Acessibilidade e Inclusão no ensino superior Reflexões e ações em universidades brasileiras

Boas vindas e Apresentação

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Prof. Dr. Cleomar Rocha
Universidade Federal de Goiás

Há tempos adotamos a acessibilidade como um valor para além da mera obrigação. E é neste espírito de valoração que o livro Acessibilidade e Inclusão no Ensino Superior: reflexões e ações em universidades brasileiras, organizado por Ana Claudia Antonio Maranhão e Vanessa Helena Santana Dalla Déa, nos convida a um conjunto de reflexões. Em oito densos capítulos, o livro nos apresenta um panorama sobre acessibilidade em universidades brasileiras. De Norte a Sul do país, especialistas discorrem sobre políticas e práticas voltadas para a inclusão e acessibilidade em universidades públicas e particulares, compondo um precioso quadro geral do tema, um retrato da condição de acessibilidade no ensino superior brasileiro.

Se a história nos relata as lutas e desafios tidos pelas pessoas com deficiência em todos os campos e espaços, é no ensino superior que o desafio encontra um dos cenários de superação e emergência. Como não poderia deixar de ser, pesquisas e desenvolvimento de novos produtos, práticas e políticas de incentivo à acessibilidade têm respondido por uma quase revolução nesse setor, com ações afirmativas que implementam, incentivam e modelam uma gama de realizações para reafirmar o que atualmente parece uma obviedade: é preciso garantir cidadania para todos. E este compromisso inclui a formação superior, mas, mais que isso, inclui um esforço de pesquisa, de proposições e realizações que emerge no contexto universitário, exemplificando todo um potencial que faz ver que, em universidades brasileiras, o tema não é apenas para reflexão, é uma perspectiva social com firmes propósitos atitudinais. Ainda que se esbarre em questões de acessibilidade física e arquitetônica, cujos custos por vezes impedem o amplo atendimento aos princípios modelizados da área, são nítidos os resultados das ações implementadas nas universidades, com repercussão em toda a sociedade. Isso significa dizer que as universidades brasileiras não estão apenas ensinando seus discentes, mas atuam no coração da sociedade, modelando uma nova concepção de cidadania, cada vez mais inclusiva, verdadeiramente.

Os vinte e dois autores que assinam os capítulos deste livro dão mostras de como preocupações se convertem em ações, em transbordamentos do locus institucional, na exata medida em que tais ações têm início na esfera acadêmica, mas ultrapassam esse espaço institucional e, como a própria noção de educação, alcançam a sociedade, provocando mudanças de comportamento social para além das salas de aula, para além dos muros universitários.

Os casos relatados abrangem aspectos específicos, como o comitê de tradução e interpretação de libras/português na UFRN ou as ações afirmativas voltadas para jovens com altas habilidades na UFPR, até questões gerais, como as políticas de inclusão e acessibilidade a partir de bases legais gerais e institucionais.

Talvez por tudo isso não seja descabido dizer que o leitor tem em mãos, ou na tela, o reflexo de um tempo, algo tão especial quanto o próprio tema. Mais que relatos e reflexões, este livro nos ajuda a compreender o espírito de um pensamento convertido em ações. Inquieta e nos desafia a repensar as práticas nas instituições não apenas de ensino superior, mas na sociedade como instituição maior. Oxalá que as palavras registradas neste livro toquem mentes e corações, arrebatando novos guerreiros para uma causa que é nossa, porque todos nós podemos fazer a diferença, todos nós podemos ser, também, especiais.

O transbordamento apontado, de como o tema se converte em ações e ultrapassa a esfera acadêmica, é brilhantemente personalizado nos textos seguintes, que ilustram como o desejo se converte em reflexões e este em ações, as quais são registradas em livro e saltam os muros institucionais para alcançar mentes em vários lugares, suscitando novas ações mundo afora e mentes adentro. Mais que relatos em instituições, o livro faz um convite ao leitor para compreender a realidade social, ainda em construção, sobre um tema carente e urgente para um século que elege a cultura do acesso e do compartilhamento como zeitgeist. E é nessa perspectiva que letras, isoladamente ordinárias, se juntam em discursos que se tornam extraordinários: a acessibilidade como valor social. Sejamos todos especiais.