A alfabetização e letramento da pessoa com síndrome de Down ainda é um desafio. Temos vivenciado nas Associações de e para pessoas com Síndrome de Down e nas escolas especiais e inclusivas o grande número de pessoas com essa característica analfabetas.
Sabemos que a deficiência intelectual, característica mais frequente dessa síndrome, dificulta esse processo. No entanto pelos anos de vivência e pesquisa com essas pessoas, verificamos que muitos casos, a falta de conhecimento e ações pedagógicas adequadas do professor impede a alfabetização de indivíduos, que mesmo com a deficiência intelectual, teriam condições de concretizá-la.
Os traços físicos marcantes das pessoas com síndrome de Down ainda suscitam estereótipos e preconceitos relacionados com ineficiência e falta de capacidade. Dessa forma muitas vezes o professor não reconhece a eficiência dessas pessoas, focando apenas nas deficiências e deixando de proporcionar oportunidades de aprendizagem.
Apesar de que hoje essa realidade já tem apresentado mudanças, com exemplos que demonstram se tiverem oportunidades e condições a capacidade de desenvolvimento acadêmico, pessoal, social e profissional dessas pessoas tem superado expectativas.
Vemos na sociedade pessoas com síndrome de Down mostrando eficiências em diversos campos como no trabalho, no esporte, nas artes, também no meio acadêmico. Temos um número significativo de jovens com síndrome de Down que concluem cursos técnicos e universidades que demonstram e vivenciam capacidade de exercer com eficiência diferentes funções profissionais.
São muitos os estudos que apresentamos nesse livro que identificam a falta de conhecimento e de metodologias adequadas dos professores para a aprendizagem das pessoas com síndrome de Down. Além da observação realizada desde o nascimento de minha filha com síndrome de Down, Ana Beatriz que atualmente tem 16 anos, e com minha atuação na universidade e junto da Associação Down de Goiás (Asdown).
A Asdown tem desenvolvido importante trabalho em Goiás para a conquista dos direitos das pessoas com síndrome de Down, oferecendo projetos diferenciados na associação e apoiando a inclusão no trabalho e nas escolas comuns desde 1993 atendo mais de 700 famílias. Temos verificado junto à estas um número muito grande de crianças, adolescentes e adultos com Down não alfabetizados e constantes reclamações sobre a inclusão escolar.
Buscando modificar essa realidade criamos o curso Digidown com objetivo de formação de professores da rede publica e privada de Goiás. O Digidown surgiu em uma parceria com o LABIN (Laboratório de Educação, Tecnologia e Inclusão), da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), e do o Sistema Integrado de Núcleos de Acessibilidade (SINAce/UFG), coordenado pelas professoras Maria de Fatima Teixeira Barreto, Ana Flavia Teodoro de Mendonça Oliveira, Cleide Aparecida Carvalho Rodrigues, Claudia Regina de Oliveira Zanini e eu, Vanessa Helena Santana Dalla Déa. Professoras de diferentes áreas, mas que tem em comum a paixão pela educação inclusiva e formação de professores.
O curso Digidown teve como objetivo tornar disponível aos professores da escola básica, o acesso e o conhecimento sobre as tecnologias que podem favorecer o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos com síndrome de Down, no que se refere ao processo de alfabetização e letramento. Foi idealizado a partir de uma proposta que pudesse trazer para o ambiente da Faculdade de Educação professores interessados em formação e estudantes com síndrome de Down, associados da Asdown.
Página 2Para inscrição, disponibilização do material e divulgação do desenvolvimento do curso utilizamos o site do LABIN (https://labin.fe.ufg.br/n/90736-cultura-didigown-curso-para-professores-e-oficina-de-leitura-e-escrita-para-estudantes-com-sindrome-de-down).
O curso foi organizado em dois momentos. O primeiro destinado à discussão de temáticas com encontros teóricos referentes à inclusão da pessoa com síndrome de Down, como: a) Conhecendo a síndrome de Down: características e desenvolvimento; b) Inclusão escolar: rompendo as barreiras atitudinais e desconstruindo estereótipos; c) A escola que acolhe as diferenças: possibilidades, desafios e possibilidades; d) Família das pessoas com deficiência Intelectual: possibilidades, desafios e dificuldades; e) Finalização da parte teórica da formação e pesquisa para saber a opinião dos professores sobre o curso.
O segundo momento do curso de formação de professores foi destinado ao conhecimento de softwares que podem auxiliar na alfabetização, sendo que utilizamos dois: “Alfabetização fônica computadorizada” desenvolvido em 2010 por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e “Participar” criado em 2011 na Universidade de Brasília (UNB). Ainda nesse momento proporcionamos uma vivência que consideramos o diferencial do curso com o contato e vivência dos professores com 20 adolescentes e adultos com síndrome de Down diferentes níveis de alfabetização.
Considerando a vivência nesse curso que discutimos a importância de dar continuidade nessa formação docente com o livro “Cultura Digidown: construindo saberes para formação de professores para a inclusão de estudantes com síndrome de Down.
Esse livro é o produto do Mestrado de Ensino em Educação Básica da Universidade Federal de Goiás de Aline Martins Neto, que realizou uma pesquisa no curso Digidown sobre a formação docente, com minha orientação e Co orientação da professora Ana Flavia Teodoro de Mendonça Oliveira.
Você ainda encontrará nesse livro parte do trabalho de mestrado de Tatiane Soares dos Santos que também realizou sua pesquisa no Mestrado de Ensino em Educação Básica da Universidade Federal de Goiás, também sobre minha orientação e Co orientação da professora Maria de Fatima Teixeira Barreto com titulo “Alfabetização e letramento: indicações a partir das percepções de professores sobre a vivência de estudantes com síndrome de Down em uso do software alfabetização fônica computadorizada”.
Muitos avanços e retrocessos têm sido vivenciados no caminho da inclusão das pessoas com deficiência e com síndrome de Down nas escolas comuns. A formação docente certamente é um passo importantíssimo para que esse caminho seja mais suave, certeiro e de sucesso.
Vanessa Helena Santana Dalla Déa