Novo quadro de transmissão de conhecimentos baseado em análise de modelos empíricos em Ciências da Informação e da Comunicação e em Ciências da Gestão

Autora

Naoil Chaouni

Naoil Chaouni é doutoranda em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Toulouse 3, Paul Sabatier e integra o Laboratório de Estudos e Pesquisas Aplicadas em Ciências Sociais, LERASS.

Tradutor

Vanderlei Cassiano

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1. Introdução

A dificuldade para tratar do conjunto de parâmetros da noção de conhecimento reside na multiplicidade de suas formas (savoir-faire, ideia, conhecimento de uma língua, cultura, dentre outras). Isso se dá pelo fato de que tal noção varia conforme abordagem científica ou teoria. O objeto do presente trabalho é abordar os princípios da noção de conhecimento com a finalidade de obter um quadro de análise que repouse sobre as teorias empíricas das Ciências da Informação e da Comunicação Iremos utilizar ao longo do texto a abreviação CIC para Ciências da Informação e da Comunicação (nota do tradutor). (CIC), conforme Shannon e Weaver (1948), Lasswell (1952) e a análise feita pela Escola de Palo Alto durante os anos 1970.

Abordar a noção de conhecimento baseando-se de início sobre as teorias empíricas em CIC nos permite adotar primeiramente uma tarefa simplista. Com a finalidade de cobrir as falhas da noção de conhecimento em CIC, nós a abordaremos com a ajuda das contribuições advindas das Ciências da Gestão, razão pela qual trataremos em pormenor da Knowledge Management (KM) e, logo, da gestão de conhecimentos.

A opção por comparar e por sintetizar a noção de conhecimento com as contribuições dessas duas disciplinas justifica-se pelas interações que elas mantêm no âmbito das organizações e empresas, ou no âmbito da Internet por meio da web 2.0, com a tendência ao papel colaborativo na utilização das mídias digitais e das redes sociais digitais, assim como nas práticas pessoais e profissionais.

O objetivo do presente trabalho é ligar a noção de conhecimento, termo que apresenta derivações semânticas, às disciplinas, Ciências da Informação e da Comunicação e Ciências da Gestão com a finalidade de propor uma análise combinada da noção de conhecimento.

2. Definição geral do conhecimento

2.1 Definição geral

Conforme o Dicionário Larousse, 2010:

Conforme o Dicionário Robert, 1994:

“Fato, maneira de conhecer. O conhecimento de um objeto. Conhecimento, compreensão, representação”. Segundo as definições gerais do conhecimento, podemos distinguir três formas que sustentam relações de complementaridade:

Entre os sinônimos de conhecimento encontramos a inteligência, a percepção, o saber, a assimilação e a competência. Tendo em vista a complexidade da terminologia do conhecimento, nós utilizamos uma ferramenta que permite ligar as noções terminológicas entre elas. Trata-se de Termsciences, um site multidisciplinar de terminologias que une noções conforme suas interações terminológicas. A principal vantagem dessa ferramenta repousa sobre sua apresentação em forma de árvore, o que permite a navegação conforme as relações terminológicas.

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Logo, “conhecimento” é termo transdisciplinar que advém a partir de noções transversais, por vezes difíceis de definir. Esse dicionário terminológico, apresentado sob forma de árvore, permite-nos identificar suas definições e ligar, sobretudo, o processo de aquisição de conhecimento à noção de pedagogia e, logo, de aprendizado e competência. O aprendizado liga-se à memória, ao sinal e à transmissão. Assim, o conhecimento liga-se às ciências do comportamento (principalmente o comportamento do consumidor) e à cognição.

Podemos facilmente perceber que a razão é componente da filosofia e ela é ligada ao comportamento e à tomada de decisão. Ao que nos parece, a compreensão das modalidades de conhecimento não pode ser interiorizada sem se trazer esclarecimentos baseados em um quadro filosófico. Com o intuito de conduzir satisfatoriamente nossa análise, nos pareceu essencial caracterizar historicamente as primeiras reflexões concernentes às noções do conhecimento. Nesse sentido, Platão, filósofo grego de 423-348 A.C. baseou-se na noção de conhecimento para a elaboração de boa parte de seus trabalhos (SALZI, 1934).

2.2 Teoria do conhecimento

Imagem 1: O modelo de Platão.

Sem entrar em análises filosóficas, é importante mencionar que o conhecimento é objeto de numerosos trabalhos empíricos dentre os quais, por exemplo, a teoria do conhecimento ou a filosofia do conhecimento de Platão. Ele posicionou o conhecimento humano no cruzamento entre verdades e crenças. Segundo Platão, o emprego da razão, supostamente adaptada ao contexto, está no centro do conhecimento intelectual. Logo, procurar o conhecimento é procurar a verdade.

O filósofo grego liga a teoria do conhecimento com a teoria das ideias (eidos), que constitui o centro de seus eixos filosóficos. Essas duas teorias guardam entre si relações estreitas, motivo pelo qual é essencial tomá-las em paralelo.

A maior parte dos trabalhos de Platão são baseados no racionalismo e na razão. A razão repousa sobre o conjunto de ideias gerais, que são comumente aceitas, e as relações necessárias (lógicas) que associam as ideias entre elas. Segundo Platão, não é possível ter o “conhecimento certo e verdadeiro” senão por meio das ideias. O filósofo reconhece a existência de ideias abstratas cujo acesso só é possível por meio da razão. As ideias, segundo a definição de Platão, existem somente no que ele chama por “mundo inteligível”.

Podemos fazer um paralelo entre a noção de ideia, que é um elemento interiorizado do indivíduo, e a noção de informação proveniente das Ciências da Informação e da Comunicação (CIC). De fato, a noção de ideia no sentido visto em Platão, e a de informação nas CIC, apresentam similaridades no tocante ao fato de representarem uma reflexão própria a cada indivíduo. Uma ideia pode ser compartilhada, mas para ser adotada, ela deve inicialmente ser objeto de uma interiorização e de um tratamento para o indivíduo. Esse elemento de personalização é visto no processo que permite passar da noção de “dado” à de “informação” e de “comunicação”. Nós a reencontramos com frequência na literatura própria das CIC (BATESON, 1951; SHANNON & WEAVER, 1948).

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3. Definição de “conhecimento” em Ciências da Informação e da Comunicação (CIC)

3.1 Definição na enciclopédia das CIC

Essencialmente, as Ciências da Informação e da Comunicação (CIC) representam uma ciência interdisciplinar (BOURE, 2002; CHARAUDEAU, 2010; DARBELLAY, 2005; TOUATYI, 2009; RIO, 2009) e pressupõem o cruzamento entre várias disciplinas, tais como a sociologia, letras, informática, dentre outras. Para compreender as questões da complexidade que desempenha as CIC frente às outras disciplinas é necessário trazer elementos históricos como Robert Boure (2002) descreve na obra coletiva As Origens das Ciências da Informação e da Comunicação, Olhares Cruzados, de 2002:

A história das ciências humanas e sociais procura sua via para a confluência das ciências (na maior parte “duras”), da epistemologia e da sociologia das ciências [...] Como a maior parte das ciências “recentes”, as Ciências da Informação e da Comunicação não possuem ainda uma “história oficial” (BOURE, 2002, p. 17).

O objeto principal das CIC é a coleta, a classificação, o tratamento, o armazenamento e a difusão de informação. Os saberes em CIC evoluem muito rapidamente com a evolução da tecnologia. Os esquemas e princípios empíricos das CIC permitem ancorar o objeto de pesquisa na disciplina e orientar os eixos de investigação científica. Tomemos de início a enciclopédia em Ciências da Informação e Comunicação na qual é interessante notar que não é proposta uma definição do conhecimento. Na verdade, o termo conhecimento associa-se ao termo informação.

A definição de “informação” constante da enciclopédia das Ciências da Informação e da Comunicação é apresentada como:

A inscrição de uma referência socialmente determinada em um sistema formal suscetível de ser objeto de uma difusão e de uma troca na comunicação. Mas deve-se observar que a noção de informação deve ser distinguida da noção de dado, de saber e de conhecimento (LAMIZET e SILEM, 1997, p. 297).

Não há definição precisa de conhecimento na enciclopédia das CIC e podemos ainda dizer que há contradição tendo em vista que o termo “conhecimento” remete ao de “informação”, mas, na base da definição de “informação”, podemos verificar que as duas definições se distinguem. Para cobrir o vazio terminológico da definição de conhecimento na enciclopédia, propomos a utilização das noções de conhecimento advindas das Ciências da Gestão, precisamente as advindas do campo do Knowledge Management (KM) ou Gestão do Conhecimento.

De início, a enciclopédia das CIC distingue quatro elementos: informação, conhecimento, dado e saber. A informação definida como uma “referência socialmente determinada” (LAMIZET e SILEM, 1997, p. 297) remete à noção de códigos normativos que são coletivamente aceitos pelos grupos sociais. Desse modo, cada informação responde a um quadro referencial admitido socialmente.

Alvin Toffler (1991) explica que:

[...] os dados são fatos não ligados entre si; o termo informação aplicar-se-á aos dados já incorporados em categorias, esquemas de classificação ou outros quadros; e o saber trata-se de informação altamente elaborada, sob forma de uma afirmação de alcance mais geral (TOFFLER, 1991 apud. LAMIZET e SILEM, 1997, p. 297).

Podemos deduzir pela análise de Toffler uma hierarquização entre dados, informações, que correspondem ao tratamento de dados, e entre a noção de saber que representa uma “informação altamente elaborada”.

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Sustentando nossa análise sobre a possibilidade desse “nível hierárquico” entre as diferentes terminologias, verificamos que a definição de “conhecimento” o coloca como informação de alcance ainda mais geral que o de “saber”. E o saber, por sua vez, definido como um “conhecimento particular” e com finalidade prática adquirida pelo estudo, experiência, em todo caso, um esforço.

A noção de saber mencionada aqui levanta interesse ao processo de aprendizagem. A noção de informação representa um conjunto de dados providos de sentido. Desse modo, segundo nossa análise, podemos elaborar uma hierarquização das quatro terminologias: dado → informação → conhecimento → saber.

A questão levada ao âmbito das teorias em CIC repousa sobre o estabelecimento dos meios que possibilitem a transmissão de uma informação de um emissor a um receptor. Em CIC, a informação representa um conjunto de elementos formais e informais (mensagens, codificações, gestual, sinais), transformados pelo processo de comunicação. Quando tratamos a questão do compartilhamento de informações e, logo, da comunicação de saberes, é indispensável analisar o esquema básico da comunicação proposto por Shannon e Weaver.

3.2 Modelo de Shannon e Weaver

O modelo de Shannon e Weaver trata-se da forma linear de comunicação, na qual o objeto principal repousa sobre a transmissão da mensagem. O modelo de transmissão linear apresenta um emissor, que envia uma mensagem sob a forma codificada, e o receptor efetua a decodificação em um ambiente perturbado, o que chamamos por ruído. Basear-se sobre esse modelo pode parecer atualmente algo ultrapassado. No entanto, tais contribuições mostram-se interessantes em um contexto de simplificação.

Tal esquema nasceu com a “Teoria matemática da comunicação”, apresentada em 1948, a qual permitiu Claude Shannon a teorizar a medida de informação durante a Segunda Guerra. O objetivo era decodificar os sinais truncados emitidos pelo inimigo, tratando-se esse seu trabalho, no início, de uma atividade de informação militar. Weaver, um cientista especialista em vulgarização No sentido de “popularização” (nota do tradutor). ou difusão, aproximou a noção de interferência à noção de ruído, a noção de sinal à noção de mensagem, a noção de codificador à de emissor, e a de decodificador à de receptor.

No esquema abaixo, distinguimos:

Fonte de informação: trata-se do emissor da mensagem cuja natureza varia, podendo ser um som, um sinal, um texto;

O canal: que corresponde ao meio de transmissão (linha telefônica, onda, disco). O canal apresenta perturbações segundo sua natureza, o que chamamos por ruído. Pode tratar-se de um elemento do meio (perturbação, sinal ruim, problema de codificação) ou da própria natureza do canal. Um dos aspectos primordiais do canal é sua capacidade. De fato, é essencial conhecer qual a quantidade de informação que o canal pode transportar;

A mensagem: é transmitida pelo canal e repousa sobre o conteúdo e, logo, sob a forma de mensagem oral, escrita, eletrônica, códigos, linguagem;

O receptor: quem levanta os problemas de compreensão e de adequação da mensagem em vista de suas referências.

Logo que o receptor recebe a mensagem, ele emite de sua parte uma segunda mensagem de retorno que chamamos por feedback ou retroação (WIENER, 1952). Pode se tratar de um gesto, de uma palavra, um olhar ou repetição. O feedback representa então a reação do receptor à mensagem emitida.

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A redundância corresponde à repetição da mensagem sobre diferentes formas que permitem assegurar sua transmissão. Segundo Shannon (1948), o conceito de informação está necessariamente associado à noção de redundância e de ruído.

Imagem 2: Ilustração da teoria de Shannon e Weaver (1948 -1949).

O fluxo de informação é considerado, no âmbito das CIC, como a relação entre as referências normativas, os valores do indivíduo ou do grupo e a comunicação que integra a natureza do canal e, sobretudo, o nível de tecnologia. As teorias da informação e da comunicação tais como as propostas por Shannon e Weaver, por Laswell e pela Escola de Palo Alto se dedicam a medir e qualificar o nível de informação. Há a possibilidade de medir a informação quantitativamente e qualitativamente, nesse caso, com base à referência cuja informação comporta ou traz consigo.

Como sublinhado por Jean Meyriat, desde 1985:

[...] não há mais produtores de informação. O que há são produtores de conhecimento e transmissores de informação [...] a informação não existe em si mesma, constituindo-se apenas quando recebida. Para o espírito que a recebe, ela é conhecimento e vem modificar seu saber implícita ou explicitamente (MEYRIAT, 1985, pp. 63-89).

Jean Meyriat faz a distinção entre emissor, produtor de conhecimento, e o canal, transmissor de informação. Tal distinção denota o aspecto de interiorização do conhecimento e mostra como sua transmissão não pode se dar sobre forma de informação, logo, de uma forma codificada.

É possível representar a informação como um fluxo. Esse modelo, de inspiração econômica e apresentado na enciclopédia das CIC (LAMIZET e SILEM, 1997, p. 297), nos permite identificar a informação como um fluxo ao passo que o conhecimento e o saber poderiam ser assimilados a um estoque resultante de um conjunto de informações. Desse modo, conhecimentos e saberes, como estoques, são reatualizados pelo fluxo de informações emitidas e recebidas. Propomos o esquema apresentado abaixo (Fig. 4) para representar o modelo fluxo/armazenamento:

Imagem 3: Modelo fluxo/armazenamento, com inspiração em estudos do campo da economia, apresentando as interações entre trocas de saberes e conhecimentos.

A flecha representada em tracejado no esquema acima indica o processo de interiorização dos saberes por cada indivíduo, que tem por finalidade o conhecimento. Tal esquema remete à análise de Meyriat que demonstra que não podemos comunicar nossos conhecimentos a não ser por meio de informações. Isso torna a comunicação de conhecimentos delicada, tendo em vista se tratar de um desenvolvimento de um conjunto de informações, sinais, códigos, para traduzir o que é interiorizado pelo emissor.

Ao que concerne ao modelo de Shannon e Weaver, já bastante difundido, é essencial ressaltar alguns de seus limites. Apenas para citar alguns deles, o modelo não trata nem da questão da presença de vários receptores, nem considera a natureza assíncrona da transmissão de mensagens (como é o caso do correio eletrônico, por exemplo), nem da transmissão de várias mensagens que podem ser contraditórias, ou ainda, que leve em conta o aspecto psicológico do receptor (LASWELL, 1948). Desse modo, os principais limites desse modelo repousam sobre seu caráter linear, considerando o receptor como passivo.

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4. A contribuição das Ciências da Gestão

Após termos indicado uma ausência de definição de conhecimento na enciclopédia da informação e comunicação, propomos cobrir essa ausência com os princípios empíricos presentes nas Ciências da Gestão, mais detidamente, na gestão do conhecimento. A gestão do conhecimento ou Knowledge Management (KM) nos traz noções-chave quanto à localização de nosso campo de pesquisa em Ciências da Informação e da Comunicação.

4.1 Dado / informação / conhecimento

De uma maneira geral, definimos um dado como o resultado direto de uma medida ou um elemento bruto, dissociado de qualquer contexto. Os dados são formados unicamente por fatos, observações brutas em si mesmas, que guardam em si um nível baixo de significado. O dado pode estar agrupado em uma base (base de dados) e sua coleta pode ser feita por meio informatizado ou diretamente por uma pessoa.

As informações, por sua vez, representam dados que foram interpretados e para os quais nós damos um sentido, um contexto ou uma interpretação. As informações permitem responder às questões: Quem? Qual? Quando? Onde?

A noção de conhecimento resulta de uma reflexão e da análise de uma ou várias informações confrontadas entre si. Ele, o conhecimento, é resultado de uma informação analisada e de um grupo de informações próprias ao indivíduo, ou seja, que provém de suas experiências, sua lógica de pensamento, de sua expertise e daquela pertencente aos seus pares. Em outros termos, o conhecimento representa a interiorização das informações e permite responder às questões do tipo: Por quê? Como? Por meio da definição de conhecimento, compreendemos que esse conceito liga-se diretamente à experiência, ao que é sentido e vivido pelo indivíduo. Os conhecimentos restam como elemento subjetivo, ligado a uma pessoa e às suas próprias percepções.

Há um conceito, denominado por modelo hierárquico do conhecimento, que provém de um poema de Thomas Eliot (1934), o qual estabelece a ligação entre sabedoria, conhecimento e informação:

“Where is the Life we have lost in living?
Where is the wisdom we have lost in knowledge?
Where is the knowledge we have lost in information? ”
(ELIOT, The Rock,Faber & Faber, 1934)

Alguns autores como Nonaka e Takeuchi (1995) e Polanyi (1966) partiram dessa hierarquia entre os diferentes conceitos – knowledge, information, e adicionaram à base piramidal o conceito “dados”. O topo é representado pela sabedoria. Encontramos na literatura da gestão do conhecimento o mesmo modelo esquematizado de duas maneiras: em pirâmide ou sob a forma de corrente:

Imagem 4: Pirâmide do conhecimento.

Tratando-se das Ciências da Gestão e sua pirâmide, tradicionalmente encontramos três elementos: os dados, as informações e os conhecimentos. Se compararmos o modelo com o que fora proposto por Platão, poderíamos dizer que o saber, situado no topo, representa a verdade última, quer dizer, a verdade admitida por todos, o apogeu da evolução cognitiva.

A parte visível do conhecimento, ou seja, sua comunicação, se apresenta sob a forma de informações (MEYRIAT, 1985), o que podemos esquematizar por uma flecha descendente como foi feito acima. Logo, a questão que se coloca é a que se refere à relação entre a soma dos conhecimentos individuais e o conhecimento coletivo.

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4.2 Modelo de Nonaka e Takeuchi, 1995

Um dos modelos fundamentais na literatura em gestão do conhecimento provém de dois experts japoneses no tema. Na obra The knowledge creating company (1995), os autores colocam em evidência duas formas de conhecimento: uma forma tácita e uma explícita. Segundo eles, a criação do conhecimento se produz a partir de interações entre os dois tipos de conhecimento, ou seja, tácito e implícito:

Nesse sentido, a maior parte dos comportamentos dos indivíduos é ditada pela forma implícita ou tácita do conhecimento até o ponto onde ele não será mais consciente a respeito da extensão ou alcance de seus conhecimentos, considerando o exato momento em que ele atinge um nível de expertise elevado em um campo específico. É o que exprime Michael Polanyi, ao explicar que “nós sabemos bem mais que aquilo que podemos exprimir” (POLANYI, 1966, p. 4).

O nível de conhecimento torna-se, então, bastante elevado para poder explicitar o conjunto de conhecimento, em código ou linguagem compreensível a todos (signos, palavras, frases, cifras). É o que vemos nos próprios limites da linguagem. O indivíduo, tendo interiorizado o conjunto de saberes, os coloca em prática de um modo sistemático, quase intuitivamente. Em outros termos, o conhecimento explícito não pode referir-se apenas a uma parte dos saberes de cada indivíduo.

A tabela abaixo sintetiza as diferenças principais entre os conhecimentos tácitos e entre os explícitos, segundo modelo de Nonaka e Takeuchi (1995):

Conhecimento tácito (encontrado no espírito humano) Conhecimento explícito(remente ao que é possível exprimir)
Natureza dos conhecimentos Conhecimentos pessoais Informações, fatos e conhecimentos científicos
Contexto Específico a cada indivídio, subjetividade Geral, objetividade
Formalização e comunicação Codificação difícil ou mesmo impossível Formaliza-se facilmente. Articulado, codificado e transferido de modo formal. Fácil comunicação
Tabela 1: Quadro sintético dos conhecimentos tácitos e explícitos segundo modelo de Nonaka e Takeuchi (1995).

É importante ressaltar que os dois tipos de conhecimento não devem ser compreendidos como formas independentes: “O conhecimento tácito e o conhecimento explícito não estão totalmente separados, tratando-se de fato de entidades mutualmente complementares” (NONAKA e TAKEUCHI, 1995, p. 81).

4.2.1 A transmissão de conhecimento

O postulado de Nonaka e Takeuchi repousa sobre o processo de interação social entre os indivíduos. Eles identificam quatro modos de transferência de conhecimento, oferecendo a hipótese segundo a qual os conhecimentos se fundam sobre o chamado “processo social de conversão”, ou seja, sobre a transformação de conhecimentos tácitos e explícitos (Idem, p. 87). Os quatro tipos de conversão correspondem à:

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Imagem 5: Os diferentes modos de transferência de conhecimento.
Fonte: NONAKA e TAKEUCHI, 1995.

A transmissão e aquisição de conhecimentos se efetua sobre a base de uma variedade de processos cognitivos e comunicacionais: percepção, aprendizagem, reflexão, memória, experiência, observação. Nonaka e Takeuchi apresentam os mecanismos de interações entre os dois tipos de conhecimento: tácitos e explícitos segundo o modelo SECI (socialização, externalização, combinação, interiorização). A seguinte apresentação em espiral permite mostrar o caráter retroativo dos quatro tipos de modos de transmissão, colocando em destaque a noção de processo e dependência entre os conhecimentos tácitos e os explícitos:

Imagem 6: Mecanismos de transformação entre conhecimentos tácitos e explícitos.
Fonte: NONAKA e TAKEUCHI, 1995.

5. Quadro combinatório da noção de conhecimento a partir das Ciências da Informação e da Comunicação (CIC) e das Ciências da Gestão

Nós propomos, então, uma nova esquematização combinando as duas disciplinas, as CIC e as Ciências da Gestão, uma configuração que nos permitirá superar os vazios relativos à noção de conhecimento, considerando apenas o campo das CIC.

Essa esquematização combinatória representa duas pirâmides que, por sua vez, correspondem a dois indivíduos, um deles pelo emissor e o outro receptor (SHANNON & WEAVER, 1948). Os retângulos representam os armazenamentos (ou estoques), segundo o modelo inspirado pelo campo da economia. Trata-se de “estoques” de dados, informações, de saberes, de conhecimentos explícitos e tácitos (NONAKA e TAKEUCHI, 1995) de cada indivíduo. Cada um desses “estoques” pode-se traduzir por fluxos de entradas e de saídas (inputs e outputs). As “saídas” de conhecimento ou de saberes não podem ser traduzidas a não ser que por “informações” (MEYRIAT, 1985). Não pode, logo, haver conhecimento sem que haja de antemão uma “bagagem” ou “estoque” de saberes. A posição de “estoque” de conhecimentos e o de “saberes” na pirâmide são objeto de um trabalho de pesquisa e de um trabalho bibliográfico específico.

A competência vem quando nós “absorvemos” saberes com o objetivo de que eles se transformem em conhecimento: “O conhecimento é tão incorporado ao ser que dele não pode se distinguir, o que não é o mesmo caso do saber, que resta sempre como um ‘ter’” (LEGROUX, 1981, p. 128).

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Dessa forma, Legroux (1981) distingue “saber” de “conhecimento”, o que justifica a posição do “saber” na pirâmide do esquema combinatório. O conhecimento é parte integrante do indivíduo. Pode-se dizer que o topo da pirâmide representa o ponto de individualidade mais forte, onde é difícil ou mesmo impossível transmitir os elementos em si mesmos: é isso ao que se dá o nome de sabedoria. No oposto, a base da pirâmide,
representada pelos dados, é facilmente transmissível em si mesma. Assim, para transmitir seus conhecimentos, o indivíduo deve se apoiar em seus saberes e os traduzir em informações.

Distingue-se, então, dois processos:

Imagem 7: Quadro (esquema) combinatório da comunicação de conhecimentos..

6. Conclusão

Depois de ter definido o conhecimento no âmbito das Ciências da Informação e da Comunicação (CIC) e completado essa análise com as contribuições advindas das Ciências do Conhecimento (Knowledge Management ou KM), foi proposta uma esquematização (modelo, quadro), combinando o processo de transmissão da mensagem (Shannon e Weaver) com o processo de conversão de conhecimentos (Nonaka e Takeuchi). No presente artigo, nós sublinhamos como que os dois processos – processo de transmissão de uma mensagem e processo de transmissão de conhecimentos –, agem em conjunto, entre emissor e receptor.

Os limites os quais nós assinalamos, concernentes ao modelo Shannon-Weaver, são válidos também para a esquematização combinatória. Efetivamente, essa última não trata da possibilidade de existirem vários emissores ou vários receptores, nem do efeito de grupo no caso de vários receptores, ou mesmo do estado psicológico dos diferentes atores, sejam emissores ou receptores. Nota-se então que, nesse sentido, outros trabalhos de pesquisa são necessários para melhorar essa chamada esquematização combinatória, com a finalidade de assegurar sua aplicabilidade sobre as redes sócio-digitais. A questão que se coloca recai sobre a relação entre o somatório dos conhecimentos individuais e a potencialidade de um conhecimento coletivo. Será, do mesmo modo, importante organizar o processo de gestão do capital intelectual no campo das mídias sociais, como as trocas contínuas de arquivos, documentos, de comentários. O objetivo será, então, conhecer como as mídias sociais podem representar meios-chave para a coleta de informações para a construção do conhecimento para cada indivíduo.

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Referências

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