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Protocolo 04:
Produção de sabão ecológico como forma de integração bioquímica para a aprendizagem de reações químicas no ensino de ciências das escolas do campo

Elisandra Carneiro de Freitas Cardoso
Carlos Antônio Pereira Júnior
Higor Junior de Oliveira
Rodrigo da Silva Santos

Introdução

A relação homem-natureza pressupõe laços de convivência entre os seres humanos e o meio ambiente. No entanto, é sabido, que nesta relação, são notáveis os pontos de conflitos socioambientais. Segundo Carvalho (2011), um olhar mais atento às relações sociedade-natureza e sobre a arena de conflitos que surgem dessas relações vai perceber uma teia emaranhada de grupos sociais no campo e na cidade que lutam por legitimar formas de uso dos bens ambientais.

Dialogando com a discussão ambiental, o movimento da Educação do Campo, compreende o meio como espaço de vivências, cultura e bem estar do homem do campo. Várias são as práticas culturais dos povos do campo que harmonizam com o respeito ao meio ambiente.

Ao pensar o processo de ensino aprendizagem nas escolas do campo, percebe-se que podemos resgatar essas práticas culturais para o contexto de um ensino de ciências compatíveis com o campo da educação ambiental crítica. Na perspectiva de formar um sujeito ecológico capaz de identificar e problematizar as questões socioambientais e agir sobre elas (CARVALHO, 2011).

Nesse sentido é que propomos uma atividade que visa problematizar a questão do descarte de oléo de cozinha já utilizados a partir de uma prática cultural das comunidades campesinas que é a fabricação de sabão artesanal.

Tanto residências como estabelecimentos comerciais (restaurantes, bares, lanchonetes, pastelarias, hotéis) jogam o óleo comestível (de cozinha) usado na rede de esgoto, quando não diretamente em cursos de água. O óleo mais leve que a água, fica na superfície, criando uma barreira que dificulta a entrada de luz e a oxigenação, comprometendo assim, a base da cadeia alimentar aquática, os fitoplânctons. Além de gerar graves problemas de higiene e mau cheiro, a presença de óleos e gorduras na rede de esgoto, causa o entupimento da mesma, bem como o mau funcionamento das estações de tratamento. Para retirar o óleo e desentupir são empregados produtos químicos altamente tóxicos que causam danos irreparáveis ao meio ambiente (ALBERICI, PONTES, 2004). Estima-se que o tratamento de esgoto torna-se, em média, 45% mais oneroso, pela presença desse tipo de resíduo em águas servidas.

De outro modo, o descarte deste resíduo no solo mata a vegetação e os microorganismos, destruindo o húmus, causando infertilidade da área, podendo atingir o lençol freático, inutilizando os poços da região de entorno (GOMES, et al, 2013).

Portanto, tanto no ambiente urbano como no rural a qualidade do meio ambiente, especialmente água e solo, fica comprometida com o descarte do resíduo de óleo utilizado na culinária. No entanto, não podemos ter a visão ingênua de que apenas residências e comércios são responsáveis por esse tipo de poluição ambiental. A indústria de alimentos em processos de fritura gera grande quantidade de resíduos de óleo ou gordura hidrogenada. Além disso, existe também o descarte de outros óleos tóxicos ao meio ambiente e a saúde, como na indústria petrolífera e automotiva.

Contudo, a perspectiva de problematizar o descarte doméstico do óleo comestível pode ser pensada como uma problemática local que pode ser ampliada para a discussão a níveis globais (regional, nacional e mundial).

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Objetivos

Materiais

Procedimentos

  1. Becker ou copo de 250 mL ou 500 mL, e provetas ou qualquer medidor de volume de 50 mL;
  2. Separar os reagentes: óleo ou gordura (aquecer para derreter a gordura), etanol (álcool de posto de gasolina) e Hidróxido de Sódio (soda cáustica);
  3. Adicionar 60 g ou 70 mL do óleo ou gordura.
  4. Medir 40 mL de álcool na proveta e misturar ao óleo ou gordura. Acrescentar aos poucos e sob bastante agitação, mexer 5 minutos;
  5. Medir em um Becker ou copo, com auxílio da balança, 10g de soda cáustica e acrescente 20 mL de água filtrada;
  6. Misturar as duas soluções em uma forma lentamente;
  7. Mistura entre as duas soluções;
  8. Mexer bem (pode-se aquecer para acelerar a reação);
  9. O sabão vai se formando lentamente com a agitação;
  10. O sabão quase formado com a agitação da mistura;
  11. Separar em uma vasilha para secar;
  12. Sabão pronto.

Discussões

As gorduras animais (boi, porco, carneiro entre outras) ou óleos vegetais (soja, girassol, algodão entre outros) são ésteres de ácidos carboxílicos de cadeia longa (ácidos graxos). A reação química entre soda cáustica (NaOH) com ácidos graxos (gorduras ou óleos) resulta em um tipo de molécula específica chamadas de sais de ácidos graxos ou sabão (VERANI et al, 2000). De forma resumida podemos no referir a essa reação como uma hidrólise alcalina ou ainda reação de saponificação.

Figura 1: Reação de saponificação

Nesse sentido compreendemos que as discussões que podem ser elencadas com essa prática versam conteúdos da biologia e da química de forma integrada. Podem ser articulados conhecimentos relativos sobre os lipídeos (biologia) e solubilidade (química), por exemplo.


Referências

ALBERICI, R. M.; PONTES, F. F. F. Reciclagem de óleo comestível usado através da fabricação de sabão. In: Engenharia Ambiental, v. 01, n. 01, jan./dez., 2004.

CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

GOMES, A. P. et al. A questão do descarte de óleos e gorduras vegetais hidrogenadas residuais em indústrias alimentícias. In: Anais do XXXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador, Bahia, 2013.

VERANI, C. N., GONÇALVES, D. R. e NASCIMENTO, M. G. Sabões e Detergentes como Tema Organizador de Aprendizagens no Ensino Médio. Química Nova na Escola. Nº 12. Novembro. 2000.