História de pessoas com Síndrome de Down A inclusão escolar

Apresentação

Página 1

Apesar do direito à inclusão escolar estar bem definido nas legislações brasileiras, ainda temos muitos desafios ao lutar por uma história no ambiente escolar que seja digna, com aprendizagem e feliz.

Nossa quantas dúvidas e inseguranças passam na cabeça de uma mãe ou pai ao deixar sua ou seu filho pela primeira vez em uma escola. Um ser pelo qual temos tanto amor, que acreditamos ser tão dependente da gente, e que temos de deixá-lo tão pequeno em um mundo tão grande que é a escola. A sensação é de mistura de alegria, medo e culpa. Essa é uma experiência que todos os pais vivenciam e é muito difícil encontrar alguém que não sentiu esse momento com muitas emoções.

Imagina agora se seu filho ou filha tem uma deficiência. Quando você chega na escola com aquele ser pequeno, e que todas as inseguranças que eu já disse são somadas ao capacitismo e despreparo da sociedade frente à pessoa com deficiência. Já na entrada os outros pais olham com desconfiança, às vezes com pena, outras com medo, e tantos olhares preconceituosos e desinformados. A equipe escolar muitas vezes não recebe nossos filhos da mesma forma que receberia uma criança sem deficiência pois acreditam que terão mais trabalho e que nossos filhos podem atrapalhar a dinâmica escolar. Muitas vezes, ainda hoje, muitas famílias nem isso conseguem vivenciar, pois a matrícula é negada ou “sugerido” que seja feita em outro lugar... Que momento difícil e inesquecível...

Infelizmente ainda é minoria, mas temos alguns relatos de alegria e sucesso na história de pessoas com deficiência no ambiente escolar. Onde a escola valoriza a diferença e entende que acolher a diversidade é acolher a sociedade como ela realmente é. Estudar em uma escola que respeita a diversidade é formar pessoas mais humanas, mais sensíveis, mais autoconfiantes, que respeitam as eficiências e deficiências existente em seus colegas e em si mesma. Uma escola que abraça o desenho universal da aprendizagem, e a acessibilidade pedagógica, arquitetônica, comunicacional, informacional e outras, é cultivar a educação de qualidade e acessível para todas as crianças. A escola que atende com qualidade as pessoas com deficiência consegue proporcionar qualidade de aprendizagem para todos.

Essa é a vivência e luta de diversas famílias brasileiras. Uma revisão de dados do IBGE mostrou que em 2018 o número de pessoas com deficiência no Brasil era de 12,7 milhões, o que significava 6,7% da população. Anteriormente o mesmo instituto divulgou que o número de pessoas com deficiência seria muito maior, com 45,6 milhões de pessoas, ou seja 23,9% da população. Essa confusão aconteceu porque, 6,7% dos brasileiros realmente apresentam alguma deficiência, mas o número de pessoas que apresentam alguma dificuldade visual, auditiva, cognitiva ou motora é muito maior, e talvez supere os 23,9% pesquisados. Assim uma sociedade e uma escola inclusiva e acessível não proporciona qualidade de educação apenas para 6,7% dos estudantes, mas para os 23,9% com alguma dificuldade. E acreditamos ainda que em algum momento essa escola inclusiva e acessível faça diferença e amplie a condição de ensino-aprendizagem de 100% dos estudantes.

Página 2

Assim essa deveria ser a luta de todas as famílias.

Nesse contexto esse livro traz um riquíssimo material para discussão, reflexão e formação de uma escola para todos. Os capítulos desse ebook são referentes às histórias de vida de 10 famílias, ou 11 pessoas com síndrome de Down, com ênfase nos caminhos da inclusão/exclusão escolar.

Os relatos de histórias de vida foram escritos por mães e pai que fazem parte da Associação Síndrome de Down de Goiás (ASDOWN), com fatos que tiveram relevância para suas histórias e de seus filhos na vida familiar, na sociedade e na escola.

É fruto de uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás intitulada “Caminhos, dificuldades e acertos da escola regular na inclusão de pessoas com síndrome de Down: relato de pais”, escrito pela professora Camila de Velasco e Vieira, orientado por mim.

Esse livro é organizado por duas professoras com diferentes experiencias, mas que tem em comum a luta pela escola inclusiva. A Camila teve a Educação sempre parte de sua minha vida, cresceu presenciando as lutas da mãe, na escola, como diretora e professora. Foi Secretária de Educação Municipal em Cromínia, fez Pedagogia, se especializou em Neuropedagogia, Docência do Ensino Superior e Psicopedagogia, foi diretora de um Centro Municipal de Educação Infantil. Ao trabalhar por três anos no Estado, percebeu a necessidade de pessoas qualificadas para atender as crianças com deficiência. Assim fez mestrado em ensino na Educação Básica que resultou nessa linda pesquisa. Eu, Vanessa, sou professora da universidade Federal de Goiás, graduação, mestrado, doutorado e dois pós-doutorados envolvida e estudando inclusão. Sou mãe de um casal, sendo que minha filha tem síndrome de Down. A luta pela inclusão se apresenta na minha vida, no cotidiano com minha filha na escola comum, na formação de professores na universidade, e como ativista e participante na Associação Síndrome de Down de Goiás junto com outras famílias.

As histórias e pesquisa apresentada aqui veio contribuir para minha necessidade de reflexões. Conhecer relatos sobre pessoas com Síndrome de Down e entender este Universo, na Associação Síndrome de Down de Goiás - Asdown - abriu as portas para mim, e então conheci famílias que tinham a necessidade de lutar por vidas melhores para seus filhos, fazendo valer seus direitos constitucionais.

Aqui você encontrará histórias onde os pais se identificassem e identificassem seus filhos, dizem como é ser pai ou mãe de pessoa com Síndrome de Down, descrevem como foi o desenvolvimento da(o) filha(o), como era o convívio da criança com a família e a sociedade, como foram as estimulações que o filho teve desde o nascimento, e finalmente dizem como foi a inclusão, acolhimento e o desenvolvimento do seu filho na escola comum, apontando pontos positivos e pontos negativos.

Acreditamos que não existe escola inclusiva que não conheça as realidades, vivências, alegrias e tristezas vividas nesse ambiente pelos estudantes e suas famílias. Esperamos que você se delicie com essas emocionantes histórias.

Vanessa Helena Santana Dalla Déa