Unidade 1: Introdução à Educação a Distância
4. Aspectos didático-pedagógicos
A EaD tem contribuído de forma muito significativa para a discussão e revisão do paradigma tradicional de educação, aquele para o qual a educação é reprodutora de conhecimento, centrada no papel do professor que sabe e ensina o aluno que nada sabe. Uma educação em que todos os sujeitos nela envolvidos aprendem, além de privilegiar atividades reflexivas e críticas, ao mesmo tempo em que promove a participação, a interação, a colaboração e a autonomia. A EaD oferece um contexto favorável à promoção e à prática desse conceito de educação porque a distância espacial e temporal facilita a abdicação pelo professor de seu posto hierárquico, de sua “nobreza”, da sua “bondade” de dar a quem não possui, e pode levar o aluno a sair de sua “zona de conforto”, a mudar de passivo para ativo, correndo todos os riscos que isso traz. Mas não é o caso de fazer crer que a EaD é a “salvadora da pátria Educação”.
A EaD tem muitas particularidades. Desde as relações humanas virtuais até a formação dos professores, tutores e mais cargos e funções. As semelhanças e diferenças com a educação presencial podem influenciar diretamente, de forma positiva ou negativa, as práticas e os resultados da EaD.
Para o aluno, a reflexão sobre os aspectos didático-pedagógicos na EaD vai ser centrada no fato de que, conforme Preti (2000, p. 53), “[...] estudar sem a presença regular de colegas e professores desafia [...] o aluno a superar suas limitações pessoais e desenvolver sua capacidade de aprender autonomamente, de aprender a aprender”.
Mas, sem a presença física de colegas e professores, outro aspecto didático-pedagógico da EaD, a interação pode ocorrer com características maléficas à educação, que podem afetar todos os envolvidos diretamente e a sociedade indiretamente. Por exemplo, interações com a falta de ética, violência, indiferença, subjugação. Isso exige árbitros e coordenadores justos e atentos que, na verdade, são reais e por isso suas ações têm que ser muito mais rápidas e acertadas para serem efetivas.
O aluno apresenta características comportamentais na EaD diferentes das que tem na educação presencial. O quadro a seguir traz a comparação do aluno nas duas situações.
Quadro1: Comparativo aluno presencial e a distância. | |
Presencial | Distância |
Homogêneos quanto à idade e qualificação. | Heterogêneos quanto à idade e qualificação. |
Homogêneos quanto ao nível de escolaridade. | Heterogêneos quanto ao nível de escolaridade. |
Lugar único de encontro. | Estudam em casa, local de trabalho. |
Residência local. | População dispersa. |
Situação controlada – Aprendizagem dependente. | Situação livre – Aprendizagem independente. |
Maioria não trabalha. | Maioria trabalha. |
Habitualmente, crianças, adolescentes e jovens. | Maioria adulta. |
Realiza-se maior interação social. | Realiza-se menor interação social. |
Educação é atividade primária. | Educação é atividade secundária. |
Tempo integral. | Tempo parcial. |
Fonte: Rede e-Tec Brasil – Metodologia EaD. |
Apesar de tantas e tão grandes diferenças entre aluno presencial e aluno a distância, a existência dos dois na sociedade, mesmo que em tempos diferentes, leva à adaptação de um ao outro. Conforme Pallaff e Pratt (2004, p.27), “o aluno virtual é aquele que sabe como trabalhar, e de fato trabalha, em conjunto com seus colegas para atingir seus objetivos de aprendizagem estabelecidos pelo curso”.
Além desses aspectos já mencionados, segundo Alves e Nova (2003), os alunos dos cursos a distância, mais que os dos cursos presenciais, necessitam ter motivações sérias e pessoais para que, efetivamente, tenham melhor aproveitamento, que respondam a uma necessidade e aos seus interesses.
A sala de aula, enquanto elemento que possibilita que em atividades de educação presencial estejam juntos fisicamente professor e alunos, tem endereço, lugar físico fixo. Mas, enquanto elemento que estabelece comunicação entre professor e alunos em atividades de educação a distância, sem a necessidade de que eles estejam juntos no mesmo espaço e no mesmo momento, não tem endereço, lugar físico.
[...] a sala de aula fica em qualquer lugar onde haja um computador, um modem e uma linha de telefone, um satélite ou um link de rádio. Quando um aluno se conecta à rede, a tela do computador se transforma numa janela para o mundo do saber (HARASIM et.al, 2005, p. 19).
Na EaD, na relação sala de aula, sem lugar físico fixo, o aluno é real-virtual e o professor também. Esse professor de dupla natureza tem como característica ser:
O professor que associa as tecnologias da informação aos métodos ativos de aprendizagem, desenvolve habilidades relacionadas ao domínio de tecnologias, articula esse domínio com a prática pedagógica e com as teorias educacionais, possibilitando ao aluno a reflexão sobre a sua própria prática, ampliando as possibilidades pedagógicas das Tecnologias da Informação. (MARTINS, 2002, p.28).
A EaD requer, portanto, professores formados de forma diferente. Os cursos de formação de professores tutores, professores autores, professores formadores e pesquisadores, ou quaisquer outras classificações deste sujeito, devem lhes potencializar o aproveitamento do aparato tecnológico disponível para cada metodologia utilizada. Nesse sentido, para Valente (2000):
[...] o processo de formação deve prover condições para o professor construir o conhecimento sobre as técnicas computacionais, entender o porquê e como integrar o computador na sua prática pedagógica e ser capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica e, com isso, possibilitar a transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno (VALENTE, 2000, p.104).
Entre estes diferentes tipos de professores existentes na EaD, o professor tutor responde pela maior parte do sucesso de um curso, pois ele, além de estar continuamente em contato com o aluno utilizando a tecnologia para mediar, orientar e estimular esse estudante para ser autônomo em sua aprendizagem, dá direção ao que foi posto em ação pelo professor formador a partir do que os professores autores e pesquisadores elaboraram.
Conforme Lázaro e Asensi (1989 apud SILVA, 2008), ser tutor na EaD é como sê-lo no presencial, pois:
Ser tutor é ser professor que se encarrega de atender diversos aspectos que não são tratados nas aulas. O tutor também é o professor, o educador integral de um grupo de alunos. A tutoria é uma atividade inerente à função do professor, que se realiza individual e coletivamente com os alunos em sala de aula [virtual ou física] a fim de facilitar a integração pessoal nos processos de aprendizagem; é a ação de ajuda ou orientação ao aluno que o professor-tutor pode realizar além de sua própria ação docente e paralelamente a ela. (LÁZARO e ASENSI, 1989 apud SILVA, 2008, p. 37).
Dessa forma, o trabalho do professor tutor é facilitar e mediar o diálogo entre alunos e professores, entre o aluno e o material disponível para estudo, entre o aluno e as tecnologias. Enfim, é promover produção de sentido ao processo de construção do conhecimento, pois essa interação cotidiana é imprescindível.
Por fim, a avaliação é outro importante aspecto didático-pedagógico da EaD. Considerando a modalidade do tipo colaborativa, em que se utiliza um ambiente virtual, a avaliação desse e nesse ambiente tem que ser abrangente e contínua e envolver todos os sujeitos participantes para a manutenção da qualidade do ensino-aprendizagem. Na avaliação, podem ser utilizadas todas as ferramentas do ambiente virtual, inclusive criar agentes gerenciadores com os quais se filtre nas respostas enviadas o que tiver sido determinado e selecionado como desejável de ser encontrado.