3. Caracterização das principais instituições culturais
3.2 Bibliotecas
O que é
De acordo com o Dicionário Houaiss (2001), a palavra biblioteca, de origem grega, se refere a um depósito de livros (biblíon – livro + teke – caixa, depósito). No entanto, o atual conceito e a história das bibliotecas apontam para um acúmulo do saber, e não um simples repositório de escritos. Biblioteca vem a ser um lugar onde se coleciona o saber e a cultura dos povos e que conserva uma memória coletiva que só se atualiza e se reconstrói pela leitura.
É interessante notar que os símbolos da Biblioteconomia (Fig. 06) são a lâmpada de Aladim, representando a vigília permanente e a atividade intelectual, e o livro aberto, que significa o oferecimento da educação e da cultura.
A biblioteca é, assim, uma instituição que, além de agrupar, proporciona o acesso aos registros do conhecimento e das ideias do ser humano. Esses registros podem ser todo tipo de material nos mais variados suportes: papel, digital, ótico ou eletrônico (vídeos, fitas cassetes, CD-ROMs etc.). Uma vez organizados de modo a serem identificados e utilizados, compõem o acervo de uma biblioteca (FBN, 2000, p. 17).
Para Portella (2010), a biblioteca não é simplesmente um estabelecimento. É um lugar de contato com o passado e de criação, que tem para além de seu aspecto físico características definidas pelo seu sentido abstrato.
Meio de análise da memória, espaço de conservação do patrimônio intelectual, artístico e literário, a biblioteca é um local de diálogo com o passado, mas também de criação e de inovação. É um lugar, uma instituição. Ela é o cruzamento paradoxal de um projeto saudavelmente utópico (fazer coexistir num mesmo local todos os traços do pensamento humano confiados à escrita) e de restrições técnicas, ergonômicas, políticas de conservação, de seleção, de classificação e de comunicação dos textos, das imagens, e atualmente dos sons. É também, e simultaneamente, um desenho intelectual, um projeto, um conceito imaterial que dá sentido e profundeza às práticas da leitura, da escrita e da interpretação (PORTELLA, 2010, p. 261).
E não deixa, como vimos no início, de exercer seu poder. Este pode se expressar de diversas formas, no mundo das palavras, dos conceitos e também da política. A acumulação de manuscritos e de livros representa um poder temporal dos monarcas e da realeza sobre a população, um poder econômico dos que podem comprar esses objetos sobre os que não podem e ainda um poder intelectual sobre os intelectuais (PORTELLA, 2010).
Função
As bibliotecas podem ser classificadas em seis tipos: nacionais, universitárias, públicas, escolares, especiais e especializadas. Essa divisão se dá de acordo com as funções que cada tipologia desempenha, o tipo de leitor para o qual direcionam seus serviços e o nível de especialização de seu acervo (FBN, 2000, p. 17).
Página 106As bibliotecas universitárias, por exemplo, têm como função apoiar o desenvolvimento das atividades acadêmicas, e as escolares, por sua vez, auxiliar no processo de alfabetização e formação básica. Em relação aos seus serviços e acervos, visam atender aos alunos, professores e funcionários das universidades ou escolas, sendo sua coleção voltada para o ensino e a pesquisa ou atividades pedagógicas da educação básica, cujos objetivos são diferenciados.
Ao contrário do museu, a biblioteca pode ser pública ou privada, aberta ao público ou de uso particular, inclusive de um grupo bastante restrito. Para a FBN (2000), o conceito de biblioteca pública liga-se fortemente aos conceitos de direitos culturais e de cidadania.
O conceito de biblioteca pública baseia-se na igualdade de acesso para todos, sem restrição de idade, raça, sexo, status social, etc. e na disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento. Deve oferecer todos os gêneros de obras que sejam do interesse da comunidade a que pertence, bem como literatura em geral, além de informações básicas sobre a organização do governo, serviços públicos em geral e publicações oficiais. A biblioteca pública é um elo de ligação entre a necessidade de informação de um membro da comunidade e o recurso informacional que nela se encontra organizado e à sua disposição. Além disso, uma biblioteca pública deve constituir-se em um ambiente realmente público, de convivência agradável, onde as pessoas possam se encontrar para conversar, trocar idéias [sic], discutir problemas, auto-instruir-se [sic] e participar de atividades culturais e de lazer (FBN, 2000, p. 17).
Dessa forma, a biblioteca pública se destaca pela sua participação no processo de democratização do acesso à informação e, consequentemente, de minimização da desigualdade social e intelectual entre os cidadãos. No entanto, Portella (2010) ressalta que ser pública não é sinônimo de popular, pois ainda se defende um público especializado para utilizá-la. O mesmo se aplica à biblioteca nacional, ainda que essa se diferencie da pública por abrigar a “memória documental da cultura de um país” (PORTELLA, 2010, p. 251).
Ainda há que se destacar a diferença entre as bibliotecas especiais e as especializadas. Em alguns países de língua inglesa, as interpretações são inversas ao que se define no Brasil. De acordo com o levantamento de Beneduzi (2004), especiais são aquelas que prestam serviços às pessoas com acesso limitado, seja devido a necessidades especiais relacionadas a fatores sensoriais, físicos, de saúde ou comportamentais. Enquanto isso, especializadas são aquelas que direcionam seus serviços a um público especializado em determinadas áreas do conhecimento.
Atualmente, no Brasil, a Biblioteca Nacional (BN) assume o conceito de nacional e coloca-se em contraposição ao conceito de pública, pois reúne as seguintes características:
ser beneficiária do instituto do Depósito Legal; possuir mecanismo estruturado para compra de material bibliográfico no exterior a fim de reunir uma coleção de obras estrangeiras, nas quais se incluam livros relativos ao Brasil ou de interesse para o país; elabora e divulga a bibliografia brasileira corrente através dos Catálogos em linha, disponíveis no Portal Institucional; é também o centro nacional de permuta bibliográfica, em âmbito nacional e internacional.
Página 107E, por possuir o estatuto de Fundação, a Biblioteca Nacional ampliou seu campo de atuação. Tem como função coordenar as ações, os programas e projetos voltados para o “entrelaçamento de três dos mais importantes alicerces da cultura brasileira: biblioteca, livro e leitura” (PORTELLA, 2010, p. 9). A BN é a instituição que coordena o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e que conduz a política brasileira através do Programa de Incentivo à Leitura (PROLER).
Reconhece-se que saber ler é uma exigência sociocultural básica das sociedades modernas e que não se restringe a um ato mecânico de decodificação de palavras. Por isso, o PROLER é um projeto que tem por finalidade “a ampliação do direito à leitura, promovendo condições de acesso a práticas de leitura e de escritas críticas e criativas” (FBN, 2009, p. 9).
Saiba mais sobre o PROLER na publicação da Fundação Biblioteca Nacional, disponível no site bn.br.
Sugestão de atividade:
Descreva criticamente a existência, ou não, de alguma ação relacionada ao PROLER em sua localidade.
Processo de institucionalização
A mais antiga biblioteca de que se tem notícia é a biblioteca dos assírios – três mil anos a.C. − onde eram recolhidos em caracteres cuneiformes, os testemunhos da memória econômica (impostos, propriedade etc.), ou concernentes às decisões políticas, uma memória das técnicas e uma memória científica da Astronomia. Resumia-se, assim, à memória das elites do poder, que a ela poderiam recorrer em ocasiões futuras, tal qual em arquivos oficiais. Esse acúmulo da memória do saber deu origem a um discurso legitimador do conhecimento e unificador das memórias, a História (NAMER, 1987).
As primeiras bibliotecas públicas surgiram na Grécia, pela tentativa de Licurgo, no século IV a.C., de conservar os textos teatrais de Sófocles, Eurípides e Ésquilo, e assim resguardar do esquecimento tanto as belas formas estéticas e literárias quanto os “remédios da alma”, posto que o teatro grego representava intensos momentos de vivência afetiva e catarse psicológica.
Contudo, a mais famosa biblioteca da Antiguidade foi a Biblioteca de Alexandria no Egito, onde também se situa o mais antigo museu conhecido. Criada no século III a.C., chegou a reunir cerca de sete mil volumes manuscritos. Foi destruída por um incêndio em 646.
No Brasil, a história das bibliotecas e dos museus também tem origem comum, com a vinda da família real portuguesa em 1808. Originada pela coleção integrante da Real Biblioteca ou Livraria Real (dos monarcas portugueses), a Biblioteca Nacional foi a primeira biblioteca pública do país. Antes disso só havia bibliotecas particulares ou pertencentes a conventos, de uso muito restrito. D. João VI criou, oficialmente, em 29/10/1810, a Biblioteca Nacional, inicialmente de uso exclusivo da família real e de poucos estudiosos mediante autorização, mas só aberta ao público em 1814.
A segunda biblioteca pública do país foi aberta em Salvador em 1811, por iniciativa de um particular - Pedro Gomes Ferrão Castelo Branco - e colaboradores.
Saiba mais sobre a história da biblioteca e da Biblioteconomia no Brasil e no mundo acessando o site bibliotecavirtual.sp.gov.br
Exemplos goianos
No estado de Goiás, são cadastradas mais de 230 bibliotecas públicas distribuídas pelos seus municípios (veja a lista completa com os respectivos endereços, publicada em setembro de 2013).
Página 108Na cidade de Goiânia, a prefeitura reconhece 13 bibliotecas, das quais se destacam bibliotecas universitárias, públicas e especiais. Além disso, demandas sociais recentes, como a inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais e o crescente acúmulo de produção digital, vêm provocando a instalação de novas instituições do gênero no Estado. Veja:
- Biblioteca Virtual;
- Biblioteca Braile;
- Biblioteca Central da UCG;
- Biblioteca Central da UFG;
- Biblioteca Cora Coralina;
- Biblioteca do Centro de Formação Integral;
- Biblioteca Marietta Teles Machado;
- Biblioteca Irmãos Oriente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás;
- Biblioteca Estadual Escritor Pio Vargas;
- Biblioteca da Secretaria Estadual de Saúde;
- Bibliotecas do Sesc;
- Biblioteca Setorial da UFG;
- Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central.
Sugestão de atividade:
Relacione todas ou algumas das bibliotecas de seu polo ou região, descrevendo-as sucintamente e classificando-as conforme as funções estudadas acima.