Nucleo temático 2 • Performances e Arte/Educativas
e-arte-educação-crítico-cultural-...
Terezinha Losada
Professora de Arte e Educação do curso de Pedagogia/UNIRIO
Por meio do vigor conectivo do hífen, creio que a expressão “e-arte-educação-crítico-cultural” sintetiza a proposta do curso de especialização em Arte/Educação Intermidiática Digital, desenvolvido pela Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC), da Universidade Federal de Goiás (UFG). Neste módulo, tais conexões são provocadas em torno do conceito de Performance.
De modo dialógico e colaborativo, a disciplina Performance: Fundamentos e Conceito, coordenada por Fernanda Cunha, em parceria com seus orientandos: Ana Rezende, Elaine Cruz, Eurin Pinto, João Marcos de Souza e Mariana Taglinni; investiga as diferenças e as interfaces das manifestações performáticas nas vanguardas artísticas, nas relações sociais, na cultura das mídias e na Educação.
Os fundamentos antropológicos do conceito de performance são abordados na disciplina coordenada por Iolene Lobato. Contudo, ela já os projeta para o campo das pesquisas de metodologias de ensino. Num fértil exercício de teoria aplicada, os conceitos de Etnocentrismo, ligado a identidade cultural, e de Relativização, ligado à alteridade, são apresentados como estratégias para a necessária construção de práticas educativas que valorizem a diversidade cultural.
Sem qualquer receita, senão a do permanente espírito sensível e crítico, a disciplina coordenada por Elaine Izabel trata especificamente das metodologias educacionais. A partir da análise de projetos já realizados, ela problematiza “O papel das tecnologias digitais na e-arte/educação: o mercado cultural internacional versus educação intermidiática crítica”.
Mobilizados por essas discussões, os alunos são convidados ao exercício poético-pedagógico de criação de Projetos de Ensino em Arte/Educação na disciplina assim denominada, também sob a coordenação de Fernanda Cunha.
Em suma, este módulo explora o conceito, os modos e a efetiva ação educativa, entendida como performance cultural intermidiática. Podemos então perguntar: Por que as artes e as mídias são fundamentais nesta proposta?
Ao criar sua teoria do processo comunicativo, o principal objetivo do linguista russo Roman Jakobson foi o de que a linguagem deixasse de ser estudada apenas como um sistema formal e pudesse ser analisada, também, em suas performances, isto é, nos seus usos concretos. Projetando sua teoria para o campo da educação podemos dizer que um professor (emissor) ao planejar uma aula (mensagem) para os seus alunos (receptor) sobre qualquer tema da realidade (referencial), seja esse tema ligado às ciências naturais, ou às ciências humanas, ou ao cotidiano, este último também chamado de temas transversais, ele precisa necessariamente dispor, como destaca Jakobson, de algum “código” e de algum “canal”.
Na tradição educacional do “cuspe e giz”, o código foi sempre a explanação lógica por meio da linguagem verbal e o canal o quadro negro. Portanto, as diversas linguagens artísticas (Música, Teatro, Audiovisual, Dança, Artes Visuais etc.), bem como as múltiplas mídias digitais, se inscrevem na estrutura curricular com o propósito de oxigenar e diversificar os códigos e os canais de construção do conhecimento. Por essa mesma razão, os estudos de Gardner sobre as inteligências múltiplas, tiveram grande impacto nas teorias educacionais.
No entanto, para cumprir essa função instrumental nas metodologias de ensino em qualquer área científica, ou tema do cotidiano, tal como ocorre no ensino de língua portuguesa, o ensino das artes também precisam ter seu espaço disciplinar garantido, com carga horária definida, para que o aluno seja “alfabetizado” nessas múltiplas linguagens. Em síntese, o aluno precisa aprender a ler (apreciar) e escrever (fazer) nestas diferentes linguagens. Não de modo estanque e acrítico, mas de modo articulado e contextualizado, como defende Ana Mae Barbosa em suas formulações sobre a Abordagem Triangular.
Por outo lado, embora de grande importância, não se pode restringir o ensino das linguagens artísticas a essa função instrumental. Posto que, distinta da racionalidade científica, as artes, incluindo a Literatura, constituem uma forma especial - estética e lúdica - de representação do mundo. Elas são ao mesmo tempo universais e particularíssimas. Isso porque, as artes divisam no tempo, no espaço e principalmente nas circunstancias de vida a diversidade humana. Em outras palavras, a arte representa a experiência cultural em suas múltiplas diferenças individuais, religiosas, sociais, econômicas, raciais, etárias, de gênero, de opção sexual etc.
Exatamente por isso a ênfase nas artes e nas mídias torna esse curso tão importante para o mundo atual e para a educação em particular.