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APRESENTAÇÃO
O presente relatório objetiva descrever o desenvolvimento do projeto de intervenção patrimonial e cultural - Memórias Submersas: História, Patrimônio Cultural em Gouvelândia, Goiás: (1950 - 2015), que foi realizado no período de março a agosto de 2015, com a pretensão de projetar um resgate histórico, cultural e patrimonial do município de Gouvelândia, retratando o contexto histórico de sua formação, a qual está intrinsicamente ligada à memória do seu povo e à história política e econômica do nosso país.
No período em que o ex-presidente Juscelino Kubitschek ocupou a Presidência da República, entre os anos de 1956 a 1961, foi ordenado o levantamento para a construção da Usina Hidrelétrica de São Simão. Porém, por forças sociais e econômicas, esse empreendimento, naquele momento histórico, não foi executado.
Quando foi instaurado no Brasil o Regime Militar (1964-1985), a proposta de construção da Usina Hidrelétrica de São Simão foi retomada, e houve o financiamento do capital estrangeiro para a construção da referida usina. Entretanto, o contexto cultural e patrimonial da cidade de Gouvelândia e regiões próximas foi ignorado em nome do "progresso", uma vez que para ser colocado em prática, estas regiões próximas às margens do Rio Paranaíba foram alagadas.
Assim, da velha Gouvelândia, só restaram memórias e imagens fotográficas, pois todas as vivências ali experienciadas nas relações diárias entre os sujeitos e os patrimônios locais tornaram-se submersas sob o volume das águas do Rio Paranaíba. Entende-se, então, que resgatar parte do que sobrou do processo de submersão é de fundamental importância para a preservação e divulgação da origem histórica, patrimonial e cultural do município.
Nesse contexto, a memória emerge como mecanismo fundamental para as nossas análises, uma vez que dela partem os registros e a retenção de conhecimentos e experiências. Dessa forma, torna-se necessário o trabalho de resgate da atividade histórica e cultural de um povo, a fim de perpetuar sua memória. Esse entendimento vai ao encontro da afirmação de Thompson, quando esse teórico infere que "recordar a própria vida é fundamental para o nosso sentimento de identidade" (THOMPSON, 2002, p. 208).
Partindo desses pressupostos, surgiu a necessidade da investigação da história da formação, crescimento e desenvolvimento do espaço urbano do município de Gouvelândia, bem como os desdobramentos políticos e culturais ocorridos após a construção da Usina Hidrelétrica de São Simão. Para isso, o presente estudo foi constituído a partir de levantamentos bibliográficos, pesquisas exploratórias, entrevistas, os quais resultaram na obtenção de informações existentes em documentos e imagens fotográficas sobre o contexto histórico investigado.
Para tanto, o envolvimento de parte da sociedade de Gouvelândia tornou-se indispensável, sobretudo, para a construção de reflexões acerca dos modos de vida que aquela comunidade construiu e experimentou no passado. Nesse aspecto, as discussões propostas foram orientadas com os fundamentos da educação patrimonial.
Assim, um grupo de alunos da rede básica estadual de ensino foi convidado para responder um questionário exploratório contendo perguntas sobre a formação histórica do município em estudo, conceitos de patrimônio material e imaterial, a fim de obter informações prévias sobre seus conhecimentos acerca da educação patrimonial, além de nomearem alguns patrimônios materiais e imateriais do local. Houve levantamento de documentos escritos e imagéticos, pesquisa, seleção de fotografias para retratar a formação e organização da região de Gouvelândia e Setenópolis. As imagens foram editadas e inseridas em um informativo audiovisual que está disponível no Youtube, de forma que toda população gouvelandense terá acesso, acontecendo assim a Intervenção Cultural e Patrimonial no Município de Gouvelândia – Goiás.
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TRÍADE ENTRE MEMÓRIA, EDUCAÇÃO E PATRIMÔNIO
De acordo com Oliveira (2012), os estudos sobre a memória tiveram seu início com a psicologia, quando se pretendeu investigar como esta se constitui e é preservada. No campo da psiquiatria, as investigações sobre a memória partiram de análises clínicas relacionadas à amnésia. Com o passar do tempo e das contribuições apresentadas para o entendimento da experiência humana, a memória passou a ser objeto de estudo de várias áreas do saber, obtendo abordagens transdisciplinares.
No campo da história, a memória emerge, sobretudo, relacionada à história oral. Nesse contexto, percebe-se que as perspectivas das abordagens teóricas e metodológicas da história passaram por uma transformação significativa ao valorizar outras fontes, não somente as documentais, para a construção do conhecimento na área. É no início do século XX, com a Escola dos Annales, que essa transformação toma forma e contribuiu, de fato, na formação de historiadores com perspectivas de análises mais amplas e democráticas.
O estudo da história por meio da memória permite que se possa relacionar a história individual com a coletiva. Maurice Halbwachs (2006), em seus estudos acerca da memória coletiva e individual, chegou à conclusão de que estas interagem, mesmo que um indivíduo tenha tido uma experiência singular, essa terá sentido apenas se for partilhada com o grupo em que está inserido. A memória, também, é parte constituinte na formação das identidades e dos sentimentos de pertença de um determinado grupo social. É nesse sentido que o presente estudo busca associar a memória dos moradores do município de Gouvelândia entrelaçada à Educação e Patrimônio.
Educação e patrimônio, por sua vez, são dois temas que entretêm em sua concepção e relacionam-se diretamente à temática direitos culturais. Dessa forma, muitos brasileiros, especificamente a população de Gouvelândia, não possuem o conhecimento de que o exercício da cultura é um direito fundamental, sendo impedidos ou mesmo impossibilitados, talvez por falta de informações ou por desinteresse em se apropriar das suas próprias referências culturais e processo histórico.
Através de pesquisa exploratória, relatos de moradores que acompanharam o processo de formação do município, a edição de imagens na produção de vídeo interativo, podemos associar a memória e patrimônio e levar à comunidade o resgate cultural e patrimonial da região.
O processo de construção da Usina Hidrelétrica de São Simão e seus desdobramentos, como a inundação do povoado de Gouvelândia e sua transferência para a região de Setenópolis, são fatores históricos e culturais e devem ser levados ao conhecimento de toda a população, ou mesmo a um resgate patrimonial com participação daqueles que acompanharam todo o procedimento de transferência.
Dessa forma, o vídeo produzido retrata as imagens da antiga Gouvelândia, os desmantelamentos das casas após a notícia que a região seria inundada, as imagens do povoado de Setenópolis, acordos, formação territorial do distrito, a luta pela emancipação, e a cidade em 2015 com todo processo de desenvolvimento e crescimento de acordo com as demandas capitalistas.
Aquilo que envolve a divisa entre o contemporâneo e o antigo nas cidades são imensamente atraentes, uma vez que as construções retratam os períodos históricos, os costumes e tradições dos povos. É com este propósito que se quer introduzir a educação patrimonial, sendo ela um utensílio de alfabetização cultural, o qual encaminha o indivíduo à leitura e avaliação do mundo que o cerca. De acordo com Horta (1999), a afirmação da cidadania é emitida através da educação patrimonial, devendo acontecer de forma permanente, sistemática e centrada no patrimônio cultural.
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As políticas públicas inseridas no setor da cultura significam o empenho em ampliar as discussões acerca da variedade e do pluralismo cultural brasileiro, demonstrando a importância da cultura em seus aspectos econômicos, de inclusão social, de cidadania e enquanto produção simbólica. Dessa forma, as manifestações culturais brasileiras ou regionais estão sendo fortalecidas através das políticas públicas de valorização e preservação do patrimônio cultural.
A Constituição Federal Brasileira, promulgada em 1988, conceitua e demonstra a necessidade de proteção do patrimônio cultural brasileiro, bem como a forma de protegê-lo:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I. as formas de expressão;
II. os modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticas;
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Parágrafo 1. O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação (BRASIL, 1988).
Consolidando, assim, o uso da expressão Patrimônio Cultural, tanto por já ser conhecida e usada no plano internacional e na própria doutrina nacional quanto por criar novas formas de proteção. Tradicionalmente, conhecia-se o instituto do tombamento, porém, foi com a Constituição que surgiram as novas figuras de proteção do patrimônio.
Em 12 de abril de 2006, por meio do Decreto nº. 5753, foi promulga a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, adotada em Paris, em 17 de outubro de 2003, e assinada em 3 de novembro de 2003, de acordo com a UNESCO:
A aprovação e a promulgação desse decreto podem ser entendidas como a culminância de um processo de investimentos políticos e intelectuais realizados pelos dirigentes e técnicos do IPHAN, iniciado em 1997 na cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, com a realização do seminário Patrimônio Imaterial: estratégias e formas de proteção, do qual resultou a "Carta de Fortaleza". A Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, celebrada pela UNESCO em Paris, no dia 17 de outubro de 2003, foi ratificada pelo governo brasileiro por meio do Decreto nº 5.753/2006. (UNESCO, 2008, p. 16,17).
Todavia, com base nessa legislação, instaurou-se o conjunto de políticas públicas de cultura que configuram o contexto contemporâneo do Patrimônio Cultural Imaterial. Esses instrumentos, como parte do plano de ações de salvaguarda, auxiliam a formulação de políticas públicas na área de difusão e preservação dos valores, crenças, costumes de um determinado grupo.
Oliveira (2000, p.141) caracteriza a cultura como "um sistema, um conjunto de elementos ligados estreitamente uns aos outros". É válido repensar que os sujeitos são constituídos por múltiplas identidades - classe, raça, etnia, gênero - e que essas se inter-relacionam posicionando-se nos diversos contextos socioculturais. Dessa forma, a análise, revisão da história de formação e a ligação cultural do antigo povoado de Gouvelândia com a atual cidade são pareceres relevantes à memória cultural regional.
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Brayner (2007) destaca que patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo. Sua preservação significa salvar os bens representativos da cultura e história que fazem parte da vida de um grupo social e acaba sendo transformado no decorrer do tempo.
O objetivo principal da preservação do patrimônio cultural consiste em fortalecer a noção de pertencimento de indivíduos a uma sociedade, a um grupo, ou a um lugar, contribuindo para a ampliação do exercício da cidadania e para a melhoria da qualidade de vida.
A ideia de patrimônio não está limitada apenas ao conjunto de bens materiais de uma comunidade ou população, mas também se estende a tudo aquilo que é considerado valioso pelas pessoas, mesmo que isso não tenha valor para outros grupos sociais ou valor de mercado (BRAYNER, 2007, p. 12).
Por sua vez, educação e patrimônio estão diretamente relacionados à cultura, pois a educação é o processo no qual se dá a perpetuação das referências culturais de uma sociedade, comunidade ou de um povo. Dessa forma, o patrimônio pode ser: apropriado, reconhecido e vivido. A fusão das relações entre educação e cultura faz com que exista a consciência do valor histórico e cultural daquele determinado grupo, quais bens deveriam ser preservados no interesse de um conjunto maior de pessoas. Contudo, a noção de patrimônio histórico e cultural emerge, perpetuado a noção de cidadania.
Ocorre que muitos brasileiros não possuem entendimento de que o acesso e o exercício da cultura são um direito fundamental. Esse desconhecimento compromete a apropriação das suas referências culturais, históricas e patrimoniais. Dessa forma, essa parcela da população fica à margem daqueles que podem usufruir deste direito previsto pela Constituição.
(...) os direitos culturais têm características mistas; são simultaneamente civis, políticos, econômicos e sociais; subvertem as classificações rígidas e adquirem estatuto próprio; e necessitam, para efetivar-se, da ação compartilhada de indivíduos, comunidades, e Estado. (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2011, p.15).
A história de formação do município de Gouvelândia, como de várias outras cidades do sudoeste goiano, localizada às margens do Rio Paranaíba, está diretamente ligada à construção da Usina Hidrelétrica de São Simão e ao volume das águas. Assim como retratado no filme brasileiro "Narradores de Javé", dirigido por Eliane Café e lançado no ano de 2003, as cidades que existiam próximo ao Rio foram submersas com a chegada do tão esperado progresso materializado na produção e distribuição da energia elétrica.
Segundo o Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos - NDH (2014, p. 7), a educação patrimonial é entendida como uma forma de intervenção social e caracteriza-se principalmente por ser estratégica, ou seja, são várias metodologias que buscam sensibilizar os indivíduos de uma determinada localidade para o reconhecimento, valorização e preservação do seu patrimônio cultural.
O vídeo "Gouvelândia - Memórias Submersas" foi disponibilizado no Youtube e pode ser reconhecido como educação patrimonial, pois visa uma intervenção cultural que utiliza redes sociais e internet para envolver o maior número de pessoas ao processo de formação histórica e cultural do município.
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Observou-se que no mesmo dia que o material audiovisual foi disponibilizado nas redes sociais já houve repercussão de várias pessoas que nasceram na região e desconheciam todo processo de formação do município. Conhecimento, associado à emoção e comoção foram marcados em alguns registros na página social após visualização do vídeo :
Vaninha Pedro Luis. Nossa me emocionei .... Fiquei me lembrando da minha mãe... É uma parte da história dela ... Qdo vi me recordei das coisas que ela me contava. Fiquei sabendo de coisas que não tinha a menor ideia. Foi um excelente trabalho. E ainda mais muito boa tem a narração de meu amigo Elias. Parabéns. As pessoas de Gouvelândia, principalmente quem viveu este tempo vão chorar. 31 de agosto, às 18:28
Luismalda Arantes Oliveira. Parabéns pelo lindo trabalho Rozimeri. Foi emocionante ver a história da minha cidade retratada. Duplo orgulho de você: por ter sido sua professora, e por ser a profissional dedicada e eficiente que se tornou... 31 de agosto às, 18:48
Marlos Rastrelo. Nossa, quando me mudei pra Gouvelândia peguei o barco andando, foi em 84 e muitas coisas não sabia como tinha acontecido. 31 de agosto, às 19:52
Flavio Queiroz. Um passado que poucos sabem. Parabéns espetacular... me sinto emocionado vendo isto e me sinto orgulhoso de ser um filho de Gouvelândia. Uma bela história que tem que ser mostrada. Parabéns pelo seu trabalho... 31 de agosto, às 20:13
Diego Aguiar. Nós precisamos divulgar antes que a história da nossa terra se perca também no fundo do rio... devemos resgatar nossas memórias, para que também os mais novos possam conhecer. 31 de agosto, às 21:12
Dessa forma, seguindo os parâmetros de NORA (1993), foi utilizada a concepção de memória na percepção histórica, com ajuda dos instrumentos audiovisuais e da mídia digital na internet, dilatando prodigiosamente; substituindo uma memória voltada para a herança de sua própria intimidade pela película efêmera da atualidade.
UM BREVE RESUMO SOBRE HISTÓRIA E FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE GOUVELÂNDIA
A Memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta a dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e a manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações, (NORA, 1993, p. 9).
De acordo com o histórico do município de Gouvelândia, sua origem se dá em 14 de julho de 1950, quando João de Oliveira Gouveia, conhecido como Gouveinha, procedente da cidade do Prata (MG), fixou-se, juntamente com sua família e alguns companheiros, às margens do Córrego da Vertente Grande. Ali adquiriu uma gleba de terras para o cultivo de lavouras e criação de gado.
Em 1951, João de Oliveira Gouveia, Antônio Franco Barbosa e várias pessoas de Goiás e Minas Gerais fundaram a "Navegação Minas Gerais S.A". Tinham como principal objetivo promover a travesseia do Rio Paranaíba estabelecendo contato com o Triangulo Mineiro. A balsa posta em operação era responsável pela condução de pessoas e produtos entre os dois estados, por sua vez, ligando as cidades de Quirinópolis e Ipiaçu através do rio.
Para abrigar as famílias dos empregados da empresa de navegação, foram construídas as primeiras casas ao lado de um posto de fiscalização situado no porto de embarque e desembarque, no barranco goiano do Paranaíba, bem próximo à foz do Rio dos Bois, no município de Quirinópolis. Com a chegada de novos moradores na região, o pequeno núcleo urbano foi se desenvolvendo, e recebeu a denominação de Porto Novo. Com a Lei Municipal nº. 315, de 24 de agosto de 1963, o povoado foi elevado à categoria de Distrito, com o nome de Gouvelândia, em homenagem a João de Oliveira Gouveia, que naquela época já dispunha de escola pública, algumas casas comerciais, igreja, cemitério público, calçamento de paralelepípedos e um posto telefônico interurbano.
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A lei de criação do Distrito de Gouvelândia fixou assim seus limites:
Começa na barra do Rio dos Bois com o Rio Paranaíba, por este abaixo até atingir a barra de São Francisco; daí segue por este acima até atingir a barra do Manqueba: segue por este acima até sua cabeceira mais alta; partindo desta em uma linha reta até a ponta da cabeceira do córrego do Lajeado, e por este a baixo até a sua barra com o Rio dos Bois, seguindo por este abaixo até alcançar o ponto inicial das presentes divisas (GOUVELÂNDIA, Lei de Criação).
Imagem 1 – Mapa de Goiás destacando a cidade de Gouvelândia - Fonte: Google Maps. Acesso em 23 de julho de 2015)
Outro povoado se desenvolvia dentro das fronteiras do distrito de Gouvelândia: Setinópolis, também conhecido como Chapeulândia, fundado pelo Sr. Mamede Malaquias da Silva e sua irmã, Anita Maria da Silva, às margens da estrada que liga Quirinópolis a Itumbiara, nas proximidades do Córrego do Carvalho, que teve origem em torno de uma casa de comércio que servia de ponto de parada de ônibus que circulava entre as duas cidades.
Em 1971 chegava a notícia da construção da Hidrelétrica de São Simão, consequentemente o Distrito de Gouvelândia seria inundado, tendo que ceder lugar para a área do reservatório a ser formado, devido à pouca distância que o separava do leito do rio. O povo se desesperou e começou a abandonar o local, cada um procurava se acomodar em outra cidade, e muitos não sabiam o que fazer.
Preocupados com o destino destes habitantes, José Rodrigues Moreno e José do Nascimento Januário procuraram Mamede Malaquias da Silva (principal negociador por Setinópolis e fundador) a fim de fazer um acordo para mudança do distrito de Gouvelândia para o povoado. Em troca, Gouvelândia trazia todos os benefícios (obras) já existente. Após 7 meses, o acordo foi feito, a comunidade do povoamento de Setinópolis recebia, com muita satisfação, os benefícios e o povo vindo de Gouvelândia.
Conforme contrato firmado entre a Prefeitura Municipal de Quirinópolis e a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) em 28 de abril de 1976 pelo então prefeito Nerivaldo Costa e o Dr. Fábio Totte, representante da CEMIG, e a Lei Municipal nº. 968, de 25 de abril de 1976, foram adquiridos do Sr. Anésio Amaral de Freitas mais ou menos 5 alqueires de terra para fazer o novo loteamento, do qual foram distribuídos 458 lotes.
Em 9 de setembro de 1976 foi sancionada a Lei Municipal nº. 983, pelo então prefeito de Quirinópolis Sr. Nerivaldo Costa a transferência da sede do distrito de Gouvelândia para o povoado de Setinópolis. Logo foi inaugurada a energia elétrica, construídas 100 casas populares para os proprietários desapropriados, 1 posto de saúde, 1 prédio para funcionar como sub-prefeitura e posto telefônico, 1 cemitério, a Escola Municipal "Antônio Franco Barbosa", Igreja São João Batista, a Escola Municipal Dr. Rubens Carneiro dos Santos e 1 campo de futebol.
Em 1º de janeiro de 1977, quando o Sr. Onício Resende assumiu como prefeito eleito de Quirinópolis, logo nomeou o Sr. José do Nascimento Januário para a sub-prefeitura da Nova Gouvelândia. No mês de fevereiro do mesmo ano foi feita a entrega das 100 casas populares.
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A sessão solene de transferência do Distrito de Gouvelândia para a nova sede aconteceu em 16 de abril 1977. Logo construíram o asfalto da Rua João de Oliveira Gouveia, foi viabilizada a construção do Colégio Estadual José Rodrigues Moreno, inaugurado em 9 de outubro de 1981, a construção da Estação Rodoviária, um poço artesiano e a quadra de Esportes "José Alves de Assis".
A cidade crescia e o povo ia se organizando, e no dia 18 de outubro de 1987 foi criada a Comissão Pró-Emancipação do Distrito de Gouvelândia, composta pelos seguintes membros:
- Presidente: Nadir Domingues da Fonseca;
- Vice-presidente: Antônio Buranelo;
- Secretário: Nivaldo Alves de Moura;
- Tesoureiro: Jesuíno Vieira Lopes.
A Comissão produziu convites com objetivo de convidar e comover o maior número de pessoas para participar do plebiscito para emancipação política.
Imagem 2 - Convite Pró-Emancipação do Distrito de Gouvelândia, 1987. Fonte: produção da autora, Rozimeri Neves
Em 15 de novembro de 1987 aconteceu o plebiscito para emancipação política do município. O povo demonstrou seu desejo de desenvolvimento político e econômico da região, e o "sim" ganhou quase por unanimidade. Então, com a Lei nº. 10.394, de 30 de dezembro de 1987, sancionada pelo governador do Estado de Goiás, Dr. Henrique Santillo, criou-se o município de Gouvelândia.
A campanha política transcorreu em clima de animação e euforia. As eleições aconteceram dia 4 de abril de 1989, e concorreu o Sr. José Gervásio Mamede (Zé Pantola) para prefeito e Moacir Alves da Silva para vice-prefeito pelo partido PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), e pelo partido PDC (Partido Democrático Cristão) constava na chapa Antônio Buranelo para prefeito e João Batista Carvalho para vice-prefeito. Foi eleita a chapa do PMDB.
Todo o período político foi marcado por desenvolvimento econômico e social, a construção da Usina Hidrelétrica de São Simão foi um marco da ditadura militar. O capital estrangeiro foi injetado nesse projeto e a parte social e cultural foi ignorada. Foi alagado tudo que existia na antiga cidade de Gouvelândia e outras cidades daquela região em nome do progresso, das pressões e demandas capitalistas. Quanto ao perfil arquitetônico, percebe-se que a transferência do distrito de Gouvelândia para o povoado de Setinópolis tem gerado e provocado mudanças positivas e, também, trouxe o crescimento e desenvolvimento do espaço urbano na Nova Gouvelândia.
METODOLOGIA
Esta intervenção teve por objetivo trabalhar junto à sociedade gouvelandense seu processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização da herança cultural e patrimonial, sendo de grande importância para que a população possa envolver no espaço geográfico no qual estão inseridos.
De acordo com NORA (1993, p. 20), nós sabíamos, antigamente, de quem éramos filhos e, hoje, somos filhos de ninguém e todo mundo. Neste contexto, podemos perceber o quanto é fundamental a população compreender sua origem, identidade e realidade, possibilitando que conheçam, identifiquem problemas e nela interfiram de maneira mais crítica e consciente, refletindo sobre questões ideológicas e culturais por trás da organização histórico-cultural do seu município.
Envolver a comunidade na gestão do patrimônio, pelo qual ela também é responsável, levando-a a apropriar-se e a usufruir dos bens e valores que o constituem, apresentando a importância das edificações na história e na vida de todos, é fazer com que participem diretamente do processo de reconstrução e apropriação da memória individual e coletiva do município de Gouvelândia.
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AS ETAPAS DA INTERVENÇÃO
Seguem as etapas de intervenção que foram realizadas:
1º - Pesquisa com os 52 alunos do Colégio Estadual José Rodrigues Moreno, no município de Gouvelândia, cursando o ensino médio, com idades de 14 a 18 anos. O estudo foi de cunho exploratório para analisar o conhecimento dos jovens sobre políticas patrimoniais, educação patrimonial, formação histórica e cultural de seu município ;
2º - Visita às margens do Rio Paranaíba em busca do "cemitério perdido", da "cidade submersa", onde localizava a antiga Gouvelândia, hoje alagada nas águas represadas com a construção da Hidrelétrica de São Simão, inaugurada em 1978. O cemitério da cidade situa-se 3 km acima da antiga cidade submersa, sendo a única lembrança concreta. O mesmo foi tombado como patrimônio histórico do município na administração política de 2004;
3º - Registro do acervo pessoal de fotografias da antiga Gouvelândia e região de Setinópolis pertencentes Srª. Cleusa Sueli Rodrigues Januário e seu esposo, Sr. José Januário do Nascimento ;
4º Gravação de áudio na voz de Elias Cândido e edição de imagens produzidas por Sérgio Gomes. Material de audiovisual apresentando, de forma narrativa, a formação histórica e cultural do município de Gouvelândia ;
5º - Apresentação do vídeo: Memórias Submersas: História e Patrimônio Cultural em Gouvelândia, Goiás (1950 – 2015), que deveria acontecer no Colégio Estadual José Rodrigues Moreno, mas não foi possível devido o período de greve dos professores da Rede Estadual de Educação e, posteriormente, o período de férias. Portanto, sua divulgação aconteceu no Informativo Municipal de Gouvelândia , e no Youtube, com o título "Gouvelândia: Memórias Submersas.
A INTERVENÇÃO
A participação dos alunos estava prevista para todas as etapas do projeto, porém, como já mencionado, o Colégio Estadual José Rodrigues Moreno entrou em greve e, posteriormente, ingressou no período de férias. Dessa forma, foi executada apenas a pesquisa exploratória, enquanto a visita e os registros fotográficos foram feitos apenas por parte da idealizadora do projeto.
De acordo com a pesquisa exploratória , percebe-se que dentre os 52 alunos:
Ver gráfico, tabulações em apêndice p.26 – 28.
- 16 ainda não conhecem a história de formação do seu município. No grupo que possuem conhecimento, a maioria teve como principal fonte os pais e depois a escola, o que demostra que a família possui um papel primordial na transmissão de valores culturais;
- 18 alunos acreditam que não existe nenhum tipo de patrimônio em Gouvelândia. Dos 28 que declararam existir, nomearam a Igreja Católica São João Batista, Ginásio de Esporte, Praça Municipal, Campo de futebol e a Antiga Gouvelândia (que resta apenas o cemitério, o restante submerso nas águas do Rio Paranaíba) ;
- A maioria dos alunos nunca ouviu falar da existência de política e educação patrimonial;
- 4 alunos ainda acreditam que patrimônio pode ser apenas os bens materiais que contam a história da humanidade, todavia, o restante dos 52 possuem conhecimento de que é o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um povo (nação ou região) e sua relação com o meio ambiente. É o legado que herdamos do passado e que transmitimos para as gerações futuras;
- Para 46 alunos existem festas típicas no município de Gouvelândia, sendo elas: Festa de Peão ou Aniversário da cidade, Festa de São João ou barraquinha, e apenas 4 alunos declaram não existir nenhuma festa típica na região;
- Quando foi mencionado herança cultural deixada por familiares, apenas 4 alunos reconhecem que receberam, porém, ouve divergência entre bens materiais e imateriais. Os demais alunos acreditam que não receberam nenhuma herança cultural de seus familiares;
- 48 jovens declaram que qualquer região pode desenvolver um tipo diferente de cultura;
- 37 alunos gostariam de repassar para outras pessoas alguma brincadeira, música, história, dança, para que não seja esquecido, enquanto 14 não possui interesse de transmitir nenhum conhecimento.
Imagens de patrimônio nomeados pelos alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual José Rodrigues Moreno, p.36 – 37.
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O município de Gouvelândia possui dois patrimônios históricos materiais, a Igreja Nossa Senhora, que já pertencia ao povoado de Setinópolis, seu processo de reconhecimento ainda está tramitando, e o cemitério da Antiga Gouvelândia, que foi registrado como Patrimônio Histórico Material, conforme Lei Municipal nº. 401/2001, de 20 de agosto de 2001. Contudo, nenhum dos alunos declara tais construções como Patrimônio Histórico do Município.
Nora (1993) descreve que lugares de memória não são aqueles melhores ou maiores, mas aqueles que combinam o simples exercício da memória com um jogo de interrogação sobre a própria memória, entusiasmando na identificação de um discurso individual com outro coletivo.
O cemitério da Antiga Gouvelândia, assim como afirma NORA (1993, p. 25), é um lugar oferecido pela experiência concreta, local de refúgio, santuário das fidelidades espontâneas de peregrinações do silêncio, é o coração vivo da memória.
Através de todo processo de pesquisa e execução do projeto de intervenção cultural, pode-se perceber que os alunos do Colégio Estadual José Rodrigues Moreno e demais moradores do município de Gouvelândia reconhecem a importância de construções e lugares que fazem parte do seu dia a dia como patrimônio material, porém, nem todos possuem conhecimento da formação histórica e cultural da região.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta intervenção está relacionada à educação patrimonial, pois incide em envolver a população de Gouvelândia quanto à salvaguarda patrimonial, à memória de seu município. É, portanto, uma ação educativa voltada para a valorização e preservação do patrimônio material.
Acreditava-se que grande parte da população gouvelandense (principalmente os mais jovens) desconhecia a importância do patrimônio e de seus direitos culturais, bem como o processo histórico e cultural do município. Com a pesquisa exploratória – diagnostico quantitativo – que contou com a participação de 52 estudantes do ensino médio, pode-se concluir que muitos distinguem a existência de edificações e lugares que fazem parte do seu dia a dia como patrimônio material. Entretanto, nem todos possuem informação e conhecimento da formação histórica e cultural da região, sendo fundamental a participação da sociedade no processo de formação e desenvolvimento cultural e patrimonial de Gouvelândia.
Reconhecer o valor das diferentes formas de vida existentes no espaço, lugar, município, pode ser um passo importante para o engajamento em ações que visem preservar o patrimônio histórico cultural construído por diversas pessoas ao longo do tempo. Associada às atitudes que valorizam e reconhecem a necessidade de preservação desse patrimônio (material e imaterial) desenvolve-se, portanto, a compreensão do que seja cidadania plena.
Esta intervenção, por sua vez, teve como principal objetivo transmitir aos gouvelandeses a importância das edificações na história e na vida. Dessa maneira, norteou ações, subsidiando e comprometendo a população a se envolver efetivamente nas decisões relacionadas à preservação do patrimônio arquitetônico de Gouvelândia.
A participação da comunidade foi essencial na concretização desta intervenção. A utilização de acervo fotográfico que retrata a história do município através de imagens pode permitir a visualização e motivar as ações de proteção, manutenção e subsistência do patrimônio material e imaterial de Gouvelândia, Goiás. Bem como a participação do Colégio Estadual José Rodrigues Moreno, que autorizou a efetivação da pesquisa sobre educação patrimonial com seus 52 alunos do ensino médio, possibilitando a realização desta intervenção.
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REFERÊNCIAS
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BRASIL. Constituição Federal, 1988.
BRAYNER, Natália Guerra. Patrimônio cultural imaterial: para saber mais. Brasília, DF: IPHAN, 2007.
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