A Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura e a produção de conteúdos audiovisuais digitais

Autora

Sorahia Maria Segall

Natural de Minas Gerais, tem 55 anos. Como artista plástica e cineasta, Sorahia Segall iniciou sua carreira profissional em cinema em São Paulo na década de 1990, período denominado “primavera do curta”, em que participou como produtora, diretora de arte e fotógrafa, de filmes destacados como PR kadeia, vencedor de 5 prêmios no Festival de Gramado em 1993. Como Diretora, Roteirista e Diretora de Arte realizou seu primeiro curta História do Futuro em 1996, filme ambientado no século XVII sobre o padre jesuíta Antonio Vieira, exibido em mostras competitivas dos festivais de Gramado, Havana/Cuba, e Brasília, onde ganhou o prêmio de melhor Montagem. Como gestora de projetos públicos e privados, trabalhou de 2003 a 2005 na Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, entre 2005 e 2006 como Produtora Executiva do Projeto DOCTV Ibero-América/TAL-TV, e entre 2007 e 2011 foi Coordenadora de Planejamento e Gestão do Projeto Programadora Brasil, programa do Ministério da Cultura executado na Cinemateca Brasileira/SP e Centro Técnico Audiovisual/RJ. Atualmente é Chefe de Gabinete da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.

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A secretaria do audiovisual

A Secretaria do Audiovisual, órgão específico singular do Ministério da Cultura, tem como atribuição legal formular políticas, diretrizes e metas para formação e capacitação audiovisual, bem como a para a produção, distribuição, exibição, preservação e difusão de conteúdos audiovisuais e cinematográficos brasileiros, respeitadas as diretrizes da política nacional do cinema e do audiovisual e do Plano Nacional de Cultura.

Por intermédio de sua atuação política, apoia e estimula ações de formação técnica, de inovação na produção nacional, de renovação profissional da cadeia produtiva do setor, e de formação qualificada de público para o produto audiovisual brasileiro. Tem por objetivo a ampliação da expressão da diversidade cultural, a regionalização e a desconcentração do acesso aos meios e aos bens da produção audiovisual nacional.

Representatividade na política de fomento

A Potencialização Regional e a Diversidade Cultural Nacional
A Sav procura estabelecer políticas de nacionalização do fomento público para a produção audiovisual, promovendo a desconcentração dos benefícios dos eixos da região sudeste e dos grandes centros urbanos, por meio da representatividade das regiões em comissões de seleção e pontuações diferenciadas para projetos oriundos de Estados com histórico de baixa performance nas chamadas públicas. Dessa forma há um incremento do apoio à diversidade das manifestações e expressões culturais de todas as regiões do país.

Diversidade de Gênero e Racial
Segundo o Observatório Brasileiro de Cinema e Audiovisual – OCA/ANCINE (dados de 2015) - o percentual de participação feminina na direção audiovisual foi de 19% e de 23% no roteiro – cifras bem distantes do percentual masculino. Somente na produção executiva a presença feminina, de 41%, se aproxima da masculina, 47%. Ainda mais dramática é a invisibilidade da mulher negra na direção do audiovisual nacional.

A partir de 2012, a SAv tem promovido políticas públicas afirmativas, realizando editais de concurso público direcionados às realizadoras mulheres e realizadores negros, buscando igualdade de oportunidades em um setor historicamente protagonizado por homens brancos.

Valorização de Novos Talentos
A Sav também tem fomentado editais públicos voltados aos jovens realizadores que tenham poucas obras produzidas em seu portfólio, tanto de produção como de roteiros e projetos. Assim, alguns editais são dirigidos parcial ou totalmente a novos diretores e roteiristas, como o Edital de 2017: “Desenvolvimento de Roteiros Cinematográficos: Novos Roteiristas”.

Inovação da Linguagem e Produção de Conteúdos Transmídia
Secretaria também valoriza projetos que apontem para a inovação da linguagem audiovisual e tem formulado de editais com especial estimulo à produção de animação e à coprodução entre atores de diferentes setores da cadeia produtiva, com a produção de conteúdo audiovisual derivado em games Jogos Eletrônicos, filmes de animação, microsséries para a TV. Em 2017, por meio do edital “APP Pra Cultura” apoiou-se o desenvolvimento de aplicativos ou jogos eletrônicos inéditos e originais, voltados para a disponibilização de serviço cultural. Há ainda apoio a projetos de desenvolvimento de canais de conteúdos audiovisuais culturais brasileiros, com temática e acesso livre na internet, por meio do edital Juventude Vlogueira: Canais Culturais na Web. Em fevereiro de 2018 foram lançados dez editais para essa linhas de inovação e para estímulo a produção de conteúdo para infância e juventude.

Acessibilidade
A SAv tem estabelecido, em sua política de fomento, que as obras audiovisuais produzidas com recursos do Ministério da Cultura sejam entregues com recursos de acessibilidade, em respeito à legislação e ao direito fundamental de todo cidadão à fruição do produto cultural.

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Para garantir a qualidade e unificar métodos, a SAv lançou em 2016 o Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis. Trabalho recentemente traduzido para o espanhol no âmbito do MERCOSUL, pretende esgotar as técnicas de acessibilidade audiovisual no que tange às legendas para surdos e ensurdecidos, à audiodescrição e à janela de LIBRAS. O Guia é distribuído gratuitamente mediante solicitação à Sav.

A Secretaria do audiovisual e a cultura digital

A SAv estabeleceu como uma de suas prioridades, no biênio 2017-2018, o Programa Olhar Brasil, programa de implantação de Núcleos de Produção Digital Audiovisual, com ênfase na inovação da linguagem, e nos conteúdos digitais. Meta 43 do PNC, para a Secretaria do Audiovisual, estabelece a implantação de Núcleos de Produção Digital Audiovisual em 100% das unidades da Federação (UFs). A perspectiva é que em 2018 a SAv alcance tal meta, dada a situação atual do Programa, retomado em 2017, com a perspectiva imediata de planejamento e atuação em rede e de implantação de NPDs em Estados ainda não beneficiados pelo programa.

Os núcleos de produção digital - NPDs

A implantação de um NPD compreende a disponibilização, pela SAv, de equipamentos digitais de captação de imagem e de som, de edição e iluminação. E apoio à formação e comunicação compartilhada entre NPDs, em rede, por meio de plataforma digital específica.

O Programa dos Núcleos de Produção Digital – NPDs é voltado à ampliação do acesso à formação e aos meios de produção audiovisual de forma desconcentrada e regionalizada, priorizando cidades brasileiras fora dos grandes centros produtores de audiovisual. Objetiva dotar espaços físicos determinados, como equipamentos culturais públicos existentes, de equipamentos digitais para a produção audiovisual com foco na formação. Assim, o produto audiovisual é resultado de oficinas e cursos oferecidos nos NPDs, especialmente para jovens e comunidades locais, renovando a mão de obra para a cadeia produtiva do audiovisual brasileiro.

Essas ações buscam promover processos de produção e formação em rede, no contexto das realidades e dos processos culturais locais, reconhecendo a diversidade cultural nacional e dando visibilidade às expressões culturais individuais e coletivas decorrentes do efetivo acesso aos bens de produção e apropriação das tecnologias criativas.

A Produção nos NPDs
O NPD tem a capacidade de promover a produção local em audiovisual, estimulando a formação de uma cadeia produtiva local para o audiovisual, promovendo o compartilhamento de infraestruturas e conhecimentos formais e simbólicos, não apenas entre os beneficiados diretamente pela infraestrutura física e digital, mas por toda a comunidade envolvente e envolvida pelas produções de conteúdo.

A Difusão Audiovisual e a Comunicação em Rede nos NPDs
Os NPDs são efetivos centros de produção e difusão de conteúdos, podendo configurar-se como ponto de exibição digital em espaço físico, ou por meio de plataforma específica, atualmente em execução por meio de parceria com o Projeto TAINACAN/UFG. Trata-se de uma plataforma digital e compartilhada para exibição e difusão de acervos digitais próprios (produtos audiovisuais dos NPDs) e públicos. Servirá, já nos primeiros meses de 2018, à comunicação em rede pelos NPDs de todo o país.

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A Formação nos Núcleos de Produção Digital
Os NPDs têm vocação para incentivar o surgimento de novos talentos, valorizar uma produção simbólica local e diversa e estabelecer uma dinâmica de formação e retroalimentação da cadeia produtiva do audiovisual nacional – especialmente entre os jovens das cidades em que foram implantados. Por meio de cursos de capacitação e aperfeiçoamento no audiovisual, oficinas, seminários e atividades de formação presencial e à distância que objetivam amplo acesso ao conhecimento técnico e à linguagem audiovisual, os NPDs formam não somente agentes da produção de conteúdo, mas um público crítico para o audiovisual.

A SAv procura estabelecer parcerias com instituições de educação e de pesquisas tecnológicas para prover os NPDs de programas de formação básica e avançada nas funções técnicas do audiovisual. Um exemplo é a parceria com os Institutos Federais de Educação, em especial com o Instituto Federal de Goiás (IFG), com o qual realizou-se recentemente o I Seminário Cinema: Formação em Rede. O encontro reuniu 16 NPDs de vários Estados da Federação e diversas Unidades de IFs que promovem cursos técnicos e/ou de graduação em áudio e vídeo, além daqueles que sediam NPDs em suas instalações acadêmicas. Os NPDs tiveram uma oportunidade ímpar de compartilhar experiências e planejar suas atuações em rede para o próximo período. Em 2018 a SAv pretende dar continuidade à parceria com o IFG, fomentando um programa de formação em rede dos NPDs da região Centro-Oeste do país, com cursos técnicos presenciais e à distância.

Ainda no âmbito das parcerias com instituições de pesquisa em tecnologia criativa, a SAv está firmando parceria com o CTI/MCTIC de Campinas, em São Paulo, para a realização de formação e pesquisa em tecnologia digital para a produção audiovisual nos NPDs, iniciando com projeto piloto no NPD de Londrina, no Paraná. Nessa ação, está prevista a formação em modernas técnicas de pós-produção 3D, captura de movimentos para animação 3D em cinema de animação, jogos eletrônicos e realização de mini cursos de computação gráfica.

As ações de formação em curso contribuirão com a qualificação profissional do setor e vão compor um forte indutor de uma produção plural e diversa para a cadeia produtiva do audiovisual nacional.

A seguir um mapeamento atualizado dos NPDs implantados no país:

Relação dos núcleos de produção digital - NPDs

Núcleos de Produção Digital

Cidades UF Região Proponente - Responsável Institucional
Barra do Garças MT CO Universidade Federal de Mato Grosso
Florianópolis SC S Instituto Federal de Santa Catarina
Fortaleza CE NE Secretaria de Cultura de Fortaleza
Goiás GO CO nstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Goiás (IFG)
Natal RN NE Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Belo Horizonte MG SE Fundação Municipal de Cultura
Serra Talhada PE NE Prefeitura Municipal de Serra Talhada - PE
Rio Branco AC N Secretaria de Estado da Educação do Acre
Belém PA N Instituto de Artes do Pará
São Carlos SP SE Fundação Educacional São Carlos
Teresina PI NE Fundação Rádio e Televisão Educativa de Piauí, TV Antares
Aracaju SE NE Prefeitura Municipal de Aracaju / Fundação Municipal de Aracaju
Curitiba PR S Fundação Cultural de Curitiba
João Pessoa PB NE Universidade Federal da Paraíba
Maceió AL NE Secretaria de Estado da Cultura de Alagoas
Niterói RJ SE Prefeitura Municipal de Niterói
Campo Grande MS CO Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS)
Engenheiro Paulo de Frontin RJ SE IFRJ - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
Gramado RS S Prefeitura de Gramado
Londrina PR S Secretaria de Cultura de Londrina (Prefeitura)
Macapá AP N Secretaria de Cultura do Estado do Amapá
São Luís MA NE Instituto Federal do Maranhão
Palmas TO N Universidade Federal de Tocantins
Recanto das Emas DF CO Instituto Federal de Brasília
Recife PE NE Fundaj - CANNE
Santarém PA N Universidade Federal do Oeste do Pará

Mapa atual dos NPDs no Brasil