2.1 Descobrindo Um Objeto
O objeto mais comum de uso doméstico ou cotidiano pode oferecer uma vasta gama de informações a respeito do seu contexto histórico-temporal, da sociedade que o criou, usou e transformou, dos gostos, valores e preferências de um grupo social, do seu nível tecnológico e artesanal, de seus hábitos, da complexa rede de relações sociais. A observação direta, a manipulação e o questionamento do objeto, feitos com perguntas apropriadas, podem revelar estas informações em um primeiro nível de conhecimento, que deverá ser expandido por meio do estudo e da investigação de fontes complementares como livros, fotografias, documentos, arquivos cartoriais e eclesiásticos, arquivos de instituições, clubes, associações, arquivos familiares, pesquisas, entrevistas, etc.
Considere a CADEIRA em que você está sentado. Usando a metodologia da Educação Patrimonial, em sua primeira etapa, a observação, é possível perguntar: de que material é feita? Por que foi feita desse material? Qual sua cor, forma e textura? É confortável? É diferente de outras cadeiras? O que diz sua ornamentação? Ela tem cheiro? Em que época foi feita? Ela já foi consertada? Como? Por quê? Ela está limpa? Ela se relaciona com outros objetos na sala? De que maneira? Foi fabricada artesanalmente ou industrialmente? Você já olhou embaixo da cadeira ou passou o dedo sob ela? Isto altera alguma das respostas acima? Agora você pode pensar em outras perguntas que poderiam ser feitas com o objetivo de ampliar a sua investigação sobre a cadeira, percebendo a quantidade de informações que um simples objeto de uso cotidiano pode revelar.
A segunda etapa da metodologia leva-nos a registrar as observações e deduções feitas. Você poderia, assim, tentar descrever em palavras esta cadeira, desenhá-la, fotografá-la em diferentes ângulos, medi-la, pesá-la, observar e anotar as formas de encaixe ou construção, ou mesmo reproduzi-la em tamanho pequeno ou natural, em diferentes materiais. Seu conhecimento sobre esse objeto ficará, sem dúvida, mais consolidado e registrado em sua memória.
Numa terceira etapa, a da exploração, você poderá querer descobrir mais informações e significados relacionados com a cadeira em que você está sentado. Nesse caso, levante-se dela e procure descobrir por meio de perguntas a outras pessoas, consulta a livros, revistas ou documentos, pesquisa em arquivos de fotografias e textos, visitas a instituições especializadas, todo o contexto histórico, social, econômico, tecnológico e político em que esta cadeira está inserida. Você pode explorar ainda os outros tipos de “cadeiras” que você conhece, e os seus diferentes usos, inclusive os simbólicos (por exemplo, o Trono Imperial que está no Museu de Petrópolis é um tipo de cadeira, que representa a dignidade do governante máximo em sua época).
Finalmente, você descobriu a cadeira em que está sentado e se apropriou dela intelectual e emocionalmente. Você é capaz de recriar esta cadeira de alguma forma? Poética, plástica, musical, com movimentos ou dramatização? De escrever a história dessa cadeira? De dialogar com ela? Neste momento, é a sua própria capacidade de expressão criativa que estará se revelando.
Você pode aplicar este exercício com qualquer objeto existente na sala de aula, como um modo de preparar seus alunos para a visita a um museu, monumento ou sítio histórico. Ou propor que tragam algum objeto de casa, para ser explorado em sala, em grupos de dois ou três alunos.