Humanidades digitais: performatividades na cultura digital

O olhar poético das humanidades digitais
Sondar o contemporâneo diz do perceber o entrelaçamento do humano e do maquínico, notadamente nas práticas culturais. Diante da complexidade de mapear o contexto, a emergência das humanidades digitais se faz ver, ao tempo em que permite o olhar poético que caracteriza o lastro e o toque da grande área de conhecimento. E é esse o olhar que descortina a cena e faz ver os cenários e atores que perfazem a performatividade do agora que, andarilho, se nos mostra sedento de olhares e compreensão.

Cleomar Rocha

Organização

Cleomar Rocha
Hugo Alexandre Dantas do Nascimento
Fabrízzio Alphonsus Alves de Melo Nunes Soares

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Apresentação

A revolução impetrada pela tecnologia fez emergir uma nova cultura humana, verificada em índices como o aumento exponencial da expectativa de vida ou mesmo da população mundial. Se a segunda metade do século XX foi responsável pela duplicação da população do planeta, foi o fundamento do método científico que alterou a realidade desses dados desde o início do Século XIX. O controle e o tratamento de doenças, a melhoria dos alimentos e dos métodos de plantio, colheita e distribuição, a mecanização do trabalho e, por fim, a automação, criou a emergência de processos e produtos que alteraram a vida de todos os habitantes do planeta, sem exceção.

Não apenas as TICs ‒ Tecnologias da Informação e da Comunicação - mas o conjunto de tecnologias, entendidas como conhecimento técnico validado pelo método científico e aculturado em determinada comunidade científica ‒ provocaram uma ruptura dos modelos produtivo, de consumo, de distribuição, de relações interpessoais e internacionais, fazendo emergir novos modos de vida. E esses devem sua constituição à Ciência e à Tecnologia, essa última, o sustentáculo prático das alterações e conquistas humanas.

O domínio matemático das Ciências, verificado na primeira metade do Século XX, que abarcou desde a Filosofia até a Física, deixou rico legado, embora forçasse a modelos rígidos nem sempre adequados a determinadas áreas de conhecimento. Talvez a área das Humanidades tenha sido a mais ressentida e, por conseguinte, a mais reticente em relação à tecnologia. Ameaçada em suas crenças pouca afeitas a modelos quantitativos, essas Ciências rebelaram-se às imposições das chamadas Ciências Duras, criando certa antipatia pela tecnologia, notadamente pela tecnologia digital e seus modelos algorítmicos. Essa quase trauma deflagrou a baixa aderência ao modelo constituído, baseado no avanço tecnológico, o que em si dificultou que essas áreas acompanhassem, epistêmica e metodologicamente, as revoluções paradigmáticas trazidas pela tecnologia e que impactaram todas as Ciências, em especial justamente as Humanas, antropométricas por natureza.

Quando o Século XXI demandou a implantação do modelo tecnológico na sociedade, absolutamente deslumbrada pelas possibilidades de avanço, as Ciências Humanas foram forçadas, uma vez mais, a rever seus conceitos e resistências, sob o risco de perder o trem bala da História, que já atropelava, impiedosamente, quem não havia ainda embarcado.

Foi nessa emergência que surgiu o movimento das Humanidades Digitais, uma tentativa de implementar novos modelos, de matrizes do digital, nas pesquisas das Humanidades. O esforço partia da necessidade de avanço e mesmo da compreensão do novo humano, amalgamado com as tecnologias.

É com esse espírito que este livro se funda, no esforço concentrado das Humanidades Digitais, mais precisamente na abordagem do campo das performances culturais. Com tal enfoque, os textos perscrutam a cultura digital como ambiência, as humanidades como áreas de conhecimento e o mundo percebido como corpus de pesquisa, assumindo a tecnologia como transversalmente presente, modelizadora das práticas culturais emergentes.

Os autores vasculham, através de suas pesquisas, os universos da Moda, da Saúde, da Música, do Pensamento, do Design, da Comunicação e da Arte, desvelando performatividades na cultura digital, que aqui aparecem como aglutinante dos inquietos pigmentos que formam a imagem de nosso tempo.

Convidamos o leitor a imergir nessa leitura, assumindo que o caminho já trilhado jamais poderá ceder a outros passados, mas desenham, com maestria, os novos e possíveis futuros.

Boa leitura.


Cleomar Rocha
Hugo Alexandre Dantas do Nascimento
Fabrizzio Alphonsus Alves de Melo Nunes Soares