2.1 ∙ Fonemas, grafemas e estrutura silábica

Padrão Indígena

Inicialmente, apresento os fones consonantais e vocálicos da língua. A partir deles identifico os fonemas e proponho, com auxílio dos falantes do Noke Koĩ, os seus representantes em grafemas. Assim, cheguei ao alfabeto possível, também juntamente com os falantes nativos, para se escrever essa língua. Tomei o alfabeto latino referenciando àquele usado no português brasileiro observando a aproximação de cada fonema a cada letra alfabética.

Em minhas análises, identifiquei vinte sete fones consonantais da língua Noke Koĩ. Eles são [p], [b], [t], [d], [tʲ],[dʲ], [k], [c], [q], [ɠ], [ɟ], [ɢ], [ʔ], [m], [n], [ŋ] [ɲ], [β], [s], [z], [ʐ], [ʂ], [ʃ], [ʒ], [h], [ts] e [ɾ] como apresento no Quadro I em seguida.

I - Quadro fonético consonantal
Ponto
Modo Bilabial Alveolar Alveopalatar Retroflexo Palatar Velar Uvular Glotal
Oclusivo p b t d tʲ dʲ c ɟ k g q g ʔ
Nasal m n ɲ ŋ
Africado ts
Fricativo β s z ʃ ʒ ʂ ʐ h
Tepe ɾ

Fonte: AGUIAR – 2021a

Identifiquei vinte fones vocálicos nessa língua. São eles: [i], [ĩ], [ɪ], [ ̃ɪ], [ɨ], ̃ɨ], [ᵻ],     [ ̃ᵻ], [e], [ẽ], [ɐ], [a], [ɑ], ̃ə], [o], [õ], [ʊ], [ ̃ʊ], [u] e [ ̃u] como mostro no quadro (II):

II - Quadro fonético vocálico
Fones Vocálicos Anterior Não Arred. Central Não Arred. Posterior Arred.
Alto Oral i   ɪ ɨ   ᵻ ʊ   u
Nasal ĩ   ɪ ̃ɨ   ̃ ̃ʊ   ̃u
Médio OralNasal e    oõ
Baixo OralNasal    ɐ   a ̃ə ɑ 

Fonte: AGUIAR – 2021a

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(A) Fonemas

Os fones consonantais e vocálicos (Aguiar-2021a) identificados na língua Noke Koĩ, por mim analisados, totalizam dezenove fonemas. Desses, quinze consonantais e quatro vocálicos. Esses fonemas são apresentos nos Quadros III e IV que se seguem:

III - Quadro fonológico consonantal
Ponto
Modo Bilabial Alveolar Alveopalatar Retroflexo Velar Glotal
Plosivo p t k
Nasal m n
Africado ts
Fricativo β s ʃ ʂ h
Aproximante w ɾ y

Fonte: AGUIAR – 2021a

IV - Quadro fonológico vocálico
Fones Vocálicos Anterior Não Arred. Central Não Arred. Posterior Arred.
Alto i ɨ u
Baixo a

Fonte: AGUIAR – 2021a

A escolha dos grafemas para esses dezenove segmentos fonológicos teve como referência a língua portuguesa do Brasil. Minha escolha, apoiada pelos citados professores falantes nativos, se deve ao contexto linguístico nacional que esses indígenas vivem. Assim, grafemas elegidos trazem correspondências fonéticas entre as línguas Noke Koĩ e Portuguesa, após reuniões com esses professores nativos, em 2000, na T.I. Campinas. Nos casos que não encontramos correspondência, optamos por um grafema aproximado. Por exemplo, para o /ɨ/ optamos por escrevêlo com a letra e, o /β/ com o v e o /ʂ/ com sh.

Vale esclarecer também que, desde 1984, tive iniciativa de trabalhar em sala de aula com os professores Noke Koĩ visando a escrita da língua nativa. Logo após minha segunda ida, soube e tive contato com um dos materiais didáticos dessa língua elaborados pelos missionários da New Tribes, o qual passei a estudar. Com o passar do tempo, tive contato com outros materiais da New Tribes e eles foram muito importantes para redefinir o que era proposto para a escrita.

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Assim, comparei a ortografia que estávamos propondo com aquela já proposta pela New Tribe nas cartilhas. Nessa circunstância, constatei algumas divergências nos grafemas propostos por nós comparados àqueles do material da New Tribes. Neles foram usados vinte e um grafemas (a, ch, e, h, i, k, m, n, nh, o, p, r, s, sh, t, ts, tx, v, w, y), enquanto que, em nossa proposta, são usados dezenove grafemas. Representando uma maior economia para se escrever o Noke Koĩ . Esses grafemas são mostrados em (B) que segue:

(B) Fonemas e grafemas:

Importa dizer que o fonema /n/ quando em coda, a nossa proposta que foi usar sempre o til. Assim, a nasalidade pós núcleo configura na escrita sempre com um til em cima da vogal (vn => ṽ), como está detalhado em (2.3).

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(C) Estruturas silábicas

As estruturas silábicas possíveis na língua Noke Koĩ são quatro, CV, V, VC e CVC, sendo seu molde (C)V(C). Todas essas posições só são preenchidas por um único elemento e, na posição de coda, só pode ser preenchida por um dos cinco segmentos consonantais: /s/, /ʃ/, /ʂ/, /n/, /w/ e /y/.

O /n/ em posição de coda foi escolhido o til. Essa opção simplifica o sistema de escrita, consequentemente, econômico. Isso colabora com o processo de alfabetização pois se tem menos grafemas. Assim, tem-se ãi e não aNi, nem an.i. Desta forma, o /n/ não fará parte dos grafemas pós-núcleo de sílaba, ficando somente /s/, /ʃ/, /ʂ/, /w/ e /y/, representados pelos grafemas s, x, sh, w e y, respectivamente, como em (D):

(D) Grafemas em final de sílaba

a. /ʂ/ sh CVC . CV /miʂ.ku/ mishki 'pedra'
b. /ʃ/ x CVC . CV /piʃ.k̃u/ pixkõ 'pamonha'
c. /s/ s CV.CVC /pa.ɾas/ paras 'lama'
d. /w/ w CV.CVC /ʃi.ʃãw/ xixãw 'feijão'
e. /y/ y CVC.CV /may.ti/ mayti 'chapéu'