Nosso primeiro espetáculo de maior porte foi a remontagem do Espetáculo Endless, no ano de 2018, dirigido por Henrique Amoedo, que surgiu após o intercâmbio da professora Marlini Dorneles, realizado em Portugal, no grupo de dança “Dançando com a Diferença”, do também diretor Henrique Amoedo.
A possibilidade de discussão e educação dos direitos humanos surgiu por meio do espetáculo Endless, que significa “sem fim” e teve como objetivo relembrar os horrores vividos no holocausto, quando houve milhões de mortos. Esse espetáculo foi criado em 2011/2012, por meio de um projeto europeu que se chamou “Aprendizagem ao longo da vida”, em parceria com a Alemanha, Polônia, Lituânia, Estônia e Portugal. Foi sucesso na Europa. Para sua concepção, as(os) bailarinas(os) e o diretor do Dançando com a Diferença fizeram visitas nos campos de concentração, principalmente no de Auschwitz.
O espetáculo Endless proporciona um olhar para o que aconteceu no holocausto, como uma forma de pensar outros momentos históricos e o que acontece atualmente nos diferentes espaços, possibilitando uma reflexão para que as barbaridades vividas não se repitam.
O holocausto foi responsável pela morte de aproximadamente 6 milhões de pessoas, entre elas mulheres, crianças, judeus, ciganos, homossexuais, pessoas com doenças mentais e 200 a 250 mil pessoas com deficiência. Essas pessoas foram mortas porque se acreditava que elas não deviam fazer parte da sociedade. Esses horrores se iniciaram pelo preconceito e pela falta de respeito à diversidade humana.
Página 11O Diversus apresentou o espetáculo Endless em 2018, na cidade de Goiânia, o qual teve o fomento do Fundo de Arte e Cultura de Goiás (2017). O projeto movimentou a cena da dança na cidade de Goiânia, pois contou com mais de 90 artistas, bailarinas(os), musicistas e cantoras(es) em cena, entre eles alguns artistas portugueses que vieram dançar com e elenco brasileiro.
Foram realizados workshops, momentos formativos com artistas e professores e, posteriormente, uma residência com o diretor da companhia Henrique Amoedo. O projeto também promoveu formações em escolas e entidades de educação especial, nos cursos de graduações em dança e em uma escola de formação técnica de teatro e dança da cidade de Goiânia.
Alguns momentos formativos e de vivência foram fundamentais para a preparação do elenco para o espetáculo. Tivemos palestra, quando Henrique Amoedo apresentou como foi a concepção do espetáculo, discutimos o que cada um entendia sobre o holocausto e suas relações com as cenas do Endless. Fizemos também rodas de conversa sobre relações do preconceito, desrespeito com a diferença e o holocausto, além de assistirmos filmes sobre o holocausto e seus horrores.
Página 13Na preparação para os espetáculos, também fizemos algumas vivências corporais que fazem parte da cena, mas que, contextualizadas na preparação, nos proporcionaram imaginar e sentir um pouco dos horrores que as pessoas viveram no holocausto. Um exemplo foi o exercício de, em pé, flexionar os joelhos lentamente e permanecer nesse movimento até a exaustão. O objetivo foi refletir e sensibilizar sobre as mortes que aconteceram pela exaustão por causa dos trabalhos submetidos nos campos de concentração.
Outra vivência consistia em ficarmos bem juntos, em um círculo. As(os) bailarinas(os) em volta fechavam cada vez mais esse círculo, apertando todos para que se juntassem cada vez mais. A intenção era refletir e vivenciar um pouquinho o sufoco que as pessoas passaram nas câmaras de gás, onde tiveram falta de ar. Apesar de não chegar nem perto do que as pessoas viveram no holocausto, essa vivência provocou um maior entendimento e sensibilização a todas(os) os(as) bailarinas(os).
Página 14Outras vivências no ensaio nos fizeram refletir e às vezes nos emocionar, como ainda ouvir sons de tiros e soltar o corpo ao chão. Isso nos fez pensar que esse som significou o último a ser ouvido pelas vítimas dos fuzilamentos.
O projeto finalizou com três dias de apresentação do espetáculo Endless, contando com um significativo número de público e uma grande repercussão nas mídias local, nacional e internacional.
A remontagem teve um plano de acessibilidade tanto nos ensaios quanto para o público diverso nos dias das apresentações do espetáculo, com audiodescrição e algumas estratégias inovadoras e inclusivas.
A acessibilidade na arte ainda é um tema pouco discutido, e alguns princípios precisam ser repensados para que a preservação da subjetividade da interpretação do espectador seja considerada. Por exemplo, a discussão sobre a neutralidade do audiodescritor tem que ser avaliada quando se quer proporcionar para a plateia com deficiência visual a emoção do espetáculo, para além de aspectos puramente visuais como cor da roupa, posição dos corpos e movimentos. Já sobre a dança e sua acessibilidade para pessoas surdas, é necessário ponderar o papel e o lugar que o intérprete ocupa na obra, e, neste sentido, podemos avançar com propostas inovadoras. É preciso sair da proposta única de um intérprete em um foco de luz fora do espetáculo, que tira a visão da pessoa como um todo. Como exemplo, trazer para o espetáculo um vídeo de um intérprete de Libras em uma tela transparente, à frente da cena ou interpretada por bailarinas(os) surdas(os), fazendo parte do espetáculo.
Página 15 Página 16Algumas fotos do espetáculo representam um pouco do que foi esse momento com 60 artistas, entre bailarinas(os) no palco, musicistas, cantores(as) e atores(atrizes), ao todo aproximadamente 90 pessoas envolvidas na produção. Houve a participação de pessoas com diversas idades, pessoas com e sem deficiência, pessoas com e sem experiência em dança, de diferentes gêneros, realidades sociais, ou seja, pessoas diversas, muitas com as mesmas características que levaram as pessoas a morrerem no holocausto.
As fotos a seguir foram apresentadas na Exposição (Re)existência, uma exposição sensorial e acessível, com fotos de autoria do coletivo do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), sob direção de Júlia Mariano, com fotos de Lara Vitória Guimarães, Hudson Cândido, Nilma Ayumi, Mikaela Pasa, Maycon Douglas e a própria Júlia Mariano.
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