Todos os trabalhos, espetáculos, formações e publicações aqui apresentados, do grupo de dança Diversus, ainda são realizados na mesma sociedade apresentada no início deste livro.
É uma sociedade que ainda se espanta com a diferença inerente ao ser humano, usando como justificativa padrões de normalidade que excluem a maioria de nós. Como dissemos, o mundo da dança ainda repete esses mesmos preconceitos e padrões, reforçando o padrão normativo de corpo excludente.
A pessoa com deficiência na sociedade e na dança vivencia o preconceito da visão capacitista e assistencialista da deficiência, que proporciona a dificuldade de se enxergar essa pessoa como um artista com potencial e eficiência. Infelizmente, apesar da legislação, as pessoas com deficiência não têm nem mesmo seu direito de arte acessível, com libras, audiodescrição e outras normas de acessibilidade, respeitado, nos espetáculos de dança.
A concepção hegemônica encontrada ainda hoje no mundo da dança não exclui apenas as pessoas com deficiência, mas pessoas são excluídas da dança em razão da sua idade, do gênero, peso, da etnia, experiência e de tantas outras características.
Acreditamos que, no grupo de dança Diversus, temos feito diferente, dando lugar, ampliando a voz e mostrando eficiência na diversidade por meio do pensamento da decolonialidade da dança. Além disso, temos mostrado formas outras de vivenciar a dança e mudado as relações de poder constituídas no modo de se fazer dança.
Nesse ebook, revelamos as ações do grupo de dança Diversus no campo dos processos e das experiências formativas, educacionais e artísticas em dança, com e para pessoas com e sem deficiência. Buscamos, deste modo, fazer um exercício de alteridade profunda, discutindo preconceito, capacitismo e educação para direitos humanos.
Foi com muita alegria e orgulho que apontamos aqui nossos espetáculos, mostrando que é possível fazer dança abraçando e valorizando a diversidade de corpos em todas suas dimensões, com diversidades etárias, de gênero, experiências, eficiências, tamanhos, cores, entre outras muitas diversidades presentes em nossos espetáculos.
Algumas ações de acessibilidade aqui expostas não atendem exclusivamente pessoas com deficiência e nos fazem, muitas vezes, esquecer e negar que fazemos dança inclusiva, pois a inclusão é tão natural na forma que trabalhamos que acontece espontaneamente. No nosso grupo, não existe um grupo que precisa ser incluído por conta de alguma característica específica, afinal, somos todos diversos. É justamente a diversidade e a diferença que nos unem, que nos fortalecem e que dão sentido para nossa arte e nossa dança.
Como dissemos, aqui expusemos a trajetória e os caminhos do grupo de dança Diversus, na busca por uma dança que inclui, acolhe, é acessível e se utiliza do desenho universal e da poética dançante para fazer arte e dança.
Esperamos que, com os espetáculos Endless, “Transbordar”, “Cartas ao tempo”, “Fronteiras” e “Fragmentos de fronteiras”, possamos provocar outras ações de dança decoloniadora, acessível e diversa.
Ainda temos muito a percorrer com outros espetáculos e formações para respeito à diversidade por meio da dança. Quando respeitamos e valorizamos a diversidade, sabemos que nunca estaremos finalizados, prontos e perfeitos para atender adequadamente todos os artistas e públicos. Quando se atua verdadeiramente com o respeito à diversidade, sabemos que temos muito o que aprender sempre com cada pessoa (artista ou público) que cruza nosso caminho. Estar pronto para aprender com o outro, trocar conhecimento e reconhecer com gratidão o conhecimento que o outro nos proporciona é regra básica para qualquer arte ou dança que pretende ser inclusiva e diversa.
Viva a diversidade!!! Viva o grupo de dança Diversus!!