Guia de Inclusão na
Educação Física na Escola Comum

Instrução para Aula

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O que a literatura discute sobre instrução para aula

Outro fator na Aula de Educação Física que pode influenciar a qualidade da inclusão é a estratégias de instrução usada pelo professor. Para que os alunos iniciem a aula e as atividades da aula é necessário que o professor passe informações sobre o que devem fazer e outras informações que achar necessário. Segundo Bezerra (2010, p.47) “o uso de linguagem acessível, compreensível e objetiva constitui-se regras básicas para instrução”. A pesquisa realizada por esse autor identificou uma escola com instrução menos inclusiva, de forma aleatória, em subgrupos e com verbalização excessiva, e outra mais inclusiva, com reunião de todos os estudantes com exposição de objetivos e estratégias para o início da aula, exemplos práticos e com informações simples, objetiva e concreta.

Nas observações na pesquisa de Cunha (2015) a instrução que o professor dá para a realização de uma atividade também fez diferença na qualidade da inclusão. Um fato descrito em seu trabalho mostra a falta de instrução, em uma situação ocorria em uma das aulas em que o professor entregava para os alunos diversos materiais (cordas, jogos de tabuleiro e diversas bolas) para que brincassem livremente, sem nenhuma organização ou direcionamento, e o “aluno com deficiência ficava disperso, no canto da quadra, e às vezes tentava se aproximar de um grupo de colegas que estava jogando, mas não permanecia muito tempo na atividade” (p.70).

Duarte (2011) verificou que o professor que pesquisou tinha estratégia de instrução positiva. Relata que a preocupação do professor com a qualidade da comunicação e da compreensão de todas as crianças sobre aquilo que foi dito, explicado ou acordado com a turma foi evidente. Após a explicação da atividade o professor perguntava para todos os estudantes se haviam entendido e repetia essa pergunta para o estudante com deficiência e aguardava sua resposta. Verificou também que o professor se utilizava de gestos para complementar a instrução para o estudante com deficiência auditiva.

Outro fato positivo na instrução do professor pesquisado por Duarte (2011) é o fato do professor oferecer e proporcionar ajuda ao estudante com deficiência sempre que percebe necessidade. Relata que “essas ajudas geralmente foram em forma de sustentação corporal e estratégias que facilitaram e possibilitaram a participação durante a aula ou como uma expressão de atenção e apoio às crianças” (p. 84).

Contribuições da nossa pesquisa de campo sobre instrução para aula

Pudemos observar, principalmente durante as aulas com educandos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), muitas vezes acontecia desses educandos se desestruturarem, ou seja, apresentarem comportamentos de auto-agressão, gritos, choros, sendo que muitas vezes sem ter algo acontecido de errado na aula. Durante esses episódios observados nas aulas de Educação Física, em nenhum momento os professores abandonaram esses educandos, percebemos que havia um conhecimento adquirido por meio da convivência e por meio de leitura/estudos que davam o suporte necessário para que reestabelecessem a harmonia na aula. Dentre as várias atitudes podemos destacar algumas como por exemplo, a professora P5 acalmando o educando com TEA, por meio de uma música cantada por ela mesma e que o educando já conhecia, e no momento em que pude conversar com essa professora, a mesma disse que:

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...por muitas vezes quando um ou outro educando se desestrutura, muitos gostam de música e como já sei disso eu levo-o para um espaço que gostem, geralmente a esteira ou plataforma vibratória e começo a cantar, é muito legal, geralmente eles se organizam e param de chorar, gritar, entendeu? Então daí a gente volta a fazer aula (P5).

Na escola comum a falta de informação e de professor de apoio agrava e amplifica essa vivência, levando muitas vezes à exclusão do estudante com TEA. Nos entanto se o professor de Educação Física da escola comum tivesse contato e conhecimento por meio trabalho dos professores da escola especial, esse poderia traçar estratégias metodológicas que respeitassem as características desse estudante com TEA sem estranhamentos e medos.

Ainda nessa perspectiva, outro fato observado onde o educando, de acordo com a professora ainda não tinha um laudo fechado, aparentemente parecia ter o TEA, se desorganizou ou desestruturou, nesse caso estava com outra professora em uma outra aula de Educação Física, também dentro dessa mesma estratégia, ou seja, a de conhecer as características de cada educando, ao perceber que o mesmo estava irritado, inquieto, o educando se mostrava totalmente distante, sem concentração, foi convidado pela professora a sair da atividade da aula, nesse todos os educandos estavam fazendo o circuito, levou-o a um espaço dentro da sala de aula , colocou-o sentado de frente para ela, ofereceu um barbante e começou a conversar, de fato ele se acalmou depois de um pequeno tempo ali e em seguida voltaram para a aula e retomaram a atividade proposta.

Durante as observações das aulas e entrevistas, os professores de educação física, se mostraram sensíveis à essas características, em especial, sobre a dificuldade em que alguns educandos apresentam em se expressarem. Então apresentam comportamentos inadequados para o convívio escolar, como agressão e auto-agressão, gritos, choros, por isso a importância de conhecer as individualidades e saber como ajudá-los nesses momentos de estresse.