumo: O presente artigo relata experiências integradas de ensino, pesquisa, extensão e cultura realizada junto aos cursos de Direito e Arquitetura e Urbanismo da Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas da Regional Goiás da Universidade Federal de Goiás. Referidas experiências estão sendo desenvolvidas no âmbito dos projetos “Tô ligado! Produção de mídia em direitos humanos” e “Direitos Humanos nas Ondas do Rádio”, que objetivam a produção de material audiovisual de curta duração e conteúdo radiofônico que expliquem temas de direitos humanos, sistema de justiça e cidadania por meio de conteúdos, ferramentas e linguagem acessíveis e relacionados a situações do cotidiano. Para tanto, esses projetos veiculam seus produtos em vídeos em meios virtuais e em programa de radiodifusão comunitária, bem como utiliza outras redes sociais para divulgação de informações úteis à tradução de conhecimento técnico-científico para linguagem que permita à população ter acesso a informações necessárias ao conhecimento e defesa de direitos humanos, bem como que permita sua interação por meio da propositura de novos materiais e sua participação na produção dos conteúdos veiculados.
1. Introdução
No ano de 2018, um conjunto de docentes da Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas da Regional Goiás da UFG propôs dois projetos que visam articular ações de ensino, pesquisa, extensão e cultura com a produção de material audiovisual por parte dos estudantes dos cursos de Direito e Arquitetura e Urbanismo, em atividades curriculares e ações junto à comunidade interna e externa à Universidade. Referidos projetos buscam responder a demandas por conhecimento de direitos geradas na realidade-contexto no qual a Unidade Acadêmica está inserida e para tanto visa qualificar um conjunto de estudantes, sob o ponto de vista técnico jurídico, por um coletivo docente engajado na práxis de direitos humanos, especialmente de direitos sociais.
O objetivo principal é que esses sujeitos da universidade desenvolvam as habilidades necessárias para intervirem no contexto comunitário local promovendo e difundindo conhecimentos sobre direitos. A indissociabilidade dos saberes nas dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão universitária, provocou o coletivo docente a elaborar ações de intervenção nos marcos da metodologia participativa no âmbito da extensão universitária, de modo que os problemas concretos (demanda por conhecimento e informações sobre direitos) existentes em nível local possam ser trabalhados pelo coletivo discente e docente envolvido.
Esses projetos, que se encontram em andamento, são intitulados “Tô ligado! Produção de mídia em direitos humanos” e “Direitos humanos nas ondas do rádio” e têm como público alvo a comunidade ouvinte das rádios comunitárias e educativas da Cidade de Goiás e a comunidade virtual que busca conteúdos educativos na rede mundial de computadores.
O projeto "Tô ligado! Produção de mídia em direitos humanos" (cadastrado junto à Pró- Reitoria de Extensão e Cultura sob o código PJ524-2018, com execução prevista para o período compreendido entre 01/03/2018 e 31/12/2018) tem por objetivo produzir material audiovisual de curta duração que explique temas de direitos humanos, sistema de justiça e cidadania por meio de conteúdos, meios e linguagem acessíveis e relacionados a situações do cotidiano. Para tanto, veicula vídeos em meios virtuais, especialmente a plataforma YoutTube, para divulgação de informações úteis à tradução de conhecimento técnico- científico para linguagem que permita à população ter acesso a informações necessárias ao conhecimento e defesa de direitos humanos, bem como que permita sua interação por meio da propositura de novos materiais e sua participação na produção dos conteúdos veiculados.
104O projeto “Direitos humanos nas ondas do rádio” (cadastrado junto à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura sob o código PJ515-2018, com execução prevista para o período compreendido entre 18/06/2018 a 31/12/2018) promove um programa de rádio de caráter informativo, de curta duração, com veiculação semanal, com utilização de linguagem acessível, para esclarecer dúvidas, explicar e debater temas de direitos humanos, sistema de justiça e cidadania relacionados a situações do cotidiano. O projeto é desenvolvido em parceria com a Vila Boa FM 87,9 MHz, emissora de radiodifusão comunitária e educativa sediada na Cidade de GoiásVila Boa FM – 87,9 MHz. Sítio virtual: http://www.vilaboafm.com/. Correio eletrônico: vilaboafm@hotmail.com. Telefone celular: (62) 98484-7991. Telefone fixo: (62) 3371-1782. e mantida pela Associação “Sociedade Ação Comunitária e Cidadania da Cidade de Goiás-GO”Sociedade Ação Comunitária e Cidadania da Cidade de Goiás. CNPJ: 01.920.372/0001-07. Endereço: Praça Jornalista Goiás do Couto, S/N, Bairro João Francisco, Goiás-GO, CEP 76.600-000. Telefones: (62) 3371-3820 / (62) 99651-1676..
2. Desenvolvimento
2.1. Fundamentação teórica
A universidade no século XXI tem sido questionada quanto à sua pretensa exclusividade como instituição produtora e transmissora de conhecimentos, o que redunda no que Boaventura de Sousa Santos qualifica como crise de legitimidade da universidade. A essa crise, soma-se a crise de financiamento, tendo em vista medidas neoliberais de redução de recursos financeiros destinados às universidades e a pressão para que elas se tornem vendedoras de serviços no mercado de produtos acadêmicos acessíveis a quem pode pagar por eles. Soma-se também a crise epistemológica, uma vez que a universidade se situa como instituição edificada num contexto histórico e geográfico específico criador de uma racionalidade com pretensões universais que vem demonstrando insuficiências e incoerências para lidar com questões complexas da sociedade plural contemporânea. Estas crises exigem que a universidade repense seus cânones, seus métodos de pesquisa e ensino e o modo como ela se abre para a comunidade que a circunda.
No campo das ciências sociais aplicadas, especialmente do direito, pelo menos duas dessas crises se revelam na manutenção de um linguajar especializado e incompreensível para a maior parte da população, que muitas vezes não conhece a sistemática básica do sistema de direitos e do sistema estatal de resolução de conflitos, e na formação de profissionais para venda de serviços ao mercado e que não se enxergam como agentes pedagógicos e co- construtores de saberes necessários ao exercício da cidadania. Tanto a Universidade e seus cursos jurídicos têm dificuldades em se comunicarem e serem compreendidos pela comunidade, o que conduz a conteúdos muitas vezes social e politicamente descontextualizados ou ao fechamento para questões e saberes gestados fora de seus domínios de especialidade. Com isso, a universidade tem dificuldade em se afirmar com instituição reflexiva da sociedade.
Não obstante, sugere-se que intervenções no campo audiovisual eletrônico e virtual podem contribuir para a melhoria da relação entre universidade e sociedade, permitindo divulgar o que a instituição produz e obter junto à sociedade questões, temas, situações, informações, saberes que provoquem novas reflexões e ações de ensino, pesquisa e extensão por parte da universidade. A massificação de acesso a tecnologias comunicacionais, embora ainda não tendo atingido toda a população brasileira, permite aos membros da comunidade universitária serem agentes produtores de conteúdos, por meio do uso de telefones celulares com tecnologia de gravação, edição e publicação virtual de imagens, áudio e vídeo, ou por meio de câmeras fotográfica e filmadoras hoje mais acessíveis quanto ao seu custo e ao modo de operação.
105Os estudantes de hoje têm, no geral, muito mais familiaridade com essas ferramentas tecnológicas do que antes e, de fato, já são produtores de conteúdos para a rede mundial de computadores. Esses conteúdos, que hoje alimentam bancos de dados preparados para responder ao usuário por meio de oferta de produtos e serviços para venda, e a capacidade juvenil para sua produção podem ser canalizados para a elaboração de materiais acadêmica e socialmente relevantes, contribuindo para a difusão de informações importante para o exercício da cidadania.
Não obstante, conforme adverte Rosane Lacerda (2016, p.317), "Em um tempo cada vez mais marcado pelo uso de tecnologias digitais, demandas pelo direito à comunicação radiofônica parecem um anacronismo. Mas o acesso à informação via rádio continua popular [...]". Nesse sentido, o desenvolvimento de ação extensionista em parceria com meios de comunicação supre uma lacuna notada na localidade (qual seja, a inexistência de ações desta natureza) ao tempo em que contribui para satisfazer a demanda gerada (conhecimento de direitos e as formas de garanti-los e acessá-los). Desenvolve-se, deste modo, o que Michel Thiollent (2003, p.23) denomina metodologia participativa, na qual os destinatários são atores e não meros receptores de conhecimentos dos pesquisadores.
Nas experiências aqui relatadas promove-se um diálogo entre ações extensionistas e atividades disciplinares, para cumprir os preceitos constitucionais de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, e de que a produção e a programação das emissoras de rádio etelevisão e os meios de comunicação social eletrônica atendam preferencialmente a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativasCf. artigos 207, 221, I, e 222, §3º, da Constituição da República Federativa do Brasil..
Com isso, busca-se promover uma educação jurídica que recupere as capacidades de sentir e pensar, por meio de práticas pedagógicas capazes de desenvolver o ver, o fazer, o sentir, o falar, o ouvir para despertar a percepção dialógica da realidade e desenvolver a autonomia e responsabilidade política e cognitiva dos estudantes diante do contexto histórico social. Ensinando, aprende-se, pois, como outrora defendeu Paulo Freire, "ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo" (FREIRE, 2014, p. 95).
2.2. Justificativa
Com isso, ambos os projetos se justificam por quatro ordens de necessidades: I) integrar ensino, pesquisa e extensão, para qualificar a sala de aula como espaço e tempo que cria bases para a investigação científica, divulgação e aplicação dos conhecimentos transmitidos e gerados, e apreensão de novos conhecimentos obtidos por meio do diálogo com a comunidade externa à Universidade; II) implantar novas práticas e instrumentos de ensino-aprendizagem e de ampliar as ferramentas metodológicas, para que os estudantes possam se tornar sujeitos ativos da produção de conhecimento, através do uso de meios de comunicação de massa, de tecnologias eletrônicas, e redes virtuais de informações; III) divulgar resultados de estudos, reflexões, e pesquisas realizados pela Universidade para a comunidade externa que a financia, em meios de grande alcance e que contribuam para a formação cidadã da comunidade externa; IV) estabelecer canais em que a população possa demandar e participar da produção de conteúdos educativos junto à Universidade.
1062.3. Objetivos
Assim, as experiências aqui relatadas têm por objetivo: I) dialogar com a comunidade externa sobre temas, problemas, questões, casos que devam ser estudados pela Universidade ou em conjunto com ela; II) dar visibilidade às ações de ensino e pesquisa da Universidade junto à comunidade externa; III) propor mudanças metodológicas na educação jurídica, por meio da adoção de metodologias ativas; IV) envolver a comunidade externa na produção de material educativo; V) promover a formação dos estudantes em ações de extensão e cultura e habilitá- los para o uso de ferramentas básicas de produção audiovisual.
2.4. Metodologia
Os projetos propõem que estudantes, docentes, e técnicos participantes utilizem ferramentas disponíveis e difundidas, como telefones celulares, câmeras fotográficas e filmadoras, bem como utilizem o espaço cedido pela emissora parceira, para produzir imagens, vídeos, áudios e programa de rádio. Para tanto, promove oficinas de capacitação para o uso dessas ferramentas. Depois, os materiais produzidos são veiculados na rede mundial de computadores, especialmente na plataforma YouTube e nas redes sociais Facebook e Instagram. No YouTube, um dos docentes responsáveis mantém um canal para divulgação dos produtos do projeto, cujo acesso se dá pela seguinte ligação: https://www.youtube.com/channel/UCALAEw8e5frGxYmzy-pjN6A?view_as=subscriber. Por sua vez, os conteúdos são organizados em temas a serem estudados para produção de roteiros ou “scripts” prévios à elaboração de materiais, com o fim de organizar as informações dentro do tempo disponível. Estes conteúdos devem atender preferencialmente a questões que mobilizam o contexto temporal e espacial em que são produzidos. Por isso, essa produção de materiais audiovisuais busca estar integrada a atividades de ensino e pesquisa.
No caso do programa de rádio, optou-se pelo gênero informativo, para difundir notícias e informações de natureza educativa. Para tanto, utilizam-se formatos de radiojornal ou de boletins, com recurso a entrevistas, mesas-redondas ou debates. Para sua realização, os docentes e estudantes se organizam para que, a cada semana, um conjunto de duas a quatro pessoas conduza o programa a partir de temas norteadores. É de se destacar que esta atividade é realizada fora do horário de aulas de todos os participantes e também fora da Universidade. O programa é produzido nos estúdios da emissora parceira9, localizado em um bairro periférico da Cidade de Goiás. Referido estúdio é de pequenas dimensões e tem capacidade para comportar quatro pessoas, sendo uma delas o sonoplasta, a outra o apresentador (em geral um dos docentes coordenadores) e as demais os estudantes ou entrevistados. A emissora cede um sonoplasta para dar suporte ao programa, sem custos para a Universidade. Também disponibiliza seus telefones, fixo e móvel, para recepção de intervenções ao vivo do público, por meio de ligação ou mensagem de texto enviada através do aplicativo Whatsapp. Ela igualmente divulga e transmite o programa ao vivo na rede mundial de computadores por meio de seu sítio virtual e de aplicativos eletrônicos nos quais veicula sua programação. O programa, também intitulado “Direitos humanos nas ondas do rádio”, foi incluído na gradeA emissora era sediada em local relativamente próximo à Universidade, mas os estúdios foram transferidos para endereço mais distante da UFG, no mês de novembro de 2018. permanente da emissora e vem sendo veiculado às segundas-feiras, entre 11h30m e 12h. Nele, os momentos de fala são intercalados com execução de músicas cujo conteúdo esteja relacionado aos temas abordados. Essas músicas são brasileiras e selecionadas entre diversos gêneros, como forma de diversificar o repertório musical, especialmente buscando ir além do que é dominante na indústria cultural. Para isso, é necessário informar previamente a emissora, para planejamento e registro das músicas veiculadas. Por não ter estrutura para produção musical, foi preciso produzir vinheta de abertura em outra rádio local e os custos foram partilhados entre professores e estudantes participantes.
107Além disso, os docentes responsáveis elaboraram orientações destinadas aos estudantes participantes, enfatizando o seguinte: I) necessidade de preparação prévia, com antecedência, do material de apoio, considerando o estudo do tema e sua atualidade; II) organização do grupo de estudantes para divisão de tarefas, cobertura em caso de imprevistos, cuidado com a própria saúde, especialmente com a voz; III) utilização de linguagem adequada à proposta do programa e ao público-alvo; IV) comportamento durante a ação de extensão, valorizando-se a pontualidade, a cordialidade, o respeito com os outros, o compromisso ético com a ação coletiva, e o fato de que os membros da comunidade universitária representam a instituição.
Depois de publicados os materiais produzidos, espera-se que as pessoas que tenham acesso a eles interajam, questionem, divulguem e compartilhem o material produzido, de modo a provocar novas demandas, novos estudos, reflexões e materiais. Essa interação almeja integrar membros da comunidade na produção de novos materiais a serem veiculado, o que é possível mediante a participação da população no programa de rádio e também pelo canal ativo na plataforma YouTube, para publicação dos vídeos e áudios produzidos. Para tanto, além da veiculação do programa de rádio ao vivo, buscar-se-á a disponibilização eletrônica dos conteúdos por meio da tecnologia de "podcasts". Caso haja disponibilidade técnica e interesse das partes envolvidas, os programas produzidos poderão ser compartilhados para outros rádios comunitárias e educativas integrantes da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO). Também se almeja criar páginas e perfis no Facebook e no Instagram. Em todas essas redes sociais eletrônicas, mesmo que os perfis sejam criados individualmente pelos docentes, faz-se obrigatória referencia à marca da UFG.
2.5. Resultados
Quanto aos conteúdos produzidos, o projeto já conta com trinta e nove vídeos publicados nas seguintes listas disponíveis no sítio virtual YouTube: I) Tô ligado na Reforma Trabalhista!,com catorze vídeosTô ligado na Reforma Trabalhista!, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UbQ05e1Jlk8&list=PL9rHo6zkrL13XxklLOmyW83sd1Tuv4s5J., produzidos junto à turma da disciplina Direito do Trabalho II, do curso de Direito, no segundo semestre letivo de 2017; II) Tô ligado no direito à cidade!, com nove vídeosTô ligado no direito à cidade!, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=22c4_mlx6WQ&list=PL9rHo6zkrL10QloVQ1kVMoCe-F_ijK1nA., produzidos junto à turma da disciplina A Cidade e Lei, do curso de Arquitetura e Urbanismo, também no segundo semestre letivo de 2017; III) Tô ligado no Poder Legislativo!, com quatro vídeosTô ligado no Poder Legislativo!, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p19hM8zt5zY&list=PL9rHo6zkrL12VdlDH10rOBVRwTgKodiT7., produzidos junto à turma da disciplina Estágio Supervisionado III, do curso de Direito, no primeiro semestre letivo de 2018; IV) Tô ligado na Reforma Trabalhista - 2ª temporada, com doze vídeos Tô ligado na Reforma Trabalhista - 2ª temporada, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TlUbX6mzT9A&list=PL9rHo6zkrL13vWw67w_npuefPeGFCUAXI., produzidos junto às turmas de Direito Processual Trabalhista e Direito do Trabalho I, do curso de Direito, também no primeiro semestre letivo de 2018. Até novembro de 2018, a lista contava com mil cento e sessenta visualizações, de acordo com as estatísticas do YouTube.
108Entre os meses de junho e agosto de 2018, foram veiculados treze programas de rádio para apresentar e debater a Reforma Trabalhista (Lei nº 13.429, de 31 de março de 2017 e Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017), com a participação da turma da disciplina Estágio Supervisionado V, do curso de Direito. Entre os meses de setembro e dezembro, o programa vem discutindo o tema do impacto das eleições e das relações políticas para os direitos humanos, com a participação de estudantes extensionistas, técnicos administrativos e entrevistas, mas sem vinculação a disciplinas. Até o dia 19 de novembro, foram veiculados nove programas.
Considerações Finais
As experiências aqui relatadas vêm apresentando para os sujeitos envolvidos um conjunto de potencialidades, que podem ser sintetizadas da seguinte forma: efetiva integração entre ações de ensino, pesquisa e extensão; ampliação do conceito de sala de aula; ampliação do uso de metodologias ativas de ensino-aprendizagem, com maior envolvimento dos estudantes no processo educativo; estímulo à criatividade e diversificação dos instrumentos de aprendizagem; mudança na cultura do ensino do direito, ainda centrada nas aulas-conferência e no docente; liberdade de pensar e criar resultando em diferentes estratégias para abordagem dos temas trabalhados, como dramatizações, paródias musicais, simulações jornalísticas e documentais, e elaboração de animações; uso de diferentes habilidades e competências, como pesquisa, produção escrita, criação de cenários, planejamento dos vídeos e programas de rádio, expressão verbal e física, estudos sobre música e imagens, estímulo à desinibição, melhoria da oratória e da argumentação; vivência de situações reais, especialmente em atividades de estágio; respostas positivas da comunidade externa participante, com intervenções nos programas de rádio e comentários nos vídeos publicados no YouTube, bem como em outras intervenções presenciais; ampliação da rede de parcerias da UFG para atividades de estágio, extensão e pesquisa; aumento da visibilidade da Universidade junto à comunidade local e potencial ampliação junto à comunidade regional e nacional.
Em outra via, os projetos relatados contam com algumas fragilidades que interferem em seu desenvolvimento. Enfrentam a desarticulação dos mecanismos institucionais para registro e validação das atividades de ensino, pesquisa e extensão, uma vez que a UFG ainda não conta com um sistema de registro de projetos de ensino, experiências pedagógicas inovadores ou práticas de estágio, e os sistemas de registro de projetos de extensão e pesquisa não se comunicam. As ações aqui relatadas quase não puderam ser registradas como projetos de extensão porque a atual resolução da UFG que regulamenta a matéria prevê que “as ações previstas nas atividades das disciplinas ou na matriz curricular dos cursos não poderão ser consideradas como de extensão ou cultura, independentemente do público atingido”Artigo 10 da Resolução CONSUNI 03/2008., o que revela dificuldades e obstáculos institucionais para o cumprimento do denominado tripé constitucional da universidade. Além disso, os produtos desenvolvidos disputam visibilidade em meio a um conjunto incalculável de informações, algoritmos, notícias pagas e falsas informações contidas na rede mundial de computadores e nos demais meio de comunicação de massa, reduzindo seu alcance e confiabilidade como fonte de conhecimento. Soma-se a persistente dificuldade da comunidade universitária com a linguagem não acadêmica e com a comunicação com a comunidade externa para uma melhor percepção dos problemas por ela vividos e tidos por ela como relevantes, o tempo diminuto para veiculação de informações complexas e o menor interesse dos estudantes quando o projeto não está articulado com disciplinas obrigatórias dos cursos.
109Neste cenário, as experiências relatadas colocam-se diante de alguns desafios, quais sejam: obtenção de maior apoio institucional, especialmente por meio de estrutura material e de pessoal técnico para suporte às atividades, obtenção de financiamento para aquisição de equipamentos e concessão de bolsas, maior envolvimento dos estudantes fora das atividades curriculares obrigatórias, aumento da participação da comunidade na condição de produtora de conteúdo e maior integração com outros projetos na Universidade.
Referências
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CURRÍCULO
Vitor Sousa Freitas
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do Curso de Direito da UFG/Regional Goiás/Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7632837925980238. Correio eletrônico: vitor.freitas@ufg.br
Eduardo Gonçalves Rocha
Doutor em Direito pela Universidade de Brasília (UNB). Professor do Curso de Direito da UFG/Regional Goiás/Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4663157234421208. Correio eletrônico: eduardofdufg@yahoo.com.br
Talita Tatiana Dias Rampin
Doutora em Direito pela Universidade de Brasília (UNB). Professora do Curso de Direito da UNB. Ex-professora do Curso de Direito da UFG/Regional Goiás/Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0580866422834132. Correio eletrônico: talitarampin@gmail.com
Lucas Felício Costa
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismos da UFG/Regional Goiás/Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8083728272605493. Correio eletrônico: lucascosta.arq@ufg.br
Edinardo Rodrigues Lucas
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismos da UFG/Regional Goiás/Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4328010765331937. Correio eletrônico: edinardolucas@gmail.com