História de pessoas com Síndrome de Down A inclusão escolar

Considerações Finais

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Os relatos apresentados aqui nesse livro possibilitam conhecimento de aspectos sobre características das pessoas com Síndrome de Down, de suas famílias, de dificuldades da família em buscar uma escola que atenda aos seus anseios e das vivencias dessas pessoas no ambiente escolar.

Várias escolas se propõem a oferecer vagas para esses alunos, porém nem todas elas estão aptas a recebê-las, tendo em vista a falta de material, instalações inadequadas e, até mesmo, recursos humanos sem capacitação, apesar de haver relatos de pais que percebem a preocupação de algumas escolas em garantir projetos voltados para o sucesso social e de aprendizagem, com experiências benéficas para todos os envolvidos no processo de inclusão.

O amor e a luta das famílias ficaram claro nas histórias aqui trazidas e outros pontos puderam ser observados. Inicialmente é importante apontar que o nascimento de uma criança com síndrome de Down em uma família traz reações, pensamentos e vivencias diferentes. Da mesma forma a gente não pode esperar, que toda dinâmica familiar aconteça da mesma forma, pois as famílias são diferentes. E principalmente, pudemos notar que as pessoas com síndrome de Down apresentam características psicológicas, sociais, comportamentais e de desenvolvimento diferente entre as outras pessoas com síndrome de Down. Esse fato é importante pois não podemos generalizar, o único fato que com certeza tem em comum é a trissomia do cromossomo 21, mas inclusive o número de células trissômicas pode ser diferente (DALLA DÈA; DUARTE, 2009).

Tivemos vivencias positivas e negativas apresentadas nesse livro. Nosso objetivo nesse livro é apresentar as histórias na integra para que na sua leitura professores, gestores da escola, familias e formadores possam realizar suas análises, no entanto alguns fatos podem ser apontados nos relatos.

Gostamos sempre de apresentar e ressaltar as vivencias positivas, pois elas mostram que a escola inclusiva é possível e que existem muitos professores conscientes e inclusivos.

O planejamento realizado pelos professores e profissionais para atender adequadamente a diversidade escolar foi apontado por alguns pais como um caminho seguro para a inclusão escolar. São muitos os estudos que apontam para a necessidade e eficiência de planejamento adequado para a escola inclusiva (ABREU, 2009; MAHL, 2012; FILUS, 2011; BEZERRA, 2010; ABREU, 2009; DALLA DÉA; DALLA DÉA, 2020). A própria legislação aponta da necessidade de planejamento para atuação docente eficiente. A Lei Brasileira de Inclusão apresenta como um direito da pessoa com deficiência o estudo de caso e o planejamento educacional individualizado que visa o desenvolvimento de cada estudante e suas especificidades, respeito às diferenças e valorização da diversidade na escola.

Outro ponto que nos chamou a atenção é o quanto nessas histórias a Educação infantil é apontada como um espaço mais inclusivo que os demais níveis de educação. No entanto se a criança permanece mais tempo em uma mesma escola com mesmos colegas parece minimizar a possibilidade de experiencias negativas como o preconceito.

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Nos relatos quando os pais apresentam vivencias positivas no ambiente escolar esses algumas vezes as relacionam com o conhecimento do professor sobre as características, dificuldades e possibilidades das pessoas com síndrome de Down. Relatam que esse fato favorece a criação de estratégias e materiais mais inclusivos. O artigo 28 da Lei Brasileira de Inclusão relata que a formação docente deve atender a demanda de professores de apoio especializado, mas, que também deve proporcionar conhecimentos específicos para todos os professores que irão atuar na escola, com inclusão de conteúdos curriculares na formação docente superior e técnica de temas relacionados à pessoa com deficiência (BRASIL, 2015).

A boa relação com os colegas da sala e da escola também foi apontada como positiva para a inclusão escolar mais adequada e feliz. A escola é um passo importante para preparar as pessoas para conviver na sociedade e uma vivência amigável com os colegas pode favorecer para a formação de adolescentes e adultos com síndrome de Down mais preparados para lidar com a sociedade. Smeha e Seminotti (2008) mostram que a mediação do professor com as crianças, para uma convivência amigável com a diferença pode minimizar uma estranheza e distanciamento social.

Como dissemos na introdução desse livro verificamos nos estudos e no cotidiano na Asdown que muitos adolescentes e adultos com síndrome de Down não são alfabetizados. Sabemos que a deficiência intelectual é uma das características da Síndrome de Down o que pode dificultar ou até impedir a alfabetização completa (NETO; DALLA DÉA, 2020). No entanto é possível. Com a inclusão escolar e estímulos adequados a chance de uma pessoa com deficiência intelectual atingir um nível de alfabetização que a permita ter uma vida mais independente e atuante na sociedade aumenta significativamente.

Dentre nossas histórias pudemos verificar que, segundo a percepção dos pais, cinco pessoas com síndrome de Down aprenderam a ler total ou parcialmente, e seis não conseguiram aprender a ler. Que os casos de pessoas com síndrome de Down que aprenderam a ler teve maior relação com experiencias positivas no ambiente escolar, com estímulos e incentivos de algum membro da família.

As pessoas com síndrome de Down por conta da deficiência intelectual necessitam de acessibilidade pedagógica e comunicacional que são previstas como direito no ambiente escolar na legislação (BRASIL, 2015). Ações como respeitar o ritmo de aprendizagem, repetir mais vezes e com vocabulário adequado a informação, apresentar estímulos sensoriais diversos, utilizar-se de conteúdos que as crianças tenham afinidade para ensinar novos conteúdos, são algumas das possibilidades pedagógicas que podem ampliar, não só a possibilidade da pessoa com síndrome de Down aprender, mas como a aprendizagem de todos os estudantes, favorecendo assim o desenho universal da aprendizagem. Nas histórias aqui contadas os pais relacionam o fato de seus filhos estarem sendo alfabetizados com ações pedagógicas previamente planejadas, materiais adaptados, respeito ao tempo de aprendizagem e presença de profissional de apoio.

Outro fato apontado em alguns relatos é a importância da afetividade e demonstração de aceitação por parte de professores de apoio, professores regentes, diretores e funcionários para inclusão escolar. Para qualquer criança a afetividade é propulsor para comportamentos adequados e processo de aprendizagem. Uma escola e corpo docente afetuoso favorece a formação de pessoas mais inclusivas, empáticas e respeitosas (DE PAULA E FARIA, 2010).

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A participação familiar é outro direito previsto na Lei Brasileira de Inclusão que pode favorecer a inclusão escolar (DALLA DÉA, DALLA DÉA; 2020). Como já dissemos não podemos generalizar as famílias e suas atitudes apenas porque possuem filhos com síndrome de Down. Existem famílias mais e outras menos participativas na escola de seus filhos. Mas a escola e os professores podem incentivar essa participação e chamá-las para atuarem junto com a escola na educação e aprendizado dos estudantes. Os estudantes passam mais tempo em casa do que na escola, assim seus cuidadores podem trazer informações importantes sobre seu desenvolvimento e comportamentos para aprendizagem acadêmica. A família pode fazer parte de uma rede colaborativa em prol do desenvolvimento dos estudantes.

Nas histórias também foi possível verificar vivencias desastrosas no ambiente escolar como falta de professor de apoio, de trabalho colaborativo, a exclusão em momentos festivos, falta de planejamento, desconhecimento e falta de formação docente, falta de habilidade do professor em lidar com comportamentos inadequados, insensibilidade, falta de afetividade e preconceito. Cada ponto desses apresenta características e conteúdos importantes de serem discutidos na formação inicial e continuada de professores.

Pudemos verificar que mesmo após décadas de luta das pessoas com deficiência pelos seus direitos e de inúmeras leis e diretrizes que defendem o direito à educação inclusiva e acessível, ainda é possível verificar muitos desafios e vivencias desastrosas dentro do ambiente escolar. Lutamos pela inclusão escolar por vários motivos.

O primeiro motivo de termos uma escola mais inclusiva é que isso resulta em uma sociedade mais inclusiva. Em tempos de tantas discórdias, preconceitos e violência a única forma de modificar a sociedade é por meio da educação.

Outro fato que nos faz lutar pela escola inclusiva é que a presença das pessoas com deficiência na escola favorece práticas pedagógicas diferenciadas e mais acessível à todas as pessoas. Temos de considerar que a diversidade cognitiva, auditiva, visual, motora, social, histórica e tantas outras, não é uma característica exclusiva das pessoas com deficiência. Todos aprendemos de formas diversas e as práticas pedagógicas hegemônicas não atendem as diversidades do processo ensino aprendizagem. Assim uma escola mais diversa é aquela que tem maior qualidade de ensino para todos os alunos.

Poderíamos apresentar diversos motivos para que a escola inclusiva seja motivo de luta para todos os professores. Cada história aqui apresentada, cada vivência positiva ou negativa são motivos enormes para que cada dia a gente caminhe um passo para um dia concluirmos a viagem distante que teremos ainda para um mundo mais justo, humano, inclusivo, acessível e sensível.

Finalizamos aqui essa discussão, mas o caminho para escola inclusiva está apenas iniciando.