Catálogo analítico para um objeto museológico: a Oxum da exposição Lavras e Louvores, Museu Antropológico da UFG
Esse trabalho buscou refletir a relevância histórica e cultural da Indumentária Oxum (Òsun), cuja representatividade está relacionada ao Candomblé, religião afro-brasileira, e intervir na relação entre o público e este artefato em exposição no Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG), ampliando as possibilidades de comunicação do objeto com os diferentes públicos do museu, inclusive pesquisadores. Para tal, foi proposto e construído um objeto, denominado por nós, de catálogo analítico, com a finalidade de tornar disponível ao público específico de pesquisadores e visitantes do museu mais detalhes sobre esse objeto do acervo.
Palavras-chave: Indumentária Oxum; Museu Antropológico-UFG; Exposição Lavras e Louvores.
Aluna: Bárbara Freire Ribeiro Rocha
Polo: Alto Paraíso
Orientadora Acadêmica:Fátima Regina Almeida de Freitas
Coordenadora de orientação: Manuelina Maria Duarte Cândido
Anexos
INTRODUÇÃO
Esse estudo visou realizar ação de intervenção no objeto museal Indumentária Oxum (Òsun) exposta no Museu Antropológico da UFG, buscando esclarecer a sua relevância histórica e cultural, cuja representatividade está relacionada à religião afro-brasileira Candomblé, bem como a sua presença e permanência no acervo do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás , na exposição de longa duração ‘Lavras e Louvores’ no módulo ‘Louvores’ e, fundamentalmente, a comunicação com a comunidade/visitantes. Abordaremos as possibilidades de comunicação entre este artefato e a comunidade/visitantes, não apenas analisando, mas, sobretudo, intervindo na realidade, a partir da proposição e construção de um catálogo analítico deste objeto museológico, que poderá ser utilizado por pesquisadores e ser um protótipo a partir do qual o serviço educativo poderá construir materiais pedagógicos.
O Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG) é uma instituição de pesquisa antropológica sobre a vida humana na Região Centro-Oeste. O Museu não possui fins lucrativos. É um espaço aberto ao público em geral e destinado à coleta, inventário, documentação, preservação, segurança, exposição e comunicação de seu acervo (MA, 2007). Está localizado na Avenida Universitária, nº 166, Setor Universitário, e funciona de terça a sexta-feira, das 9 às 17 horas.
Durante o percurso de realização, foi demonstrado como se deu o processo de escolha desta indumentária e sua importância para a cultura e patrimônio regional. A escolha do objeto não foi aleatória, foi devido à sua representatividade cultural local e também nacional do Candomblé, ainda pouco visibilizado, principalmente na Região Centro-Oeste e por sua representatividade enquanto objeto museal. Trata-se de um objeto de comunicação da cultura afro-brasileira com os visitantes do museu, tendo como objetivo o conhecimento, o reconhecimento e respeito às referências africanas na cultura brasileira e goiana, e um artefato têxtil, visto que os museus goianos possuem poucos artigos têxteis expostos em suas exposições de longa duração, e, menos ainda, indumentárias .
As indumentárias são objetos da cultura material que expressam modos de viver, de fazer de grupos sociais, “a moda e a indumentária, são, portanto, algumas das maneiras pelas quais a ordem social é experimentada, explorada, comunicada e reproduzida” (BARNARD, 2003, p. 63). As indumentárias são entendidas como um todo, não somente de objetos isolados, estas são composta dos artigos têxteis e não têxteis, ou ainda, da(s) roupa(s) e do(s) acessório(s).
2. DESENVOLVIMENTO
A pesquisa que propiciou o projeto de intervenção Catálogo analítico para um objeto museológico: a Oxum da exposição Lavras e Louvores, Museu Antropológico da UFG foi iniciada no ano de 2008, a partir de estudos para o trabalho de conclusão de curso do bacharelado em design de moda, com o título ‘Indumentária e Patrimônio Cultural - sobre Museus e Acervos Têxtil no Brasil’ e, principalmente, em Goiânia, deu-se início ao levantamento de dados da Indumentária Oxum, visando à criação de legenda específica. Esta pesquisa surgiu a convite da então diretora do museu, Nei Clara Lima, que me ofereceu a oportunidade de realizar a pesquisa da Indumentária Oxum e elaborar uma nova legenda para a mesma. Porém, naquele momento, não foi possível realizá-la por falta de informações necessárias, tempo hábil e pouco conhecimento específico. Esta experiência me levou a cursar, em 2010, o bacharelado em museologia, também na Universidade Federal de Goiás.
29Desde então, foi percebida a necessidade de desenvolver um material direcionado ao público específico de pesquisadores e visitantes. Depreendeu-se que, para tal intervenção, são necessárias maiores informações sobre a Indumentária Oxum, enquanto representativa de uma entidade do Candomblé e, também, da Indumentária Oxum enquanto objeto museal, produzido para a exposição de longa duração ‘Lavras e Louvores’. Momento em que, então, foi idealizado um trabalho de pesquisa aplicada, que resultasse também em um material composto por fichas técnicas específicas de têxteis, amostras de tecidos originais, descrições, imagens e informações reunidas no que ora foi chamado de catálogo analítico da peça, por tratar-se de um catálogo para um único objeto. Este objeto original será denominado ‘Catálogo Analítico da Indumentária Oxum exposta no Museu Antropológico da UFG’.
2.1 OBJETIVO GERAL
Realizar ação de intervenção por meio da construção do ‘Catálogo Analítico para um objeto museológico: a Indumentária Oxum da exposição Lavras e Louvores, Museu Antropológico da UFG’, potencializando a comunicação do museu com seus públicos.
2.1.1. Objetivos Específicos
Explicar o porquê da presença dessa Indumentária na exposição de longa duração ‘Lavras e Louvores’ e o que representa.
Analisar o porquê da confecção, para quem e onde.
Demonstrar a constituição das peças e o que representam.
Esclarecer as representações dos materiais, das cores e formas utilizadas na Indumentária Oxum da exposição do Museu Antropológico da UFG.
2.2 METODOLOGIA
Para todas as áreas de conhecimento o método se constitui no projeto de formulação de ideias, sendo, portanto, de fundamental importância. Entretanto, para a Antropologia, reveste-se de dupla significância, em virtude de que a pesquisa de campo já reside nas suas características, isso significa que, “o lugar da pesquisa de campo no fazer da antropologia não se limita a uma técnica de coleta de dados, mas é um procedimento com implicações teóricas específicas”, como afirmou Mariza Peirano (1992, p. 8). Ou seja, teoria e pesquisa estão justapostas e se enriquecem. Não é uma questão de métodos, técnicas, processos determinados e, sim o tipo de esforço intelectual.
A mente dedicada à matéria: uma introdução à teoria e prática da cultura material (1980 in Peace, 1994), - idealmente, não depende apenas do engajamento intelectual com o objeto, mas também do engajamento sensorial e emocional. No caso dos têxteis, o acesso a seus segredos através do toque é tato informativo quanto potencialmente destrutivo. (MILLER, 2006, p. 25).
Assim como Lesley Miller pontua é necessário o engajamento intelectual, sensorial e emocional com o objeto, e,para que haja este engajamento, é preciso o contato com o objeto, a experiência. Em conformidade com esta abordagem está a proposta metodológica de Educação Patrimonial de Horta, Grumberg; Monteiro (1999). As autoras propõem como etapas metodológicas a observação, o registro, a exploração e a apropriação. Tal metodologia foi utilizada como referencial teórico à pesquisa específica no nosso artefato têxtil, com fichas técnicas e descrição.
Segundo Rita Andrade, cinco questões devem ser abordadas quando se estuda um artefato têxtil: “1- Observação das características físicas [...]; 2 - Descrição ou registro [...]; 3 - A identificação [...]; 4 - Exploração ou especulação do problema [...]; 5 - Pesquisa em outras fontes e programa de pesquisa [...]”. (ANDRADE, 2006, p. 74 - 75).
Considerando os grandes avanços científico-tecnológicos, especialmente decorrentes das facilidades de comunicação, deslocamento de pessoas, de integração política, econômica e cultural e a globalização, difícil tem sido encontrar algo que não esteja padronizado. O interesse pelas práticas sociais, os modos de vida, os hábitos alimentares, o modo de vestir, e todo o processo de reprodução é, ao mesmo tempo, de diversas Ciências Humanas, que utilizam variadas metodologias. Por meio destas metodologias, as Ciências Humanas tentam encontrar os elos que permitem identificar e reencontrar o “eu”, diluído, fragmentado e cheio de lacunas do homem moderno, considerando as experiências humanas como sendo repletas de significado.
30Observar, perceber e interpretar o contexto e o uso dos objetos, especialmente, a Indumentária do Candomblé é também construir diferentes leituras do objeto e explorar sua enorme potencialidade. Assim, buscou-se a compreensão e a depreensão dos elementos intrínsecos e extrínsecos no estudo da Indumentária Oxum.
Sabe-se que o objeto da Antropologia é histórico, como afirma Marshall Sahlins (1999, p. 07),acrescentando que “a cultura é historicamente reproduzida na ação; e, alterada historicamente na ação, e essa alteração de alguns sentidos muda a relação de posição entre categorias culturais”. É esse esforço intelectual que se pretende empregar na interpretação da indumentária como prática etnográfica, entendendo e parafraseando Andrade (2006, p. 72) “ao se relacionar com coisas e pessoas, as roupas produzem e ganham novas experiências que são partilhadas especialmente através de experiências humanas”.
O porquê das coisas importarem e a maneira pela qual elas vieram a ter significados atribuídos demanda uma compreensão de como e por quê os significados são atribuídos às coisas pelas pessoas. Obter entendimento deste processo vem da observação, complementada daquilo que as pessoas relatam. Para entender o por quê das coisas importarem, é necessário que os significados (as propriedades simbólicas) sejam expressos em alguma forma de linguagem, normalmente escrita ou falada. Isso explica a importância atribuída à linguagem nesta análise da cultura material, onde se argumenta que a cultura material pode ser entendida como a relação entre objetos (coisas), sujeitos (pessoas) e a Linguagem (metáfora) (EASTOP, 2006, p. 121).
É importante ressaltar que as coisas não possuem significados por si, possuem significados por nós atribuídos, assim, um objeto possui determinado significado e relevância para um grupo específico e para outros pode não haver, e até ser outros os significados. Assim, a busca desta pesquisa é depreender os significados da Indumentária Oxum, ou seja, da sua representatividade por meio da sua materialidade.
2.2.1 Tipo de Pesquisa
O tipo de pesquisa que propiciou as práticas deste projeto de intervenção é o de pesquisa-ação, entendendo pesquisa-ação assim como proposto por David Tripp (2005) “pesquisa-ação é uma forma de investigação-ação que utiliza técnicas de pesquisa consagradas para informar a ação que se decide tomar para melhorar a prática” (p. 447). O autor subdivide em 11 categorias ou linhas de pesquisa-ação, a que melhor se enquadra neste projeto de intervenção é a Linha 9, pragmática:
O critério principal para a prática rotineira é que ela funcione bem. Preocupações sobre como e por que ela funciona só surgem quando há problemas ou quando se pode fazer melhoras, condições essas sob as quais o prático tenderá a uma investigação-ação, mas não para uma modalidade de pesquisa-ação, em que compreender o problema e saber por que ele ocorre são essenciais para projetar mudanças que melhorem a situação. As teorias são sistemas conceptuais construídos para explicar conhecimentos novos e constituem preocupação primordial da pesquisa científica. Na pesquisa-ação, o necessário é explicar os fenômenos, não é seu objetivo construir o tipo de rede de explicações implicadas na teoria científica. (TRIPP, 2005, p. 449).
2.2.2 Campo da Intervenção
O campo de atuação desta intervenção é o Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás, localizado na Av. Universitária, nº 1166, Setor Universitário, município de Goiânia, Estado de Goiás. Os estudos visando à intervenção também abordaram a casa de Candomblé Ilê Axé Eromim, em Aparecida de Goiânia, e o ateliê de costura de Leila Irades, no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia.
312.2.3 Instrumentos
Os dados foram coletados em arquivos bibliográficos e complementados por intermédio da diretora Nei Clara de Lima, bem como da museóloga Roseli de Fátima B. N. Barreto, cedendo o projeto da vitrine da Indumentária Oxum. Leila Irades Carneiro, que confeccionou a Indumentária Oxum, foi entrevistada e colaborou com a pesquisa em diferentes momentos, inclusive, cedendo amostras dos tecidos utilizados.
O catálogo analítico foi construído fundamentado teoricamente por Eleida Camargo (1999). O projeto do catálogo foi pensado para ser um objeto prático, resistente, pedagógico e, por que não, lúdico. Buscou-se estabelecer uma comunicação entre visitantes e objeto (Indumentária Oxum) por meio do catálogo analítico, com informações intrínsecas e extrínsecas do objeto, de associação do ‘real’ (objeto físico) e do figurado (desenhos técnicos). Por meio da construção de objeto original, visou-se estimular a imaginação com a visualização das várias peças ou camadas que a compõem, e a experiência através do tato com as amostras dos tecidos originais, associando a forma e a textura. Compartilhando do pensamento de Camargo, que afirmou:
[...] percepção visual e simbólica acontecendo simultaneamente. A percepção visual é obtida através da museografia e do acervo exposto enquanto é feito um esforço para que todo significado e simbologia seja compreendida também a partir do espaço expositivo mas, sobretudo, a partir das referências individuais de cada um (idem, p. 33).
Assim, este objeto possui um potencial de possibilitar a percepção visual e simbólica simultaneamente, potencial de fruição e diversão. Para a produção das fichas e dos desenhos técnicos foram realizadas pesquisas bibliográficas acerca do Candomblé no Brasil, e no município de Goiânia, bem como sobre a Orixá Oxum e sua indumentária. O referencial teórico para a construção dos desenhos técnicos foi norteado por Crill, Wearden, Wilson (2007). E para o construto das fichas técnicas Perales (2006) e Andrade (2006). Estas pesquisas se fizeram importantes para compreender o objeto (Indumentária Oxum) enquanto semióforo, como documento que representa, percebendo esta pesquisa como uma documentação para comunicação. Nesse sentido, corrobora Rosana Nascimento:
Ou seja, a documentação museológica para a comunicação deve buscar através da pesquisa a historicidade da produção cultural do homem, com seus sistemas de valores, símbolos e significados, as teias de relações estabelecidas entre os homens que criam e recriam objetos no decurso da sua realização histórica. Se, o objeto museal é a produção prática da relação homem-natureza, na medida em que na relação homem-homem vão temporalizando os espaços e fazendo história, este objeto museal não pode ser entendido na sua relação em si, mas na sua relação com os homens e o seu mundo. (NASCIMENTO, 2009, p. 36).
Intento este que foi buscado e considera-se alcançado.
2.3 PROCEDIMENTOS
Compreendendo que para qualquer intervenção desta natureza são necessárias maiores informações sobre o objeto museal, nesse caso a Indumentária Oxum, o interesse foi analisá-la enquanto representação de uma entidade da religião afro-brasileira Candomblé, e, também, a natureza deste objeto museal, objeto-construído, feito especialmente para a exposição de longa duração ‘Lavras e Louvores’. Para tanto, e para a feitura do catálogo analítico, foram realizadas uma pesquisa bibliográfica, e, posteriormente, entrevistas e duas visitas a Casa IlêAxé Eromim, representada pelo Babalorixá Ênio de Oxum, pertencente à nação Ketu, para observar como são as indumentárias utilizadas pelos candomblecistas, quais seus materiais, formas, cores; e qual a relação deles com as mesmas. Foram também muito relevantes as fotos da indumentária e as conversas informais e entrevista com a Srª Leila Irades, responsável pela concepção e confecção da Indumentária Oxum aqui referida.
32A escolha do formato do relatório para a avaliação final do curso da especialização interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania foi bastante discutida com a orientadora. Inicialmente, pensou-se no formato audiovisual, justificado pela facilidade de acesso, uso e difusão, que possibilitaria acesso não somente ao público específico, sobretudo, ao grande público, uma vez que o vídeo contendo o ‘Catálogo Analítico da Indumentária Oxum exposta no Museu Antropológico da UFG’ poderia ficar disponível no Youtube.
Entretanto, a intervenção não se dá sobre um objeto de estudo em movimento, mas sobre um artefato, e já gera como produto outro objeto, o catálogo analítico. Desta forma, em reunião de orientação, foi decidido que o formato audiovisual seria mais adequado a objetos de estudo como manifestações culturais coletivas, e que já tendo esta intervenção um produto original, o catálogo, seria excessivo produzir outro material, o audiovisual.
Contudo, para avaliação final submete-se o catálogo analítico e o trabalho de cunho acadêmico, ambos a serem entregues ao museu, para que fiquem disponíveis para consulta, e o relatório da intervenção solicitado no manual Guia Básico para Elaboração de Relatórios Científicos (2015). Registra-se a sugestão de que o curso especialização interdisciplinar em Patrimônio, Direitos Culturais e Cidadania passe a aceitar, além de portfólios fotográficos e vídeos, objetos como produto de intervenção e resultados a serem avaliados. Especialmente considerando que nesta especialização podem ser recebidos alunos oriundos de cursos como Artes Visuais, Design e Museologia, entre outros, que têm muita afinidade com o mundo dos objetos tridimensionais.
Com a construção do objeto original ‘Catálogo Analítico da Indumentária Oxum exposta no Museu Antropológico da UFG’, espera-se que a informação se torne comunicação. Além disso, o objeto tem potencial para estimular a visitação à exposição ‘Lavras e Louvores’, levando o público a conhecer, respeitar, valorizar a diversidade cultural goiana e os agentes
formadores da diversidade cultural local, muitas vezes invisibilizados na sociedade.
Ressalta-se que, para ter melhor entendimento por parte da população deve haver práticas museais específicas às indumentárias, desde a conservação à comunicação, utilizando de legenda com desenho técnico ou ilustrações que facilitem a visualização das peças pertencentes à indumentária, sua simbologia demonstrando suas características específicas.
As fichas técnicas apresentadas no catálogo analítico são fichas técnicas específicas de têxteis, construídas utilizando como referencial teórico Perales (2006) e Andrade (2006), com descrições, imagens e informações específicas de documentação museológica, como número de inventário, forma de aquisição, data, data de aquisição, autoria, origem e análise iconográfica como tão bem delimitadas por Duarte Cândido (1998), Padilha (2014) e Cândido (2006). Buscou-se priorizar uma ficha com única folha, como recomendou Duarte Cândido (1998), para que não se perdesse informações sobre o objeto, e de Documentação como processo, ou seja, que outras pessoas possam dar continuidade de informação para comunicação.
Foram feitas algumas adaptações na ficha técnica apresentada por Isabel Perales (2006) para atender as peculiaridades da indumentária, e por se tratar de fichas para um objeto único, essas são justificadas, e, para atender objetivos específicos desta pesquisa. Fichas técnicas compõem-se geralmente de somente uma (01) para todo o objeto, ou seja, uma (01) ficha para toda a indumentária. Porém, para demonstrar, tornando visíveis as várias peças ou camadas que compõem a Indumentária Oxum aqui apresentada, foram criadas quatorze (14) fichas, uma para cada parte que a compõe.
33Foi utilizado como critério para sequência das peças ou camadas da Indumentária Oxum exposta no Museu Antropológico da UFG, peças ou camadas externas e superiores para as internas inferiores ou de cima para baixo, de fora para dentro. E, como numeração das quatorze (14) fichas técnicas, apresentados no canto superior direito com o número da ficha seguido do símbolo barra ( / ) e número total de fichas. Exemplo: Ficha 1/14.
2.4 RESULTADOS
O trabalho que compreendeu a pesquisa bibliográfica, as visitas à Casa da nação Ketu, as conversas informais e entrevista com a Srª Leila Irades, originaram o texto escrito e os materiais: fichas técnicas específicas de têxteis, amostras de tecidos originais, descrições, imagens e informações reunidas no que ora foi denominado Catálogo Analítico da peça, por tratar-se de um catálogo para um único objeto. Neste processo, foi conhecida a nação da Srª Leila Irades e o imaginário que traz da orixá Oxum e sua indumentária, referências, materiais e o que desejou expressar ao confeccionar o objeto que hoje está na exposição.
Soube-se que há 16 qualidades de Oxum, e essas 16 variam de cores e objetos, podendo variar de acordo com a nação que representam. Assim sendo, a Indumentária Oxum exposta no Museu Antropológico da UFG está associada ao imaginário da candomblecista Leila Irades, o que por sua vez significa relacionar-se à nação Ketu.
Deste modo, como resultado do projeto de intervenção, foi desenvolvido o Catálogo Analítico da pesquisa cujo tema é a Orixá Oxum (Osùn) da religião afro-brasileira Candomblé e o que a envolve, principalmente suas indumentárias, com suas características específicas, seus símbolos e significados; mais especificamente, a Indumentária Oxum presente na exposição de longa duração do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás.
Este material será doado ao Museu Antropológico da UFG e acredita-se que irá melhorar o processo de comunicação entre o museu e seus públicos, seja o pesquisador ou o visitante comum. Ressalta-se que os materiais utilizados foram selecionados para resistirem ao manuseio dos usuários ou visitantes do Museu Antropológico da UFG. Para produção do catálogo analítico foram utilizados papelão tipo Bismark pardo 30 (3 mm (milímetros)), revestido de tecido cor amarelo com motivos de flores cor dourado, bordado a máquina ‘Indumentária Oxum’ e o título do catálogo (Catálogo Analítico da Indumentária Oxum exposta no Museu Antropológico da UFG), papel couchê fosco gramatura 300g (gramas) para as fichas técnicas e transparência 75 M (micras) para os desenhos técnicos.
3. CONCLUSÕES
Esta intervenção teve alguns intentos, como proporcionar a pesquisadores e visitantes maiores informações sobre este objeto de estudo, a Indumentária Oxum, desde suas características históricas, religiosas, mas também suas características físicas e simbólicas. Vislumbrando que o objeto ora apresentado seja posteriormente, olhado e interpretado e se constitua em novas pesquisas e intervenções, nisso se constitui o fazer acadêmico. E, preferencialmente, que atinjam o grande público, permitindo maior conhecimento sobre a religião afro-brasileira Candomblé, sobre os Orixás e,principalmente,sobre a Orixá Oxum, pela representatividade local.
34O foco deste trabalho foi possibilitar o acesso e dar maior visibilidade às matrizes formadoras da cultura brasileira, principalmente pelo fato do Candomblé ser uma religião estigmatizada e inferiorizada, assim como seus participantes. Buscou-se, assim, valorizar a representatividade cultural desta religião afro-brasileira, com o objetivo de promover respeito e tolerância, realçando todo o simbolismo presente em um artefato apresentado na exposição de longa duração do Museu Antropológico da UFG e convidando o público visitante e pesquisadores a olhar com mais atenção a cada detalhe deste objeto, que, por ser um dos poucos de origem afro-brasileira na exposição, precisa ganhar mais visibilidade.
A título de difusão do trabalho criou-se o vídeo de divulgação ‘Catálogo Analítico da Indumentária Oxum exposta no Museu Antropológico da UFG’, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RRpBcrtUTeI, no Youtube.
REFERÊNCIAS
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